terça-feira, 29 de setembro de 2015

Outro estilo de vida



Apesar do desrespeito à natureza,
Ela ostenta rica e inaudita beleza,
E se alguns fenômenos são cruéis,
Os demais oferecem fartos vergéis.

A ação humana que causa poluição,
É também a que gera a destruição,
E desequilibra os milenares ajustes,
Com seus desrespeitosos embustes.

Alienados da dependência da Terra,
Ambicionamos tudo quanto encerra,
Para vasão de obcecada precedência,
Sem devolver a menor benemerência.

Ao lado de tantos lugares denegridos,
Vegetam pobres ignorados e perdidos,
A mostrar a cruel ambição de poucos,
Que reduz os outros a meros amoucos.

Carecemos de cordialidade com a Terra,
E que a política que seu fluxo emperra,
Encontre motivação menos ambiciosa,
Para uma relação muito mais generosa.






segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O velho do asilo



Seu corpo exposto sem vida,
Sem a presença enternecida,
Nem quem saiba seu nome,
Ou a história do seu renome,
Cala sobre prole ou parente,
E sobre todo ato displicente.

Algo honroso a ser lembrado,
Esvai-se de ser contemplado,
E, como um ato desabonador,
Nada ficou do seu pundonor,
Nem da sua eventual proeza,
Para safar-se da dura crueza.

Simplesmente um corpo inerte,
Que aos asilados muito adverte,
Para um desfecho bem parecido,
De um final de vida entristecido,
Sem destaque de memória fática,
Nem de presumível vida errática.

Enterra-se com ele antigo sonho,
De um itinerário nada enfadonho,
Desejado nos acalantos dos pais,
E, que subsumiram como ideais,
Sem deixar rastros importantes,
E nem gestos bons e marcantes.





quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Louvação



Quando a criatividade e o poder,
Deixam o planeta a se escafeder,
Merece louvor quem é sensível,
À riqueza deste mundo indizível.

Enquanto tanto lixos e descartes,
Espalham-se por todas as partes,
Ainda há quem zele por respeito,
Que vence o proliferado despeito.

Se alguns ampliam a desigualdade,
E ferem a enorme biodiversidade,
Outros primam por bom sustento,
Com saudável e nutritivo alimento.

Quando a alta voz da tecnocracia,
Procrastina em falsa democracia,
Há quem pensa no bem comum,
Para diminuir tão forçado jejum.

Enquanto políticas internacionais,
Lançam-se sobre as riquezas locais,
Há quem cultive particular atenção,
Para uma lida de humana redenção.

A consciência de novo estilo de vida,
Diante da organização já combalida,
Aponta uma aliança com o ambiente,
Com a lida mais saudável e contente.




quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A privatização dos dons de Deus



            Antiga como a experiência religiosa, é a tentação de centralizar a ação de Deus para o engrandecimento pessoal, e, de afirmação sobre os outros. Das mais arcaicas experiências bíblicas, lemos que o pretendente a ser substituto de Moisés, Josué, ao saber que duas pessoas estavam exercendo a profecia sem terem passado sob o crivo dos setenta anciãos que ponderavam a respeito do que Moisés deveria fazer para sentir os influxos da ação divina em favor do bem do povo, quis que Moisés os demitisse da tarefa. Moisés, por sua vez, interpretou a cobrança de Josué como impregnada de ciúme, e, sem proibir seus concorrentes de profetizar, ainda manifestou a Josué, que, também eles, poderiam constituir manifestação dos dons de Deus.
            No Evangelho de Marcos (9,38-48) consta uma descrição de um episódio parecido com o de Josué: discípulos interesseiros de Jesus Cristo não queriam admitir que alguém, não pertencente ao seu grupo, pudesse fazer o bem e pregar o evangelho. Mostraram-se aborrecidos e entenderam que Jesus deveria tomar uma providencia proibitiva, a fim de deixar somente discípulos na exclusividade de tal tarefa.
            O bom-senso de Jesus Cristo surpreendeu os discípulos: mostrou-lhes que também pessoas não pertencentes ao seu grupo fechado poderiam contribuir eficazmente na construção do reino de Deus. Nem Deus e nem a religião deveriam prestar-se para a satisfação de interesses pessoais, especialmente as do poder.
            Trata-se de uma palavra dura, como a de Moisés para seu ambicioso sucessor Josué. O procedimento de Cristo, no entanto, também nos interpela em meio a tantos grupos fechados, com tendências proselitistas, nos quais os pretendentes ao poder se acham no direito da exclusividade de manifestarem os dons do Espírito. Querem muitos discípulos, sabem dar ordens sobre os mínimos detalhes da vida, mas, o que mais fazem, é alastrar seu campo de influência e de poder.
            Jesus Cristo, ao orientar os discípulos contra a tentação da exclusividade, pediu que cortassem este mal pela raiz. Ademais, os dons do Espírito, não constituem bens privativos, conquistados para a satisfação pessoal, mas, devem levar ao serviço em favor dos outros. Importa que outras pessoas possam alargar o dom da sua vida através da generosidade, da retidão e de uma postura ética de querer bem. Na perspectiva da grande mãe Terra, os bens que ela gera certamente se destinam a todos os seres e não somente a alguns ambiciosos.


