Parece ser pequeno o número de casos em que a morte de uma pessoa idosa
não deixa seqüelas de brigas intensas entre os filhos. Se o capital a ser
repartido pode por si mesmo aumentar os olhares ambiciosos e invejosos entre
irmãos, o pior é que, mesmo em torno de objetos de valor meramente simbólico,
criam-se murmurações e desentendimentos.
Em muitos
velórios, enquanto umas pessoas prestam solidariedade aos familiares afetados
pela dor da perda, e rezam com fervor para apresentar a Deus as melhores recomendações
da pessoa falecida, filhos, ao lado, disputam aos berros a divisão dos bens. E
não são poucos os casos em que a briga desta hora se estende para o resto da
vida, a tal ponto de sequer retornarem a visitar o lar onde nasceram e foram
criados.
A despedida
de Jesus Cristo, segundo o evangelista Mateus, teve uma peculiaridade muito
deferente e especial que pode nos indicar uma preciosidade para as razões da
nossa esperança. Mesmo que alguns discípulos viveram a dúvida em torno do que
Jesus havia anunciado, antes de ser morto, subiram ao monte da Galiléia.
A maior
parte de todos os grandes sinais da interpelação de Deus nas narrativas
bíblicas sempre aconteceu no alto de algum monte. Se um monte elevado propicia,
pela altitude, uma sensação de exuberância que facilita a contemplação, é
também símbolo do desejo de encontro com Deus.
Foi no alto
do monte que os discípulos passaram a entender que a despedida de Jesus Cristo
não lhes legava algum capital, ou qualquer outro valor de barganha econômica,
mas, lhes deixou um testamento inusitado: que continuassem a fazer o que Ele
mais havia feito, e, que completassem sua obra redentora através da ampliação
do discipulado em todas as partes por onde pudessem ir.
Jesus
assegurou sua presença e seu amparo aos que viessem a ser batizados como sinal
de seguimento para, a partir deste sacramento, acrescentar gradualmente mais
serviço em favor da construção do Reino de Deus.
O batismo
sugerido por Jesus Cristo certamente não visava apenas um ritual de passagem,
mas, ser sinal do início de seguimento. Sua promessa de que o Espírito de Deus
acompanharia os batizados, com certeza, visava muito mais do que um mero rótulo
de ser católico, porquanto seria o grande sinal de iniciação para participar na
construção da sua missão.
O espantoso
sensacionalismo de nossos dias em torno do Espírito Santo pode distanciar a
centralidade do testamento de Jesus Cristo. Este requer, na verdade, uma
mística, ou uma força interior cultivada na fé para produzir sinais e gestos
que salvam.