quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Novo Tempo



Nas vergastadas decepções,
Com os anseios frustrados,
Antecipam-se as previsões,
De mais sonhos prostrados.

Resta aos faros da intuição,
Captar rastros de passagem,
E apontar o rumo e direção,
De acalentadora mensagem.

A esperança do olho perspicaz,
Percebe adiante da resignação,
Vasto horizonte de vida eficaz,
Sem tão causticante frustração.

Nas distantes luminosidades,
A brilhar na intensa escuridão,
Abrem-se rumos de novidades,
Para além da triste sofreguidão.

A luz de um ponto de chegada,
Já ilumina o caminho inseguro,
E desperta a mente desandada,
Para uma antecipação do futuro.

No alcance ainda bem incauto,
Acelera-se bom ritmo andante,
Que por si mesmo vira arauto,
De tempo inovado e vicejante.



Ano Novo



No idílio da passagem de ano,
Acorda um velho desengano,
Do sonho tão pouco factível,
E da superação nada visível.

Se o sonho acalanta mundos,
Mais ternos e nada iracundos,
Não muda as velhas manhas,
Das abomináveis patranhas.

Enquanto a magia dos rituais,
Envolve impecáveis comensais,
Revive-se a euforia passageira,
Que deixa muito lixo pela eira.

No aparato de cores e sabores,
Nem todos festejam os alvores,
Porque avivam passado sofrido,
Dum trato amargo e denegrido.

Do trabalho pouco remunerado,
Emerge a certeza de um recado:
De que a dignidade tão sonhada,
Será novamente mais protelada.

Sob o quadro político passado,
Todo novo horizonte assacado,
Evade-se para além do alcance,
E deixa a esperança sem chance.



sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal - boa notícia!


            Parece um tanto anacrônico falar em “boa notícia”, sobretudo, de alguns anos para cá. Uma atenção às informações diárias relativas ao procedimento dos mandantes do governo do nosso país faz ecoar uma voz estridente de cotidianas “notícias desalentadoras” envolvendo corrupção, e, consequentemente, muito sofrimento entre pessoas que deveriam estar bem. No entanto, a memória de tempos que já foram muito melhores, permite um horizonte de razões plausíveis para que esta esperança nos alegre.
            Aos atuais seguidores de Jesus Cristo, oportuniza-se na festa comemorativa do seu nascimento, uma recordação especial de parte dos textos do profeta Isaías, escritos há muitos séculos antes, em tempos extremamente difíceis para o povo de Israel. O profeta convidou grande parcela do seu povo exilado na Babilônia a se alegrar, apesar de todo o clima de resignação fatalista que vivia na condição escrava.
            A libertação, por uma mediação não esperada, - pois o rei da Pérsia invadiu a Babilônia e mandou embora os escravos judeus – fez com que Isaías percebesse uma peculiaridade do amor de Deus: Ele havia se manifestado, de onde menos se poderia esperar, um favorecimento aos exilados na Babilônia.
            Aquilo que os reis de Israel deixaram de fazer em favor da unidade do povo, o detestado rei da Pérsia, acabou fazendo, mas, nada adiantaria retornar com o mau humor que marcara este tempo de exílio. O profeta, sentindo este amor maior de Deus, encontrava motivação para animar o povo revoltado e convidá-lo a celebrar a alegria, pois, Deus deu sinal mais que evidente de que não abandonou o povo.
            Deus poderia constituir o elã da reconstrução do país e tornar-se, de novo, a indispensável fonte de alegria e de esperança, não apenas para os judeus, mas, também para os demais povos.
            Como já não se esperavam portadores de alguma boa notícia da libertação, Isaías, poeticamente, referiu-se à beleza dos pés de quem anuncia a felicidade, a paz e a libertação da escravidão. Na expectativa do poeta, todos deveriam erguer a voz e irromper brados de alegria porque Deus estava mostrando seu bem-querer àquele povo sofrido.
            A festa que o profeta Isaías projetou, não era a festa da frustração e do vazio existencial e, tampouco, visava comer e beber para esquecer as mágoas, pois, seria a festa da antecipação do que poderia voltar a acontecer sob o bom sentimento de amparo do povo, agraciado pelo amor de Deus. Em vez de nação desolada, o ponto mais elevado da sua capital, Jerusalém, poderia voltar a ser referência de boas vindas para outros povos, algo totalmente diferente das seguidas invasões e da pífia preocupação dos governantes para guerrear.
            A exaltação antiga do profeta tinha o olhar da esperança a partir da boa experiência de tempos passados: Deus poderia novamente constituir-se na referência para o bom reinado do povo e para transcender a ambição de corruptos e inescrupulosos mandantes que infernizaram a vida do povo.
            Assim, a festa para celebrar o nascimento de Jesus do nosso tempo, apesar de todas as razões para estar de mau humor e de insatisfação desalentadora, nos permite antever que o jeito de Jesus, com certeza, aponta para tempos mais felizes do que estes, vividos sob governantes que apenas pensam em suas vantagens pessoais.

