domingo, 23 de janeiro de 2022

AMIGA SOLIDÃO

 


Do bulling da antiga recordação,

Seguiu-se a pecha da rotulação,

Para acuar o vivente agachado,

Incapaz ante afronte ultrajado.

 

O âmago da sua personalidade,

Emite ruído vazio de lealdade,

E pouco registro de real valor,

Como digno de gratuito amor.

 

Sobreviveu pelo estranho ideal,

De encontrar um ambiente leal,

Para fruir e partilhar seu mundo,

E encontrar bem-estar profundo.

 

No rol de existir pela produção,

Cresceu eficiente na profissão,

Mas sucumbiu na adversidade,

De empedernida religiosidade.

 

Pelas memórias rechaçadoras,

Suas forças nada animadoras,

Vislumbram somente a solidão,

Como parceira fiel da sequidão.

 

Escuta e não dá alguma ordem,

Nem liga para os que aturdem,

E respeita o real mundo vivido,

Com todo seu contorno lívido.

 

Não moraliza e nada condena,

E sua presença vívida e serena,

Assimila tudo e nada alardeia,

Mas é aquela da velha paidéia.

 

Escora bons valores cultivados,

E encanta para novos legados,

Que da vida possam aparecer,

E apontar o novo amanhecer.

 

 

 

 

 

sábado, 22 de janeiro de 2022

PODER HIPERFECUNDADO

 


Os raros casos de superfetação,

De vários óvulos na fecundação,

 Ocorrem na vocação sacerdotal,

Com aumento de poder colossal.

 

À pressuposta convocação divina,

Amplia-se no imagético da batina,

A largueza do seu dote já superior,

Com humano status nada inferior.

 

Com títulos e bajulação de méritos,

Privilégios se tornam beneméritos,

E as honrarias auferem veneração,

Como direito da especial condição.

 

Ao se identificar com o papel social,

Sua realeza é vista como manancial,

Diretamente condecorado por Deus,

Para gestar delírios de um semideus.

 

Longe da reta humildade do serviço,

Vive dum vistoso badulaque postiço,

Para atrair olhares de charmoso galã,

E ampliar o séquito de um mundo fã.

 

Não precisa dobrar os seus joelhos,

Mas dobra os alheios com conselhos,

Da visão essencialista do seminário,

Que o configurou como reacionário.

 

Herdou da mentalidade clericalista,

Que seu patamar está acima da lista,

Daqueles pobres carentes pela graça,

Pois disso está isento como boa praça.

 

Não importa o lado da comunidade,

Já que ele lhe anuncia à saciedade,

O que necessita efetuar e obedecer,

Para algum mérito de Deus merecer.

 

Esqueceu que no chamado da Igreja,

Foi convocado para a valiosa peleja,

De serviço para reduzir na sociedade,

Efeito cruel da falta de solidariedade.

 

 

 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

UM ALGUÉM DO LADO

 

 

Tanta busca de cargo mais elevado,

Deixou ambiente amigo sublevado,

Para realçar os verbos do “eu faço”,

Eu decido, eu resolvo e eu arregaço.

 

No estímulo ao agir para controlar,

O ímpeto do domínio pelo parolar,

Dispensa o diálogo e a proximidade,

Com alguém em sofrida dificuldade.

 

No olhar conquistador da elevação,

Não importa uma força ao coração,

Mas a feição cativante para agregar,

O substrato que promova o patamar.

 

Regalia de ter a decisão derradeira,

Estabelece-o na função alvissareira,

Da escolha que deseja no seu lado,

Para promover e elevar seu legado.

 

Na condição de mandante poderoso,

Enche-se todo dia com vigor airoso,

Já que a administração deve encantar,

E nenhum visível mérito desencantar.

 

Eficiência cobrada no perfeccionismo,

Precisa ampliar seu largo misticismo,

Para comprovar sua rara celebridade,

E condecorar a merecida notoriedade.

 

Sua imagem precisa ser bem diluída,

Para ser falada e largamente fruída,

Como suporte de meritória elevação,

E como justa na merecida promoção.

 

Como a eficácia de verbos dialógicos,

Não conta para discursos ontológicos,

Veicula-se a si mesmo como candidato,

Merecedor de um cargo mais cordado.

 

 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

PERIPATÉTICOS PASSOS

 


Quando criança começa a andar,

Algo novo desperta o demandar,

E a mobiliza para deslocamento,

Em vista dum inusitado intento.

 

Em passos de humana sabedoria,

Quando se deseja real melhoria,

Os passos saem lentos e frágeis,

E com o tempo se tornam ágeis.

 

Incontáveis ordens e insinuações,

Promulgam reiteradas aspirações,

Para plena felicidade consumista,

Com bela propugnação otimista.

 

Exploram a válvula da sexualidade,

E a enaltecem à máxima felicidade,

Como o único e necessário projeto,

Ao ser humano em exitoso trajeto.

 

Ocultam na indução à dependência,

Toda a vasta alienação na dolência,

Que ceifa as vidas na flor da idade,

E não alarga sentido de alteridade.

 

Morrem indolentes na juventude,

E revelam cedo a sua decrepitude,

Porque cegos para boas dimensões,

Que lhes apontariam básicas opções.

 

Assim, nos sonhados passos de vida,

Fenecem de forma a mais denegrida,

Sem apostar em suas virtualidades,

E sequer caminhar com qualidades.

 

Experimentam tudo antes do tempo,

E só caminharam num passatempo,

Que os viciou na pornografia abjeta,

Sem desconfiar da direção concreta.

