segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Mudança



Quando o tempo muda o critério do que muda,
Tudo se vai do anterior parâmetro e se desnuda,
Porque para os novos e aquilatados referenciais,
Tornam-se inócuas muitas respostas tradicionais.

Ao se mudarem muitos critérios de compreensão,
Esmorecem seguras balizas de rumo e contensão,
E se espalham as desleais práticas de apropriação,
E as tantas regras ético-religiosas de moralização.

Emerge então o horizonte do fundamentalismo,
Como a grande novidade diante do amoralismo,
Mas, na gerência do vasto sistema de mercado,
Adota seus valores de um histórico sem legado.

O legado moral já sumido no espaço emocional,
Cede espaço ao individualismo desproporcional,
Que faz da religião o vasto parâmetro subjetivo,
Com soluções apenas afetivas para o seu lenitivo.

O fundamentalismo se engendra mais perigoso,
No afã de oferecer um seguro aporte fervoroso,
Não reconhece em nada identidades diferentes,
E se torna autoritário para conduzir dependentes.

Insiste então nos estreitos ditames da obrigação,
Que eliminam qualquer chance de reconciliação,
Aos que não se ajustam aos ditames de ordem,
Para criar guetos puritanos livres de desordem.


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O ideal de uma sociedade justa



            Do antigo sonho de Moisés, aos nossos dias, o sonho de uma sociedade justa leva ao estabelecimento de leis, normas e parâmetros de projetos sociais, mas, os almejados regimes monárquicos, sempre acabam estabelecendo regras que acabam em frutos opostos aos da justiça.
            De nada adianta recordar o sonho das tribos de Israel, que na busca de terra, experimentou a eficácia de um Deus libertador, se, rapidamente, esta memória esta memória das regras que visavam condições boas de vida e de dignidade para todos logo é esquecida. As próprias regras estabelecidas foram esvaziadas do seu sentido original e acabaram em legalismos excludentes. Discernir estes desvios da finalidade de regras sociais continua a ser problema crucial em nossos dias, do mesmo jeito como foi no tempo de Jesus Cristo.
            Ainda que Jesus Cristo tenha sido assimilado e experimentado como “caminho, verdade e vida” para conotar que no seu estilo de vida estava um modelo capaz de levar a uma sociedade mais justa, até mesmo este novo referencial acabou esvaziado pela exterioridade legalista e tornou-se simplesmente um legalismo excludente.
            Os articuladores desta sociedade justa, das meras aparências do tempo de Jesus Cristo, encontraram nele uma ação de resgate do que mais tinha sido roubado do espírito das leis: em vez de conduzirem ao bem–estar coletivo, o poder político e religioso esvaziou-as, de tal forma que passaram a exigir situações absurdas a partir de uma pureza falsa, que apenas favorecia a ideologia de alguns grupos dominantes. Assim, a lei, longe de se constituir mediadora de bem-estar e de boa convivência geral, constituía vasto sistema de casuísmos e, de muita cobrança dos detalhes e das exterioridades das regras deturpadas, num claro e total desvirtuamento da antiga Lei.
            Enquanto se cobravam regras insustentáveis ao povo em geral, todos acabavam reféns da incapacidade de vivenciar as normas estabelecidas. Os controladores sabiam cobrar as infrações, nos mínimos detalhes e numa vigilância de terror, que, além de oprimir, excluía grandes parcelas.
            Jesus apontou o lugar privilegiado para o alcance de uma sociedade justa: teria que começar na docilidade do coração! Por isso, nossos dias podem encontrar uma luz para o alcance do antigo sonho das tribos de Israel: normas e estatutos precisam produzir dignidade e paz social. Não basta que gestem vida privilegiada somente para alguns grupos dominantes, quer civis ou quer religiosos.


           


