domingo, 13 de outubro de 2013

O padre acusado de ser mulherengo

Um dia o padre Hans, religiosamente dedicado ao serviço do atendimento de pessoas na secretaria da paróquia e, enquanto diversas pessoas o aguardavam para serem atendidas, viu passar no lado da janela, o senhor Pedro, coordenador da comunidade paroquial. Pedro, ao perceber o padre Hans, chegou ao lado da janela e lhe falou em voz bem alta: - Padre Hans! Vou ter que ver a conta de água do salão e, então, já aproveito a ida para buscar meu chapéu que, ontem de noite, eu acabei esquecendo lá no “Beira-Rio”, justamente na hora de ir embora! O dito “Beira-Rio” não se referia ao estádio do Clube Internacional de Porto Alegre, mas indicava uma casa de prostituição, edificada bem no cantinho direito da entrada do rio Chapecó no rio Uruguai. O padre Hans, que por natureza era especialista para contar piadas, mesmo que ficasse vermelho, entrava no jogo do tipo de piadas que eram contadas. Conseguia atrapalhar muita gente séria, quando se metia a contar piadas, aquelas chamadas “sujas”. Na interpelação provocativa de Pedro, padre Hans nem se deu tempo para ponderar sobre o assunto e já lhe soltou a resposta: - Bom, se você passar no “Beira-Rio”, aproveita e me trás junto o guarda-chuva que deixei lá, anteontem de noite! Foi o suficiente para que dona Gertrudes, muito escrupulosa e estreita no cumprimento dos ditames morais, saísse nervosamente da sala de espera e, imediatamente, ao atingir a calçada da rua, começasse a gritar com todas as forças que conseguia irradiar do seu pulmão, para informar, a todos quantos estavam na praça, que o padre Hans também estava freqüentando o Beira-Rio. Foi o lugar certo para que a notícia corresse por toda a redondeza em poucas horas, pois, ali estavam taxistas e aqueles desocupados que vão à praça para saber das últimas fofocas. A notícia de primeira mão chegou instantaneamente na agência central da cidade a respeito da grave contravenção do padre Hans. Pobre padre Hans, teve que contar muitas anedotas até que a comunidade voltasse a admitir que ele apenas fizera uma brincadeira para responder no mesmo nível aquela outra mentirinha do coordenador da comunidade. Numa das comunidades interioranas, todavia, Padre Hans foi interpelado sobre a gravidade do seu comportamento de freqüentar as mulheres do Beira-Rio, local não recomendado à sua condição de padre religioso e celibatário. O rosto um tanto unilateral do padre Hans dava um efeito especial às suas anedotas e apreciações dos fatos, pois tinha só um olho. O outro ficou lesado por uma faísca de raio quando ainda era jovem padeiro e viajava para uma cidade próxima a fim de fazer entrega de pão. O olho que permaneceu, em compensação, parecia um eficaz bisturi de “laser”, pois, ao encarar uma pessoa, captava imediatamente tudo o que se passava com ela. Ele dava aquela cruzada de cima até em baixo e deixava as pessoas sem muito assunto para falar. Tratava-se, na verdade, de um homem muito religioso, reto, honesto e brincalhão, mas, ao ser inquirido na referida comunidade, ele quis ilustrar, de forma brincalhona, sua suposta ida ao Beira-Rio, contando outro fato pitoresco. - Disse que, por longo tempo, foi ouvindo confissão de pecados de homens e, eles, sempre confessavam um mesmo pecado: que tinham atravessado a ponte do Rio Uruguai. E ele – padre Hans - ia respondendo, Ah! Meu filho, isso não é pecado! Vê se lembra de outras coisas para pedir perdão a Deus! Como mais homens vinham confessar este mesmo pecado, desconfiou um pouco, mas não via maldade nenhuma em cruzar a ponte do rio Uruguai e então aumentou e reforço do seu conselho. Eu também estou cruzando a toda hora a ponte de Rio Uruguai, mas, de repente, alguém foi mais explícito e retorquiu diante do conselho: - Padre, a gente fala que está atravessando a ponte do rio Uruguai, mas é para ir ao outro lado, freqüentar o “chinório das putas”. A comunidade, muito rigorosa, estreita e moralizadora, viu nisto um reforço da perversidade do padre Hans. Foi então que, mais uma vez, toda a região foi informada de que o padre Hans, além de freqüentar o “Beira-Rio” também atravessava a ponte do rio Uruguai para ir ao “chinório das putas”. Tudo quanto quisesse provar que jamais tinha ido àquele espaço do outro lado do rio Uruguai, não lhe tirou mais o preconceito. Mesmo depois que foi transferido para outra cidade distante, padre Hans ainda continuava a ser comentado pela grave contravenção, imaginária, de que teria ido ao “Beira-Rio” e que teria atravessado a ponte do rio Uruguai para visitar as “putas do chinório”.

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