De Jesus
Cristo recebemos o mandato missionário de evangelizar e, no dinamismo de
“saída”, que a Igreja de nossos dias espera dos agentes missionários, somos
também convocados a “ousar” nas iniciativas que possam aproximar-nos mais dos
traços centrais de quem nos convoca (EG, 24).
O anúncio renovado do Evangelho, gerador de
alegria na fé e fecundidade evangelizadora, igualmente nos interpela ao
verdadeiro dinamismo da realização pessoal. “A vida se alcança e amadurece na medida em que é entregue para dar vida
aos outros” (EG, 10).
O Sínodo dos
Bispos de 2012 já salientou que a evangelização requer atuação em três âmbitos:
a) o da pastoral ordinária dos que regularmente frequentam a comunidade; b) o
das pessoas batizadas que não vivem as exigências do Batismo e que já deixaram
de pertencer à Igreja; c) o dos que não conhecem Jesus Cristo ou que o
recusaram (EG, 14).
As
Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, por sua vez,
indicam urgências e interpelações para que as comunidades se constituam em
Igrejas de permanente atividade de evangelização; que criem espaços para
ampliar e qualificar a iniciação à vida cristã; que se constituam numa rede de
comunidades; e, que também se constituam num serviço humanitário eficaz para a
vida mais plena das pessoas e dos ambientes da natureza.
O Papa
Francisco, na sua intuição profética, sugere que não convém esperar do
magistério papal uma palavra definitiva ou completa a respeito da Igreja e do
mundo; e, ao afirmar que não lhe cabe substituir os episcopados locais no
discernimento de todas as problemáticas que se destacam em seus territórios
(EG, 16), salientou: “Cada Igreja
particular, porção da Igreja Católica sob a guia do seu bispo, está, também
ela, chamada à conversão missionária” (EG 30). Tal desafio requer abertura
à ação do Espírito Santo, a fim de captar uma moção, ou força interior que
entusiasma, encoraja e que dá sentido ao agir pessoal e comunitário: “Como gostaria de encontrar palavras para
encorajar uma estação evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa, ousada,
cheia de amor até o fiel e feita de vida contagiante! (EG, 261).
Assim como
os primeiros cristãos e, tantos outros que nos antecederam na fé souberam
alargar o transbordamento de alegria, de coragem e de dedicação no anúncio, bem
como o de fortalecer-se numa grande resistência ativa (EG 263), nós, com a
riqueza de nossas capacidades, - no discipulado de Cristo, - somos também
incitados a lidar com a nova territorialidade de pertença afetiva dos ambientes
urbanos e da comunicação através da tecnologia eletrônica.
O Documento
de Estudo da CNBB sobre os leigos, nos surpreende já no título “Leigos na Igreja e na sociedade”, para
serem sal e luz. Aponta o importante protagonismo dos batizados para o
testemunho e a ação eficaz na sociedade. Tal perspectiva requer uma importante
conversão pastoral da paróquia, como tão bem sugere o documento da CNBB: “Comunidade de comunidades – uma nova
paróquia (Doc. 100). Indica-se ali uma possível mediação para revitalizar as
comunidades no caminho do discipulado de Jesus Cristo. O referido documento
também aponta para a necessária descentralização, revisão da atuação dos
ministérios ordenados, consagrados e leigos, com vistas a uma efetiva conversão
pastoral.
Como a Igreja faz parte deste mundo
globalizado de nossos dias, que tende a nivelar as diferenças sociais e a
favorecer o consumo individualista, cabe aos cristãos membros desta Igreja um
diálogo edificante, mas, igualmente, um serviço eficiente que possa ajudar a
diminuir os imensos problemas do mundo hodierno. Tal ação missionária requer
discernimento a fim de que, neste mundo plural, relativo, secular, tecnológico,
hedonista e consumista, se percebam muitas interpelações de Deus e se
estabeleçam escolas de convivência, de organização comunitária e de comunidade,
como espaços privilegiados para maior humanização.
Vem
ocorrendo uma tendência induzida pela tecnologia da comunicação e regida por um
poder anônimo, que incrementa cada dia mais, uma busca de satisfação pessoal
através de consumo intenso, ao lado da hiper-valorização da imagem e da
aparência. Ao mesmo tempo, evidencia-se pouca atenção ao real e certa inércia
diante dos graves sofrimentos humanos que afetam a maior parte do gênero humano.
Ao lado desse desvio induzido, a
promessa liberal do ajuste do equilíbrio de mercado para a solução dos graves
problemas sociais, na verdade, não aponta indícios de bons resultados, pois,
vem ampliando a diferenciação social, econômica, política e cultural.
Simultaneamente, prolifera a escandalosa corrupção, o enriquecimento ilícito,
e, por outro lado, as relações familiares, comunitárias e sociais refletem
notável processo de degradação. Os meios de comunicação social induzem a
comportamentos cada vez mais uniformizados e sectários e que quebram os
sentimentos de pertença à família e à comunidade.
Diante deste quadro, recai sobre nós uma
enorme responsabilidade para ajudar a melhorar o rumo da nossa história. Como
discípulos de Cristo para a construção do Reino de Deus, somos interpelados a
revigorar nosso empenho, a fim de nos constituir em autênticos sujeitos
eclesiais, que, de modos adequados à cultura do nosso tempo, descobrem novo
jeito de expressar afeto, amor, alegria e fé aos demais e à natureza. As
variadas pistas de ação indicadas pelo documento 100 da CNBB, certamente nos
ajudarão a alcançar uma notável renovação pastoral e espiritual na
evangelização.