domingo, 29 de junho de 2014

Imagética



Vaidades adquiridas e cultivadas,
Juntadas à adoração da imagem,
Sob posturas éticas desandadas,
Endeusam aparência e roupagem.

Na ampliada divulgação do imagético,
Onde até enfeites de olhares seduzem,
Tudo brilha até mesmo o não estético,
Para destacar os adereços que reluzem.

Sob o ditame da necessidade de encantar,
Mata-se todo o campo simbólico pela raiz,
Pois nas muitas extravagâncias a ostentar,
Reluz doce ilusão de um estado bem infeliz.

Quando a imagem prevalece sobre a causa,
O consumo e a imitação centralizam a lida,
E impedem sequer um momento de pausa,
Para administrar a interioridade combalida.

Na centralização das ambíguas aparências,
O pum-pum fica bem acima da inteligência,
E, até na vulgar saturação das indecências,
Tudo é difundido com a melhor referência.

No anseio de uma comunicação efusiva,
Está o sonho de mensagens significativas,
Muito marcantes e sem grotesca evasiva,
Nem eivadas de muitas falsas justificativas.




sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mendiga de afeto



Como tamanha beleza,
Na florescência da idade,
Implode com tanta tristeza,
E, com lágrimas à saciedade?

Os diversos amores procurados,
Não preencheram em nada a vida,
E sequer conseguiram deixar relegados,
Os muitos desencantos da cotidiana lida.

Com apenas vinte e cinco anos de idade,
Frustrada no âmago dos amores procurados,
Mesmo sem qualquer sentimento de maldade,
Está mergulhada com os dissabores desenganados.

Parece que ainda não percebeu a tríplice prisão,
Que já na mais tenra idade envolveu sua existência,
E a deixou uma pobre mendicante de afeto, com a ilusão,
De que comprando carinho, compraria toda benemerência.

Resta curar do passado o modo de comprar o afeto e o agrado,
E carregar a cama desta dependência mal integrada que, lá, deu certo,
Para recriar o sentido da existência, integrando o enternecido passado,
E tomar novos rumos que evitem tentativas de estabelecer compromisso incerto.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

FÉ - mais que controle e ousadia



            A comemoração da tradicional Festa de São Pedro e São Paulo sempre nos enseja a atualização da riquíssima memória dos dois homens que, por caminhos muito distintos, se aproximaram notavelmente do jeito de Jesus Cristo.
            A tendência ao controle e à sistematização tende a predominar em algumas pessoas, enquanto que a capacidade de inovar e de partir para algo novo, é marca mais saliente de outras. Muitas vezes, estas duas tendências da vida geram conflitos e tensões, tanto em casais quanto em comunidades cristãs.
 Por vezes o excessivo zelo por uma ou outra destas características pessoais, gera sofrimentos e desencontros graves que acabam em rupturas, mas, por outro lado, quando estas forças são cultivadas na fé, podem constituir-se em valiosa capacidade de síntese e que faz muito bem à vida.
            Tanto a ausência de ordem quanto o excesso de mudança e de inovação tendem a não fazer muito bem à nossa vida. Por isso, lembrar o itinerário de crescimento da vida pessoal de São Paulo e de São Pedro nos remete a um desafio animador. Com histórias de vida muito diferentes, Pedro e Paulo foram mudando gradualmente e se aproximando do essencial da Boa Nova de Jesus Cristo, a ponto de se tornarem capazes de suportar o mesmo martírio pela causa do Reino de Deus.
            Mais do que o zelo e a força de vontade na vida dos dois apóstolos, predominou neles o crescimento dinâmico da fé. A fé foi quem os levou a um paulatino processo que os tornou radicalmente melhores do que eram.
            As múltiplas tensões geradas na vida doméstica e comunitária tendem a revelar que, estas, normalmente se manifestam mais pelas naturais propensões pessoais, ou de controle ou de mudança e inovação do que por motivações de fé. Foi, certamente, a fé de Pedro que o tornou merecedor das “chaves” para ligar e desligar. Em outras palavras, não foi questão de poder, de fama ou condecoração da precedência, mas seu dinamismo de fé foi capaz de torná-lo progressivamente mais apto a aproximar as pessoas em comunidade para a realização do projeto de Jesus Cristo. A “chave” levou Pedro a extraordinária dedicação e serviço.
            Também nós, na medida em que cultivamos mais e melhor nossa fé, podemos experimentar o que realmente gesta e gera transformação de vida, capaz de torná-la mais plena de sentido. Como Pedro e Paulo, somos dotados de riquezas pessoais que podem ser buriladas e nos levar a testemunhar, especialmente por obras e gestos, o crescimento no humilde e progressivo caminho de integração daquelas forças vivas que tornaram os dois apóstolos verdadeiros esteios de Igreja.