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Natal de festa



Da antiga adoração do sol,
Celebrada desde o arrebol,
Fez-se uma ressignificação,
Do brilho da fé no coração.

Se o sol, de brilho radiante,
Seduzia o antigo extasiante,
O jeito de Jesus despertava,
Sentido que a vida animava.

Mais que irradiações fúlgidas,
A grandeza de ações fúlvidas,
Da manifestação do salvador,
Fez brilhar caminho redentor.

Ainda reluz a indicar o rumo,
Para nortear o falso aprumo,
Da perda de rota sem sentido,
Que gera tanto mal entendido.

Da memória festiva do brilho,
Irrompido como o novo trilho,
Abriu-se uma luz na escuridão,
Para a aurora sem sofreguidão.

Da acolhida de tempo possível,
De um entendimento indizível,
Recria-se a mais humana razão,
Para uma vida de alegre vazão.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Luz do Natal



A luz de um nascimento,
Reabriu portas de alento,
Ao contingente desolado,
Pelo governo desvairado.

As esperanças apontadas,
Nas mediações recatadas,
Advindas do berço pobre,
Abriram o caminho nobre.

O itinerário do amor real,
Longe da pompa imperial,
Apontava projeto de vida,
Com lealdade enternecida.

Na prepotência do poder,
O povo, sempre a perder,
Recebeu a incumbência,
De propagar a clemência.

Da pertença comunitária,
Emergiu a força solidária,
De transcender a guerra,
Do perverso que encerra.

A luz daquele nascimento,
Brilhou como vasto alento,
Para clarear o fito da vida,
 E deixa-la comprometida.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Inconformismo religioso



Ao lado das experiências inefáveis,
Numerosas ocorrências lastimáveis,
Afetam comunidades na comunhão,
Porque animadores gestam desunião.

Pensam mais nos interesses pessoais,
Do que nos valiosos préstimos sociais,
Distantes das motivações assumidas,
Porque perderam razões presumidas.

Na desventura dos serviços ineficazes,
Aparecem os sinais mais que loquazes,
Do seu foco nas pessoais precedências,
E no favorecimento das benemerências.

Sem básica recordação da causa cristã,
E sem ação sobre a fragilidade malsã,
O discurso vira instrumento bajulador,
Que somente visa seu próprio pendor.

Diante de incontáveis gostos subjetivos,
Tão poucos encontram os reais lenitivos,
Que ajudem a perceber além dos limites,
Perspectivas maiores que vagos palpites.

Na ausência do profetismo visionário,
Bem atenuado fica o agir missionário,
E cabe voltar às raízes da simplicidade,
E sorver a rara e esquecida humildade.









terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Escarcéu político



Com tanta euforia,
De pouca alforria,
A falação danada,
Acaba sossegada.

A dura perseguição,
À negada oposição,
Inflamada de falácia,
Surte pouca eficácia.

A presunção de melhor,
Repete o que há de pior,
E não acrescenta no afã,
A nobreza de político elã.

Na salivação abundante,
Para culpar outro errante,
Some-se o ardor da ação,
E esmorece a dedicação.