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Bioética







1 - Definição

Como cada tempo histórico-cultural se envolve em torno de novas dimensões da Ética para ajudar a equacionar dificuldades do seu momento, o momento atual, ocupa-se, eminentemente, da Bioética (Bíos + ethos = ética da vida), embora a ética tenha apresentado, ao longo do tempo, a valorização de dimensões importantes da vida. Por isso, o neologismo “bioética” acaba dando ênfase especial no que se refere à manipulação da vida;[2] e, convida a cuidar da sua fragilidade. Implica, pois, num profundo respeito à vida, seja a humana, a animal ou a da multiplicidade de espécies e formas de vida do nosso planeta Terra.
Segundo Olinto Pegoraro, “a Bioética é, na verdade, a Ética filosófica que se especializou em acompanhar o progresso e os problemas éticos da genética, da biomedicina, da biosfera e dos ecossistemas. Por isso se diz, com razão, que a Bioética emerge dos laboratórios”.[3]
Tarefa primordial da Bioética é a de mostrar à biomedicina e às outras ciências que lidam com genética, que há valores humanos que não podem ser sacrificados por meros interesses da pesquisa. Assim como a medicina saltou da arte de curar, para os avançados serviços técnicos e técnico-científicos, não pode, contudo, limitar o ser humano à mera questão biológica e bioquímica, simplesmente igual aos outros seres vivos e sujeito às mesmas regras de vida. Os valores éticos e toda a riqueza do mundo simbólico, religioso, artístico e cultural, apontam para a necessidade de uma visão mais ampla do que a da biomedicina. Não se trata, todavia, de estabelecer limites à ciência, mas, de apontar que elas podem integrar o nosso lugar no cosmos e no contexto global e cultural da vida humana.
 Os grandes avanços científicos das últimas décadas propiciaram extraordinários avanços na capacidade de manipulação e trazem uma situação inusitada para a Ética: de um lado, o desejo de poder ser favorecida por importantes interferências científicas; e, de outro lado, a de poder colaborar para que, neste avanço, todos os seres humanos saiam favorecidos com os notáveis avanços da manipulação da vida e, até colocá-la em risco de desequilíbrio. Certamente nem tudo quanto seja pensável e imaginável deva ser experimentado.
O importante nestas questões é que não se degrade a vida, que não se exclua ninguém da condição da vida e, como a vida não é apenas um fruir biológico, que as condições sócio-culturais também sejam favoráveis aos melhores níveis desta vida. Isto, evidentemente, apresenta conseqüências para a biotecnologia, para a biogenética humana e para a biodiversidade do nosso planeta.
Como a Bioética implica cada dia mais em novas e ousadas maneiras de lidar com doenças, com interferências genéticas em pessoas e animais, interfere também profundamente na vida mais ampla do planeta Terra. Emergem dali, grandes inquietações, dúvidas e incertezas: Existe responsabilidade suficiente para se mexer nestes campos? Elas se constituem num desvelo à vida, ou a exploram, ou a manipulam para interesses meramente consumistas ou de comércio? Outro nível de questões inquietantes se relaciona com os pesquisadores que lidam com manipulações da vida. Afinal, que postura lhes cabe: um serviço honesto, humilde e despretensioso de cientistas, que ainda levam em conta o ambiente coletivo e acolhem suas interpelações, ou é um “vale-tudo” para o alcance dos mais eficazes produtos de venda e consumo?
A Bioética surgiu a partir do avanço das ciências e da Filosofia no ambiente que envolve a área da saúde. Neste campo, uma das primeiras polêmicas que se estabelecem, gira em torno dos direitos dos que ainda não existem, bem como da eutanásia[4], da distanásia[5] e da otrodanásia[6], do controle dos nascimentos, dos transplantes e dos xenotransplantes[7], das pesquisas em seres vivos, da ecologia; da manipulação de alimentos, de venenos, e de medicamentos.[8]
           

2. A história da Bioética


Desde muito antes de Cristo, até poucos anos atrás, os médicos seguiam o critério ético de Hipócrates: um juramento para atender bem, para guardar segredos, apoiar os mestres, não fazer o mal, não cometer eutanásia, nem aborto... Prometiam buscar o bem dos pacientes; mas, as últimas guerras mundiais, revelaram procedimentos bem diversos, pois, médicos, para fazer testes, mataram e cometeram as mais hediondas atrocidades, só para ver como os pacientes reagiam aos testes que eram feitos com eles.
Na década de 1960, duas situações vieram a público nos Estados Unidos e despertaram inquietação, porque envolveram manipulação de pessoas já fragilizadas por doenças de Down e de Sífilis. Um grupo de 600 negros, tidos como “bodes expiatórios”, foi pesquisado durante 50 anos, sem o direito de receber penicilina, somente para averiguar a evolução da sífilis.
 A experimentação em pacientes terminais sensibilizou a opinião pública e deixou no ar a pergunta se enfermo teria algum direito.
Mais para o final da década, em 1967, Cristian Barnhard, na África do Sul, fez transplante de coração; sem demora, Zerbini fez outro aqui no Brasil. Depois do primeiro transplante, num espaço de tempo de apenas 15 meses, foram feitos 118 transplantes, mas, num ano e meio depois, todos estavam mortos porque o corpo das pessoas rejeitava o órgão implantado.
A descoberta da Ciclosporina e de outras drogas capazes de conter a rejeição de órgãos implantados, acabou gerando uma mudança radical no resultados dos transplantes.
Sem demora os hospitais americanos elaboraram uma carta sobre os direitos dos enfermos e mostraram preocupação em torno de como humanizar a relação entre médicos e doentes. A referida carta quis superar a noção de que o profissional pode diagnosticar e indicar as soluções para seres humanos frágeis, angustiados e afetados por doenças. Estes problemas típicos constituíram razão para um novo horizonte da Ética, e que passaria a ser conhecida como Bioética. O rápido avanço das pesquisas biológicas propiciou o surgimento de dois institutos de pesquisa para interpretar estes avanços e adequá-los à qualidade de vida e do ambiente: o Kennedy Institute e o Hasting Center.
Estes dois institutos começaram a pensar a bioética apenas como continuidade da ética médica, fato que empobreceu o sentido amplo da bioética, uma vez que relegou todo o avanço das ciências da vida e da saúde. De acordo com José Roque Junges, acabaram revelando um enfoque anglo-saxônico de cunho individualista, “principialista” e inspirado no pragmatismo.[9]
O termo “Bioética” foi usado pela primeira vez, em 1988, por V. R. Potter, que logo destacou uma abrangência maior do que a da manipulação de pessoas, pois, teria que envolver a ecologia e o meio ambiente.
A preocupação com as lidas que envolvem pessoas e as condições vitais das pessoas permite configurar duas formas de ênfase: a) a que se preocupa com quem lida com a vida, ou sobre os procedimentos dos profissionais da saúde e dos que lidam com genética e bioengenharia; b) a que se preocupa com o sentido do que é feito nas pesquisas ligadas à vida humana.
            Certamente não será no passado distante das lidas com a vida humana que vamos encontrar modelos de respostas para os problemas de nossos dias, porque as situações são totalmente distintas. Mesmo assim, necessitamos de adequado discernimento diante das manipulações que se fazem com a vida humana.  É preciso escutar peritos. Tampouco precisamos dizer sim a tudo o que se faz, pois, certos “nãos” podem significar atitude positiva de lida com a vida humana. O importante é que aprendamos a conviver com a nova realidade. Também é básico o cultivo de uma admiração reverente, pois, pensar as questões da bioética não apenas em função de motivações pessoais, mas, em perspectivas comunitárias e sociais, pois, os benefícios no campo da vida precisam ser socializados.


