terça-feira, 21 de novembro de 2017

500° POEMA



Na redação deste poema,
Ativa-se estranho dilema,
Já constatado nos demais,
A causar dúvidas cruciais.

Ainda que longe da poesia,
E sem sua arguta maestria,
A opção de versos rimados,
Não rende além de enfados.

Tempos sombrios da escrita,
Indicam na poesia proscrita,
O entusiasmo pela imagem,
E o simulacro da roupagem.

Sem segredo de persuasão,
O pobre estilo de redação,
Já não persuade olhos fitos,
Para ler estes pobres ditos.

Uma coleção de imagens,
Diz mais que reportagens,
De um pobre escrevedor,
Sem um artístico pendor.

Só resta tatear no rumo,
Para descobrir o prumo,
De encontrar interação,
Que revitalize o coração.


NA BERLINDA DOS SONHOS PROTELADOS



Na astúcia das promessas enganosas,
Deitam e gozam as políticas danosas,
Especializadas na arte de prospectar,
E esquecer o que prometem executar.

Na firmeza dos discursos ilusionistas,
Que projetam as inusitadas conquistas,
A persuasão de uma idônea aparência,
Angaria a credibilidade como decência.

Os ingênuos e contentes com a bajulação,
Imaginam os produzidos heróis da nação,
Como os notáveis e abnegados altruístas,
A dedicar dia e noite para discernir pistas.

Suas falas buriladas da técnica discursiva,
Sob a expressão não-verbal nada incisiva,
Revelam artimanha da intenção enganosa,
Que sobressai na grandiloquência pegajosa.

Para assegurar a conquistada precedência,
Ultrapassam sua crueldade e a indecência,
Para que ninguém se aproprie do patamar,
Ou queira suas obtusas falcatruas escoimar.

Assim, passam-se os belos sonhos e alentos,
E como não se cobram os enlevados intentos,
Os malandros asseguram lídimos privilégios,
Como sendo os divinos e especiais sortilégios.





TROFOLOGIA



Nova febre de nossos dias,
Enlouquece mentes sadias,
E proporciona ansiedades,
Sobre as muitas veleidades.

Todos querem alimentação,
Isenta de contra-indicação,
Hiper saborosa e saudável,
Divina em sabor palatável.

Entendidos, por todo lado,
Fitam dar o melhor recado,
Com os cardápios especiais,
De experiências imemoriais.

Muitos segredos dietéticos,
Com argumentos patéticos,
Querem propugnar a receita,
Genuína e a que mais deleita.

Os doces que não engordam,
E as graxas que só adornam,
Causam beleza às verduras,
E potencializam as frituras.

As féculas tão irradiantes,
Com bons ácidos cortantes,
Extasiam os olhares atentos,
E lhes dão vigorosos alentos.

Na ânsia da medida perfeita,
A trofologia rola, e satisfeita,
Dita o quanto se pode ingerir,
E o quanto de deve prevenir.

No equilíbrio da boa mistura,
Distante da reta compostura,
Vendem-se ilusões palatáveis,

Como segredos mui saudáveis.

sábado, 18 de novembro de 2017

SONHOS E PESADELOS



Nas belas paisagens que fluem e se misturam,
Mas, que só em fração de segundos perduram,
Migram também os lugares das lindas imagens,
E nos carregam para outras e inusitadas aragens.

Se muitos sonhos pudessem ser reais e efetivos,
E nos deslocar para os lugares menos seletivos,
O nível dos sofrimentos subjetivos e prostrantes,
Daria lugar a sentimentos bem mais edificantes.

O pior é que bons sonhos coletivos alimentados,
Deixam decepção frustrante por todos os lados,
Mas são protelados para novos e bons tempos,
Com a promessa de ausência de contratempos.

Neste jogo do ilusório processo mental diuturno,
Implanta-se o terror do aproveitamento soturno,
Que enriquece à custa do trabalhador explorado,
E o engana com um bajulante discurso de agrado.

No pesadelo real e efetivo do dito cidadão alienado,
Sobra apenas a cega obsessão pelo produto ofertado,
Com a ilusória sensação da plena liberdade de desejar,
Para tornar-se feliz sob o que a vontade possa ensejar.

Nas horas passadas em compensação das frustrações,
Revela-se o alcance das intensas e frustrantes ilusões,
Que já não acalantam o gosto pela vida serena e boa,
Nem fornecem as forças para sair deste mundão à toa.







sexta-feira, 17 de novembro de 2017

NA ENCRUZILHADA DA NEOFILIA COM A NEOFOBIA



Na extraordinária adaptabilidade à novidade,
Cresce aborrecimento com o velho e a idade,
E aumenta o desprezo pelo que é bem antigo,
Como se fosse algum inútil e supérfluo artigo.

A obsessão por experimentar coisas inusitadas.
Da tendência ditada por modas nada recatadas,
Leva a desejar a última e mais vistosa novidade,
A fim de desfrutar fama e prestígio à saciedade.

