quarta-feira, 17 de junho de 2020

ATÁVICA FRAQUEZA HUMANA

 

Questões aparentes e superadas,

Renascem de entranhas passadas,

Muito além da briga esquerdista,

Ou da insinuante ação direitista.

 

A emergência da convulsão social,

Ameaça as políticas da lida oficial,

Com muitas polarizações fascistas,

E rompantes de apelações nazistas.

 

Na ingovernabilidade institucional,

Caem os patamares do referencial,

Que forneciam segura estabilidade,

Mas que preconizam arbitrariedade.

 

Oficiais meios de salvação previsível,

Já perderam seu apanágio indizível,

E deixam a esquerda como a direita,

Sem uma proposta ideal que se ajeita.

 

Na amarga crise da governabilidade,

As polarizações para nova sociedade,

Apontam efetivos planos genocidas,

E pífios gestos de ações enternecidas.

 

                                      Crescem cada dia mais os vulneráveis,

Que forçados a condições degradáveis,

Trabalham numa abjeta informalidade,

Pela sobrevivência de frágil qualidade.

 

No velho arcabouço do estado-nação,

Revela-se cada dia mais a indignação,

De que não considera a desigualdade,

Como a maior ameaça à humanidade.

 


sexta-feira, 12 de junho de 2020

PENDURICALHOS DA FÉ

 

A ação evangelizadora,

Deveria ser promissora,

Mas refém desvirtuada,

Entrou na porta errada.

 

Atrelada a organizações,

Que visam as multidões,

Vira objeto de consumo,

De um vistoso emplumo.

 

Sob os favores da mídia,

Que lhe armou a insídia,

A evangelização encanta,

Somente como percanta.

 

A motivação do dinheiro,

E um discurso altaneiro,

Com os apelos ao aparato,

Gesta um encanto cordato.

 

O desejo de hegemonia,

E o avanço de sintonia,

 Causam pífia bajulação,

De insinuante adulação.

 

A Barganha pelo topo,

Revela o cego escopo,

De um grupo poderoso,

Fito no portento vistoso.

 

A ação evangelizadora,

Nesta meta enganadora,

Vira prateleira de bens,

Que encanta seus reféns.

 

Com oferta dos objetos,

Os apelos nada discretos,

Insinuam um fetichismo,

Pelo intenso consumismo.

 

As Jóias e muitas viagens,

Permeiam tantas aragens,

Com o deslinde religioso,

Para muita bênção e gozo.

 

Na aquisição do sagrado,

Sob um preço facilitado,

Escanteia-se a Boa Nova,

E obstrui-se o que inova.

 

Sem as urdiduras vitais,

Tantos religiosos visuais,

Apresentam imbroglios,

Bem atraentes aos olhos.

                                                

Já para o reino de Deus,

Sobra só um frio adeus,

Porque penduricalhos,

São bons quebra-galhos.

 

 

 

 

 


quarta-feira, 10 de junho de 2020

MONSTROS VIRTUAIS

 

Enjeitados depois de gestados,

Sobrevivem desconsiderados,

E na dura sina do isolamento,

Fixam-se no objeto de alento.

 

Brincam, navegam e protelam,

E cada dia mais se refestelam,

Com o aprendido na maestria,

Da própria e teimosa ancoria.

 

Sem admiração de raiz paterna,

Desenvolvem visão subalterna,

Da razão de vida inferiorizada,

Que se confirma desamparada.

 

Deslocam na destreza do jogo,

Desconforto do solitário jugo,

Fantasiosos anelos de amparo,

E o avesso do indivíduo ignaro.

 

Sem referências de modelagem,

Povoam sua pobre auto-imagem,

Com as fartas fantasias heroicas,

Advindas de memórias egóicas.


Incapazes de convivência grupal,

Fazem do seu mundo referencial,

O parâmetro do bom e do certo,

No qual triunfa o ágil e o esperto.

 

Acreditam no progresso ilimitado,

Que o pobre mundo desbaratado,

Não contempla na grande magia,

Para sua auto-superação sem guia.

 

Na hegemonia do seu auto-saber,

Não carecem de outros aprender,

Para comprar felicidade sonhada,

Já ausente na sua vida desregrada.

 

 

 

 

 

 


ABANDONO

 

No endeusamento da ciência,

O valor da alta competência,

Pelo mito frankensteiniano,

Gera o legado social insano.

 

Quer-se o perfeito à imagem,

De semelhança e roupagem,

Dos científicos aventureiros,

Que não gestam herdeiros.

 

Relegam seus filhos gestados,

Ao abandono dos degradados,

Pois o que criaram na ciência,

Afigura-se filho de demência.

 

Abandonado na própria sorte,

Sem empático olhar de aporte,

Não aprendeu a ser cuidadoso,

Nem sujeito sensível e bondoso.

