quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Cataclismos



Ao lado dos cataclismos da natureza,
Eivados de ação superior em grandeza,
A condição da sobrevivência humana,
Vive de imprevistos que a desengana.

Enquanto o macro-cosmos interpela,
Com riscos de devastação sem trela,
O micro-cosmos do corpo humano,
Vive forte turbulência e desengano.

Não só o equilíbrio dos sub-sistemas,
Enfrenta crises claudicantes e dilemas,
Pois o psiquismo mórbido e abalado,
Cria disfunções no sistema integrado.

Como relações de sustentação afetiva,
Não são perenes, nem de ação efetiva,
Obrigam a lidar com perdas e a recriar,
Inovadores vínculos para não desandar.

Também os sonhos ficam atordoados,
Com frustrações para todos os lados,
E para não alentar-se na estagnação,
Requerem inovados projetos de ação.

Nas reorganizações dos pensamentos,
Nem tudo concorre aos bons intentos,
Pois a antecipação dos riscos e efeitos,

Derruba e retorce de incontáveis jeitos.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Solicitude



Raras como espécies em extinção,
São pessoas elevadas na distinção,
De manifestar cortesia e gentileza,
Para propiciar condições de leveza.

Escassas são as pessoas diligentes,
Que não aspiram ares precedentes,
No afã de seus dedicados serviços,
A não se enrolar nos seus enguiços.

Sumida também está a boa vontade,
De propiciar com explícita bondade,
A melhor atenção e zeloso cuidado,
Para que outros sintam bom legado.

Perdidos se encontram os cuidados,
Pelos eco-sistemas tão desandados,
Para protegê-los com gestos zelosos,
E deles desfrutar elementos gozosos.

Extraviadas também estão autoridades,
Não ocupadas visando suas saciedades,
E diligentes para tirar da nossa nação,
O sofrimento advindo da estagnação.

Até nas lidas religiosas anda sumida,
A solicitude tão apreciável e querida,
Capaz de focalizar um bom fim alheio,
Sem sorrateiro e mancomunado enleio.


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Medos e utopias



            Diante dos muitos profetas da desgraça, sabemos que a grande maioria sequer merece crédito; mas, há cientistas sérios, que nos fazem pensar sobre o modo como lidamos com o planeta. Stephen Hawking já preconizou uma porção de situações alarmantes para chamar atenção de que a Terra merece tratamento mais digno do que está recebendo. Nesta semana nos brindou com a conclusão de que, no atual ritmo, a Terra sobreviveria no máximo mil anos.
            Assim como há fatores que despertam medos e inseguranças para o futuro, há também proliferação de incontáveis utopias messiânicas. Umas são meramente sensacionalistas. Outras decorrem de uma leitura consciente da memória política, econômica e militar.
            Para os cristãos a utopia que mobiliza para tempos melhores, está em captar a melhor aproximação possível do que Deus deve estar esperando da nossa condição humana: não estragar este belo paraíso. Naquilo que já foi degradado, ainda resta esperança de que novas políticas possam desacelerar o processo entrópico do planeta, movido pela ambição humana e que acelera seu processo de penúria rumo ao fim definitivo. Stephen Hawking aponta a necessidade de encontrar outros planetas para a sobrevivência humana; mas, atinente ambição humana levará outros planetas ao mesmo desfecho trágico da Terra.
            Pouco ou nada adiante entrar em desespero diante do pior possível, mas, a vigilância cristã nos convida a uma ação efetiva para agir e fazer alguma coisa que está ao nosso alcance em função de um relacionamento mais afetivo, respeitoso e menos ambicioso.
            Assim, nossa perspectiva do aguardo do Senhor que vem, não se constitui nem em pânico e nem em inércia de esperar que ele resolva os problemas humanos. Mas, o importante é que o foco do final que aguardamos nos leve a agir positivamente e, o referencial de Jesus Cristo nos serve de caminho e referência a ser seguido. Não é um caminho fantasioso e irrealizável, mas, a irrupção concreta do jeito de Deus manifestado em Jesus Cristo. Trata-se de uma utopia plena e racionalmente viável.
            Nesta esperança messiânica é que podemos alimentar boas expectativas, apesar de fatos humanos que nos assustam e nos desanimam, em alguns momentos, a respeito do êxito da bondade diante das maldosas crueldades humanas.
            Podemos, pois, diante do que esperamos para o fim da vida, não apenas projetar a utopia do que aguardamos, mas, também agir ordeira e conscientemente para que este fim desejado se alargue no meio da condição humana.