3. Princípios de Bioética


            O relatório BELMONT, emitido pelo Congresso norte-americano na década de 1970, estabeleceu três princípios, que passaram a ser considerados clássicos para a lida com os conflitos decorrentes da manipulação de pessoas enfermas:
a)      Princípio da beneficência – Representou um avanço sobre os velhos princípios da atividade médica, que envolvia um juramento sobre um código de posturas, mas, nasceu marcado um grave defeito de foco: colocava o médico num papel superior e, paternalista, para cuidar atentamente de pessoas necessitadas, o que, entre outros efeitos, elevou a condição de médico ao mais elevado grau de status simbólico do ambiente social. O médico passou a revestir-se de uma elevada grandeza moral pelo seu altruísmo. Bem sabemos que a prática nem sempre foi tão adequada e correspondente. Muitos abusos, desleixos e extorsões financeiras não corresponderam à atenção a enfermos e ao significado da beneficência. Ainda hoje se repete uma expressão ambígua sobre enfermos internados em hospitais. Eles são mencionados como “pacientes” e, na prática, “passivos”, que nada têm a dizer sobre seu quadro doentio.
Caberiam, então, justos direitos aos enfermos? O primeiro direito que passou a ser reivindicado foi o da autonomia. 
b)      Princípio da autonomia – Caberia aos enfermos decidir pela aceitação ou pela rejeição do que o diagnóstico e o procedimento terapêutico lhes indicavam. Tratava-se de um importante meio de superação do paternalismo médico, pois os enfermos passariam a ter direitos de auto-expressão, pois, mesmo que algo importante lhes pudesse ser indicado, cabia-lhes, pelo menos, o direito de consentir sobre tal procedimento. Dava o direito de informar o que se desejava para o consentimento. Só que esta capacidade de autonomia nem sempre está manifesta nos enfermos: estão eles sempre em condição de avaliar e de ponderar sobre os fatos para decidir? Conseguem escolher o que possa ser razoável? Possuem ainda capacidade para tomar uma decisão?
Como ficaria o caso de uma criança, dependente dos pais, que, por exemplo, não aceitam uma necessária transfusão de sangue? Neste caso, a justiça manda agir em favor da vida desta criança, o que revela que o princípio da autonomia não chega a ser tão autônomo quanto se poderia pressupor. E o que diria um dependente de drogas diante das posturas bioéticas em favor da sua saúde? Existem casos em que os enfermos não estão possuídos de plena ou normal consciência do que se passa com eles. Certamente será importante que o profissional da saúde cuide de aliviar dores e de reabilitar suas melhores condições possíveis, mas, que também considere o que a pessoa enferma deseja em seus valores e projetos e, ainda, que a ponderação também aconteça entre o agente da saúde e os familiares da pessoa enferma.
c)      Princípio da justiça – Visa evitar que se faça mal à pessoa enferma. E se ela não tem condições econômicas para custear o atendimento? Evidencia-se, de imediato, que o princípio da justiça envolve a vida social. Se todos têm os mesmos direitos, o que a sociedade vai fazer? Como nos princípios anteriores, também neste, ocorre uma situação complicada: ser justo na medicina implica em igualdade de condições sociais, o que somente poderia ser pensado como possível, mediante igual distribuição dos rendimentos sobre os bens e trabalhos.
É, deveras, muito difícil agir de forma justa diante de casos-limites de doença, como os que envolvem embriões, vida vegetativa ou de coma. Quem são estes “outros” que merecem atenção justa e beneficente? Estes casos, mais do que da bioética ou ética médica tradicional, decorrem de problemas de justiça social que depende das decisões políticas.

