Parece um
tanto anacrônico falar em “boa notícia”, sobretudo, de alguns anos para cá. Uma
atenção às informações diárias relativas ao procedimento dos mandantes do
governo do nosso país faz ecoar uma voz estridente de cotidianas “notícias
desalentadoras” envolvendo corrupção, e, consequentemente, muito sofrimento
entre pessoas que deveriam estar bem. No entanto, a memória de tempos que já
foram muito melhores, permite um horizonte de razões plausíveis para que esta
esperança nos alegre.
Aos atuais
seguidores de Jesus Cristo, oportuniza-se na festa comemorativa do seu nascimento,
uma recordação especial de parte dos textos do profeta Isaías, escritos há
muitos séculos antes, em tempos extremamente difíceis para o povo de Israel. O profeta
convidou grande parcela do seu povo exilado na Babilônia a se alegrar, apesar
de todo o clima de resignação fatalista que vivia na condição escrava.
A
libertação, por uma mediação não esperada, - pois o rei da Pérsia invadiu a
Babilônia e mandou embora os escravos judeus – fez com que Isaías percebesse
uma peculiaridade do amor de Deus: Ele havia se manifestado, de onde menos se
poderia esperar, um favorecimento aos exilados na Babilônia.
Aquilo que
os reis de Israel deixaram de fazer em favor da unidade do povo, o detestado
rei da Pérsia, acabou fazendo, mas, nada adiantaria retornar com o mau humor
que marcara este tempo de exílio. O profeta, sentindo este amor maior de Deus,
encontrava motivação para animar o povo revoltado e convidá-lo a celebrar a
alegria, pois, Deus deu sinal mais que evidente de que não abandonou o povo.
Deus poderia
constituir o elã da reconstrução do país e tornar-se, de novo, a indispensável
fonte de alegria e de esperança, não apenas para os judeus, mas, também para os
demais povos.
Como já não
se esperavam portadores de alguma boa notícia da libertação, Isaías,
poeticamente, referiu-se à beleza dos pés de quem anuncia a felicidade, a paz e
a libertação da escravidão. Na expectativa do poeta, todos deveriam erguer a
voz e irromper brados de alegria porque Deus estava mostrando seu bem-querer
àquele povo sofrido.
A festa que
o profeta Isaías projetou, não era a festa da frustração e do vazio existencial
e, tampouco, visava comer e beber para esquecer as mágoas, pois, seria a festa
da antecipação do que poderia voltar a acontecer sob o bom sentimento de amparo
do povo, agraciado pelo amor de Deus. Em vez de nação desolada, o ponto mais
elevado da sua capital, Jerusalém, poderia voltar a ser referência de boas
vindas para outros povos, algo totalmente diferente das seguidas invasões e da pífia
preocupação dos governantes para guerrear.
A exaltação
antiga do profeta tinha o olhar da esperança a partir da boa experiência de
tempos passados: Deus poderia novamente constituir-se na referência para o bom
reinado do povo e para transcender a ambição de corruptos e inescrupulosos
mandantes que infernizaram a vida do povo.
Assim, a
festa para celebrar o nascimento de Jesus do nosso tempo, apesar de todas as
razões para estar de mau humor e de insatisfação desalentadora, nos permite
antever que o jeito de Jesus, com certeza, aponta para tempos mais felizes do
que estes, vividos sob governantes que apenas pensam em suas vantagens
pessoais.
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