            Na antiga imagem bíblica do monte santo de Deus, desejamos nós, que a presença de Deus entre nós, permita agir sem o alvoroço de pânicos e de supostas desgraças.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Cantilena nostálgica



Na viola das cordas frouxas,
Ladeada com tantas trouxas,
Os sons lentos e lamuriosos,
 Repercutem pouco graciosos.

Hinos de uma espera mágica,
Para mudar uma vida trágica,
Do Espírito tão eficaz na ação,
Sustentam passiva resignação.

As cantilenas tristes e repetidas,
Parecem acalantar boas medidas,
A promanarem de alturas celestes,
Para ações eficazes e incontestes.

Pede-se muito ao Espírito Santo,
Para livrar a vida do desencanto,
E canta-se insistente aclamação,
Sem um caminho de libertação.

Já não ecoa um estado da alma,
A desejar uma força que acalma,
Para eficaz lida com problemas,
E conquistar outros emblemas.

Se mantras ecoam nas cantigas,
Para acalantar imagens antigas,
Talvez falte o olhar do sentido,
Para superar o tempo aturdido.


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Lampejos de esperança



Quando pouca coisa alenta,
Nesta lida árida e sedenta,
Ecoam clamores vigorosos,
Pelos serviçais prestimosos.

As ponderadas regras justas,
Às duras e demoradas custas,
Apontam lampejos de juízo,
Aos pobres do triste prejuízo.

Iludidos pelos fautores da lei,
Passivos no meio da sua grei,
Já cansados de esperar justiça,
Continuam vítimas da cobiça.

Alguns já transcendem a sina,
Do que a oficialidade ensina,
E clamam pelos seus direitos,
Perante institucionais defeitos.

Mesmo assim, a velha mania,
Os atrela à cruel cleptomania,
Do silencio pelo voto vendido,
Ao esperto não comprometido.

O dia em que uma palavra dada,
Não requer pagamento de nada,
Um voto de confiança auferido,
Poderá elidir corrupto atrevido.




terça-feira, 22 de novembro de 2016

Cavalo da fantasia



Coisa que eu tanto queria:
Ter um cabo de vassoura,
Como cavalo da alegria,
E com força duradoura.

Andar por belos caminhos,
De leveza e luz fantasiosa,
Sem obstáculos daninhos,
E sem disputa imperiosa.

Marchar, trotear e correr,
No vigoroso afã do sonho,
Do cabo roliço a percorrer,
Caminho nada enfadonho.

Da bela missão exuberante,
De galopar em mundo real,
A fantasia nada extenuante,
Criava um belo referencial.

O cantar vindo da empolgação,
Captava da natureza vicejante,
Rica sintonia de divina ação,
Ao hábil cavaleiro viajante.


Feliz, laçava valentes animais,
E amestrava seu cavalo veloz,
A energetizar as forças vitais,
Para uma lida nada atroz.








segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Tsunamis emocionais



Como ondas quebram sua normalidade,
Com efeitos de devastação e fatalidade,
A homeostase das emoções agradáveis,
É surpreendida por fatos desagradáveis.

Os imprevistos que devastam emoções,
Aparecem como as repentinas monções,
E ao encharcarem toda firmeza do chão,
Afundam a estabilidade sem compaixão.

Neste desconfortável infortúnio mental,
Um perfil de insegurança monumental,
Anda solto pelo sentimento dilacerado,
Sem apontar para viável luz de agrado.

A reorganização das novas motivações,
Nem sempre encontra boas inovações,
Para substituir as perdas tão preciosas,
Por outras razões de apostas exitosas.

A dor dói mais quando o desmonte,
Veio de maldoso e traçado vergonte,
Que articulou e efetuou a devastação,
Somente para favorecer sua ambição.

