sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

PARAÍSO

 

 

Antiga e cultivada expectativa,

De católica e religiosa invectiva,

Apontava um paraíso absoluto,

A exigir procedimento impoluto.

 

Muito além do mundo sensível,

Apontava para fruição indizível,

Com plenificação da felicidade,

Para reino de grata eternidade.

 

Na fragmentação das ciências,

Nem as tradicionais sapiências,

Sustentam uma espera ansiosa,

A iniciar com a morte dolorosa.

 

Antipáticas soam orientações,

Contra imediatas degustações,

E ofertas de prazer sem limite,

Para um irrenunciável apetite.

 

A fé muito mais futebolística,

Do que a da religiosa mística,

Prioriza as drogas alucinantes,

E satisfações delas resultantes.

 

Os paraísos das isenções fiscais,

Bem mais  que anelos celestiais,

Já não requerem nem renúncia,

Frente à alucinógena brogúncia.

 

Nem se fita paraíso de saudade,

Quer do passado ou da bondade,

Mas o afã do desfrute obcecado,

Como uma bênção sem pecado.

 

O paraíso da esperança sem lado,

É o do cego consumo de mercado,

Para perecer como verme voraz,

Feito insumo que a outros apraz.

 

 

 

 

 

domingo, 5 de fevereiro de 2023

ARAPONGA

 

 

Teu canto estridente e estridulante,

No som agudo de ferreiro distante,

Invade meus recatados sentimentos,

De que não soltas eufóricos intentos.

 

Monótono, repetitivo e muito triste,

Ecoa nos ares sua lamúria sem riste,

Da vinda de longe e mercantilizado,

Sofres na gaiola o estado aprisionado.

 

Mesmo ecoando por longa distância,

Teu canto não encontra ressonância,

De um congênere que possa escutar,

E reagir com uma mensagem salutar.

 

Cantas por horas e horas todos os dias,

No som elevado ao mundo de porfias,

E ninguém devolve sinal de liberdade,

Para poderes cantar longe da maldade.

 

Sequer o timbre mais forte do mundo,

Do som metálico de alcance profundo,

Repercute nesta feia prisão engaiolada,

E deixa a sua cantoria toda empolada.

 

O teu canto é para ecoar bem altaneiro,

E sobre elevadas copas ser cancioneiro,

Para animar na fina irradiação metálica,

O melhor recurso da sua massa cefálica.

 

Tampouco mereces ser associado a espião,

Da ação secreta de um falsificado lampião,

Pois com voz poderosa da solidez de ferro,

Tens uma garganta que racha e trinca-ferro.

 

 

 

 

 

sábado, 4 de fevereiro de 2023

DEUS OURO

 

 

O onipresente deus do ouro,

Com sua moral em desdouro,

Igual ao deus Moloch fenício,

Vibra com humano sacrifício.

 

Quer que mortes da oferenda,

Com sangue e perda horrenda,

De incontáveis seres inocentes,

Ampliem adoradores contentes.

 

Abre seu coração a adoradores,

E os agracia com ricos pendores,

Para constituírem elite poderosa,

Sobre a massa humana temerosa.

 

Clima arrogante e de prepotência,

Torna-se o troféu da indulgência,

Que assegura abençoada garantia,

Para vistosa e invejável mais-valia.

 

Como mineral fascina ambiciosos,

Para eternas benesses auspiciosas,

Com desfrute sobre a ralé humana,

E reserva de bebidas em barricana.

 

Abençoa a vista para não ver pobre,

Nem a degradação deste solo nobre,

Que partilharia moradia e alimentos,

Para bons e humanitários fomentos.

 

Tampouco veem fome e as doenças,

Causadas pelas suas afoitas crenças,

Porque a auto-atribuição redentora,

É garantida por deificação protetora.

 

Para os seus privilegiados seguidores,

Não importam blefes dos bastidores,

Pois, atos de genocídios e ecocídios,

São lixo desprezível nos fratricídios.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

ADORADO OURO

 

 

Da antiga simbologia religiosa,

Do ouro na realeza prodigiosa,

De objetos, ícones, e imagens,

Sobraram fartas malandragens.

 

Cobiça desenfreada por ouro,

Transformou-o num tesouro,

Da nova e perversa idolatria,

Que gera o auge da egolatria.

 

Metal luxuoso de esnobação,

Nada lembra do bom coração,

Mas esconde graves violações,

Aos humildes e suas aspirações.

 

Leva aos absurdos genocídios,

E os tão deploráveis ecocídios,

Sem ínfimo respeito a culturas,

E às suas históricas estruturas.

 

Mineração de escala industrial,

Para armazenar poder triunfal,

Ignora direitos dos explorados,

E deixa sobrantes deteriorados.

 

Facilita a lavagem de dinheiro,

E mercantiliza o mundo inteiro,

Para esnobação de pouca gente,

Insensível ao mundo padecente.

 

A obsessão pelo mineral dourado,

Denigre a natureza por todo lado,

Abusa de outros seres humanos,

E afugenta com terrores insanos.

 

Sobretudo o garimpo clandestino,

Manifesta um paradoxal desatino,

Na eliminação de milhões de vidas,

Já acuadas, doentes e esmaecidas.

 

No adorado ouro a causar fome,

Símbolo de um deus sem nome,

O mercúrio, sinônimo de morte,

É o agente da inominável sorte.

 

 

 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

VARREDOR DE FOLHAS CAÍDAS

 


O despontar das folhas verdes,

Para apontar flores alviverdes,

Das serenidades esperançosas,

Desvia a atenção das buliçosas.

 

Inquietação por algo diferente,

Relega tudo que já foi atraente,

E persuade a ignorar o outono,

Como a miragem de um sono.

 

As folhas amareladas que caem,

Mortas sob as que sobressaem,

Não encontram compensações,

Nem energias de improvisações.

 

Com a varredura desta dispersão,

Amontoa-se a disfarçada aversão,

De quem não interessa para nada,

Na doideira desta vida disparada.

 

Nesta vulnerabilidade aquilatada,

Emerge a dura sentença imputada,

Da árdua tarefa por reciprocidade,

Que retribua motivo de utilidade.

 

O húmus oriundo de folhas caídas,

De muitas vontades não atingidas,

 

Pode energetizar a decrepitude,

Contra a inconstante vicissitude.

 

Andejar após dúzias de derrotas,

E repleto de rótulos sem janotas,

Revela incompletude sem alarde,

E recomeço sem espírito covarde.

 

 

 

APARÊNCIAS

 


 

No mundo de aparências,

Objetivas malemolências,

Eclodem em sutis olhares,

E nos difusos entreolhares.

 

Tantos subgrupos fechados,

Cortantes como machados,

Produzem lascas de críticas,

Para suas forças monolíticas.

 

Nada importa o que passou,

Nem o que na vida ressoou,

Mas se é distinto e diferente,

Merece um trato indiferente.

 

Caso seja avançado na idade,

É visto pela vulnerabilidade,

Relegado à condição de lixo,

Ou simples enfeite de seixo.

 

Vale o aprumado e alinhado,

Que demonstra ser talhado,

Para proteger o gosto grupal,

Da firme solidez intragrupal.

 

Explícita apatia ao diferente,

Produz um clima decadente,

Que leva a buscar o amparo,

Que afaste do estado amaro.

 

A dor real precisa ser ocultada,

Para evitar a condição aviltada,

De indesejado lixo descartado,

Sem o valor real do seu legado.

 

 

 

 

 

 

 

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...