sexta-feira, 27 de abril de 2018

SEXOMANIA




Feita analgésico de alienação,
E depurativo para frustração,
Mais que doença sonâmbula,
Move a obsessão perambula.

Cultivada para a compensação,
Mais do que a onda de atração,
Foi feita excelsa forma de lazer,
Para se fruir do máximo prazer.

Bem produzida no imaginário,
Oferece o único e cego ideário,
Da fruição do corpo coisificado,
Sem compromisso e sem legado.

Colocada no centro da fantasia,
Persegue com a rígida teimosia,
O fim absoluto e bom do prazer,
Para somente a si se comprazer.

A estimulação massiva e diária,
Forma uma multidão presidiária,
Atrelada a uma única motivação:
A de fazer sexo até a extenuação.

Pensando somente neste objeto,
Nada conta o procedimento reto,
Ou a atitude respeitosa a alguém,
Pois vale o prazer que dele advém.

Como atraente ação para o dia,
A sexomania acalantada irradia,
A banalização da energia sexual,
Que inibe qualquer amor frugal.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O MUNDO ENCANTADO DA DENEGAÇÃO




Segue na alta velocidade,
Da tecnificada sociedade,
Uma persuasão denegada,
De negar a ação praticada.

Nada tão charmoso e belo,
Como o mentiroso singelo,
A negar com toda firmeza,
A traição da reta inteireza.

Nas manchetes e noticiários,
O centro dos relatos diários,
Repete as evasivas negações,
De perversas procrastinações.

Seria extraordinária surpresa,
Se alguém fizesse sua defesa,
E afirmasse ter feito o que fez,
E reconhecesse a mesquinhez.

A técnica do afirmar o contrário,
Permite moldar o fictício ideário,
Da inocência preclara e evidente,
E da reta consciência procedente.

Assim como ninguém viu e notou,
Que algum ato ilícito se efetuou,
Ninguém explica o ocorrido fato,
De um dito suposto deslize de ato.

Importa, pois, desmentir o fato,
E rechaçar as evidências do ato,
Para assegurar boas aparências,
E ocultar notáveis incoerências.

Negar a veracidade da acusação,
É o que mais se ensina na ação,
Pois o ato ilícito é tão atraente,
Quanto negá-lo convictamente.



NOVOS MANDINGUEIROS




Distantes da típica ancestralidade,
E da marca cultural da antiguidade,
Os novos mandingueiros religiosos,
Sabem explorar fatos miraculosos.

Sob o transe produzido e cultivado,
Veem cura e milagre por todo lado,
Mas diluem o ar da velha feitiçaria,
Sem vínculo algum com a bruxaria.

As proclamadas curas e libertações,
Tão simpáticas a sofridos corações,
Ruborizam as mui exaltadas faces,
De pregadores fanáticos e rapaces.

Na nova hierarquização de poderes,
Repetem obsoletos apelos e dizeres,
Para o estado de transe propagar-se,
E eles, em sua grandeza inebriar-se.

O abuso dos instrumentos musicais,
Para canções agressivas e infernais,
Cria um efeito hipnótico favorável,
Que desencadeia prodígio inefável.

Palavras cadenciadas e alucinantes,
Berradas como melodias cantantes,
Impõem ordem autoritária de cura,
Na hipnótica e dissuadida diabrura.

Falam, então, dos recados especiais,
Auferidos pelas instâncias celestiais,
Que lhes informam dados secretos,
Para produzirem efeitos prediletos.

Mandingados pela própria grandeza,
Exalam um arrogante ar de nobreza,
Pelos seus especiais poderes de cura,
Mas que atrelam viventes na secura.





NA GRONGA POLÍTICA




Nas muitas coisas mal feitas,
Desde esquerdas até direitas,
Seguem conluios e conchavos,
Para os velhos e pífios agravos.

Alianças de interesses sórdidos,
Revelam velhos jogos mórbidos,
Da obsessão por acesso ao cargo,
Para alargar o poder de embargo.

Nas vantagens e direitos especiais,
Residem as ocasiões sensacionais,
Para a seletividade dos privilégios,
Facilitados por ignóbeis sortilégios.

No olhar aguçado para a ambição,
Serve toda a evidente contradição,
Desde que não ameace uma perda,
De centro, direita ou de esquerda.

Importa apenas persuadir crentes,
Mesmo que estejam descontentes,
Pois, ouvindo promessas ilusórias,
Devaneiam com as idílicas glórias.

Sob a gronga tão velha e descabida,
Anda vaga na orientação consabida,
Que a mentira tão bem proclamada,
Queira bem a esta gente mal amada.





quarta-feira, 25 de abril de 2018

DEMONSTRAÇÕES MUXOXEANTES






Estranha a nossa condição,
Que vive uma ostentação,
De belo muxoxo e carinho,
Mas bate o braço daninho.

Esnobe das muitas carícias,
Como as altaneiras delícias,
Esvai-se como vento veloz,
E revela um coração atroz.

Resta a amargura intrigada,
Que engole a hora furtada,
Em que o efetivo amplexo,
Já não nutre o belo reflexo.

Fica apenas a raiva contida,
De uma expectativa traída,
E de mais um ensejo levado,
Para um outro bem amado.

Dos beijos do intenso amor,
Sobrou só amargo dissabor,
Do rápido acalanto esvaído,
E já naquele ato preterido.

Sobra somente a dura sina,
De pensar tal cena cretina,
Que levou a fruição amada,
De maneira tão desalmada.

A reminiscência abominável,
Enche na paciência amável,
A inquietude desta escuta,
Sem alguma direção arguta.