Nesta trágica condição resta esperar,
Que a reconstrução ajude a prosperar,
Para que as outras similares a ocorrer,
Oportunizem forças para não morrer.



sábado, 19 de novembro de 2016

Reino de um crucificado



Um paradoxo sem precedentes,
Redimensionou reinos vigentes,
Na elevação humilhada da cruz,
Para indicar um reino que seduz:

De uma realeza precípua de rei,
O colegiado de organizada grei,
Ativaria uma força messiânica,
Contra a prepotência satânica.

Na cruz brilhou a contradição,
Aos reinados sem efetivação,
De alento aos desamparados,
E gestos a pobres injustiçados.

O reino de Deus como reinado,
Dava aos excluídos um legado,
De participar da ação solidária,
E erigir sociedade comunitária.

Na realeza messiânica de Jesus,
Aponta-se caminho que produz,
O avesso de despóticos reinados,
Prenhes de corruptores safados.

O preço da pendência no madeiro,
Resultou de um amor verdadeiro,
Sem os vitimalismos de inocentes,
Do alvitre de reinados indecentes.






sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Propósitos e sinais na governança




            Sabemos mais do que o suficiente a respeito das táticas dos pretendentes a cargos de governança em todos os níveis da organização social, seja civil ou religiosa. Apresentam o melhor do que desejamos ouvir, mas, o exercício normalmente tende engolir, sem demora, todos os bons propósitos.
            Uma antiga história bíblica lembra muito bem esta peculiaridade do desejo de mandar. O povo de Israel andava insatisfeito com o modo como os juízes o governavam. Ao constatar que outros países tinham reis, pressupôs que, com um rei, a vida daquele país também poderia ser melhor. Elegerem Davi como rei e ele, com rigidez férrea, conseguiu aglutinar as doze tribos de Israel para uma unidade nacional. Mesmo assim, os grandes anseios populares ficaram relegados. Veio o fracasso e a derrocada.
            Muitos séculos mais tarde, já sem autonomia nacional, o povo ainda lembrava com saudosismo o reinado de Davi, porque, com ele, constituíram uma nação. No desejo de restauração da almejada unidade nacional, esperavam um novo rei. Na figura de Jesus de Nazaré e na sua lida agregadora de multidões, emergiu uma esperança de que ele poderia reimplantar a condição de um bom governo sob a tutela de Deus, como Davi havia desejado na sua posse: fazer o melhor possível para o povo como um bom secretário de Deus.
            Nas expectativas políticas, até de discípulos muito próximos de Jesus Cristo, acalentavam-se cargos de precedência sob o seu reinado, um possível grande rei de Israel. Tanto as atitudes quanto as orientações de Jesus Cristo, não incidiam com esta esperança, mas, ele falava da proximidade de um novo reinado, porém, o reinado de Deus, que já se manifestava no meio do povo de Israel. Era o seu agir que indicava um modo de ser totalmente novo em relação aos saudosismos antigos e reativados diante das crises de dependência que o povo vivia, pois, estava atrelado ao império romano.
            Para decepção e o desencanto de muitos, Jesus, em vez da posse como rei, foi elevado numa cruz sob a acusação de ser subversivo, agitador do povo e desestabilizador da religião oficial. No entanto, desta elevação humilhante, culminou a revelação de um amor profundo pela condição humana. Na coerência do que Jesus fez e orientou estava a perspectiva do reinado de Deus, pelo caminho da cruz e das condições humanitárias que o levaram à morte numa cruz. Assim, a cruz se tornou um ícone para lembrar um caminho de vida que permite Deus estar no meio de nós.

            A encarnação do modo de ser de Jesus Cristo aponta não para um reinado tirânico de precedência, mas, para um modo de reconciliação entre as pessoas e com Deus. É mais do que uma grandeza meramente humana e de ambições ideológicas dos diferentes caminhos para chegar às honras de poder reinar sobre outros. Trata-se mais da adesão para um caminho humano capaz de vencer o ódio e a divisão em torno de interesses quer pessoais ou grupais.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O solitário



Refém da gaiola que o tempo fabricou,
Vive do desejo infantil que já desabou,
De que a retidão mudaria seu entorno,
E o mundo humano teria belo contorno.