            A primeira constatação destes três princípios é a de não estabelecer normatividade sobre a ação clínica e de assistência a doentes. Neste âmbito, as dificuldades são múltiplas; até onde vai o limite da saúde básica e os casos que exigem tratamento especial, como lidar com quem tem condições mínimas de vida, diante de outros que teriam boas chances de sobreviver ou de recuperar plenamente a saúde? É importante gastar muito com casos de mínimas esperanças de recuperação?  Difícil também é discernir até onde se aplica material supérfluo e fútil para situações desnecessárias?
            De acordo com Junges os três princípios estabelecidos pelo congresso norte-americano são, na verdade, reféns de três tradições éticas: o da beneficência decorre da filosofia utilitarista de Stuart Mill; o da autonomia, da Filosofia Moral de Kant; e o da justiça do contratualismo de John Rawls. É um ajuntamento eclético que foge da fundamentação ética e fica muito restrita à ética do que deve ser feito. Para o referido autor:
            “Trata-se de superar tanto o modelo hipocrático-paternalista quanto o modelo libertário-autonomista para se chegar a um modelo de beneficência na confiança, que conserva a peculiaridade da relação médico-enfermo, sem os reducionismos paternalísticos e contratualísticos”.[10]
            Talvez, mais importante de que prescrever o que deve ser feito, seja considerar o modo como as pessoas querem ser. Neste patamar, entra a ética como amor à vida, para tomar o lugar das prescrições intelectualizadas.


4. A Biotecnologia


Termos como inseminação, inseminação artificial, clonagem, células-tronco, código genético, genoma, proveta, barriga de aluguel, gravidez assistida, estão entrando na conversa cotidiana. Por isso, muitas pessoas já sonham com futuros filhos a partir de uma seleção do código genético a fim de criar seres humanos dos mais perfeitos: encantadores na boniteza, livres de doenças genéticas, malhados e sarados, inteligentes e fortes, ricos, afamados e poderosos. Seria, por conseguinte, o oitavo dia da criação! A dúvida é, se isto, ainda depende de Deus, ou se depende apenas da vontade humana? (Imagem de um antigo problema de Adão que se colocou no lugar de Deus...).
Cultivam-se exageros em torno do endeusamento humano e do medo que este endeusamento pode causar ao futuro da humanidade.
O que também é preocupante é que os dois maiores projetos de estudo do código genético: GENOMA e CELERA são levados a efeito por grupos particulares.
Não podemos ignorar que muito deste rápido desenvolvimento das pesquisas é devido à revolução da informática, que, a partir de 1990, foi fator fundamental para a revolução da genética. Hoje estamos oscilando entre a exploração sensacionalista que exagera o entusiasmo, e, ao mesmo tempo, entre os medos profundos em torno do que envolve consumo de transgênicos, que, de um lado, são animadores para suprir os necessários alimentos à humanidade, mas, ao mesmo tempo, representam ameaças à saúde, implicam em extraordinários custos e incorporam fortes poderes de barganha, tal como vem ocorrendo com o comércio de venenos, inseticidas, adubos e sementes. Apenas seis grupos controlam praticamente todas as sementes do planeta.
Tal quadro leva a perspectivas evidentes: como na fabricação de peças de reposição, age-se de modo similar com células-tronco. Já é expressivo o medo de que em breve, comprovantes do genoma sejam exigidos e explorados para admissão ao emprego, ou, que cada pessoa tenha que portar um “chip” no seu corpo, com todos os dados pessoais e econômicos, e informações relativas às virtualidades dos óvulos ou dos espermatozóides. A antiga ficção de Aldous Huxley não está fora das possibilidades, pois, sem pais, seres humanos poderiam ser reproduzidos em série e com características para melhor suprir determinadas demandas de serviço, de prazer e de consumo.
 A grande dificuldade está em separar o estritamente terapêutico do comercial. Nem tudo quanto é possível, pode ser considerado ético e moral. A sabedoria dos antigos talvez possa nos alargar a memória de que só é bom o que é bom para todos! Os avanços da biotecnologia, por enquanto, vêm favorecendo muito poucas pessoas.