quarta-feira, 25 de junho de 2014

A sina da ordem



Elogiada aos céus,
Como benemérita,
Repercute aos léus,
Sua ação pretérita.

Ambígua, mais que eficaz,
Gera disfarçada violência,
E, o que muito lhe apraz,
É dócil e cega obediência.

Presente até nas entranhas,
Para dominar todo o caótico,
Faz emergir formas estranhas,
De agir violento e despótico.

No controle obsessivo,
A violência é acionada,
E no avanço progressivo,
Deixa a vida degradada.

No desejo de tudo ordenar,
Fica esquecida a plenitude,
Da gratuidade a sancionar,
A grandiosidade da virtude.

A ordem impinge normas,
Que se opõem à liberdade,
E apela a múltiplas formas,
Para submeter à saciedade.

Bom seria se, ao caos se aliasse,
Para propiciar menos ruptura,
E se boas relações mediasse,
Para vencer a sofrida agrura.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Entre elogios e condenações



Onde o mal se encontra e se manifesta,
No antagonismo dos efeitos elogiosos,
Sob incontáveis preconceitos molesta,
E fascina bem mais que atos bondosos.

O avesso da misteriosa inclinação,
Do que sabemos para sermos retos,
Está todo dia presente na intenção,
E leva a atos violentos e concretos.

Definir o mal, tão hediondo para uns,
Contrasta com o sentimento benfazejo,
Causado por gestos e atos tão comuns,
Dos que neles constatam bom ensejo.

Se até mesmo as variadas religiões,
Que somente querem o sumo bem,
Cometem deploráveis transgressões,
Como andejar sem tornar-se refém?

Do casamento bem sólido e atuante,
Entre amoroso fascínio com o horror,
O mal atinge qualquer sujeito andante,
E o descontrola no genuíno pundonor.

O mal não se escancara abertamente,
E mesmo sob as leis, ordem e justiça,
Revela-se sádico na tortura de gente,
Para levá-la a vil submissão da cobiça.

A intensa atração pelo ato irracional,
Que fascina para tudo quanto é luta,
Visa, na busca do êxito sensacional,
O que fere toda sã e ordeira labuta.

No jogo da maldição e da salvação,
Emulam a bondade e a hostilidade,
Propiciando a alguns, benéfica ação,
E a outros atrela a perversa crueldade.

Enquanto uns gritam a intensa dor,
Outros elogiam a denodada agressão,
E, constituídos em satã aterrorizador,

Pensam ter efetuado benemérita ação.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A dura lida com as calúnias



