terça-feira, 29 de agosto de 2023

NÓS E A TERRA

 


Engendrados para relação simbiótica,

Rompemos o laço a partir duma ótica,

De que alma e pensamento é superior,

À natureza e o seu mundo arrebatador.

 

Da velha ambiguidade da razão grega,

Relida com uma ingenuidade burrega,

Consagrou-se alma à condição divina,

Para reduzir o resto de forma cretina.

 

A clara distinção entre nós e a Terra,

Com a vicejante riqueza que encerra,

Deu-nos o direito de subjugar e fruir,

O quanto progresso pudesse destruir.

 

Instrumentalizados para tudo colonizar,

Ampliamos o olho voraz para eternizar,

A insaciável fome de lucro e destruição,

Projeto econômico de errônea intuição.

 

Amparado pela argumentação religiosa,

Ganância foi elevada à virtude preciosa,

Para explorar terra, animais e humanos,

Visando acúmulo de bens transumanos.

 

Perda da sensibilidade de procedência,

Lesou mente humana com indecência,

De pensar que não carece da natureza,

E nem da sua extraordinária sutileza.

 

Segue-se espoliando bilhões de seres,

E explora-se o essencial dos afazeres,

Para justificar pilhagem do que rende,

No escrito que o Iluminismo pretende.

 

Assim nega-se a procedência do amor,

De quem engendrou tudo com a dor,

Para inalar a gratuidade da rica vida,

Necessária para relação enternecida.

 

Presumida supremacia racial de cor,

Delegou direito de negar a multicor,

De humanos e outros seres viventes,

Do rol dos superiores e inteligentes.

 

Na colonização bárbara das pessoas,

E dos belos recursos de dádivas boas,

A natureza queima na beira da morte,

Sob o efeito louco do humano aporte.

 

 

 

 

sábado, 12 de agosto de 2023

DIA DOS PAIS

 

 

Das babilônicas homenagens,

Para modernas traquinagens,

Dia precípuo para finalidades,

Das graciosas reciprocidades.

 

Oriundo da ação publicitária,

Duma ousadia revolucionária,

O dia passou a ser estimulado,

Para um consumo estipulado.

 

As lojas, bares e restaurantes,

Somam razões coadjuvantes,

Para ampliar lucros e ganhos,

E fruir polpudos arreganhos.

 

Sugerem graciosos presentes,

Para deixar os pais contentes,

No sinal de amor enternecido,

Com surpresa e muito alarido.

 

Beijos com apertados abraços,

Votos de saúde e bons regaços,

Para sorte, com próspera vida,

Vibram como ejos de acolhida.

 

As camisas, relógios e gravatas,

Ignoram as objetivas bravatas,

E qualquer pai é grande herói,

Que tanta coisa boa constrói.

 

Perfumes, cervejas e cachaças,

Com bons vinhos e as chalaças,

Regam com carnes suculentas,

As mesas alegres e opulentas.

 

Muito conta o transcurso real,

Do homem honesto, reto e leal,

Para merecer um singelo preito,

Como bom pai, amigo do peito.

 

Tantos pais apenas biológicos,

Sem retos climas psicológicos,

Relegaram a sua hombridade,

Sem honrar a sua paternidade.

 

Inúmeros outros pais edificam,

Seus bons lares e os dignificam,

Para merecer ao longo da vida,

Preito pela ternura enternecida.

 

A firmeza no pacto da lealdade,

Repartida com sua cara-metade,

Elevam bom clima de segurança,

Com sua admirável temperança.

 

O feliz dia dos pais no cotidiano,

Remete ao seu admirável plano,

Dum lar próspero e abençoado,

De descendência e bom legado.

 

 

 

 

 

 

 

  

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

TRAVESSIA

 

 

Na canoa tão insegura,

Da mente que fulgura,

Com a outra margem,

Medos fitam miragem.

 

Sem os deslocamentos,

Perecem bons alentos,

Do alcance de sentido,

Dum anseio incontido.

 

Numa margem segura,

As ondas da diabrura,

Também abalam a fé,

Do fogo sem chaminé.

 

Ameaças e tormentos,

Tremulam estamentos,

E suas ondas gigantes,

Abalroam, arrogantes.

 

Some calma e controle,

Sem que algo extrapole,

Nos rumos desandados,

Bons ventos inusitados.

 

Fidelidade ao propósito,

De um valioso requisito,

Da firmeza na condução,

Lida com ventos na ação.

 

E deixa levar toda fixidez,

Das ideias duras da aridez,

Para fitar a outra margem,

Prevendo inovada aragem.

 

Na ancoragem prolongada,

A canoa pode ficar furada,

E impedir que as amarras,

Se soltem das gambiarras.

 

A admissão de ser levado,

Por um vento desandado,

Requer acuidade na lida,

A buscar o novo da vida.

 

Medo de andar no vento,

Sem amarras ao advento,

Das outras tempestades,

Levará a novas amizades.

 

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

SER ANACRÔNICO E QUASE EXTINTO

 


Séculos de identidade definida,

Numa concepção empedernida,

Deslocam imagem exponencial,

Rumo à irrelevância credencial.

 

Feito exótico animal anacrônico,

Sua fala de estranho antagônico,

Faz dele um divisor de ambiente,

Tolerado como o inconveniente:

 

Suspeitas ao brincar com criança,

Aguçam as censuras de confiança,

E quando se aproxima de adultos,

É observado pelos riscos estultos.