5. Bioética da Responsabilidade


      Diante do reducionismo da Ética e da Bioética às denominadas éticas profissionais, tais como ética médica, veterinária, agronômica, temos que ter em vista a vida em sentido mais amplo. Tampouco podemos reduzir a bioética apenas ao que se restringe ao corpo humano doente, pois, pensar responsavelmente na vida, implica em pensar na multiplicidade da vida, que está na água que ingerimos, no ar que respiramos, nas frutas, nos legumes, nos cereais, carnes e nos tantos outros produtos que consumimos e que podem eventualmente prejudicar a boa saúde.  
Peter Singer, defensor da ética da responsabilidade, escreveu um livro de Ética Prática, sobre o “Não matar”. Ele indaga: que mal há em matar? Ex. matar animais para o consumo ou interromper seu ciclo de vida nas pesquisas que envolvem embriões, fetos, seres fragilizados? Isto acaba na questão: ricos e pobres. 400 milhões de pessoas não consomem as calorias necessárias. A cada ano, morrem 14 milhões de crianças com menos de cinco anos, por causa de infecções e de má alimentação.
 Segundo a ONU 23% da humanidade vive em estado de pobreza absoluta. Como aplicar a frase: quem tem dois mantos dê um a quem não tem? Como o mundo cristão, depois de dois mil anos reage a isto? Para Singer, se deixar morrer e matar é a mesma coisa, então somos assassinos. Um índio Asteca pediu na Internet que os Europeus devolvam o ouro e a prata que roubaram na América, e, com juros!
      Neste caso, dependendo do que eu compro para mim, poderia estar incorrendo em crime, quando este produto faz falta outra pessoa. A noção cristã de ajudar o próximo realmente está distante do que fazemos em relação ao que deveríamos fazer. Nossas obrigações com parentes e familiares parecem não criar tanta distância. Mesmo assim, a obrigação de ajudar, revela como há parentes mais miseráveis que outros.
      O grande medo dos países ricos é o do aumento populacional. Isto nos remete para outro problema: a paternidade precisa ser responsável: não pode um casal gerar filhos à vontade, enquanto que outros tenham que ser obrigados a sustentá-los.
      Ética responsável implica em evitar tanto correntes abortistas, quanto “pró-vita” (defesa favorável à vida) que, obcecados pela natural proliferação possível, defendem o extremo oposto em relação à vida humana, mas, ajudam a cometer assassinatos indiretos de muitas outras formas. Com esse tipo de análise, Singer irrita muita gente, mas não deixa de apontar para importantes e necessárias ponderações.
      Outro problema que Singer levanta diz respeito a um modo de proceder diante da vida: ações e omissões se equivalem?  Um médico, por exemplo, pode ele escolher a quem salvar entre duas vidas. De fato, países ricos poderiam estar fazendo muito mais em favor de países pobres. Não ajudar numa campanha contra fome, é matar? Como lidar com o “não matar” e com o “deixar morrer” dos que ainda desejam ardentemente prosseguir vivendo?
      Este questionamento coloca duas óticas: a) Não está muito clara diferença entre não matar e deixar morrer; b) A Bioética nos abre indicações de que é mais importante salvar pessoas do que matá-las, quer direta ou indiretamente.
Ainda que nem tudo esteja claro, o que não podemos ignorar é o respeito ao ser humano. Basta reparar nossa própria sensibilidade diante de evidências muito sutis de desprezo, de gozação, ou de distanciamento, como isto afeta o humor e pode desequilibrar os procedimentos. Assim como as diversas religiões querem fornecer meios para o sentido da vida, é estranho que, em nossos dias, as maiores ameaças à vida, procedem precisamente de discursos religiosos.


6 - Epílogo


            Ao lado de todas as importantes pesquisas e avanços no campo da genética, a Bioética alarga as ponderações para mostrar que a vida biológica não é a única forma de propiciar qualidade à existência humana. A vida, ao lado do bem-estar biológico e material, depende essencialmente dos valores do espírito, no sentido de que nós, seres humanos, somos profundamente culturais e dependemos dos hábitos de encontro com as pessoas. Por isso, a qualidade ética é também de suma importância, ao lado dos valores ligados à transcendência religiosa, e pode enriquecer e elevar a grandeza da existência humana. Estas diferentes dimensões da vida não precisam opor-se e, nem se faz necessário que umas anulem as outras. Podem complementar-se, através do diálogo, e, harmonizar as múltiplas virtualidades da condição humana.
            Bem sabemos que todo o extraordinário avanço da biomedicina, da bioengenharia e da genética não é, por si mesmo, suficiente para deixar todas as pessoas felizes. A liberdade, a felicidade e as buscas transcendentais constituem importantes elementos da auto-transcendência da vida para que não venha a ser injustamente discriminada, favorecida ou protegida. Por isso, mais do que em outros tempos, o diálogo adquire uma importante função mediadora para que o avanço nos campos biológicos ocorra dentro de parâmetros harmonizadores, advindos da cultura, sobretudo pelas mediações da ética.




Bibliografia:

JUNGES, José Roque. Bioética – perspectivas e desafios. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 1995.
MOSER, Antônio. Biotecnologia e Bioética – para onde vamos? Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
PEGORARO, Olinto. Ética dos maiores mestres através da história. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
_______________. Ética e Bioética – da subsistência à existência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
PESSINI, Léo. Bioética – um grito por dignidade de viver. São Paulo: Paulinas, 2006.
SÁ, Antônio Lopes de. Ética Profissional. São Paulo: Atlas, 2005.
SIQUEIRA, Josafá Carlos de. Ética e Meio Ambiente. São Paulo: Loyola, 1998.










































