quarta-feira, 31 de maio de 2017

Ansiada lucidez



Vontade aguerrida,
De levar uma vida,
De modo agradável,
Vigora no desejável.

Com as dificuldades,
E intensas maldades,
Vai o discernimento,
E, o contentamento.

No desejo de servir,
E alcançar o porvir,
Surge uma vontade,
De boa cordialidade.

Deseja-se um agrado,
Que livre todo enfado,
Através da dedicação,
Sem dar boa atenção.

Assim todo trabalho,
Vira pobre bugalho,
Que não leva ao fito,
Do interagir bendito.

Na percepção de parar,
E algo novo auscultar,
Nasce a boa surpresa,

Que devolve inteireza.

Saracoteios da vida



Muitas vezes rebola a dor,
Sem um sinal acalentador;
Que inquieta e faz inquirir,
Pelo que está a se denegrir.

Tantos anseios de respostas,
Ante tão enganosas apostas,
Apenas deixam uma ausência,
Sem sinais de uma clemência.

As insatisfatórias explicações,
 Dissimuladas por decepções,
Induzem a refúgio atrelador,
Que em nada dissuade a dor.

Mesmo a vasta dependência,
Numa química sem solvência,
Pareça uma vigorosa solução,
Mas só aumenta a prostração.

Sem uma fé de olhar arguto,
O sentimento se torna bruto,
E já não enxerga nada além,
Da prostração que o retém.

Sem um olhar que ultrapassa,
A relação tão cruel e devassa,
Deixa o breu da noite escura,
Irradiar o terror e a diabrura.









domingo, 28 de maio de 2017

Razões da existência



Tanta inquietação com o porquê,
E tanta dúvida sobre o para quê,
Causa medo e a vasta incerteza,
Sobre alguma razão da inteireza.

Aparece, então, uma segurança,
Mesmo eivada de desconfiança,
Que desvia toda a preocupação,
Para não afrontar tal motivação.

Na boa superficialidade da vida,
Alguém nos dá a atenção devida,
E nos aponta a vida da facilidade,
Como o rumo da plena felicidade.

Mas impõe a ideologia mandante,
Que deseja o consumo abundante,
E, através de astúcia convincente,
Aponta belo mundo, todo contente.

Assim, impõe as maneiras de agir,
Nada preocupada com o denegrir,
Da condição já feita sub-humana,
Sem que algo bom dela promana.

Se alienados, nada mais perguntam,
E como motivações da vida ajuntam,
A ausência de elementares respostas,

Deixa devendo eventuais propostas.

Ações noctívagas



Dos tempos imemoriais de medos noturnos,
Interpelados por riscos e processos soturnos,
Nossos ancestrais diminuíram efetivos riscos,
Valendo-se do controle do fogo nos apriscos.

As tramas programadas para supinos saques,
E o fator de surpresa para desferir os ataques,
Roubaram a tranquilidade do sono restaurador,
E deixaram legados de morte e de violenta dor.

A vida urbana moderna ilumina a cotidiana lida,
E estende os dias pelas noites da secreta guarida,
Mas nelas apaga os lampiões dos lugares ermos,
Para que ali se extravasem psiquismos enfermos.

Enquanto muitos dormem numa pequena morte,
Outros tramam golpes para sua derradeira sorte,
E mais do que corujas noctívagas, caçam vorazes,
Corpos, cópulas, acertos e pedidos dos sequazes.

Os mais perigosos são dos das noitadas festivas,
Que nas ambições imensuráveis e intempestivas,
Burilam leis para privilegiar suas traiçoeiras greis,
E garantir seus privilégios assegurados pelas leis.

Agem na calada da noite quando outros dormem,
E ainda impedem que suas vítimas se informem,
A respeito da perfidiosa trama que imputaram,
E daqueles que na escuridão escorropicharam.



sexta-feira, 26 de maio de 2017

Céu: um lugar ou alguém?