 

Relegado na condição indefesa,

A criatura cresceu sem inteireza,

Porque abandonada pelo criador,

Não adquiriu humano pundonor.


Sem o valor de si e da auto-estima,

Encontrou na solidão a subestima,

Da vida toda fracassada e trágica,

Monstrenga e na fantasia mágica.

 

O orgulho da conquista científica,

Que abandona sua cria magnífica,

Gera monstros que ficam isolados,

Anti-sociais e de perigosos legados.

 

A anomalia atenta contra o criador,

Do deus positivista e conquistador,

Ávido por domínio, poder e saber,

Mas, sem a ação de se enternecer.

 

Nesta tragicidade do nosso tempo,

Com este inesperado contratempo,

Todo ódio da criatura pelo criador,

Perpetra-se em desumano torpor.

 

 


terça-feira, 9 de junho de 2020

VATICINADOR DOENTE

 

Tempo de crise,

Revela deslize,

Aos vaticínios,

E lesos licínios.

 

Dito visionário,

De pífio ideário,

No bombástico,

Fala do drástico.

 

Em nome divino,

Assunto cretino,

Revela o vidente,

Com a fé doente.

 

Anuncia milagre,

Com feição agre,

Da ação de Maria,

Mas que ludibria.

 

Prevê o evidente,

Nada procedente,

Como ação divina,

Advinda de ravina.

 

Pensa-se superior,

De belo esplendor,

Para preconização,

Favorável à nação.

 

No seu prenúncio,

De feito pafúncio,

Revela banalidade,

De falsa santidade.

 

Corja já fanatizada,

Anuncia extasiada,

A visão do profeta,

E o suposto asceta.

 

Vive do visionário,

E feito mercenário,

Como um bajulador,

Eleva só o seu andor.


CADA TEMPO COM SEU CONDE DRÁCULA


No imaginário dos tempos,

Diante dos contratempos,

O fascínio pelos vampiros,

Provoca arfadas e suspiros.

 

Vetusta condição humana,

Do medo de morto irmana,

Ante sugadores de sangue,

Em pavoroso bumerangue.

 

Raiz do vampiro moderno,

Evoca coração sempiterno,

Com muito sangue e morte,

E do transcendente aporte.

 

A cristalização dos desejos,

De obsessões e remelejos,

Sempre encontra um vilão,

Com um grotesco aguilhão.

 

O perigoso, tirano e brutal,

Ameaça sob forma fulcral,

O bem-estar conquistado,

E a hegemonia do Estado.

 

Na alteridade detestada,

Lembra defesa devotada,

Contra a ação estrangeira,

Que ameaça paz fagueira.

 

Sem um sinal de simpatia,

Em sua diabólica ousadia,

Revela-se intruso inimigo,

E de todos, arqui-inimigo.

 

Tanto no medo comunista,

Quanto ação expansionista,

É o imperialismo satânico,

Que causa evidente pânico.

 

É o carisma incontestável,

De mandante não amável,

Que escolhe o que agrada,

Sem importar-se com nada.

 

Com ar perverso e sedutor,

De herói rigoroso e indutor,

Lida com tática persistente,

Insensível e todo renitente.

 

Ocupa um vasto imaginário,

Pelo procrastinar temerário,

Que representa na maldade,

O que mata ordeira lealdade.

 

É a máscara tão assustadora,

Do avesso da ação redentora,

Sonhada pela ação da política,

E religião de moral acrítica.

 

Representa a nossa condição,

Do que desejamos da direção,

E do que deveríamos desejar,

Ante as conquistas a ensejar.

 

Reflete nosso medo e terror,

Ante o empedernido horror,

Que ameaça as conquistas,

Pela submissão aos lobistas.

 

Se a China configura ameaça,

A poder dominador sem graça,

Leva o rótulo de ação vampira,

Pelo sangue de quem já delira.

 

 

 


segunda-feira, 8 de junho de 2020

DISFORIA

                                                                      

O assunto pandemia,

Produz uma endemia,

Que alarga ansiedade,

E tristeza à saciedade.

 

O desgosto toma gosto,

E algum desejo oposto,

Ativa largo mau-humor,

E antecipa ar de rumor.

 

Sob clima de amargura,

Tudo acalanta diabrura,

De ação contra planos,

A articular desenganos.

 

O que poderia ser bom,

Como espontâneo dom,

Aparece como atentado,

Que rouba bom legado.

 

A futurição fica sombria,

Porque em nada inebria,

Motivação que encante,

Para aposta significante.

 

No império da paralisia,

Nenhum palpite extasia,

E leva ao agir dinâmico,

Com um ar panorâmico.

 

Sobra sentimento triste,

Que a toda hora insiste,

Em causar pessimismo,

De melancólico cinismo.


AMBIGUIDADES

 

Nossos sentimentos,

E os ditos portentos,

Podem ocultar o real,

E externar só o ideal.