 

Sabe que vontade de ser próximo,

O coloca como suspeito máximo,

Pelos reais riscos que representa,

Para um papel de imagem isenta.

 

Precisa equilibrar-se num ditame,

Entre religioso e sagrado certame,

Com a rara capacidade dialogante,

Na vida isolada de pessoa distante.

 

Move-se no modelo padronizado,

Artificial dum arquétipo moldado,

Ineficaz como funcionário sagrado,

E muito estranho como consagrado.

 

Situado entre a pedra e o martelo,

Constata-se frágil para ser singelo,

Porque é cobrado numa ortodoxia,

E feito irrelevante na heterodoxia.

 

Assim, seu desejo misericordioso,

E sua alegria para o sublime gozo,

Não repercutem a compassividade,

Nem crescimento da sinodalidade.

 

Sua palavra sem força de ser dom,

Não difunde tão desejado shalom,

E falar sobre Deus afasta ouvintes,

Que geram desagradáveis acintes.

 

Até desejo de ser irmão próximo,

Distancia-o como sem préstimo,

E refúgio no mundo do silêncio,

Enfraquece razão do seu anúncio.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

UTOPIA DA FARTURA

 

 

O tempo de produção fantástica,

Veicula tanta notícia bombástica,

Sobre a produção de alimentos,

Para mesa farta de provimentos.

 

Montanhas de alimento humano,

Em nada muda fanatismo insano,

Para obtenção de grande fartura,

E expansão do plantio na bravura.

 

Verdadeiro fetiche por alimentos,

Cultivado como oferta de alentos,

Destroça mato e brejo por plantio,

Mas deixa mesas com prato vazio.

 

A inaudita riqueza tirada da Terra,

Esconde dado que tudo emperra,

Pois na mercantilização despótica,

Confirma-se uma tese apoteótica:

 

Tudo para os que muito acumulam,

Nada para famintos que tremulam,

Pois o perverso dogma da riqueza,

Joga a Deus escandalosa pobreza.

 

Orgulhosos de alimentar o mundo,

Agressivos, criam clima infecundo,

Para possível solidariedade humana,

E que diminua vasta pobreza insana.

 

A cama de tanta gente é a calçada,

E o cobertor, a papelada estucada,

Enquanto outros, na rica mansão,

Planejam esnobar sua pretensão.

 

Espetáculo consumidor sem limites,

No desperdício jogado sem apetites,

Força outros a procurar nas lixeiras,

As sobras descartadas com poeiras.

 

O mito da honra para ser apreciada,

Na riqueza de aparência esnobada,

Já não vê o horizonte da dignidade,

E nem da compassiva hombridade.

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

DOUTRINA SACRALIZADORA DO PODER

 

 

Ante regras humanas necessárias,

Circulam tantas outras arbitrárias,

Que justificam encargos elevados,

Para os divinamente designados.

 

No apelo falso ao poder superior,

Investidura sobre mundo inferior,

Forma húmus rico para os abusos,

E justificativa para atos preclusos.

 

Superioridade sem competência,

Abre o lastro da larga indecência,

Para pensar-se acima das regras,

E justificar as falsas contrarregras.

 

Mentalidades difusas apregoadas,

Resistem às mudanças ponderadas,

De sacramentalidade dos serviços,

Pois sacralizam o poder de feitiços.

 

Ministérios ficam atrelados a poder,

Nem aceitam o evangélico proceder,

Porque este enfatiza a serviçalidade,

Para promover o elã na humanidade.

 

Difusa sacralização do poder divino,

Acoberta todo processo peregrino,

Na autorreferencialidade imagética,

Desviada de honesta postura ética.

 

Sobra, então a defesa doutrinária,

Duma mera mentalidade precária,

A mover a seletividade ideológica,

Sob alertas da ação demonológica.

 

 

 

SOB CULTURA DO DESCARTE

 


Um longo processo cultural,

Em traço visto como natural,

Seleciona alguns, e descarta,

Diante duma demanda farta.

 

Assim, velhos vão sobrando,

Menos eficazes não obrando,

Pois a eficiência é valorizada,

E a sua queda é preconizada:

 

Sabe que o jogo do descarte,

Não condecora com baluarte,

Mas, relega ao conformismo,

Da ordem de sádico cinismo.

 

Uma vez relegado do direito,

Perece todo valioso respeito,

Que competência propiciava,

E na intuição se preconizava:

 

Rumar para a marginalidade,

E acalantar a doce saudade,

Do tempo passado já quieto,

Povoado de sonho irrequieto.

 

Até campo religioso descarta,

Em nome de uma divina carta,

E muda teologia em ideologia,

Para firmar-se numa apologia.

 

Ao dizer que Deus quer assim,

Defende-se ideologia chinfrim,

Captada de vetusta afirmação,

Para negar alguma modificação.

 

Mulher, na eira da comunidade,

Numa suposta lei da divindade,

Assegura seleta elite masculina,

Para garantir poder que domina.

 

Na vasta sacralização do poder,

Nada de novo se quer aprender,

De que chamado à governança,

Não é divina e precípua herança.

 

Descarte contra o jeito de Cristo,

Ignora todo seu modo benquisto,

E eleva num falso apelo ao cargo,

Poder superior, livre de embargo.

 

 

 

 

 

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...