A solidariedade e o bom entendimento,
Perpassariam como altivo monumento,
Toda a inovação da condição humana,
Para sacralizar toda a realidade profana.

O caminho da escola revelou-se cruel,
E a vivência religiosa contrária da fiel,
Revelou suas ambições sutis de poder,
E traiçoeiras batalhas para sobreviver.

O alcance de patamares humanitários,
Capaz de deixar a todos bem solidários,
Revelou somente disputa pelo ascender,
Longe do caminho de se condescender.

No mimetismo das boas ações visadas,
Reina a luta vil de pretensões ousadas,
Para desfrutar de honra e precedência,
Distante da compaixão e da clemência.

A solidária partilha vira apenas imagem,
Que aparenta sob a ostensiva roupagem,
Um mundo de um salutar entendimento,

Mas que não reflete o real acolhimento.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Indiferença



Mais perversas que as agressões,
Chegam ao âmago dos corações,
Vivos efeitos da ação silenciosa,
Da indiferença felina e maldosa.

Move-se pelas trilhas do visual,
Mas ignora em lance tão casual,
O que realmente foi bem visível,
Disfarçado como imperceptível.

Ser negado na essência da vida,
Causa a forma mais denegrida,
Da dor de alma e sentimentos,
Com evidentes ressentimentos.

A não consideração disfarçada,
Dói mais que ofensa malvada,
E fere o âmago dos pendores,
Desprezando os seus favores.

A indiferença exaure a energia,
Capaz de tanta ação de sinergia,
De sentir-se amado e acolhido,
Para retribuir o amor recebido.

Tão presente nas cotidianas lidas,
A indiferença obstrui tantas lidas,
E nega toda a busca do bem-viver,
De quem na vida deseja conviver.


terça-feira, 15 de novembro de 2016

Lampejos


Aparecem graciosas e serenas mensagens,
Extasiantes como encantadoras paisagens,
Para expressar a comunhão pela existência,
E reatar tempos de benfazeja convivência.

A memória ao reportar-se a estes mundos,
Ativa os tempos e momentos tão fecundos,
Da estima, amizade e fruição de bondade,
Para encher o presente de meiga saudade.

Os tempos de primorosos sinais edificantes,
Despertam o imaginário para voos rasantes,
Em torno das novas perspectivas plausíveis,
Para encetar outras experiências indizíveis.

No feixe de luz que indica vasto horizonte,
Uma tênue emergência de novo vergonte,
Aponta o alargamento do sentido de viver,
Nas águas da capacidade de se enternecer.

No clarão supino que emerge da memória,
Brilha o sonho de radiante e bela história,
Sem as armas e sem hediondas matanças,
Para aproximação de solidárias andanças.

O efeito saudável do sonho de belos dias,
Embala a existência com suaves melodias,
Que balançam o humor de leveza da alma,
E fazem pulsar a magia que irradia calma.

 




sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Reis e reinados



            Se as simpatias já não nos encantam por reis, rainhas e monarquias, menos ainda nos entusiasmam por governanças autoritárias e prepotentes. Ainda que ocorram estranhas opiniões favoráveis a uma ditadura militar, quem passou pelos anos da década de 1960 e 1970, certamente não desejará que aquela forma de reinado volte a implantar-se em nosso país.
            Como fica, então, a noção de Jesus Cristo como rei? O renomado teólogo John Sobrino observou que a América Latina está ostentando muitas Cristologias. Uma delas consiste em enfatizar insistentemente a grandeza, a glória e o poder de Jesus Cristo e seu reinado. Na verdade, esta insistência estaria visando não alguma proposta de Jesus Cristo, mas, simplesmente o poder do pregador sobre seus ouvintes, na pretensão de alargar sua influência dominadora.
            Bem lembramos o quanto textos do primeiro testamento da Bíblia descrevem e retomam atribuições do reinado do saudoso rei Davi. Talvez pelas conquistas das terras de Israel, a memória dele sempre se avivou nos tempos de crise e de ameaça de perder a soberania sobre aquele chão, como de fato, ocorreu em diversas ocasiões.
            Mesmo com a proeza de grandes conquistas, o rei Davi não foi um bom secretário de Deus para cuidar com desvelo da vida do povo, sobretudo, os mais pobres, assim como jurou fazer. Estava muito mais encantado com as orgias junto às suas muitas amantes e, por isso, seu reinado entrou em decadência rápida. No entanto, ficou a sua memória diante de outras crises e derrocadas do país de Israel.
            O segundo testamento da Bíblia também faz muitas alusões ao reinado de Davi. Como outros judeus, os daquele momento histórico, também sonhavam com uma estabilidade com rica prosperidade econômica e, de modo especial, com a soberania nacional de Israel.
            Jesus Cristo, pelo fato de encantar grandes multidões, despertou rapidamente a associação a velhos anseios de um reinado em que até os pobres pudessem ter voz e vez. Entretanto, seu discurso não era o de um líder político interessado na conquista de Israel e, tampouco, visava um poder monárquico e nacionalista. Contudo, falava de um reino, não no estilo de Davi ou de algum de seus sucessores, mas, do Reino de Deus, isto é, que Deus poderia facilitar a razão e o centro das lidas humanas, muito mais justas, solidárias e viáveis para todos os membros da sociedade.
            No anúncio desta boa notícia da parte de Deus e na convocação para a construção de um reinado que caminhasse para o jeito de Deus, Jesus foi lembrado pelos seus discípulos como proposta antagônica à do rei Davi. Enquanto Davi matou, submeteu e impôs à força seu modo de reinar, a proposta de Jesus Cristo visava a salvação, a redenção humana e regras éticas e morais para um modo de proceder, bem diverso daquele dos tempos de Davi.
            Se ainda hoje nos referimos a Jesus Cristo como rei, não é mais com olhos fitos em governança, mas, para lembrar o outro caminho a ser construído, não nas trilhas da prepotência, da honra e da grandeza, mas do humilde serviço para o bem comum.

            

Ação do maligno



Na religião, um caminho de prosperidade,
Vive a tentação de atribuir toda maldade,
Ao maligno que anda solto para erradicar,
Tudo quanto os bons fiéis possam praticar.

O apelo facilita a passividade dependente,
E exime das culpas todo e qualquer crente,
Pois, quaisquer atos perversos perpetrados,
São atribuídos a diabólicos atos praticados.

Se o maligno com tantos nomes e apelidos,
Nem precisa receber os insistentes pedidos,
Para agir livremente com ações diabólicas,
Inócuos seriam os fitos de metas simbólicas.

Como estragador das coisas santas dos céus,
O diabo no poder similar ao fazer todos réus,
Teria o pleno poder e capacidade de destruir,
Tudo quanto uma fé religiosa permite usufruir.

Na contraditória alegação de poderes maléficos,
Apela-se à oração com os seus poderes benéficos,
Para rechaçar atos do maldoso e pérfido chifrudo,
Mas o poder de induzir os fiéis fica acima de tudo.

Esquecida fica a contingência da maldade humana,
E da perversa educação cultivada que dela promana,
A causar tantos dissabores, perdas e tristes fracassos,
Bem aquém da suposição de diabólicos atos crassos.





quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Defeitos de fábrica



Das falhas que o organismo apresenta,
Emerge uma suspeita que se comenta:
Quem é culpado pelos defeitos visíveis,
E transtornos orgânicos tão sensíveis?

Para alguns, são genéticos e herdados,
Outros alegam estágios mal formados,
Mas impõe-se sina obrigatória e dura,
 De cada um ter que aceitar sua agrura.

A doença alheia tida como menos aguda,
Parece debochar que a nossa, tão miúda,
Não necessita tanta encenação e lamúria,
E, menos ainda, duma tão aviltante fúria.

Difícil é conviver com limites manifestos,
Do peso dos anos e seus efeitos molestos,
E ainda assim encontrar satisfação na lida,
Sem sucumbir numa fatalidade combalida.