A facilidade de aborrecer-se com todo o vetusto,
Leva a ambicionar um magnífico estado augusto,
Para poder impactar olhares que se prosternam,
Pela inveja e o desejo de obter o que observam.

Há quem sabe manter este efeito da informática,
Para deixar todo consumidor na paixão fanática,
De escolher e de inovar continuamente na vida,
Para não se encaixar no rol da sobra combalida.

Recria-se o velho dilema entre o que é de Deus,
E o que procede do astuto capeta metido a Zeus,
Que indica desprezo à valiosa herança paleolítica,
Para correr afoito no rol da consumidora política.

Na constante busca das coisas novas e atraentes,
Esta similaridade de consumistas muito doentes,
Com tantas patologias de disfunções fisiológicas,
Devassa entidades e mobilizações soteriológicas.

A facilitação de mudanças radicais e imprevistas,
Quebra a razão de experiências como boas pistas,
Pois tudo o que passou, já não importa a anseios,
Porquanto somente interessam os novos enleios.





quinta-feira, 16 de novembro de 2017

CORTEJOS DE ALEGRIA



Razões muito diversificadas,
Motivam festas tão variadas,
Para extravasar exuberância,
Que se irradia com elegância.

A partilha de razões festivas,
Alarga as memórias furtivas,
Que enlevaram a existência,
E ergueram sua precedência.

Boas recordações do passado,
Ativam uma força de legado,
Que clareiam as esperanças,
De viver similares bonanças.

Assim uma alegria presente,
Amplia na emoção contente,
A rica antecipação do tempo,
Para superar o contratempo.

A partilha dos participantes,
Eleva as razões extasiantes,
Que permitem antecipação,
Do bom tônus para a ação.

No sentimento amparado,
Do sentir-se bem agregado,
Renova-se a razão da vida,
Que enche de prazer a lida.




segunda-feira, 13 de novembro de 2017

NEOFILIA COLETIVA



A produzida obsessão pelo consumo,
Produziu os tarados pelo novo rumo,
Em que a moda é a instituição social,
Que mais ativa a onda promocional.

Normas da organização são ditadas,
Não pelas disciplinas bem recatadas,
Mas, especialmente pela sociedade,
Que produz moda de prosperidade.

No vasto manicômio dos obcecados,
O termo único de falantes adoidados,
É “crescimento” notável e prazeroso,
A fim de consumir de modo gostoso.

Já não importam modelos políticos,
E nem outros agregados apolíticos,
Porque a nova neofílica sociedade,
Quer só cegos afoitos por novidade.

Até o tão adorado tempo presente,
Já não deixa alguém muito contente,
Porque ditames do Estado declinante,
Freiam o fluxo do consumo constante.

No hipermoderno do vasto consumo,
Falta tempo para um coletivo aprumo,
Pois a eficiência requer mais produção,
Para fomentar uma hiper-individuação.






quinta-feira, 9 de novembro de 2017

TEMPO DE SUPERLATIVOS



Enquanto os diminutivos são depreciados,
E como, afetivas anomalias, interpretados,
Ampliam-se variados termos superlativos,
Para expressar novidades e ares positivos.

Nas falas, nas novidades e nas atrocidades,
Tudo é ampliado por emoções e vaidades,
Porque precisa assegurar a superioridade,
                                  Da inovação sobre a cotidiana banalidade.

Já não dá status comprar em mercadinho,
Nem traçar com um velho auto o caminho,
Pois é preciso antecipar a maior novidade,
Para demonstrar uma superior felicidade.

Tudo o quanto é bom precisa ser “hiper”,
E, rapidamente, abrir-se como um zíper,
Para irradiar uma emoção deslumbrante,
E propiciar uma sensação bem extasiante.


Amplos hiper-mercados e hiper-atacados,
Vendem felicidade e paraíso de agrados,
Através dos multicoloridos mostruários,
Agregados de fantasias e bons ideários.

Na abundância da felicidade projetada,
Anseia aquela imensidão procrastinada,
Que ambiciona um grandioso hiper-real,
Para preencher o hiper vazio existencial.







sábado, 4 de novembro de 2017

MODERAÇÃO E EXCESSO



Tempos milenares insinuavam,
E, insistentes muito alertavam,
Para moderar na alimentação,
E valorizar um afetivo coração.

Vieram os outros referenciais,
Que a todos fazem ser iguais,
Na mórbida e cega obsessão,
De muito alargar a possessão.

Manipulados para fixo olhar,
No rol do que possa antolhar,
São induzidos para consumir,
Do quanto possam presumir.

O excesso deve animar tudo,
E mover sempre, sobretudo,
A continuidade do consumo,
Para um engrandecido rumo:

Exagero diante de aquisições,
E comprar variadas provisões,
Por conterem ar de felicidade,
Que inebria à farta saciedade.

Com o ilusório valor agregado,
Qualquer produto comprado,
Adquire um valor de adoração,
Que eleva o tônus do coração.