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Respeito ecológico



Como tantas paixões por algum esporte,
Poderia o coração engendrar igual sorte,
De atenção ao que a natureza produziu,
Sem desflorar tudo quanto ela seduziu.

Ao lado de tantas áreas vilipendiadas,
Encontram-se outras tão desprezadas,
A clamar por algum gesto de atenção,
Para evitar a morte por pura inanição.

Postura passiva pelo que nos rodeia,
Exime-nos da ação que em nada freia,
A cruel agressão à natureza tão bela,
Tão afável e meiga no que se revela.

Com toda ternura esperada dos gestos,
Não merece a mãe terra atos molestos,
Que a deixam em dor tão contagiante,
E neste estado do mais decepcionante.

Que nos dramas cruciais da existência,
Ainda dignos de alguma benemerência,
Não se relegue o desajuste ambiental,
Capaz de sucumbir num colapso fatal.









quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Dois caminhos no discipulado



No caminho da fé podem ser escolhidos distintos modos de proceder: o da humildade e da justiça, por um lado, e o da maldade e impiedade, por outro são duas perspectivas bastante comuns. Em muitas pessoas estes caminhos se misturam e se confundem.
Do memorial de Cristo temos um modelo destacado de quem pautou sua vida pela humildade e pela justiça. Mas, em tempos anteriores a Jesus Cristo, sobretudo na experiência dos judeus expatriados, já surgiram observações a respeito de pessoas que são agressivas, despóticas e insensíveis e tudo fazem para alcançar seus interesses egoísticos. Ofendem, caluniam, perseguem e desrespeitam literalmente a condição alheia; e, no frio calculismo de satisfazer sua própria glória e suas vantagens, debocham dos que são retos e honestos.
O surgimento de tensões, motivadas por causa de diferenças de etnia, de modos de falar, ou de distintas características regionais ou religiosas, também revela que existem pessoas que extrapolam o elementar respeito aos demais, e, além de se aproveitarem delas, zombam dos seus procedimentos e de suas expectativas religiosas.
Se para estas pessoas não é comum admitir que possam mudar de mentalidade, também não é fácil aos que se pensam bons, mas ficam presos a determinados modos de pensar a retidão e a justiça.
No evangelho de Marcos (9,30-37) narra-se que até mesmo os discípulos, que já tinham aprendido muitas lições de vida no acompanhamento de Jesus Cristo, sentiam enorme dificuldade para entender a orientação de Jesus Cristo a respeito da humildade e da justiça. Sentiam-se propensos para a ambição e a presunção por cargos de boa renda e de muita fama. Muitos deles parecem ter estado obcecados por poder e se sentiam muito relutantes na aceitação de que o caminho da humildade e retidão implicasse até mesmo na capacidade de assimilar sofrimentos.
Como alguns dos discípulos de Cristo, vemos em nossos dias, procedimentos muito similares de interesseiros por fama e poder. E quanto ódio e sofrimento são imputados a outras pessoas, através de procedimentos arrogantes em nossas comunidades católicas.
Nossas comunidades querem constituir-se num bom caminho de sacramentalidade da aproximação ao modo de ser de Jesus Cristo. Na prática, porém, muitos estão ali obcecados por ascensão e poder e acham muito desconfortável o apelo de Cristo de que o caminho é o do serviço aos fracos e marginalizados. O fascínio para ser o maior e o melhor parece realmente estranho ao caminho do serviço. Por isso, como os “cabeças-duras” do tempo de Cristo, muitos não apreciam a proposta de Cristo em nossos dias.





quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Tecnologia



Constituída em honrosa precedência,
Supre tanta humana incompetência,
Mas, também mata de forma cruel,
As condições da vida em seu vergel.