 

 

 

domingo, 16 de janeiro de 2022

ADORADO AGRO

 


Filho nobre da tecnologia,

Esperado sob rara euforia,

Nasceu do encantamento,

Para a fartura de alimento.

 

Cresceu em clima dengoso,

Pelo potencial portentoso,

De suprir toda humanidade,

Com produtos de qualidade.

 

Despertou virtuais ambições,

Para interesseiras conjunções,

Que na imposição das normas,

Avançou para incríveis formas.

 

Com a extraordinária produção,

Fome e miséria não caíram não,

Mas, empoderou a elite ricaça,

Que vê os pobres com chalaça.

 

No afã de farta superprodução,

Desbravou-se com bela sedução,

Avanço sobre o meio-ambiente,

Para acumular com unha e dente.

 

Poucos ricos no topo do mercado,

Barganham tudo para seu legado,

Enquanto a natureza em desordem,

Anarquiza sádica a moderna ordem.

 

A força bruta de vastos cataclismas,

Vai derrubando as adoradas cismas,

Do progresso ilimitado e progressivo,

E escancara um falso agir inofensivo.

 

O preço de espaços abertos a viroses,

Sequer acorda as humanas escleroses,

Para ativar bom-senso com a natureza,

E afinar-se com ela na melhor inteireza.

 

 

ENLACE ESVAZIADO

 


Nem amplexo,

Nem olhar de nexo,

Ou algo que seja convexo.

 

O olhar não cruza,

Sequer pela Medusa,

E acha caminho pela abduza.

 

Sem um assunto,

O silêncio de defunto,

Cria dispersivo conjunto.

 

A fala de não-ditos,

Prenhe de interditos,

Reforça rígidos vereditos.

 

A renitência da emoção,

Não solta nada do coração,

Nem libera qualquer atração.

 

Perdão tão embargado,

Boicota eventual postulado,

Para aceitar o estado acoimado.

 

No aguardo da calmaria,

Atrai a bem distante romaria,

Para reencontrar algo que inebria.

 

 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

PAJELANÇA MONÁRQUICA

 

 

A ideologia do seu saber,

Requer governar e afazer,

Para implantar um reino,

A depender do seu treino.

 

Colocado acima das culpas,

Efetua no clero as escalpas,

Para que assimile o projeto,

Do seu parâmetro predileto.

 

Sem a dimensão de parceiro,

Governa com ar de pioneiro,

Na apologia da sua plenitude,

Sempre ativado na solicitude.

 

Na sua majestade discursiva,

Com argumentação incisiva,

Afirma-se como um general,

Laureado pelo saber genial.

 

Enfatiza as alegrias da vida,

E está onipresente na lida,

Sem ver e ouvir os calados,

Pelos sentimentos arfados.

 

Mostra o esmerado serviço,

Para resolver todo enguiço,

Com exuberante maestria,

Similar a amorosa sinastria.

 

Na ostentação principesca,

Duma iminência pitoresca,

Reluz no afã pela carreira,

Elevar sua função cabreira.

 

 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

O REBOTALHO

 

 

Refugo da sua categoria,

Vive uma fantasmagoria,

Duma inutilidade fulcral,

Sob indiferença colossal.

 

Parceiro no lar da solidão,

Desconfia da sua aptidão,

Que outrora era vigorosa,

Com lucidez esplendorosa.

 

Mergulhado no anonimato,

E restrito a sujeito caricato,

Sente seu fim melancólico,

Por caminho nada bucólico.

 

A memória relega os gestos,

E tantos esforços honestos,

Bem como sinais de apreço,

Com os olhares de adereço.

 

Refém do poder centralizado,

Sob o argumento divinizado,

Vindo da divina incumbência,

Definha na condoída dolência.

 

Sem a capacidade bajuladora,

Para uma interação redentora,

Braceia no substrato da lida,

Com a energia já combalida.

 

Resta chance pouco provável,

Duma remoção bem desejável,

Para reatar sem preconceitos,

Um nome com lídimos preitos.

 

 

VAZIO DO LEGADO

 

 

Quanto ao seu passado,

Teria relato condensado,

Como credencial valioso,

Para o desfrute de gozo?

 

Nesta dura sina da vida,

Também fica preterida,

Toda a causa idealizada,

Para vida reta e ilibada.

 

Nem obras e nem gestos,

Tampouco atos honestos,

Pesam na ação julgadora,

Para uma lida agregadora.

 

Do efeito das impressões,

Dos que indicam direções,

Sobe a voz da autoridade,

Com suposta sinceridade.

 

Pesa somente a utilidade,

E nada da especificidade,

Para execução de tarefas,

Com estabelecidas blefas.

 

O que assegura a função,

É aquela rígida abjunção,

Do agrado para o deleite,

Em vista do belo enfeite.

 

Se não prolifera agrados,

Recebe indiretos legados,

De impróprio para função,

E é cobrado para remoção.

 

A ninguém interessa saber,

Do quanto fez enternecer,

A vida em dores profundas,

De derrotas nauseabundas.

 

Como um lixo é descartado,

Sem a memória do passado,

E já relegado ao ostracismo,

É apenas velho sem batismo.

 

Nada do memorial saudoso,

Do tempo de perfil vigoroso,

Para uma elevação humana,

De solidariedade que irmana.

 

Fadado a subsumir como lixo,

Sobra-lhe só o subjetivo nicho,

De rememorar para a solidão,

O quanto fez com sua aptidão.

 

 

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

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