            A ganância doentia, estimulada por um sistema perverso contra o bem-estar coletivo, aposta eminentemente no êxito pessoal e no triunfo sobre os outros. Neste quadro, imaginar uma libertação, significa ascensão econômica-social e o grande sonho para a plenitude humana de um futuro brilhante e feliz, foca exclusivamente uma condição de acumulação. Por ventura, alguém já levou algo do acumulado junto com sua morte?
            Bem sabemos que nem todo progresso humano significa, pelo que cremos no discipulado de Cristo, crescimento e ampliação do reino de Cristo, embora este reino também implique em crescente qualidade da sociedade humana.
            O céu que se espera em Jesus Cristo não é o céu espacial das altitudes, acima de nuvens e de estrelas, mas, uma perspectiva de felicidade eterna que começa aqui e agora. Implica, igualmente, numa relação com Deus, que nos situa no meio da vastidão dos sistemas de vida, não para degradá-los mediante ambições doentias, mas, para uma relacionalidade que integra a condição humana com as grandezas de tantos outros sistemas de vida.
            Do ato de fé dos primeiros cristãos a certeza de que Cristo estava no céu (à direita ou esquerda de Deus, na verdade, uma imagem atribuída à glorificação de Jesus), significava vivenciar o que ele tinha transmitido aos discípulos e fazer a obra, centralizada na lei do amor, chegar a todos os confins da Terra. Ela havia deixado uma recomendação explícita: que ensinassem a observar o que Ele havia ordenado.
            A experiência vivenciada pelos primeiros cristãos foi a de o retorno e a presença de Jesus Cristo após sua morte não implicou em refazer o que ele fazia antes, nem para orientar um poder teocrático sobre os outros poderes estabelecidos, mas, em ajudá-los para que eles pudessem continuar a sua obra num outro tipo de relações com Deus e que, necessariamente, implicava num novo modo de vida entre as pessoas.

            A festividade da memória de que Jesus estava na glória de Deus, permite reconhecer um novo elo: o do Deus bom, no meio da condição humana. Assim, na glorificação de Cristo celebra-se a elevação da condição humana. Por conseguinte, nada deve alienar-nos deste mundo, e podemos agir concretamente a fim de que o caminho apontado por jesus Cristo dê a razão para uma boa convivência. 

Chuva



Desces prenhe de vida,
No ar de compadecida,
Mas acalantas a morte,
E triste fracasso à sorte.

Por vezes tão demorada,
E até mesmo desagrada,
Quando só faz de conta,
Jacta-se e nada apronta.

Quando enfim apareces,
Mesmo sem boas preces,
E sossegas na mansidão,
Transformas à exaustão.

Chegas à sede do humor,
E acordas com pundonor,
Os ânimos embebedados,
Pelo porre de desagrados.

Ali semeias encantamento,
E renovas o brio do alento,
Que leva a atos edificantes,
E subleva os insignificantes.

Sua cadência de suavidade,
Gesta na mente a bondade,
De perlustrar elucubração,
Para diretrizes do coração.




quinta-feira, 25 de maio de 2017

Paciência



Lerda como o gato dorminhoco,
Ou o uirapuru sentado no toco,
Disfarça no tempo fugaz e veloz,
A pesada dúvida de efeito atroz:

Ter que esperar um vasto tempo,
Para internalizar o contratempo,
Da pressa que esquece os fatos,
E engole a memória dos relatos.

Para que suportar a protelação,
De quem promete a boa ação,
E a joga aos ventos disparados,
Que roubam sonhos e agrados?

Para que esperar o outro trem,
Se este ali está num vai-e-vem,
Que não assegura as promessas,
E nem freia obstinadas pressas?

Quando o enleio da ação eficaz,
Irrompe para o gesto que apraz,
Já passou a sua vez para reagir,
E acelerar o ensejo de interagir.

No acalanto das boas projeções,
Mesmo com as ótimas intenções,
Não desce no gargalo do alento,
A demora que adia o momento.














quarta-feira, 24 de maio de 2017

Cabralite


O primeiro que arrostou esta Terra,
De olho na grandeza que ela encerra,
Sentiu o direito de poder apossar-se,
Para que muito pudesse acossar-se.

Outro similar na condição governante,
Sentiu o encantado, nada discrepante,
Possível de ser usufruído e amealhado,
Alheio ao que viesse a ser prejudicado.

Aprendeu a ser um velhaco meticuloso,
Com o discurso bajulador e bem meloso,
E confirmou-se acima das normas e leis,
Satisfeito com o que surrupiou das greis.

Alargou influente escola de rapinagem,
E com especialização na malandragem,
Arregimentou um séquito de ladrões,
Que reproduzem mais que garanhões.

Os arroubos da sua mania de grandeza,
Revelaram-no sem a mínima inteireza,
Pois sorve com prazer e fome a morte,
Espalhada no vasto povão sem aporte.