Na prisão da adversidade,
Ecoa a voz da atrocidade,
Já esquecida a promessa,
E o assegurado na pressa.

Aos poucos some o escarcéu,
E prometidos projetos ao léu,
Reféns da eterna postergação,

Devoram os anseios da nação. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Vitalidade



Nesta idade,
A idoneidade,
Abre projetos,
Bem discretos.

A aparência,
E precedência,
Cedem espaços,
A outros traços.

Rica ambição,
Da conquista,
Volatiza no ar,
Sem aprumar.

A vingança,
Sem fiança,
Vê derrota,
E a chacota.

Doce leveza,
Da presteza,
Já se apruma,
E se arruma.

A esperança,
Abre e lança,
Sentido vital,

Ao devir real.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Deus conosco



            Pela manifestação de algumas tendências no interior da Igreja Católica, caberia mais a afirmação do Deus no céu, e, muito longe daqui. Talvez este desejo de distância se preste para algumas ações ideológicas com vistas a manipular pessoas em favor do interesse de grupos que se impõem através de discursos alienantes.
            Fica fácil falar de um “Jesus Cristinho” intimista ou da “mãezinha do céu” ou do “Deus categórico, autoritário e vingativo”.
            Em nossa costumeira preparação de Natal, as semanas que antecedem a festa, nos brindam com as ricas imagens do profeta Isaías. O ambiente extremamente difícil do seu tempo levou-o a olhar para além da obsessão comum pelas guerras, cultivo de ódios e de vinganças. Ele constatou que no passado, sob as regras éticas da grande experiência teofânica do Monte Sinai, a vida era incomparavelmente melhor.
            É possível que Isaías tenha sonhado com a perspectiva meramente política, pois o rei Acaz (735 anos antes de Cristo) resistente a acolher uma palavra do profeta para algum sentimento mais humanitário que pudesse revelar Deus no meio daquele momento histórico angustiante, não dava nenhuma evidência de que seu fracassado reinado permitiria procedimentos mais favoráveis ao povo.
            A saudosa imagem da dinastia Davídica despertava no profeta Isaías algo bom que ainda poderia manifestar-se da parte de Deus: a gravidez da filha do Rei poderia fornecer ao país um futuro rei – menos prepotente - que novamente poderia tornar-se, como Davi desejou ser, um bom secretário de Deus, a fim de que o bom entendimento do povo revelasse o “Deus conosco” (Emanuel).
            A antiga esperança do profeta ofereceu uma chave de leitura aos primeiros seguidores de Jesus Cristo, pois, entenderam que, nele, a plena manifestação do esperado “Deus conosco” estava, enfim, se realizando como um casamento novo para uma vida mais ordeira e decente.
            Temos hoje razões suficientes para não cultivar boas expectativas em torno dos nossos governantes, mas, será que nos bastaria um grupo de pessoas retas, honestas e sensíveis ao sofrimento do povo em funções básicas do governo, para nos apontar a imagem poética de que Deus realmente vai morar no meio de nós?
            Certamente se fará necessária uma mudança muito grande em toda a coletividade, pois, se não somos induzidos para a guerra estúpida, somos envolvidos pela lamentável perda de regras éticas, estas que poderiam apontar capazes de superar a corrupção, o enriquecimento ilícito, e o aumento de vantagens pessoais em detrimento de outras pessoas, que precisam pagar o preço da miséria e da fome.
            Que a memória de Jesus, filho da mulher simples, atenciosa, serviçal, que abriu o dom da sua vida a Deus, - Maria - possa nos antecipar alegrias de tempos melhores na irrupção de um agir messiânico, em que se instauram mais sinais de amor, e que, enfim, nos convençam de que “Deus está conosco”.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Fragilidades



Na mescla desordenada,
De conduta desandada,
Emerge traço histórico,
De tempo nada retórico.

Carências e sofrimentos,
Eivados de atos violentos,
Geram reações imediatas,
Até nas pessoas cordatas.

Nem sempre flui bondade,
Mesmo na santa lealdade,
E nas melhores intenções,
Ferem-se meigos corações.

No âmago da afetividade,
Aparece supina a maldade,
Associada a atos violentos,
Para a defesa dos intentos.