A curta e frágil condição humana aponta,
Para o sentido que subjaz na doída conta,
De avistar para além de pontos dolorosos,
Possíveis empatias para tempos vigorosos.

Como parte da frágil contingência humana,
Sobressai a esperança que tão bem emana,
Luzes de motivação para além dos limites,
E liberação energética para menos rinites.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Ares poluídos



Ao lado de naturais fatores alergênicos,
E doentios psiquismos esquizofrênicos,
Viramos reféns da incontida ambição,
Que avança em eivosa procrastinação.

O desejo de expansão e de conquista,
Leva a misturar tudo quanto se avista,
Para ampliar mais o poder dominador,
Sem consciência do efeito devastador.

Quando os ares repletos de nutrientes,
São aturdidos com químicas poluentes,
O que poderiam respirar os seres vivos,
Reféns deste ar que os deixa inativos?

No torpor dos efeitos desta vil ambição,
Rareiam os que não sofrem de inanição,
E sejam capazes de uma ação organizada,
Para possível mudança da vida execrada.

Quando o ar inalado da morte sorrateira,
Vai desequilibrando de forma derradeira,
A antevisão de melhores dias pela frente,
Deixa tristes ares do humano padecente.

Que os odores das plantas florescentes,
Tão variados para enaltecer as mentes,
Possam agir de forma efetiva e eficaz,
Para uma tecnificação mais perspicaz.




sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Alegria confortante



Quando um estado de alma expressa,
Mais que novidade e beleza impressa,
Cativa um vasto espaço e nele irradia,
Uma sensibilidade fulgurante e sadia.

No bem do outro se contagia a vida,
Que expande e vitaliza forças da lida,
E numa magia que espanta o amasso,
Permite não sucumbir com o fracasso.

Na jovialidade da alegria vitalizadora,
Aparece sempre a solução inovadora,
Que impregna de bom ar o ambiente,
E muda o mau-humor do descontente.

A alegria também perpassa o passado,
E dele extrai o melhor do seu legado,
Para apontar que no futuro iminente,
Pode ocorrer bem-estar com a gente.

Quando a memória se torna agradecida,
Diante dos fatos de grandeza esmaecida,
As expectativas absorvem certezas vitais,
Para tantas experiências de belos editais.

Na iminência de outra vez recomeçar,
O desejo de boa pertença volta a coçar,
Na sensibilidade de novas proposições,
Para desabrochar brilhantes condições.








Suborno religioso



Nas oferendas por gestos de gratidão,
Voltam sinais de velha procrastinação,
Da tentativa de subornar a divindade,
Para persistir no efetuado à saciedade.

A justiça divina certamente é distinta,
Do vício humano da obsessão faminta,
Da oferta de um pouco do apropriado,
Que em negócio deixou o outro logrado.

O pouco da grandeza desleal dos bens,
Não persuade a Deus e a outros reféns,
Porque viraliza muito mais o suborno,
Sem mudança sob a bênção de retorno.

Cresce inescrupulosamente a usurpação,
Que recorre aos itinerários duma religião,
Na convicção de boas relações com Deus,
Para persistir no suborno de amigos seus.

Esta esparramada justiça das aparências,
Espalhada como virose das indecências,
Mina espaços de agregações religiosas,
E ilude nas posturas de ações piedosas.

O convencimento duma justiça exemplar,
Para outros poderem fitar e contemplar,
Incide no logro, com persuadido engano,
De supor religioso um ato vil e profano.