 

Nos ambíguos fatos,

E mesmo os pacatos,

Que tanto enlevam,

Facetas se relevam.

 

Como os remédios,

Os belos assédios,

E políticas idôneas,

Eivam-se errôneas.

 

Também as teorias,

Com tantas aporias,

Criam contradições,

E muitas discussões.

 

A famosa educação,

Como bem da nação,

Oculta desigualdade,

E perversa maldade.


Também os propósitos,

Eivados de compósitos,

Com seu reto itinerário,

Arcam efeito temerário.

 

Em discursos religiosos,

Os argumentos briosos,

Da refinada eloquência,

Erram com frequência.

 

Mesmo os raciocínios,

E os muitos tirocínios,

Atrelam-se com erros,

E produzem desterros.

 


quinta-feira, 4 de junho de 2020

PERUCA EM CARECA

 

 

            Uma peruca pode disfarçar e esconder perfeitamente uma calvície. Ela pode deixar nas outras pessoas a simpática impressão de que, quem a usa, tenha cabelo viçoso, asseado, bem tratado e encantador.

A peruca também se presta para esconder o cabelo natural da cabeça, de traços considerados pouco atraentes, ou, em dissonância com o gosto de quem os recebeu com o dom da sua existência.

Quando alguém apela ao uso de peruca, supomos que não esteja gostando do seu cabelo ou que queira deixar a impressão de que não é careca, uma vez que a calvície pode denegrir a auto-estima de algumas pessoas e se presta para alguma gozação. Até aí, tudo bem, mas, quando alguém deseja aumentar a quantidade de cabelos na cabeça, ainda que seja somente um fio, a peruca se apresenta totalmente ineficaz. Por mais bonita que possa ser e por mais que possa disfarçar os poucos cabelos que oculta, ou até a ausência de cabelos, ela não acrescenta um único fio de cabelo à calvície.

            Nas buscas de espiritualidade muitas pessoas empreendem algo similar ao que acontece com a peruca e se embrenham num caminho de incongruência.           

Em nossos dias, muitas pessoas agem de forma parecida com quem usa peruca para esconder a cabeça careca. Como a ausência dos desejados fios não será efetivamente suprida pelo uso da peruca, a ocultação ou dissuasão dos fios perdidos não povoa a calvície. Mecanismo bastante parecido é adotado por muitos programas religiosos midiáticos. Com jogo de luzes e imagens hiper-reais, despertam, tanto quanto a peruca, a simpatia e o encantamento dos que visualizam a beleza da peruca,  certamente não irá efetuar a reposição real e efetiva de cabelos na cabeça.

            Para a construção do Reino anunciado e proposto por Jesus Cristo, não é suficiente o disfarce, a bela encenação teatral, por mais que possa parecer um simulacro perfeito. Na busca de espiritualidade, o pressuposto de pretender recuperar espaços e membros perdidos para as greis, consideradas as mais amadas e protegidas do Pastor, pode levar à aparência hiper-real que deixa tudo simpático, piedoso, espiritualizado, comovente e encantador, mas, toda esta imagética pode enfeitar ritos e rituais, com muitas emoções e comoções, sem, contudo, aprofundar sinais e gestos na construção do projeto de Jesus Cristo.

A extraordinária apelação para o “Espírito Mágico” que cura doenças, que salva, que transforma imediatamente a vida para o auge da felicidade, pode não passar de um engodo e constituir apenas o papel da peruca. O que se pode apreciar nestes programas é que os rituais e os conteúdos altamente emotivos, não atingem a causa da ausência de cabelos.  Tornam-se apenas mais um produto de consumo do sistema neoliberal globalizado, que aparenta reposição de cabelos, mas que não impregna a calvície segundo os desejos.

 

 

 


CONFRONTO IMPREVISTO

 

Fascinados por guerra,

Humanos da nossa era,

Criaram as tecnologias,

Para as felinas apologias.

 

Sofisticaram as armas,

E as perversas normas,

Para matar em massa,

Os adversos da devassa.

 

Armas químicas letais,

Foguetes e os arsenais,

E sensores de controle,

Minam o autocontrole.

 

 Vasta potência mortífera,

Não se mostra frutífera,

Na lida com organismos,

De inauditos mecanismos.

 

Imperceptíveis a radares,

Andam soltos pelos ares,

Acham o nariz empinado,

E comem corpo atacado.


Ignoram prepotente armado,

E degustam todo seu legado,

Com a arma dos seus dentes,

Sem ligar para os emolientes.

 

Já no âmago da sua essência,

Escancaram sua preferência,

De apreciar carnes humanas,

Dos ambiciosos doidivanas.

 

Ampla derrota nesta guerra,

Deixa no espólio que aferra,

Inutilidade do investimento,

Razão de descontentamento.

 

Reativar um outro caminho,

Na flexibilidade de buinho,

Impõe um humano clamor,

Pela centralidade do amor.

 

 


<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...