Nos gestos já conotativos,
Tagarelam os denotativos,
E o resultado imprevisível,
Distorce o desejo indizível.

Surge o doloroso conflito,
Que mais do que o atrito,
Atrapalha uma reatância,
Da repentina dissonância.

Sem sinal de misericórdia,
Inviabiliza-se a concórdia,
E a ocasião de interação,
Enleia a chata prostração.





quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

No reino da petulância



Disseminada em larga escala,
A petulância invade e propala,
Que os modos nada respeitosos,
Somam mais que gestos ditosos.

Na cínica e sedutora insolência,
Afirma-se o topo da irreverência,
Que age de modo vil e arrogante,
Sem a menor sutileza atenuante.

O envaidecimento leva à ousadia,
De esnobe e escancarada picardia,
De furtar e de deixar até contente,
O logrado em seu torpor padecente.

Para justificar boa e reta governança,
Encobre-se uma perfidiosa lambança,
E se mudam as regras estabelecidas,
Sem que arrogâncias sejam preteridas.

No enleio da boa vontade presumida,
Engana-se com a austeridade fingida,
Para ostentar retidão e transparência,
Sem em nada se mudar a irreverência.

A atribuição de direitos seguindo desejos,
Importa mais que os reiterados remelejos,
Dos insatisfeitos em sua agrura cotidiana,
Do quais toda delegação de poder emana.






segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Bricolagem democrática



Na polissemia das incontáveis explicações,
Alargam-se, cada dia mais as contradições,
Que justificam territórios de constituintes,
A labutar pela garantia de seus requintes.

Nem a desejada democracia participativa,
E tampouco a tradicional representativa,
Preenchem reais anseios da coletividade,
E suprem objetivas carências da sociedade.

Na despolitização dissimulada de legítima,
A delegação auferida sob o voto da vítima,
Comprado com dinheiro da vil corrupção,
Disfarça-se a mais perversa manipulação.

No território assegurado pelos espertalhões,
A democracia ajusta os preceitos dos porões,
Da velha bricolagem de aparências bondosas,
Sobrepostas à astúcia de vantagens danosas.

A barganha de agregações mais estruturadas,
Sem uma representação de posturas ilibadas,
Valoriza somente a participação que ratifica,
O intento que melhor convém e as gratifica.

Na bricolagem da sobreposição dos agrados,
Interesses muito excludentes e diversificados,
Compatibilizam-se no discurso de persuasão,
Para convencer os manipulados da submissão.







sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Fontes de alegria



            Costuma-se dizer que uma preparação de festa já antecipa as alegrias da festa, especialmente, quando a festa tem razão importante para ser celebrada. Da tradição católica herdamos da memória dos santos (as) padroeiros (as) uma razão importante para festejar comunitariamente. Ao fazermos memória do que o santo ou santa padroeira fizeram na sua existência, antecipamos uma possibilidade maravilhosa: a nossa vida, apesar de tudo quanto não anda tão bem quanto gostaríamos, também pode ser melhor e mais humanitária. Também antecipamos possibilidades viáveis. Por esta razão uma festa comunitária tem o potencial de gerar utopias de mundos melhores para serem vividos.
            Da memória bíblica sempre é bom relembrar o profeta Isaías que se desencantou com os resultados das guerras e dos sofrimentos que causavam sofrimentos profundos e desgostos à vida do povo. Ao relembrar que em tempos idos o povo vivia coeso, unido e solidário em torno do templo em Jerusalém, passou a intuir que a volta desta característica do povo vinculado a Deus seria um projeto de vida mais eficaz do que sob as instabilidades de guerras e de conluios dos mandantes, insensíveis às misérias do povo. Por esta razão, Isaías imaginava algumas evidências sob a religação da aliança com Deus: o deserto se transformaria em paraíso, doentes ficariam curados e as maldades do pecado seriam superadas. Salientava algo muito interessante, pois, até a natureza ajudaria a criar um clima de bem-estar: do toco da árvore derrubada brotariam frutos de alegria... Isaías ainda imaginava que a reatância com Deus permitiria criar situações novas de uma vida mais satisfatória.
            Da alegre expectativa despertada por Isaías e que ficou viva na memória do povo ao longo dos séculos, pode-se imaginar o que representou a vida de Jesus Cristo: seu modo de ser, de falar e de agir em favor do bem-estar das pessoas, ativava a certeza de que nele estava se realizando esta sintonia e unidade em torno de Deus.
            Se nós ainda hoje nos encantamos com a alegre expectativa criada por Isaías, muito mais podemos alegrar-nos por lembrar a vida e a história de Jesus Cristo, porque em razão do que ele fez e falou, podemos alentar-nos com motivações de alegria, uma vez que em Jesus Cristo se realizou a ternura de Deus, tal como Isaías sonhara a muitos séculos anteriores.