Conectado na vasta rede de corrupção,
Está imperturbável a anelos da nação,
E como exemplo de escárnio à retidão,
Ensina que se pode roubar à exaustão.




terça-feira, 23 de maio de 2017

Prece do fragoroso



Cultivado como piedade,
Barulhento à saciedade,
Em ambiente exagerado,
Vocifera ele desesperado.

Na cadência cantarolada,
Rápida e toda estabanada,
A invocação vai insistente,
Com muito apelo renitente.

Voz gritada sobre a plateia,
Sob desconcatenada ideia,
Alarga a lavagem cerebral,
Para uma sugestão visceral.

Ao milagre, no apelo forte,
Clama pelo divino aporte,
Para ser um extraordinário,
Do poder consuetudinário.

Adora a sua personalidade,
A estufar-se com saciedade,
Para sugestionar os súditos,
A esperar milagres súbitos.

Nos murmúrios hipnóticos,
Eclodem desejos despóticos,
De dobrar Deus a seu desejo,
Para enaltecer o próprio ejo.













Penduricalhos



Quando o tempo parece veloz,
Queremos voar como albatroz,
Para captar as múltiplas ofertas,
Que as vitrines deixam abertas.

Sem paciência para inovações,
Queremos ostentar sensações,
Que melhorem as aparências,
Sem dar tempo a ingerências.

O ardor de mostrar novidades,
Leva a impulsivas leviandades,
Para mostrar o que é atraente,
Mesmo que seja contundente.

Mais do que os penduricalhos,
E o vasto acúmulo de bugalhos,
Oferta-se o corpo todo carente,
Para fruir agrado complacente.

Chamativos tão tresloucados,
Irradiam para todos os lados,
Anelos dum coração isolado,
A latejar para ser incorporado.

Nos penduricalhos, um clamor,
Regado por um ardente fervor,
De não sumir virado num lixo,
E nem morrer atrelado ao fixo.





segunda-feira, 22 de maio de 2017

Obviedades


Sobre os direitos conquistados,
E os interesses já consumados,
Os anseios de mais vantagens,
Deslindam como boas aragens.

Uma vez garantido o privilégio,
E membro de superior egrégio,
O dito cujo não deseja perder,
E nem por algo se ensandecer.

Quer aumento do amealhado,
Sem devolução do acumulado,
E ver-se livre dos julgamentos,
E do preço dos seus portentos.

Para assegurar suas vantagens,
E garantir polpudas rapinagens,
Forma conluios com barganhas,
Para disfarçar as suas patranhas.

A mentira repetida à exaustão,
Produz a excelente combustão,
Capaz de energetizar simpatias,
Que endossam suas maestrias.

Na aparência de cidadão honrado,
Exige o direito de ser bem tratado,
Sem devolver sua posse indevida,
E sem mudar a manha denegrida.


sexta-feira, 19 de maio de 2017

Assimilação do Espírito de Deus



            Uma das valiosas dimensões da fé cristã se relaciona ao fato concreto de Jesus ter alertado os discípulos a respeito de brevidade de sua convivência com eles, e, a simultânea antecipação de que o Espírito de Deus viria ajudar a efetuar a construção do Reino de Deus, tema central da boa notícia de Jesus.
            Uma leitura teológica pentecostal norte-americana e que entrou largamente na Igreja católica, entende este Espírito de Deus como algo que um indivíduo recebe para tornar-se instrumento especial, entre um fiel crente e Deus. Esta suposição mística delega a quem faz alguma experiência hierofânica, um poder de superioridade. Daí o carreirismo, sobretudo, para os poderes de cura e libertação, mas que, na verdade, curam pouco e, geralmente, nada libertam para além do processo hipnótico.
            O efeito desta concepção teológica desloca a centralidade dos sacramentos e os instrumentaliza para a suposta pessoa iluminada que presume agir com os poderes especiais do Espírito de Deus. Nesta condição, o agir do Espírito de Deus passa muito mais pela pessoa iluminada do que pela sacramentalidade da tradição para uma ação humanitária e edificante.
            O evangelista São João, ao refletir teologicamente sobre a despedida de Jesus (14,15-21) escreveu que Jesus prometeu o Espírito como “Paráclito”, ou seja, como um bom advogado, ou alguém que ampara o cristão e o orienta na lida contra as muitas dificuldades advenientes da evangelização. É preciso considerar que São João escreveu num momento histórico de intensa perseguição aos cristãos. Portanto, além de toda a orientação dada por Jesus Cristo, Ele ainda assegurou outra força, a do Paráclito para que os discípulos não se sentissem órfãos, mas, para que tivessem a capacidade de manter-se unidos na palavra que lhes anunciou.
            Neste prelúdio do significado de Pentecostes, ainda hoje, continuamos a esperar o aprofundamento do que a ressurreição de Jesus significa para as comunidades cristãs. Mesmo inseguros na experimentação da presença vital de Jesus Cristo ressuscitado; e, propensos ao risco de sucumbir no mundo subjetivo de poderes, precisamos deste bom advogado para não ficar atrelados a um curandeirismo sem capacidade de gestar o alargamento das atividades da comunidade cristã.

