sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

FIM DE ANO

 


Como se o tempo tivesse rupturas,

E encerrasse ciclos e conjunturas,

Fim de ano é momento da glória,

De astrólogos a preverem vitória.

 

Nos segredos de cunho visionário,

Apontam surpreendente itinerário,

Deste mais simplório senso comum,

Mesmo sem produzir efeito algum.

 

Nas magias dos rituais das comidas,

Com as formalidades já carcomidas,

Pressupõe-se a reação instantânea,

Para elevada felicidade consentânea.

 

Ano novo aguardado com ansiedade,

Sequer diminui a variada adversidade,

Das tão vetustas artimanhas políticas,

E dos apelos a argumentações míticas.

 

As pequenas inovações democráticas,

Quase somem nas manobras erráticas,

Das elites com as barganhas falaciosas,

E com suas ambições claras e facciosas.

 

Resta ao comum dos mortais sofridos,

Sonhar com os enganosos esbaforidos,

De profetas do obcecado consumismo,

A produzir um decadente pessimismo.

 

Assim, os tantos augúrios fantasiosos,

Se esvaem com os sonhos auspiciosos,

E obrigam a um cotidiano de dura lida,

Sem que sonhado avanço se consolida.

 

Resta então o desafio de achar gosto,

Para não recair no amargo desgosto,

Das ilusões fugidias e tão provisórias,

Apontadas como reais e compulsórias.

 

 

 

 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

NATAL SEM ANIVERSARIANTE

 

 

Da festa de um memorial,

De raro atrativo sensorial,

Festejou-se rico presente,

De Deus à humana gente.

 

O presente feito um dom,

Tornou-se algo tão bom,

Para festar o nascimento,

Dum dadivoso momento.

 

Lembrar o aniversariante,

Gerava reação desafiante,

Para os sinais de bondade,

Duma melhor humanidade.

 

Os anos deixaram o canto,

Que exaltava amor santo,

A renovar-se na festança,

Para sólida perseverança.

 

Era o natal de mãos vazias,

Mas, cheias de primazias,

Dos sentimentos alegres,

E dos pequenos milagres.

 

Reatância de bom acerto,

Gerava o suave concerto,

De alegria na lida familiar,

Florindo âmbito domiciliar.

 

Veio o tempo consumista,

E desviou o fito da festa,

Para comilança excessiva,

Com liberdade permissiva.

 

Ao presente oferendado,

Espera-se outro devotado,

Em similar padrão de valor,

Mas com a emoção indolor.

 

Natal de tanta mão vazia,

Mas, com a farta fantasia,

Vitimiza os dóceis animais,

Seguindo apelos culturais.

 

Cadê Jesus aniversariante,

Tão esquecido e distante,

Relegado até por piedosos,

E altivos líderes religiosos?

 

Intento de anular saudação,

Dum Feliz Natal de coração,

Quis saudar só as boas férias,

Para ricas curtições deletérias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

DIGNIDADE DE CARGOS

 

 

Vasta adoração dos cargos,

E reverência sem embargos,

A mandatários feitos chefes,

Os eleva com honra e blefes.

 

Peculiaridade na esfera social,

Sobretudo na política-cultural,

Atinge área da Igreja católica,

Numa injunção nada bucólica.

 

Se o batismo equipara a todos,

E deveria leva-los aos sínodos,

Vê-se a delimitação da função,

Para uns regerem a obrigação.

 

Mais que dignidade da pessoa,

Importa dignidade que ressoa,

Vinda de cargos estabelecidos,

Pelos seus poderes auferidos.

 

No preconceito do mais digno,

Muito ser é visto como indigno,

Porque não desfruta da realeza,

Dignificada por ampla grandeza.

 

Aceitas e reverenciadas no cargo,

Autoridades prescrevem embargo,

A respeito dos que podem atuar,

Em alguma tarefa para executar.

 

A colegialidade fica restringida,

A poucos encarregados da lida,

Que movem a missionariedade,

Sob gosto da sua arbitrariedade.

 

Se a roupa cheirosa de incenso,

Simboliza o poder do consenso,

A dignidade dos outros fenece,

E a missionariedade entorpece.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

EVANGELIZAÇÃO DO APLAUSO

  

Seguindo programas midiáticos,

Para recurso de atos didáticos,

Evangelizadores relegam atos,

Para propugnar atrativos fatos.

 

Não importam atos edificantes,

Mas os prestigiados rompantes,

Que despertem surto de euforia,

E entusiasmo de larga disforia.

 

Prestígio daqueles já afamados,

Requer belos auditórios lotados,

Para conferir o status a oradores,

Envaidecidos com seus pendores.

 

Sem ênfase no elã do evangelho,

Fazem um papel de escaravelho,

Removendo honra do seu legado,

Como exemplo de modelo ilibado.

 

Numa argumentação moralizante,

Ditam normas de apelo constante,

Para serem seguidos nos detalhes,

E para não incidir em achincalhes.

 

Como gurus, querem seguidores,

Que enalteçam os seus pendores,

Com religião de efusiva alegria,

Desprovida de lídima sabedoria.

 

Importam as emoções vibrantes,

Que desviem tensões frustrantes,

E aquilatem objetivas pretensões,

No rol de fantasiosas dimensões.

 

Dominação sobre as consciências,

Corrompe as legítimas sapiências,

Para o consumo de informações,

Sem subverter perversas decisões.

 

 

 

 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

IGREJA DA IMAGEM

 

 


Reativos a ataques emergentes,

Figurões religiosos eminentes,

Mostram-se bem empenhados,

Com a imagem e seus legados.

 

Na aparente feição de alegria,

As selfies da imagética euforia,

Visam mais o sucesso pessoal,

Que a animação de vida social.

 

Não perdem nenhum detalhe,

Para exibir lance com entalhe,

Da sua imagem perfeccionista,

Na rota obstinada e carreirista.

 

Adoram a sua própria imagem,

E fazem dela vistosa roupagem,

Para serem vistos e lembrados,

Como sucesso digno de brados.

 

Escancaram o sorriso artificial,

Como se fosse um manancial,

Místico duma espiritualidade,

A encantar à vasta saciedade.

 

Argutos discursos de retórica,

Com forte apelação eufórica,

Leva-os à venda de santidade,

Duma controlada religiosidade.

 

A santidade discursiva racional,

Não esconde contradição banal,

Que escancara afã por prestígio,

Evidente no vistoso supterfúgio.

 

A lida efetiva de autoritarismo,

Reflete o estranho mecanismo,

De apostar em fama e ascensão,

Como serviço de evangelização.

 

As aparências impecáveis e retas,

Ocultam as formas nada discretas,

De exemplaridades não virtuosas,

Para suas atribuições grandiosas.

 

Esquecem que o Cristo Redentor,

Agiu contra o processo opressor,

Que sob hipocrisia escancarada,

Dominava na ingrisia descarada.

 

 

 

 

 

 

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...