            Que a preparação da festa do nascimento de Jesus Cristo possa nos oportunizar importantes razões de alegria e nos apontar a iminência de dias melhores porque acolhemos Deus no meio de nós. Já não precisamos esperar novidades sensacionalistas porque da memória do que Deus realizou através de Jesus Cristo podemos encher-nos de alegre antecipação de alegria.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Veleidades



Tantas intenções de pouca consistência,
A ocupar a mente na sua intermitência,
Indicam vastos horizontes de felicidade,
Mas fenecem com a menor adversidade.

Outras tantas conjuminações fantasiosas,
Sobre virtualidades das mais grandiosas,
Revelam-se absolutamente irrealizáveis,
Porque são passageiras e pouco estáveis.

Porque, então, ocupam tanto momento,
Que poderia gestar um benéfico alento?
Sob uma vontade imperfeita e oscilante,
Mandam e enleiam no sonho diletante.

No entanto, o que seria da vida eficiente,
Sem as veleidades para tempo contente,
De fugir da crueza obsessiva de produzir,
O no colorido da fantasia se persuadir?

As  veleidades noslivram do foco mórbido,
De somente pensar no fanatismo sórdido,
De que somos máquinas para transformar,
Obsessões que anulam o intento de amar.

Possam, pois, as veleidades tão inúteis,
Ao lado de tantas coisas banais e fúteis,
Equilibrar muitas razões de convivência,

E ajustar a vida com bondade e decência.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

No ar da galhardia



Indizível e grata experiência,
De uma gentil convivência,
Eleva toda magnanimidade,
No clima alegre da amizade.

Se o garbo da boa acolhida,
Na distinção não merecida,
Já enaltece a generosidade,
Causa simpatia à saciedade.

No peculiar e bom ambiente,
O elã da vida solta contente,
O interceptado de grandioso,
Para o ambiente harmonioso.

Nas gargalhadas espontâneas,
Por coisas bem consentâneas,
As mágoas voam tão diluídas,
E portam as dores ressentidas.

Na constatação do bem-estar,
Não aflora algo a se contestar,
Porque a empatia do ambiente,
Enseja um clima bem contente.

A galhardia fabrica os sonhos,
De caminhos não enfadonhos,
Que antecipam ações singelas,
E mais tempo para boas trelas.




Nas urucubacas da vida



Enquanto anelos vitais,
Fitam fontes essenciais,
Ações bem imprevistas,
Interrompem as pistas.

Uma vida amalgamada,
E no sonho, acalantada,
Sem seu rumo traçado,
Esmorece sem legado.

Quando muitos azares,
Afetam prósperos ares,
A urucubaca sorrateira,
Aparenta ação derradeira.

Parece que possui poder,
De induzir a se escafeder,
Qualquer seguro intento,
Que permita gestar alento.

Resta apenas recomeçar,
E novos intentos realçar,
Para evitar astuto feitiço,
Do psiquismo em reboliço.

A firmeza dos bons desejos,
Abre aos renovados ensejos,
Forças superiores aos azares,
E os eleva a ricos patamares.