            O tempo difícil de nossos dias continua a nos colocar a mesma interpelação feita aos primeiros discípulos de Jesus porque nós, por nós mesmos, não encontramos a suficiente firmeza diante das incontáveis adversidades que a vivência religiosa nos suscita. Precisamos da força da palavra segura do salvador que redime!

quinta-feira, 18 de maio de 2017

No sururu da roubalheira



Com tanta informação nada lisonjeira,
Dos homens públicos em roubalheira,
Aflora cada dia mais claro e evidente,
O enleio da conivência do Presidente.

Discurso enfático de senador demitido,
Que há anos soava como som aturdido,
A favor do bom-senso da honestidade,
Mostra a ilusão da sua reta idoneidade.

Anos de muitas mentiras acobertadas,
Sob as falaciosas apelações recatadas,
Tornaram-se transparentes e visíveis,
E reveladoras de disparates incríveis.

A aparente crise sem causa detectável,
Insinuada como vilã da vida degradável,
Denegriu milhões de pessoas espoliadas,
E escancarou as roubalheiras execradas.

Vultosa exportação do dinheiro roubado,
Que faz tanta falta na lida por todo lado,
Permite assimilar a pobreza alarmante,
Como preço do banditismo governante.

O fim do sururu da crise dos malandros,
Requer consciência reta dos meandros,
 Que não podem alinhar a governança,

Para um projeto de solidária bonança.

Falha técnica



Se o diabo faz a panela,
E na sua perversa trela,
Não completa a tampa,
Fita, porém, a estampa.

Nela caem os velhacos,
Astutos como macacos,
Mas a mão na cumbuca,
Revela a tinhosa sinuca.

Na caçapa amealhada,
Sobrou bola amarelada,
A trair o jogo simulado,
Do real intento sacado.

Na mentira escancarada,
A inocência tão alegada,
Desvela todo dia a farsa,
Da traição de comparsa.

Sem moral para o nome,
A teatralização consome,
A honra do belo encargo,
E consagra seu embargo.

Nus na auto-consciência,
E desvelada a indecência,
Falta folha de bananeira,
Para dissuadir a besteira.



Deturpações



Se as orgânicas disfunções,
Já produzem perturbações,
As censuras de difamação,
Chegam fortes na emoção.

Ali geram dores ampliadas,
Com as memórias safadas,
Dos defeitos acobertados,
E sobre outros projetados.

Integrar tantas maldades,
Advindas de deslealdades,
Requer um perdão sofrido,
Para não produzir prurido.

O maldoso deslocamento,
Encobre um ardil intento,
De repassar boa imagem,
Com sua falsa roupagem.

Até nas pessoas educadas,
Com fama de equilibradas,
O jogo ardil das ambições,
Induz a perversas traições.


Jogam sobre outros o erro,
E pressionam ao desterro,
Vítimas ilesas e inocentes,
Para fruir atos indecentes.


terça-feira, 16 de maio de 2017

Tibieza



Sumida da fala costumeira,
Tampouco aparece na eira,
Para significar a frouxidão,
Que se alastra à exaustão.

A fraqueza na palavra dita,
Aliada à indolência maldita,
Que perpassa níveis sociais,
Afronta até meritórios anais.

No viciado apelo à negação,
Encobre-se toda sonegação,
E no tíbio apelo à inteireza,
Extravasa toda a malvadeza.

A indolência de mandantes,
Que se proclamam amantes,
Do rigor de leis estabelecidas,
Primam para serem preteridas.

Na frouxidão com comparsas,
Revelam as obstinadas farsas,
Que as fracas argumentações,
Exibem para todas as direções.

Tépidos e fracos diante dos ditos,
Sucumbem pelos próprios atritos,
Que se escancaram por todo lado,
Sem efetuar o prometido legado.


<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...