Discussões sobre questões de fé



            Como nos tempos de Jesus Cristo, persistem, em nossos dias, muitas questões polêmicas a respeito do que esperamos a partir da nossa fé. E quando o assunto envolve realidades que vão para além da morte, o antagonismo pode não só referir-se a outros credos, ou a credos cristãos diferentes, mas, também separa em posturas opostas a visão de movimentos e pastorais no interior de uma comunidade cristã.
             Em muitos destas agremiações os desencontros começam a decorrer, já a partir de uma concepção teológica, quer tradicional, mais fundamentalista, essencialista ou aberta aos novos tempos, quer hermenêutica ou de perspectiva da teologia evangélica norte-americana a ocupar espaços amplos no interior da Igreja Católica.
            Um caso ilustrativo, do tempo de Cristo, foi a da tradição dos saduceus. Eles queriam ser literalmente fiéis a costumes do Pentateuco, em vigência há muitos séculos. Em razão da crença, eles valorizavam apenas a ressurreição biológica como prolongamento da vida, isto é, que a vida de uma pessoa prosseguiria na geração dos filhos e se ampliaria para a descendência. Por isso, eram rígidos na observação de gerar filhos e, caso alguma mulher ficasse viúva antes de gerar filhos, ela deveria ser assumida por um cunhado e ter muitos filhos com ele.
            Jesus apresentou uma perspectiva totalmente inusitada e nada atrelada às questões biológicas, nem tampouco as relativas a recompensas por terem gerado muitos filhos e assim repousar em paz, mas, reforçou uma crença que se desenvolveu algumas décadas antes a partir da violenta perseguição dos selêucidas feita aos judeus e que matou muitos jovens que ainda não tinham gestado filhos. Neste caso, Deus seria injusto por permitir que sua vida não se expandisse numa descendência. Os macabeus sobreviventes da perseguição selêucida deduziram que todas as pessoas iriam ressuscitar depois da morte, porém, nem todas para a vida mais plena, pois, se a vida daqui da Terra tivesse sido maldosa, iriam para a condenação eterna.
             Como Jesus justificou esta perspectiva, abriu polêmicas para além dos fariseus, uma vez que, também a aristocracia sacerdotal se fundamentava no conceito antigo do Pentateuco, porque este lhes oferecia uma série de vantagens. Na polemização, Jesus mostrou que a concepção de ressurreição dos saduceus e sacerdotes estava desfocada, uma vez que não se trata de reativação da vida que se levava aqui na Terra, mas, uma realidade de radical transformação da vida. É como uma semente plantada. Aparentemente, ela apodrece, mas a vida desta semente se transforma profundamente com possibilidade de gerar muitas sementes...

            Oxalá que em nossos dias os interesses não se sobreponham às virtualidades de transformações profundas para experiências de fé mais elevadas e respeitosas e dignas de uma esperança na qual se possa apostar a razão última da vida!

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Arvoredo



Tão encantador pelo conjunto,
Torna-se um peculiar assunto,
No epicentro dos sentimentos,
Onde desperta encantamentos.

A beleza esconde duras labutas,
De avanços e ferrenhas disputas,
Para o alcance de maior espaço,
Do oxigênio para o belo regaço.

Sob a terra, seivas exuberantes,
Sofrem uma guerra beligerante,
Das raízes em lutas interesseiras,
Para ostentar copas alvissareiras.

Na silenciosa trama de avanços,
Guerra interminável com ranços,
Leva a avançar sobre os espaços,
Sem o respeito para os rechaços.

Como tantos sorrisos acolhedores,
Escondem os seus reais pendores,
Pois, tramam, enleiam e sufocam,
E apenas sobre avanços se focam.

A humana lida de tantos encantos,
Repete algo parecido em recantos,
Nada visíveis ao estado consciente,
Sufocador de imensidão padecente.






quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Paraíso andarilho



Da saudade romântica de um tempo,
Em que a harmonia fluía como vento,
Ao sonho fugidio do desejo capitalista,
Reina a frustrada busca sem conquista.

O anelo de bom substrato de valores,
Encontra tantos envolventes pendores,
Que nem sagrados preceitos sustentam,
O alcance dos patamares que intentam.

Nas buscas de condições gratificantes,
Advindas dos anseios mais edificantes,
Mescla-se poder tacanho e endeusado,
Que perverte o bom-senso e seu legado.

Até líderes religiosos no afã do fervor,
Nada humildes se aferram no pundonor,
De muito persuadir para sua hegemonia,
Sem a discreta serviçalidade da diaconia.

Assim os dias passam e os fatos crassam,
Tênues anseios de felicidade que passam,
E a mente desejosa dum respeitoso trato,
Vê-se às voltas de um itinerário ingrato.




<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...