Como se o tempo tivesse rupturas,
E encerrasse ciclos e conjunturas,
Fim de ano é momento da glória,
De astrólogos a preverem vitória.
Nos segredos de cunho visionário,
Apontam surpreendente itinerário,
Deste mais simplório senso comum,
Mesmo sem produzir efeito algum.
Nas magias dos rituais das comidas,
Com as formalidades já carcomidas,
Pressupõe-se a reação instantânea,
Para elevada felicidade consentânea.
Ano novo aguardado com ansiedade,
Sequer diminui a variada adversidade,
Das tão vetustas artimanhas
políticas,
E dos apelos a argumentações míticas.
As pequenas inovações democráticas,
Quase somem nas manobras erráticas,
Das elites com as barganhas
falaciosas,
E com suas ambições claras e facciosas.
Resta ao comum dos mortais sofridos,
Sonhar com os enganosos esbaforidos,
De profetas do obcecado consumismo,
A produzir um decadente pessimismo.
Assim, os tantos augúrios
fantasiosos,
Se esvaem com os sonhos auspiciosos,
E obrigam a um cotidiano de dura
lida,
Sem que sonhado avanço se consolida.
Resta então o desafio de achar gosto,
Para não recair no amargo desgosto,
Das ilusões fugidias e tão
provisórias,
Apontadas como reais e compulsórias.