Engendrados para relação simbiótica,
Rompemos o laço a partir duma ótica,
De que alma e pensamento é superior,
À natureza e o seu mundo arrebatador.
Da velha ambiguidade da razão grega,
Relida com uma ingenuidade burrega,
Consagrou-se alma à condição divina,
Para reduzir o resto de forma
cretina.
A clara distinção entre nós e a
Terra,
Com a vicejante riqueza que encerra,
Deu-nos o direito de subjugar e
fruir,
O quanto progresso pudesse destruir.
Instrumentalizados para tudo
colonizar,
Ampliamos o olho voraz para
eternizar,
A insaciável fome de lucro e
destruição,
Projeto econômico de errônea
intuição.
Amparado pela argumentação religiosa,
Ganância foi elevada à virtude
preciosa,
Para explorar terra, animais e
humanos,
Visando acúmulo de bens transumanos.
Perda da sensibilidade de
procedência,
Lesou mente humana com indecência,
De pensar que não carece da natureza,
E nem da sua extraordinária sutileza.
Segue-se espoliando bilhões de seres,
E explora-se o essencial dos
afazeres,
Para justificar pilhagem do que
rende,
No escrito que o Iluminismo pretende.
Assim nega-se a procedência do amor,
De quem engendrou tudo com a dor,
Para inalar a gratuidade da rica
vida,
Necessária para relação enternecida.
Presumida supremacia racial de cor,
Delegou direito de negar a multicor,
De humanos e outros seres viventes,
Do rol dos superiores e inteligentes.
Na colonização bárbara das pessoas,
E dos belos recursos de dádivas boas,
A natureza queima na beira da morte,
Sob o efeito louco do humano aporte.