Ambígua nos efeitos que proporciona,
Mas feita paradigma que impressiona,
Sua afoiteza na insaciável apropriação,
Domina tudo para uma transformação.

Na unidirecionalidade de tudo mudar,
Tudo quanto se consegue desvendar,
É apropriada para saciar os intentos,
Mesmo com envenenados proventos.

O encanto pelo infinito crescimento,
Exaure todas as fontes de sustento,
Para que uns esbanjem em excesso,
Outros morrem de modo pregresso.

Ao se aliar à economia e à política,
A tecnologia persuade na analítica,
De que as condições tão desiguais,
São fenômenos meramente naturais.

Se o desejo de lucro tudo coisifica,
Nenhum valor humano se verifica,
Na escassez de tantos ambientes,
E nas tantas situações deficientes.




terça-feira, 15 de setembro de 2015

Alterações climáticas



Se não bastassem os poluentes atmosféricos,
A afetar os necessários ajustes estratosféricos,
Envenenamos qualquer solo com agrotóxicos,
E nos empanturramos com alimentos tóxicos.

Enquanto a fumaça venenosa arde e sufoca,
A acidez das águas e das terras nos provoca,
A comer e beber os fertilizantes e pesticidas,
E a absorver o veneno de mortais inseticidas.

Choramos então a dor da imensidão padecente,
Que morre de câncer e de tanto veneno latente,
E desajusta nossos subsistemas de nossa vida,
E ceifa antes do tempo a existência combalida.

O lixo leva ao risco de morrermos afogados,
Entre detritos residuais e clínicos infestados,
Altamente tóxicos e com efeitos radioativos,
Sem alimentar básicos anticorpos paliativos.

Quando tudo é feito obsoleto e descartável,
Já nem importa o que possa ser reciclável,
O valor humano também se vai ao descarte,
E  desaparece vilipendiado por toda parte.








sábado, 12 de setembro de 2015

Alma gêmea



Tão parecida e tão similar à de gente sofrida,
Transluzes, oh Terra, imagem tão denegrida,
Mas tu lembras minha essência vulnerável,
Com teu rosto a expressar uma dor inefável.

Ao passar por um namoro falso e enganador,
Do humano perverso a relegar tamanha dor,
Estás como tantos pobres traídos e logrados,
Sobrevivendo no torpor de tristes relegados.

Como ainda consegues nas flores sensibilizar,
Lampejos da esperança capazes de revitalizar,
Que os estragos indeléveis refletidos no visual,
Não desfigurem seu corpo do paraíso colossal.

Com a dor da alma de tantos seres e animais,
A minha é ferida em tantos processos vitais,
E já pobre em sua capacidade de se rejubilar,
Ainda reluta para não ferir e nem te obnubilar.

Nosso parentesco, longe do romantismo vil,
Envolve grandeza ímpar de essência varonil,
                      E potencializa todo mimo que te engrandece,
E ainda efetiva o fino trato que te restabelece.








quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Fé desprovida de caridade



            A crueldade com que muitas pessoas destratam outras pessoas da comunidade, quando percebem que seus interesses são contrariados, revela uma contradição escancarada de fé apenas ostensiva e aparente. Ódios profundos por pequenas ninharias refletem que a fé de muitas pessoas não pode ser medida pelas suas piedades, nem pelos seus zelos exagerados, e, muito menos ainda, pelos seus formalismos. Os frutos desta fé somente resultam em mágoa, ressentimento e calúnia sobre outras pessoas da comunidade.
            Volta sempre de novo uma pergunta inquietante: como vivenciar uma religião que seja realmente redentora, e não cultivo de ódios e de procedimentos que se aproximam dos atos hediondos que atentam contra a vida?
            O apóstolo Tiago, quando constatou esta dificuldade nas primeiras comunidades cristãs, ponderou sobre os modos de agir de Cristo, e deduziu que a fé sem caridade é morta. Significa, pois, que não produz nada de bom e de positivo. Ele mesmo se reportou à observação de um caso ilustrativo: não basta desejar paz para alguém sem facilitar ou melhorar as condições que facilitem processos de paz e, os tornem, realmente, mais abrangentes e mais profundos na convivência humana.
            Tiago observava que no caminho do discipulado, que implicava na cruz, não poderia a adoração do ego sobrepor-se aos outros, e tampouco deveria fazer parte do itinerário dos cristãos. Com isso, o apóstolo do senso prático, passou a orientar as comunidades a fim de que não se movessem por meras noções intelectuais.
Hoje, parece que predomina uma tentação de fé nem muito intelectual, mas, eminentemente devocional e movida pela autorreferencialidade. Assim, pessoas que se proclamam religiosas, transformam a fé em mera mediação para o favorecimento de sim mesmas, e, se mostram pouco capazes de dar ouvido para algo que é maior do que o mundo do seu ego.

            A fé, para poder constituir-se em força, requer algo mais do que simples religiosidade, baseada simplesmente em hábitos, tradições e execução de pequenos detalhes exteriores. Pela capacidade de caridade, como Tiago (2,14-18) insistia, é que se demonstra a fé. Bem sabemos que caridade também é muito mais do que simples oferta de algum pequeno donativo para algum carente. É essencialmente um modo de lidar com as pessoas e implica em atitudes que as favoreçam.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Aquecimento



Enquanto o torpor dos odores graveolentes,
Envolve os lares e diversificados ambientes,
Seguem as obcecadas políticas econômicas,
A causar alterações climáticas astronômicas.

A ascensão do calor aos limites suportáveis,
Sinaliza os efeitos desastrosos e detestáveis,
Do sumiço das importantes calotas polares,
E do desastre para a alimentação nos mares.

A devastação das florestas aponta trágico fim,
Pois os vastos eco-sistemas já vivem fase ruim,
E apontam aos depravadores o calor escaldante,
De uma catástrofe climática deveras causticante.

A degradação ambiental força o migracionismo,
E apesar do mascarado e do aparente altruísmo,
Aponta a tragédia iminente do nível consumista,
Que vai erradicar tanto os pobres e ricos à vista.

No aquecimento das águas benfazejas e vitais,
Sentem-se os efeitos contraditórios e mortais,
De quem privatiza recurso tão raro e escasso,
 E perpetra um modo de agir perverso e crasso.







terça-feira, 8 de setembro de 2015

Recurso religioso



Quando o suposto acesso ao Espírito Santo,
Relega o Reino de Deus proposto por Jesus,
Mata-se a comunidade em qualquer canto,
Para enaltecer o poder subjetivo que seduz.

Longe da mediação da comunidade com Cristo,
E da comunhão eclesial de efetivo discipulado,
O horizonte do ambiente caridoso e benquisto,
Esmorece num casuísmo moral e generalizado.

Dilui-se a importante noção da pertença eclesial,
Para enaltecer a força corporativista dos grupos,
Que exploram a vinculação somente emocional,
E deixam a noção do Reino em dispersos apupos.

Reina, então, vasto ego da autorreferencialidade,
Que leva ao descaso a centralidade do querigma,
E ratifica superados formalismos de remota idade,
Para salientar o poder pessoal sobre todo estigma.

Perde-se o insinuante apelo pela descentralização,
Pois, ao invés de promover o encontro com Jesus,
Importa o persuadir para a seletiva incorporação,
Que ao seu imagético de bela aparência conduz.



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Os louvores no Espírito



Quando a propalada louvação é precedida pela competição,
Acaba refém da desconfiança básica e buscas de reputação,
Gera muito mais violência do que boa ação na comunidade,
E produz discórdia social e contradição em vasta saciedade.