[1] Texto já disponível no site das Faculdades La Salle de Lucas do Rio Verde – MT.
[2]  Não se trata de uma nova ética, mas, como Olinto Pegoraro salienta, de um capítulo da Ética de nossos dias que leva em conta a longa história da Ética e os recentes desafios despertados pela biotecnologia e pela biomedicina. Significa pensar os problemas humanos oriundos das últimas décadas. (PEGORARO, Olinto. Ética dos maiores mestres através da História. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006, p. 159).
[3]  PEGORARO, Olinto. Ética e Bioética – da subsistência à existência, p. 15.
[4]  É a abreviação da vida, prática executada por desejo da pessoa enferma, que, na Holanda, por exemplo, é apoiada por 80% da população. É o processo de encurtamento da vida, antes do processo natural, para evitar dor, mas, facilmente envolve pessoas idosas marginalizadas e deficientes, considerados descartáveis.
[5]  É o procedimento contrário à eutanásia, pois leva pessoas, através de tratamento desnecessário, a prolongar a morte. É o conhecido caso de pessoas levadas a uma UTI, onde tratadas de forma fria, distante dos familiares, é mantida artificialmente viva por meio de aparelhos, a elevadíssimos custos, sem, contudo, apresentar chances de reversão do quadro doentio ou de lesão grave. Costuma-se dizer que é para “salvar” o dinheiro dos familiares ou das eventuais reservas de segurança.
[6]  Envolve o direito de morrer com dignidade. É o clima que a pessoa doente, próxima e inevitável da morte, possa ser assistida por familiares, amigos e profissionais da saúde, aceitando o dom da vida como condição natural do ciclo da vida.
[7]  Envolve o implante de células humanas em animais, a fim de que órgãos de animais sejam implantados em corpos humanos. A tecnociência também permitiu que pessoas condenadas à morte, por falência de algum órgão, possam continuar vivendo com órgãos implantados a partir de outras pessoas ou animais. É o que acontece largamente com vacinas e remédios imunossupressores sejam cultivados primeiro em animais.
[8]  O humorista Millôr Fernandes colocou de forma xistosa uma questão típica da bioética: Diante da superpopulação, o que, afinal, seria melhor: matar ou desmatar? A resposta, evidentemente, implica em muitas decorrências bioéticas.
[9]  JUNGES, José Roque. Bioética – perspectivas e desafios. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 1995, p. 23.
[10]  Op. cit. p. 67.

No bilu-bilu dos interesses



Impressiona o fanatismo político,
Deste momento histórico crítico,
A insinuar os ódios revanchistas,
Sem os sinais de positivas pistas.

Montagens levam a mover lábios,
Do induzido bilu-bilu dos sábios,
Que forjam apelações violentas,
Antevendo posses nada isentas.

Nas leis favoráveis aos mandantes,
Amontoam-se interesses diletantes,
Dos egrégios ocupantes do Estado,
A encher mentes de triste enfado.

Roubam escancaradamente fortunas,
Enquanto salvam imagens oportunas,
Para assegurar os injustos privilégios,
Dos mórbidos e nojentos sortilégios.

Sobra ao mundo de relegados pobres,
Fantasia de chegar aos reinos nobres,
Para esquecer a cruel vida denegrida,
Tão aviltada e tão amplamente ferida.


A velha dança política



Embalado pelos amplificados sons ruidosos,
O salão de vaidades e interesses ambiciosos,
Ostenta uma movimentação bem exagerada,
Dos que querem abraçar a sigla privilegiada.

Quando tudo indica que uma musa encanta,
Já emerge outra que se sobressai e espanta,
Assumindo o foco da mais esbelta e vistosa,
Para atrair as debandadas em alta polvorosa.

Um meneio para desfrutar das vantagens,
Causa amnésia das enfáticas mensagens,
E leva a preterir as tantas outras beldades,
Dos partidos aos quais juraram lealdades.

O oportunismo escancarado para o cargo,
Subleva qualquer antecedente e embargo,
E faz valer a aparência vistosa da imagem,
Para locupletar toda perversa sacanagem.

O propalado serviço para o bem do povo,
Do palavreado bajulador sem nada novo,
Repete as vetustas manhas interesseiras,
De larápios a alargar suas próprias eiras.


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Espiritualidade vazia



Nos espaços de oração coletiva,
Entra uma tendência emotiva,
De espiritualidade para a ação,
Sem a força de indicar direção.

É uma reza feita como mediação,
Visando justificar ideias de ação,
Mas que esvazia a espiritualidade,
De ser fonte de mais perenidade.

Impõe-se pragmatismo utilitarista,
Que instrumentaliza a conquista,
Como espiritualidade de sucesso,
Para engendrar vasto progresso.

A pastoral norteia a espiritualidade,
E a reduz à simples funcionalidade,
De assegurar pleno êxito dos rituais,
Sem o elã para as dificuldades reais.

Ao invés de ser a fonte para a vida,
A espiritualidade constitui medida,
Que apenas move o agir pastoral,
Sem apontar santidade existencial.


Estabelecida como medida política,
E já distante da realidade mística,
A espiritualidade sem Evangelho,

Vira pintura sobre um couro velho.

