Um dos conceitos mais ambíguos da
nossa língua é o que envolve diabo, capeta, demônio ou chifrudo, e que alguns
delineiam como “inimigo” a ser destroçado e vencido.
Sem as fontes seguras e diretas do maligno,
valho-me do conceito de que demônio, (capeta, diabo, chifrudo, e outros
sinônimos), é tudo quanto divide, separa e desintegra. Com este significado,
olho para três corocas. Uma mais piedosa e puritana do que a outra, mas, as
três também disputam entre si a precedência e parecem encontrar-se empatadas na
extraordinária capacidade de inventar fofocas, intrigas e futricas. São
católicas que presumem ser muito mais santas que o papa ou qualquer dos
inúmeros santos e santas proclamados nos altares.
Nas ruas da cidade de Morocó, a
disputa pelas eventuais ovelhas a serem protegidas e salvas, leva doze
distintas entidades religiosas a machucar o ouvido pela intensidade dos sons acima
do tolerável à audição, e com insinuantes promessas de sessões especiais de
curas, milagres, libertações e alcance de tudo quanto possa ser desejado para a
plenitude da felicidade e do bolso recheado de dinheiro. Insinuam especialmente
os poderes contra o maligno, advindos e mediados por pastor afamado de outra
cidade do país e chegado para a manifestação dos poderes de Deus, através de
poderes secretos que somente ele domina.
Ao lado desta manifestação diabólica que
separa, divide e logra muita gente, um pouco mais contida e acuada, encontra-se
uma comunidade católica, que também quer constituir-se instrumento e sacramento
de salvação, segundo o projeto de Jesus Cristo.
À parte das disputas de lugares e de
mediações por onde a suposta força divina encontra secretos fluídos e poderes exotéricos
e hegemônicos sobre satanás, trava-se no interior da comunidade católica uma
disputa ferrenha em torno de honra e de precedência das três corocas. Longos
anos ofereceram-lhes uma fantástica capacidade de dividir, de separar e de arrumar
confusão em torno de minudências.
Uma, constituiu-se dona dos panos, das
toalhas, das flores e dos objetos do altar. E ai se alguém mexer na ordem de
algum destes objetos! É assunto para exaltação da voz e muitos resmungos.
A outra descobriu os poderes secretos de se
constituir dona dos comentários e da escolha de quem pode e de quem não pode
proclamar uma leitura. Eventual leitor de outro partido político é visto como
capeta que jamais pode requerer tal serviço à comunidade. Também é dona dos
cantos: podem ser cantados somente os cantos lentos e lamuriosos da renovação
carismática que ela entoa. Eventual ousadia de sugestão para outro canto menos
intimista, recebe rechaço com imediata censura verbal.
A terceira coroca descobriu outro patamar de
status que faltava para completar a manifestação viva do capeta: é dona do
serviço de coroinha e ministra da eucaristia. O enorme terço enrolado nas mãos
atrapalha o serviço do altar, mas a dona coroinha, não arreda o pé da sua
instância de poder, que, na verdade, não soma e nem acrescenta coisíssima
nenhuma à qualidade de fé da referida comunidade.
Possivelmente a única forma de
combater a prepotência do poder das três corocas, vai ser a de chamar, um dia,
todos os pastores milagreiros e libertadores através de curas divinas, para ver
se, juntos, conseguem potencializar a milhares de Megawats de fé, um “Show
Satanás” e mandar esta força do capeta para longe das três corocas. Aí sim,
poderia o fruto do milagre transluzir algo de agregador nestas beatas das muitas
formalidades e aparências exteriores: poderia a humilde consciência fazê-las
perceber que funções nos rituais litúrgicos devem ser efetuadas como serviço e
não como um poder tirânico e despótico.