domingo, 13 de outubro de 2013

Cinzas

Sumiu o ciclo das chuvas almejadas: 
Levou a fecundidade dos bons sentimentos, 
Calou o desfrute das vidas alentadas; 
Esvaneceu a proximidade amiga, 
Ofuscou a alegria de convivência antiga. 
 Vieram os ventos implacáveis de agosto; 
Provocaram sussurros e poeiras irritantes, 
Deram sumiço no ar saudável da região, 
Aliaram-se ao fogo para imperar confiantes, 
E deixaram rastros de destruição. 
 Sobrou a cinza espalhada, 
Ainda causticada pela fumaça; 
Da bela árvore folhada, 
Restou a imagem sem graça. 
Sob a cinza, geme a vida ferida; 
Destroçada e ofegante, 
Mas, renitente, procura alento, 
Longe dos presumidos arautos de Deus, 
Que lhe causam desapontamento. 
Sem limites e barreiras éticas na maldade, 
“Pastores” ocupam o lugar do fogo e do vento, 
E devastam as esperanças de bondade; 
Na sina da morte, estabelecem dilema fulcral: 
Subsumir na mansão do silêncio, 
Ou adotar o caminho crucial, 
De outra sorte procurar. 
Machucado no âmago da vida, 
Por relações ardilosas e prepotentes, 
Sobra ao pobre mortal da humana lida, 
O silêncio da dor ainda retida, 
Diante dos ditos homens oniscientes. 
Subsiste, porém, as esperanças de encontrar, 
Em espaços humanos diferentes, 
Razões capazes de revigorar a vida, 
Para recriar das cinzas, 
O fluxo de luzes abundantes. 
E, com asas que permitam voar, 
Para além das dores paralizantes.

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