Eucaristia - sinal de outra realidade

Eucaristia – sinal de outra realidade

            Para os cristãos que veem na eucaristia a centralidade do sinal sacramental que remete a uma realidade maior do amor manifestado por Deus, em Jesus Cristo, resta ainda outra interpelação importante: comungar Jesus Cristo não significa ser antropofágico no sentido de se deleitar em comer carne humana, mas, significa envolver-se no amor que Deus manifestou em Jesus Cristo.
            A expressão usada pelo evangelista S. João, de “comer a carne de Jesus” tinha em vista a capacidade de impregnar-se do modo de ser de Jesus Cristo. O significado de “carne”, nos primeiros tempos da Igreja católica, deixava a conotação de que a condição humana era de existência frágil e mortal. Assumir, nesta condição, o itinerário de Jesus, requeria a memória do que Jesus fez, especialmente, na sua ceia de despedida.
            Da grande síntese daquela ceia de despedida, estava presumido não apenas o pão daquele momento, mas, também a sábia recordação de avivar a aliança e a sabedoria do serviço que Deus explicitou à condição humana. Assimilar todo este envolvimento amoroso equivale a “comer e beber o corpo e o sangue”. A celebração, portanto, constitui o momento em que nos impregnamos desta grandeza de Deus para as lidas cotidianas.
            A mera participação numa celebração ainda não significa adesão a Jesus como enviado de Deus: requer uma decisão para participar do seu caminho e o necessário empenho para que este modo de ser entre na vida.
            Restringir a vida à mera opção pela “carne” ou ficar limitado e amarrado aos próprios limites, não permite perceber o sentido do crer em Jesus. Por isso, o apelo ao “espírito” equivale a deixar-se conduzir pelas orientações de Jesus Cristo.

            Se para muita gente a Eucaristia é um ato banal de simplesmente comer a hóstia, ou o pãozinho, isto ainda não a insere no caminho do amor de Deus. Tampouco será este ato exterior que dará força e alento para as dificuldades cotidianas quando está desprovido do espírito de Jesus Cristo, de quem esperamos sentir o envolvimento do amor de Deus.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Santidade enganosa



Já constituída em patologia social,
Emerge novidade no meio eclesial,
Em torno dos milagres abundantes,
E contornos mórbidos exuberantes.

Os alucinados, ciosos do poder especial,
Proclamam-se arautos sem referencial,
E metidos a pobres mendigos de afeto,
Presumem precedência sobre desafeto.

Seu desajustado complexo messiânico,
Incita-os a duro combate ao satânico,
Que não passa de sentimento de culpa,
A disfarçar-se em esfarrapada desculpa.

A argumentação pós-milagre é tamanha,
Que em nada disfarça a ambição tacanha,
De ascender ao poder de muitas honrarias,
Sem as efetivas mudanças para melhorias.

Querem orientar o caminho da salvação,
E dizer o que precisam para a diária ação,
Com piedades formais e já ultrapassadas,
Que deixam as causas sociais relegadas.

Sua santidade de sustentação emotiva,
Longe duma interpelação convidativa,
Bloqueia dinâmica lida a favor da vida,
E vira uma estática piedade denegrida.
 





sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O reverendo paranóico



Sob os panos da presumida honra religiosa,
Escancara-se a incontida obsessão melosa,
Que revela a mórbida perturbação mental,
De iluminado orientador comportamental.

Proclama sua moral de elevada perfeição,
Como único a oferecer reta e boa direção,
Mas, apenas impõe servilismo dependente,
Para locupletar sua alucinação ascendente.

Reivindica cada dia mais autoridade e poder,
E submete simpáticos ao estranho proceder,
De seguir somente seus inadequados ditames,
E por considerar os demais como vis infames.

Considera perseguidor o agir de bom-senso,
E condena ardentemente qualquer consenso,
Que não engrandeça sua mania de grandeza,
E que não absorva seus critérios de inteireza.

Seduz ao formalismo estereotipado do culto,
E ataca o senso espontâneo como um insulto,
Porque, do seu categórico discurso religioso,
Exige devotamento e detalhismo minucioso.

Nas alucinações de ser a única via salvadora,
Da divina ação para uma eficácia redentora,
Oculta a sua vida real, perversa e indecente,

Abafada sob uma santidade apenas aparente.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Assunção da Igreja



         Uma das grandes festas católicas, a da Assunção de Nossa Senhora, tem a capacidade de nos remeter à centralidade da nossa esperança cristã: a de que, no discipulado de Jesus Cristo, nossa vida pode elevar-se, e atingir a plenitude que se manifestou na vida de Maria, mãe de Jesus. Este grande e belo sonho, não constitui mero efeito de desejo mágico e de aceitação passiva do que Maria pode fazer por nós, pois, pela celebração da festa, nós é que nos sentimos incitados a elevar-nos acima da mediocridade de uma vida sem muita graça.
            Tanto quanto uma interpelação para a ascensão pessoal, a festa da assunção representa, também, uma perspectiva de redenção da Igreja, porquanto a comunidade cristã é convidada a vivenciar o protótipo do estilo de vida de Maria. Não foi rainha, não foi deusa poderosa, nem mito de beleza, nem dama da precedência: foi humilde, serviçal e mais aberta à vida das outras pessoas do que à sua própria vida.
            Enquanto muitas forças agiam no caminho contrário ao proposto por Cristo, Maria apostou no projeto do seu filho e por isso salienta de maneira proeminente a capacidade de serviço sobre a da honra e da precedência diante dos outros. O que a engrandeceu, foi, certamente, seu testemunho nas primeiras comunidades cristãs. Este dado é que nos convida a algo similar em nossos dias.
            Como nos tempos difíceis das primeiras décadas do cristianismo, o dragão, imagem usada para simbolizar a força perversa e destruidora dos imperialismos, especialmente o romano, foi reconhecido como poderoso, mas, não como absoluto. Ainda que tenha derrubado um terço das estrelas (dizimado cerca de um terço dos cristãos), dos dois terços sobrantes, poderiam resultar em muita luz para iluminar os céus!

