Um assunto
que com certeza mobiliza a conversa de muitos milhões de brasileiros está sendo
o da indignação diante da forma como pessoas lidam com os bens públicos, e,
como governantes, em nome da democracia, roubam não somente os bens, mas também
a honra do povo. Revelam-se, literalmente insensíveis aos seus problemas.
A insensibilidade
produzida pela ambição é, sem dúvida, uma manifestação nitidamente diabólica,
pois divide e marginaliza pessoas, mesmo que cultivem belos e bons sonhos, ou
sentimentos humanitários para a vida. Na verdade, acabam relegadas e ainda
deixadas em níveis de desprezo, jogadas à própria sorte.
Da Bíblia
podemos lembrar duas situações em que uma lida humanitária transformou a
experiência de pessoas. Uma, é narrada em 2 Rs 5, 9-14; e, a outra, em Mc 1,
40-45.
O primeiro
texto descreve a atenção do profeta Eliseu ao estrangeiro, rico e poderoso,
chamado Namaã. A doença levara este homem ao desespero e, ao ser informado de
que em Israel, um profeta de Deus despertava transformação na vida das pessoas,
foi procurá-lo, com muitos presentes, para demonstrar o status da recompensa de
uma eventual cura.
Em nossos dias, quem tem muito
dinheiro também alcança melhores tratamentos de doenças do que os espoliados.
Embora o rico Namaã considerasse a terapêutica de banhar-se no rio Jordão
(simbólico pela capacidade de regeneração através do batismo como sinal de
discipulado) muito banal para sua doença, aceitou a tarefa mediante insistência
dos servos e acabou curado da sua doença de pele. Para aquele homem rico, um
grave problema de pele, iria, sem dúvida, ferir a auto-estima, desbancar a
honra, o status, e relativizar a ostentação da riqueza.
Do agir de Jesus Cristo o evangelista
Marcos salientou um gesto de outra perspectiva: não foi ao encontro dos que
poderiam dar fama e muita fartura de recompensa econômica (precípua da ótica
teológica da prosperidade, em que o enriquecer-se é interpretado como bênção!),
mas foi ao encontro dos que estavam marginalizados. No meio destes, ele, como o
profeta Eliseu, viu-se diante de um leproso, com um traço muito marcante: pobre
e excluído!
Também este excluído desejou a
inserção social. Jesus manifestou compaixão, venceu o tabu do distanciamento
prescrito diante de leprosos, e revelou autoridade no jeito de Deus: mesmo
contra a Lei oficial, valorizou o caminho e viabilizou o desejo do pobre, que
era o de evadir-se da doença que o deixara à margem da sociedade.
Em nossos dias, grupo considerável de
ricos, similares a Naamã, empina o nariz da auto-suficiência e busca comprar o
que deseja. Descer à condição humilde de acolher um procedimento mais
humanitário e de efetiva partilha, certamente os levaria a veementes
resistências. No entanto, do caminho da compaixão, revelado num dia comum de
Jesus Cristo, além do indicativo eficaz para a socialização, emergiu a clara
interpelação que pode fazer muito bem para os quase incontáveis excluídos e
relegados da sociedade. Dar-lhes atenção seria um passo, não uma sociedade de
discursos democráticos, mas de ações efetivas em favor do bem-estar de todo seu
povo!