Mais do que a sina maldosa,
De pressupor ação invejosa,
Cabe um olhar esperançoso,
Factível de rumo prodigioso.








sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Mudanças na vida



            Bem conhecemos a força determinante dos hábitos: são fatores fundamentais para equilibrar a vida, mas, também constituem empecilhos para uma vida tornar-se mais dinâmica, alegre e capaz de encontrar novas referências.
            No campo religioso podemos observar quanto certos ritos, piedades e formalismos religiosos esvaziam a experiência religiosa e acomodam as pessoas a não buscar algo que possa dar mais sentido e bom retorno do caminho da fé. Embora a palavra “conversão” esteja em processo de desaparecer da conversa e da oração, este tempo de preparação da festa do natal – da memória do nascimento de Jesus Cristo – nos aponta este importante caminho da conversão e ele pode acontecer na alegria.
            O Evangelho de Mateus ( 3, 1-12) salienta alguns traços das profecias de João Batista, particularmente oportunas para nos orientar num processo de mudança, ou de conversão para uma vida mais encaixada nas manifestações do amor de Deus.      Há momentos e fases da vida em que se torna um tanto difícil intuir perspectivas novas e de mais alegria, porque perdas ou fracassos nos remetem excessivamente aos fatos passados e, em torno deles, continuamos a ferir os sentimentos e permitir que eles nos roubem a alegria.
            Uma imagem muito antiga da Bíblia, escrita por Isaías (11, 1-10), nos ajuda a lidar com esta tentação de ficar amarrado ao passado. O profeta, ao interpretar os acontecimentos do povo e, querendo ajuda-lo a não se acomodar ao fatalismo resignado, usava a imagem do carvalho derrubado. Do toco que sobrou no chão, pode emergir um broto novo! Apontava para uma possibilidade messiânica e utópica: Deus pode dar sinais no meio da experiência de fracasso. Desta história dilacerada por abandono da fé, por guerras e por crises de toda natureza, pode emergir algo novo. No lugar do frondoso carvalho, um broto poderá voltar a florir... Já não seria mais um rei como Davi, mas alguém que poderia reatar a unidade do povo e abrir-lhe caminhos de alegria e bom entendimento com outros povos.
            Nós também vemos muitos carvalhos de nossos sonhos e de nossas utopias sendo derrubados, e, de forma brusca, inesperada e violenta. Mais do que ficar numa magoada lamúria, cabe-nos agir positivamente para facilitar que os tombos e as derrubadas dos nossos anseios vitais, possam facilitar o aparecimento de brotos, e com a virtualidade de ostentar flores de alegria.
            Na memória da alegria que Jesus de Nazaré representou para tanta gente sofrida do seu tempo, podemos reativar o mesmo clima diante da antecipação das coisas boas que poderão acontecer em nossa vida, através da preparação de um tempo novo, e, pelo progressivo cultivo da motivação de que inovações em nosso modo de viver, podemos tornar-nos mais descomplicados e muito mais alegres.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Consciência dos limites



A obsessão pelo consumo,
Tira o necessário aprumo,
De rever ações efetuadas,
E limitações perpetradas.

Como supor novas lidas,
E com forças aguerridas,
Encetar uma conversão,
Que mude a motivação?

Sem a auto-consciência,
Da memorial referência,
Dos atos já perpetrados,
Não se intuem pecados.

Na psicopatia alargada,
Da ambição endeusada,
Não há erros a corrigir,
E nem limites a redimir.

Tão somente humildade,
Reinterpreta a realidade,
Com consciência crítica,
Para a reta ação política.

A cegueira de horizontes,
Seca a riqueza das fontes,
Capazes de fundamentar,
Novas visões a acalantar.


quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Cataclismos



Ao lado dos cataclismos da natureza,
Eivados de ação superior em grandeza,
A condição da sobrevivência humana,
Vive de imprevistos que a desengana.

Enquanto o macro-cosmos interpela,
Com riscos de devastação sem trela,
O micro-cosmos do corpo humano,
Vive forte turbulência e desengano.

Não só o equilíbrio dos sub-sistemas,
Enfrenta crises claudicantes e dilemas,
Pois o psiquismo mórbido e abalado,
Cria disfunções no sistema integrado.

Como relações de sustentação afetiva,
Não são perenes, nem de ação efetiva,
Obrigam a lidar com perdas e a recriar,
Inovadores vínculos para não desandar.