            Hoje, quando o dragão do consumismo induzido, - para saciar a ambição inescrupulosa de riqueza de poucos, - passa por cima de multidões humanas para deixá-las invisíveis e inexistentes aos olhos da ambição, vemos estupefatos, que aludidos bons governantes estão envolvidos em corrupção que envergonha a nossa condição humana. Como as comunidades primitivas, vítimas da prepotência imperial, souberam fortalecer-se na esperança em tempos extremamente difíceis, também nós sonhamos com uma realidade de céu, com o intuito de nos tornar capazes de agir positivamente na sociedade, a fim de que o dragão não venha a engolir todas as estrelas, e, que seu poder se esvaneça diante da elevação da qualidade de vida humana. 

Família



Do antigo modelo de constituição,
Aos dias da hodierna organização,
Aquilataram-se formas inusitadas,
Com muitas uniões improvisadas.

Sem educação para a lealdade,
A coisificação da reta bondade,
Vinculou a objeto de consumo,
Todo o corpo, feito um insumo.

Na indução para a novidade,
Chega às raias da insanidade,
O desfrute para experiências,
Sem as formais conveniências.

No anseio do pobre coração,
Anela o desejo de satisfação,
Pela capacidade de conviver,
Com bondade a enternecer.

Possa a fecundidade da vida,
Assegurar vida fiel e contida,
No parâmetro da gratuidade,

Do entendimento à saciedade. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Defesa da devoção popular



Mania profusa e difundida,
Defende de forma renhida,
O que é de prática popular,
Como o bom da fé a pulular.

Esquece-se a manipulação,
Dos grupos de reativa ação,
De um espírito corporativo,
A buscar seu próprio lenitivo.

Ignoram as comunidades,
E visam suas irmandades,
Com manipulada devoção,
Para locupletar a ambição.

Asseguram sucesso largo,
Sem empecilho e embargo,
De religião sem redenção,
Que induz à vil submissão.

Mais que agradar clientes,
E com táticas indecentes,
Precisa a devoção a Maria,

Orientar-se por outra via.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Forças para as horas difíceis



Mais cedo ou mais tarde, aparecem na vida os momentos em que a vontade não consegue juntar forças suficientes para lidar com algum fracasso pessoal ou uma predisposição para alguma doença.
Memórias antigas de êxito diante de momentos difíceis facilmente podem induzir a variadas formas de compra de afeto, diante das reincidências de sintomas similares aos que permitiram superar aquela dificuldade.
Do livro dos Reis temos uma narrativa muito interessante relativa ao profeta Elias diante de uma crise superada.  Como homem ardoroso pela causa de Deus, combateu os sacerdotes de outra religião, que entraram no país, junto com a rainha Jezabel ao se casar com o rei Acaz.
 Vitorioso na luta, não soube, todavia, lidar com o efeito do seu empenho: a rainha exigiu uma vingança. Ao ser informado da perseguição desencadeada com vistas a receber a cabeça de Elias como vingança, ele conseguiu fugir para o deserto. Já distante e livre da perseguição, Elias entrou numa crise de profundo desânimo.
No deserto não tinha água e nem comida, além de um calor quase insuportável. Sentiu, então, na sua experiência pessoal, algo similar ao que o povo dos seus antepassados havia experimentado naquele mesmo ambiente: murmúrio contra Deus e contra a própria vida. No entanto, aquele mesmo deserto havia propiciado, aos antepassados, condições suficientes de sentido para não morrerem ali.
No auge da fome, encontraram resina de tamareira e puderam fritar perdizes que caíam já sem forças, exauridas com as longas voadas. Ao mesmo tempo, foi no meio daquele deserto que o povo encontrou água para matar a sede.
Elias, nutrido pela memória ancestral, também encontrou água e pão, mas, quis acomodar-se a este quadro e ficar apenas dormindo. Entretanto, como seus ancestrais, Elias não poderia ficar sempre ali. A água e o pão (maná) dos antepassados tornaram-se meios indispensáveis para o prosseguimento da viagem em favor da sonhada terra prometida, da qual Elias havia fugido.
 Na imagem da busca do monte Horeb, onde os antigos estabeleceram as regras éticas e religiosas para a possibilidade de convivência, Elias também teria que achar as fontes dos seus antepassados para pensar muito além do deserto. E foi nesse itinerário que Elias se transformou profundamente e passou a ser uma pessoa humilde, discreta e de uma bondade contagiante que o levou a ser chamado de “homem de Deus”.
            Quando, em momentos difíceis, conseguimos voltar às raízes do nosso passado, certamente, como Elias também nós podemos encontrar um processo de conversão que muda os rumos da vida para mais qualidade!


<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...