Parece cada
dia mais insensato o convite de Jesus Cristo, feito aos discípulos, para um
modo de ser específico: ser servo! Se o convite intriga os interlocutores de
hoje, simultaneamente, se presta para uma constatação: falta fé para esta
estranha opção, diante de um mundo cultural que endeusa poder e a condição de
ditar a conduta dos súditos.
Um texto
muito antigo do profeta Habacuc (Hb 1,2-3; 2,2-4) revela seu perfil de fé com
pressuposto de poder: insatisfeito com a impiedade e as injustiças do povo e, possivelmente,
com a eficácia do seu trabalho, quer que Deus evite que o povo de Judá viva de
forma tão desencontrada. O retorno deste pressuposto foi uma intuição de que
Deus, ao invés de atender a súplica do profeta, apontava para algo ainda mais
grave: este povo acabaria sendo exilado para a Babilônia. Era algo que Habacuc
sequer queria imaginar, mas, ao mesmo tempo sentiu a interpelação de Deus: não
é Deus que precisa prestar conta para aquele possível infortúnio, mas, caberia
aos fiéis manter-se na fidelidade da sua fé, porquanto este itinerário seria
capaz de propiciar justiça a partir dos justos.
A mensagem
de Cristo levou os discípulos a torcerem o nariz porque certamente esperavam
alguma precedência através do discipulado, regada com honras e muitos poderes.
Ao serem convidados para se assemelharem a empregados, que cumprindo suas
tarefas, no fim do dia, ainda teriam que continuar a trabalhar, os discípulos
se deram conta de que lhes faltava fé básica para tal abnegação.
Nossos dias
ostentam uma cruel relação dos serviços com preços exorbitantes e, já se torna
raro encontrar alguém que preste algum serviço sem exigir a devida remuneração.
Sob este quadro, a lealdade ao projeto de Jesus Cristo, também encontra um
limite: falta fé! Não só os serviços gratuitos somem do panorama social, mas,
também todos aqueles que não impliquem em afirmação do poder para reger a vida
dos outros. E, como os discípulos, nos damos conta de que para perseverar na
convocação de Cristo, somente com uma humilde constatação de limites: “Senhor! Aumentai a nossa fé”.
A fé, muito
mais do que meio para obtenção de privilégios e vantagens gratificantes -
geralmente não alcançáveis por outros caminhos, - provavelmente supõe
constância na fidelidade, mais do que insistência para que Deus mude as coisas
segundo nossos interesses pessoais.