O que poderia eu apontar,
Para tal mágoa afugentar?
Somente sei recomendar,
Que novo ardor vai andar.




quinta-feira, 19 de abril de 2018

EGOÍSTA ANÔMICO




A perda da integração familiar,
Não consegue unir e conciliar,
A tão prestigiada cordialidade,
Com a visada individualidade.

Num desejo premente e forte,
Para além do lar que conforte,
Emerge o rumo do isolamento,
A oferecer um supremo alento.

Num mundo isento de ordens,
Abre-se o portal das desordens,
Que engole normas e preceitos,
Para liberar impulsivos defeitos.

No já fragilizado elã integrador,
O espaço da família perde ardor,
E torna-se fermento depressivo,
Que alimenta o agir permissivo.

A ausência de regras reguladoras,
Dá vasão a fantasias propulsoras,
Para os delírios mais perversos,
Que ignoram os fatores adversos.

Os sintomas tão negligenciados,
Difundem-se para todos os lados,
E além do mundo das depressões,
Causam violência sem dissuasões.

A feição de aparência entristecida,
Vira freio da conversa enternecida,
E irradia pessimismo injustificado,
Diante de todo e qualquer legado.






quarta-feira, 18 de abril de 2018

NOTÍCIAS FALSAS




Tão simpáticas e tão alvissareiras,
Encantam mais que as verdadeiras,
E despertam amplas virtualidades,
Do viável e possível de inverdades.

Amparadas na riqueza fantasiosa,
Não anteveem a sequela danosa,
Nem a objetividade tão sagrada,
Que nunca deveria ser profanada.

Sob a hegemonia do sentimento,
Misturam furor e ressentimento,
Mais para denegrir e disparatar,
Do que para construir e resgatar.

Interessam a grupos ideológicos,
E a procedimentos demagógicos,
Para ascensão rápida e vantajosa,
Sem uma predisposição dadivosa.

Facilitam a condição de amealhar,
E conduzir sujeitos para antolhar,
Seu foco de desejos e necessidades,
A conformar-se nas mediocridades.

Quando são muitas vezes repetidas,
Viram certezas das mais aguerridas,
Para alienar críticos e descontentes,
E indicar proposições impertinentes.

No grande simulacro do que é real,
Não passam da vil aparência ideal,
Que ludibria a imensa população,
Pela constante e cruel protelação.


quarta-feira, 11 de abril de 2018

ERA DOS HIPER-APRESSADOS




 A indução para reinventar-se,
Avançou tanto ao alastrar-se,
Que tudo deve ser leve e ágil,
E por isso, provisório e frágil.

Os ligeirinhos da era digital,
Afoitos no rol monumental,
Antecipam visado sucesso,
Com medo de um regresso.

No trabalho sem realização,
Importa só boa gratificação,
Para comprar as novidades,
E alimentar largas vaidades.

A googleização dos saberes,
Confere especiais poderes,
Sem saber o que é verdade,
E sem notar toda veleidade.

Reféns de “falsas notícias”,
Consomem como delícias,
O azedume da antecipação,
Sem aguardar a maturação.

Soltam o lixo por todo lado,
E contaminam rico legado,
Na arrogância de grandeza,
Para dissuadir a incerteza.

Como caçadores de prazer,
Já não focam mais o lazer,
Nem aparato de elevação,
Para consumir à exaustão.




segunda-feira, 9 de abril de 2018

DESGASTE PSÍQUICO-EMOCIONAL DOS PRESBÍTEROS



           
            Por mais que padres tenham um histórico de cultivo na fé e de motivações teológicas para serem fortes, animadores, alegres, e, - com sentido de vida para esbanjar, - eles não estão imunes dos efeitos culturais que causam depressão e suicídio.
             Embora não se espera depressão e nem suicídio de padres, eles estão, na verdade, mais sujeitos a estes fenômenos do que outros profissionais que lidam com terceiros, devido ao alto nível de cobranças não ditas que sofrem numa comunidade. São cobrados pelo que fazem e pelo que não fazem.
            A sobrecarga de serviços, aliada à cobrança de metas, quer pessoais ou alheias, direcionam o padre, com muita facilidade, para o complexo messiânico, que o leva a se desleixar totalmente de si mesmos para dedicar-se intensamente aos outros. Sem horários para o cuidado de si mesmo, e, geralmente sem alimentação adequada, produz todas as condições favoráveis a processos entrópicos e depressivos. Mesmo movido por ideais nobres e humanitários, as condições de trabalho produzem um quadro psico-somático para muito sofrimento subjetivo, que, eventualmente, pode desencadear mecanismos de morte.
            Apesar de estatísticas apontarem baixos índices de suicídio no quadro dos presbíteros, se, por exemplo, comparados aos médicos – que apresentam o maior índice mundial de suicídio – não se aguarda esta fatalidade de quem é padre. No entanto, muitos padres com predisposição para o suicídio carregam longa história de marcas traumatizadas e que agem no inconsciente. Muitos, sem o saber, procedem de traumas na gestação e parto, como ameaças de aborto, espontâneo ou desejado, e, a partir deste momento da vida desencadeiam mecanismos de desistência e de auto-destruição que os induzem a procurar na morte um alívio para o sofrimento psíquico muito intenso.
            Embora marcas inconscientes antigas não constituam impreterivelmente um determinismo fatal para o suicídio, o descuidado de si mesmos pode levar padres ao suicídio do mesmo jeito que quaisquer outras pessoas da sociedade.
            O risco revelador do maior perigo para padres entrarem em depressão está no isolamento de colegas, que poderiam ajuda-los pela empatia e indicação de algumas novas balizas para a vida. Outro fator, geralmente agregado, é do sentimento de isolamento ou de não pertença ao presbitério. Por conseguinte, quem cultiva a humildade de admitir que colegas de ministério possam ajuda-lo, com certeza, nunca chegará ao extremo de executar mecanismos de auto-destruição.

<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...