Taciturno no pedestal da santidade,
Onde outrora agregava irmandade,
Constatou que devotados orantes,
Já não eram fiéis como eram antes.
Sem memória dos humanitários atos,
É apenas apreciado por olhos
pacatos,
Que em coisa alguma desejam
imitá-lo,
E bem menos ainda, em algo
escutá-lo.
Movidos por uma fé somente estética,
E distantes de qualquer postura
ética,
Pedem milagre com grande desconto,
E que mude rápido
o dolorido ponto.
Olham-no pelo
simpático semblante,
E dele esperam uma
ação extasiante,
Que cause emoções
bem agradáveis,
E proteja contra
os males inevitáveis.
Ele é o santinho
do amor fantasiado,
Angelicamente
divino e prendado,
Para auferir
graças muito especiais,
Que mudam todas
as dores banais.
Como agora deixaram sua mediação,
E focaram o amor em outra direção?
Ao frequentar outros novos lugares,
Estavam encantados por novos ares.
Viu que o sacrifício, já sem
renúncia,
Mas obcecado por muita brogúncia,
Despertava todo afeto em comprar,
No contínuo processo de se superar.
Seus novos rituais de sacrificialismo,
Faziam trabalhar num determinismo,
Para alcançar o dinheiro da
oferenda,
E fazer oblação de cotidiana prenda.
A oferta já não ia mais para o
santo,
E, nem fitada no divino sacrossanto,
Mas, tudo parava no supermercado,
Ou comercializado no livre-mercado.
O afastamento do beatério devotado,
Levou a desconfiar de algo
inusitado,
E o santo foi espiar o fervor dos
fiéis,
Em locais sem incenso e sem vergéis.
Todos afoitos no excesso de objetos,
Atropelavam-se nos modos abjetos,
Pela maior quantidade de produtos,
Para abarrotar domiciliares redutos.
O santo olhou as casas abarrotadas,
E até fitou suas imagens sagradas,
Pois as suas feições multiplicadas,
Estavam difundidas e compradas.
A oferenda aos santos e divinos,
Era feita nos jantares mais finos,
Onde se repartia parte comprada,
Em sacrifício de memória sagrada.
O seu amor focado nestes objetos,
Desprovidos dos oráculos secretos,
Enfeitava o milagre na ceia servida,
E era disponibilizado como bebida.
No lugar da renúncia e abnegação,
O divino era consumir à exaustão,
E um farto self-service disponível,
Garantia uma felicidade indizível.
O santo não fez nada desonesto,
Mas pensou em cobrar o doesto:
Ser
indenizado por dano afetivo,
Pelo prejuízo na lida a tanto vivo.
Viu-se reduzido ao mero enfeite,
Apenas para o simpático deleite,
Sem nenhuma perspectiva futura,
E sem memória da sua lida dura.
Um imenso excesso era adorado,
E moderação, um ato desprezado,
Mas todos queriam o “deuzinho”
A lhes dar muito amor e carinho.
“Hiper” era a palavra mais falada,
E mercadinho a mais desprezada,
Nem mesmo “super” impactava,
Pois, para excesso, não importava.
As procissões ficaram diferentes,
Sem luz de velas incandescentes,
Pois, faróis iluminavam caminhos,
No rumo dos adorados cominhos.
O ato mais heroico de empanturrar,
Levou a um atrativo e servido altar,
Em que uma comilança à exaustão,
Descortinava
uma excelsa adoração.
Os riscos da morte vindos da comida,
Eram maiores que da desumana lida,
E advinham dos excessos ingeridos,
Dos sagrados alimentos deglutidos.