Também os sonhos ficam atordoados,
Com frustrações para todos os lados,
E para não alentar-se na estagnação,
Requerem inovados projetos de ação.

Nas reorganizações dos pensamentos,
Nem tudo concorre aos bons intentos,
Pois a antecipação dos riscos e efeitos,

Derruba e retorce de incontáveis jeitos.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Solicitude



Raras como espécies em extinção,
São pessoas elevadas na distinção,
De manifestar cortesia e gentileza,
Para propiciar condições de leveza.

Escassas são as pessoas diligentes,
Que não aspiram ares precedentes,
No afã de seus dedicados serviços,
A não se enrolar nos seus enguiços.

Sumida também está a boa vontade,
De propiciar com explícita bondade,
A melhor atenção e zeloso cuidado,
Para que outros sintam bom legado.

Perdidos se encontram os cuidados,
Pelos eco-sistemas tão desandados,
Para protegê-los com gestos zelosos,
E deles desfrutar elementos gozosos.

Extraviadas também estão autoridades,
Não ocupadas visando suas saciedades,
E diligentes para tirar da nossa nação,
O sofrimento advindo da estagnação.

Até nas lidas religiosas anda sumida,
A solicitude tão apreciável e querida,
Capaz de focalizar um bom fim alheio,
Sem sorrateiro e mancomunado enleio.


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Medos e utopias



            Diante dos muitos profetas da desgraça, sabemos que a grande maioria sequer merece crédito; mas, há cientistas sérios, que nos fazem pensar sobre o modo como lidamos com o planeta. Stephen Hawking já preconizou uma porção de situações alarmantes para chamar atenção de que a Terra merece tratamento mais digno do que está recebendo. Nesta semana nos brindou com a conclusão de que, no atual ritmo, a Terra sobreviveria no máximo mil anos.
            Assim como há fatores que despertam medos e inseguranças para o futuro, há também proliferação de incontáveis utopias messiânicas. Umas são meramente sensacionalistas. Outras decorrem de uma leitura consciente da memória política, econômica e militar.
            Para os cristãos a utopia que mobiliza para tempos melhores, está em captar a melhor aproximação possível do que Deus deve estar esperando da nossa condição humana: não estragar este belo paraíso. Naquilo que já foi degradado, ainda resta esperança de que novas políticas possam desacelerar o processo entrópico do planeta, movido pela ambição humana e que acelera seu processo de penúria rumo ao fim definitivo. Stephen Hawking aponta a necessidade de encontrar outros planetas para a sobrevivência humana; mas, atinente ambição humana levará outros planetas ao mesmo desfecho trágico da Terra.
            Pouco ou nada adiante entrar em desespero diante do pior possível, mas, a vigilância cristã nos convida a uma ação efetiva para agir e fazer alguma coisa que está ao nosso alcance em função de um relacionamento mais afetivo, respeitoso e menos ambicioso.
            Assim, nossa perspectiva do aguardo do Senhor que vem, não se constitui nem em pânico e nem em inércia de esperar que ele resolva os problemas humanos. Mas, o importante é que o foco do final que aguardamos nos leve a agir positivamente e, o referencial de Jesus Cristo nos serve de caminho e referência a ser seguido. Não é um caminho fantasioso e irrealizável, mas, a irrupção concreta do jeito de Deus manifestado em Jesus Cristo. Trata-se de uma utopia plena e racionalmente viável.
            Nesta esperança messiânica é que podemos alimentar boas expectativas, apesar de fatos humanos que nos assustam e nos desanimam, em alguns momentos, a respeito do êxito da bondade diante das maldosas crueldades humanas.
            Podemos, pois, diante do que esperamos para o fim da vida, não apenas projetar a utopia do que aguardamos, mas, também agir ordeira e conscientemente para que este fim desejado se alargue no meio da condição humana.

            Na antiga imagem bíblica do monte santo de Deus, desejamos nós, que a presença de Deus entre nós, permita agir sem o alvoroço de pânicos e de supostas desgraças.

<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...