Os que já
celebraram muitas festas de natal sabem que nem todo acalanto de sonhos, deste
tempo de especial consumismo, produz alegria e bem-estar, mesmo com o consumo
de iguarias gostosas. Também sabem que, mais do que mera festa, o natal
representa para os cristãos a simbologia para festejar a luz que Jesus Cristo
representa para o anseio humano.
Ao lado das
variadas motivações alimentadas para um natal muito significativo, sabemos que
a festa, que lembra o nascimento de Jesus Cristo, nos interpela para um tipo de
relações humanas, nem sempre muito destacadas em nossa convivência. Um problema
tão candente e atual de nossos dias é o da corrupção. O evangelista Lucas
(3,10-18) salienta como já antes do nascimento de Jesus Cristo, este problema
era preocupante: a religião do povo tinha se transformado num sacrificialismo
exterior, sem efeitos práticos para a vida e o respeito humano foi,
gradualmente, substituído pela prepotência de invasores imperialistas, com
cooptação de soldados e sacerdotes.
Por isso, Lucas, ao reler os fatos que
antecederam o nascimento de Jesus Cristo, salienta a pregação do profeta João
Batista: este conclamava o povo da região do rio Jordão a um batismo, para
expressar purificação das situações de pecado. O profeta dava uma resposta aos
grandes anseios naquele povo pobre, oprimido e espoliado do seu tempo: evitar
que pessoas ficassem sem roupa e sem comida, ameaça que aumentava progressivamente,
e, que, quem mais extorquia o povo já empobrecido, - os soldados e cobradores
de impostos, - parassem de roubar.
Nossos dias apresentam um quadro
ainda mais complexo do que aquele que antecedeu o nascimento de Jesus Cristo,
porque o número de ladrões além de proporcionalmente maior, se manifesta em
níveis mais amplos da sociedade. Assim como as pessoas contemporâneas de João
Batista olhavam com saudades para os tempos da dinastia de Davi, - muito
diferente e melhor, - passaram a sonhar com a restauração daquela dinastia.
Este espírito carregava algo especial
nas esperanças: recuperar a alegria da boa convivência. De maneira similar,
olhamos para o que Jesus Cristo fez e nos sensibilizamos para o que anunciou no
meio de um quadro político, econômico e social altamente desigual e injusto. À
luz das suas orientações, que já não nos
remete a desejar uma dinastia davídica, e, nem tampouco, qualquer forma de
ditadura monárquica, desejamos, o que a maioria da nossa sociedade certamente deseja:
uma convivência mais justa, ordeira e, por isso mesmo, mais alegre. Mais do que
a festa, importa o sentido para a vida!