O capeta do grandioso sonho,
Pervade o descarte medonho,
E aponta o outro objeto novo,
Que deixa feliz um vasto povo.

O único sonho engole o anseio,
E já deixa seu sinal de meneio,
Para o outro fito comprazível,
Do ansiado momento indizível.



segunda-feira, 30 de outubro de 2017

CARÁTER CONQUISTADOR



O moderno caráter conquistador,
Produz um ambiente devastador,
Pois, a estimulação da iniciativa,
Gera o hábito de vida mais ativa.

Na constância do agir moderno,
O antigo monismo nada terno,
Revive na função controladora,
A eliminação nada promissora.

Tudo quanto não se submete,
Passa a merecer desde bofete,
Até uma submissão indesejada,
Ou a aniquilação injustificada.

O mito da alteza do vencedor,
Faz cada um ser um domador,
Que amansa todo o peculiar,
E o adestra a fim de espoliar.

No potencial da índole forte,
Todo encontro leva à má sorte,
De ser a vítima fruída no valor,
Apesar do seu elã e forte ardor.

Triste sina deste perfil cultural,
Reativa da forma mais fulcral,
A impossibilidade do respeito,
Para bom e humano conceito.

Se conquistar é o que importa,
Nada humano e divino reporta,
Ao que de bom possa aparecer,
E indicar um inusitado alvorecer.


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A ESCAPADINHA DO SANTO



Taciturno no pedestal da santidade,
Onde outrora agregava irmandade,
Constatou que devotados orantes,
Já não eram fiéis como eram antes.

Sem memória dos humanitários atos,
É apenas apreciado por olhos pacatos,
Que em coisa alguma desejam imitá-lo,
E bem menos ainda, em algo escutá-lo.

Movidos por uma fé somente estética,
E distantes de qualquer postura ética,
Pedem milagre com grande desconto,
E que mude rápido o dolorido ponto.

Olham-no pelo simpático semblante,
E dele esperam uma ação extasiante,
Que cause emoções bem agradáveis,
E proteja contra os males inevitáveis.

Ele é o santinho do amor fantasiado,
Angelicamente divino e prendado,
Para auferir graças muito especiais,
Que mudam todas as dores banais.

Como agora deixaram sua mediação,
E focaram o amor em outra direção?
Ao frequentar outros novos lugares,
Estavam encantados por novos ares.

Viu que o sacrifício, já sem renúncia,
Mas obcecado por muita brogúncia,
Despertava todo afeto em comprar,
No contínuo processo de se superar.

Seus novos rituais de sacrificialismo,
Faziam trabalhar num determinismo,
Para alcançar o dinheiro da oferenda,
E fazer oblação de cotidiana prenda.

A oferta já não ia mais para o santo,
E, nem fitada no divino sacrossanto,
Mas, tudo parava no supermercado,
Ou comercializado no livre-mercado.

O afastamento do beatério devotado,
Levou a desconfiar de algo inusitado,
E o santo foi espiar o fervor dos fiéis,
Em locais sem incenso e sem vergéis.

Todos afoitos no excesso de objetos,
Atropelavam-se nos modos abjetos,
Pela maior quantidade de produtos,
Para abarrotar domiciliares redutos.

O santo olhou as casas abarrotadas,
E até fitou suas imagens sagradas,
Pois as suas feições multiplicadas,
Estavam difundidas e compradas.

A oferenda aos santos e divinos,
Era feita nos jantares mais finos,
Onde se repartia parte comprada,
Em sacrifício de memória sagrada.

O seu amor focado nestes objetos,
Desprovidos dos oráculos secretos,
Enfeitava o milagre na ceia servida,
E era disponibilizado como bebida.

No lugar da renúncia e abnegação,
O divino era consumir à exaustão,
E um farto self-service disponível,
Garantia uma felicidade indizível.

O santo não fez nada desonesto,
Mas pensou em cobrar o doesto:
                                          Ser indenizado por dano afetivo,
Pelo prejuízo na lida a tanto vivo.

Viu-se reduzido ao mero enfeite,
Apenas para o simpático deleite,
Sem nenhuma perspectiva futura,
E sem memória da sua lida dura.

Um imenso excesso era adorado,
E moderação, um ato desprezado,
Mas todos queriam o “deuzinho”
A lhes dar muito amor e carinho.

“Hiper” era a palavra mais falada,
E mercadinho a mais desprezada,
Nem mesmo “super” impactava,
Pois, para excesso, não importava.

As procissões ficaram diferentes,
Sem luz de velas incandescentes,
Pois, faróis iluminavam caminhos,
No rumo dos adorados cominhos.

O ato mais heroico de empanturrar,
Levou a um atrativo e servido altar,
Em que uma comilança à exaustão,
                                       Descortinava uma excelsa adoração.

Os riscos da morte vindos da comida,
Eram maiores que da desumana lida,
E advinham dos excessos ingeridos,
Dos sagrados alimentos deglutidos.


<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...