Sob a manifestação da humana bondade de formalismos,
Ofusca-se o melhor da mensagem cristã nos casuísmos,
Para defender o interesse de grupos fechados de carreira,
Onde cada um insiste para alargar ao máximo a sua eira.

Extrapolam-se os argumentados fundamentos espirituais,
E o estilo de vida em nada se diferencia dos dias atuais,
Da disputa frenética em torna das melhores vantagens,
E da guerra constante para intimidar com chantagens.

Transforma-se a religião em farto referencial político,
Mercadora da identidade de grupo sem senso crítico,
Que somente leva a agir para o controle de afiliados,
Sem a elementar ação para a inclusão dos relegados.

Sob a identidade das aparências de muita bondade,
Borbulha o ranço e disputa de muita contrariedade,
Distante do papel redentor da lealdade apregoada,
E sem o testemunho efetivo da orientação pregada.


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A relação da audição com a fala



            À parte das deficiências auditivas, a capacidade de ouvir ou de não ouvir das pessoas, sem estas deficiências, molda muito o assunto que se emite pela boca. Apreciações boas e informações agradáveis permitem que ecoem da boca conversas benfazejas, revelando a capacidade de ver as coisas com esportividade e otimismo.
            Existe uma condição surda-muda, que se manifesta com funcionamento orgânico normal dos ouvidos, sobretudo a que envolve humilhações, torturas físicas e psicológicas, adversidades sistemáticas, perseguições e agressões injustas.
            A surdez forçada pode ser pessoal, grupal ou coletiva. Uma ilustração de surdez coletiva foi experimentada pelo povo da bíblia, quando estava exilado na Babilônia. Além da condição escrava, pesava a consciência do fracasso como povo, pois, o que fora conquistado com enormes dificuldades, se esvaiu com a memória da perda de unidade em torno da aliança dos 10 Mandamentos: tudo isto e mais sentimentos de culpa e de desencanto, silenciavam aquele povo disperso.
Uma voz profética, atribuída a Isaías, apontava àquele povo disperso, a capacidade de ouvir e de falar, porque, com a ação de Deus, poderia ocorrer o retorno da justiça! Nas comparações que vão além dos ouvidos e da boca (surdos, voltar a ouvir, mudos, voltar a falar...) os aleijados também teriam a capacidade de saltar. Até a natureza poderia voltar à condição de constituir-se novamente num paraíso. No alento e na esperança do profeta estava uma certeza: a de que o povo poderia restaurar-se e renovar-se.
Nossa experiência atual, como povo, vem passando por uma experiência que também faz muita gente calar-se diante da corrupção, dos desmandos e das injustiças. Perde-se gradualmente o horizonte das esperanças cristãs, some a perspectiva de que existimos no meio de um imenso paraíso, e bloqueia-se a capacidade da fala espontânea, e, quando esta ocorre, vem carregada de mágoas, raivas incontidas e ódios estranhos.

Antever dias melhores, não é nada fácil para quem se situa num mundo “cego, surdo, mudo e paralítico”, que gera perda da integridade social, grupal e pessoal.  Como Jesus Cristo, em momento de extraordinária prepotência, soube apontar o caminho de Deus para além do desencontro humano, também nos indica a perspectiva do olhar da fé para além do que silencia e emudece. A antevisão de um sentido e de uma relação mais justa com as pessoas e com a natureza, certamente nos aponta, como em outros momentos da história, que este planeta Terra ainda possa ser considerado como o paraíso que nos envolve.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Palavras duras



Enquanto a crise se alarga em polvorosa,
E a solução parece cada vez mais morosa,
Engendram-se densos e fartos murmúrios,
E somem as intuições dos belos augúrios.

Na ânsia da percepção de bons resultados,
Ante os pífios convencimentos maquiados,
Murmura-se contra tudo o que escandaliza,
E o pessimismo torna-se assunto que desliza.

Crer em outra viável forma de organização,
Assusta e vai contra a vasta procrastinação,
De enriquecer à custa dos outros e ser  feliz,
Mesmo que propicie um mundo mais infeliz.

Quando tantos desanimados já desistem,
E amargurados, no pessimismo insistem,
Cabe antever como Pedro diante de Jesus,
Que outro modo de conviver ainda seduz.



<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...