            Tanto a história bíblica quanto a história geral das relações humanas demonstram exaustivamente o quanto as pessoas tem dificuldade de lidar com calúnias. Bem sabemos no que termina a vingança. No entanto, como administrar os sentimentos feridos pela maldade alheia, que, ao denegrir nosso nome e nos ferir em nossos símbolos vitais, machuca mais do que se nos batessem fisicamente?
            Muitos textos do primeiro testamento da Bíblia mostram que a experiência religiosa daquele povo diante da agressividade, quer de povos vizinhos ou daquela que os profetas experimentavam no meio de suas comunidades, os levava a delegar a vingança a Deus. E muitas vezes rezavam, com insistente fervor, para que a vingança divina fosse um pouco maior do que a humilhação que eles tinham sofrido.
            Diante do que Jesus Cristo manifestou em palavras e gestos não fica nenhuma evidência de que Deus se presta como justiceiro para vingar as situações humanas injustiçadas.
            Com certeza, a condição humana, ao delegar a Deus a esperada ação vingativa, é melhor do que revidar porque tenderá a diminuir o ciclo vicioso da violência revidada que gera outra violência.  Mesmo assim, como integrar subjetivamente os sentimentos desta demorada espera de ação divina? A tendência natural é a de que os sentimentos de raiva ou de vingança passem a ocupar a centralidade do que se pensa e que acaba tirando toda a motivação para um agir positivo.
            Podemos recordar que os procedimentos de Jesus Cristo diante das múltiplas formas de agressividade, de calúnias, difamações e de perseguições, apontaram o perdão e a reconciliação como caminho mais plausível para romper a natural vontade de vingança, e, também da desistência de continuidade nos bons procedimentos e no anúncio da Boa Nova. É, sem dúvida, um caminho nada fácil e que exige intenso cultivo de fé! Ainda mais, porque nestas situações emergem de imediato, fortes propensões para desistir, aquietar-se e refugiar-se no anonimato.
            Jesus orientava seus seguidores a lidar com esta tentação: insistia muito para que os discípulos não tivessem medo! Que eles, apesar das adversidades, não escondessem as preciosidades do Evangelho. Tampouco deveriam sucumbir diante do medo. Ainda que o sofrimento das adversidades fosse desanimador, convidava-os ao anúncio do Evangelho, e lhes assegurava que todo o bom procedimento no meio da maldade, seria levado em conta por Deus.

            Como os primeiros cristãos, que souberam realimentar-se da palavra de Cristo para não entrar no círculo vicioso da vingança, nós, também podemos, como ele, tornar viva e eficaz a importante exortação de não cultivar o mecanismo da vingança, ainda que o necessário perdão demore, poderá encher-nos de confiança e de certeza de que tal procedimento, de fato, é o melhor que poderia ter efetuado.

Sinal da melhor recordação



            Muitos objetos remetem a boas recordações: são fotografias, pequenos ícones, imagens, roupas, pequenas lembranças, etc. Elas remetem a momentos do passado e despertam bons sentimentos em relação à pessoa que se aviva com a recordação de seu gesto. Por isto mesmo os sinais simbólicos falam com muito maior intensidade do que outros sinais comuns. O presente, ou o sinal deixado, remete à outra realidade. Assim fotografias e quadros, mesmo antigos, nos avivam importantes momentos da vida.
            O povo do primeiro testamento da Bíblia lembrava e relembrava em muitos momentos da vida um fato muito marcante: que a fome suprida com frutinhas de tamareira, no meio do deserto, onde já estavam sem comida, significou, na sua experiência religiosa, um presente caído do céu. Graças a estas frutas, a maior parte do povo não pereceu. A simples recordação deste importante momento da trajetória dos antepassados lembrava, ao povo dos tempos posteriores, que Deus havia agido bondosamente e que, por isto mesmo, poderia revelar outros sinais da mesma bondade.
            Se pão e vinho passaram a ser assimilados como sinais de avivamento do antigo gesto, adquiriam, ao mesmo tempo, uma virtualidade de jogar as pessoas para frente e lhes abrir perspectivas de sentido diante deste amor envolvente de Deus.
Em Jesus Cristo, a tradicional significação do pão e do vinho, adquiriu uma dimensão nova e muito significativa. Ao perceber que na festa da Páscoa ele seria envolvido em passagem que acabava com sua existência, ele se despediu dos discípulos e lhes expressou o desejo de continuar a ser presença no meio deles. Para tal ato de recordação e memória escolheu os sinais da antiga festa de Páscoa, a fim de lhes permitir a atualização de sua presença.
Por isto, quando hoje celebramos a festa do Corpo de Cristo, continuamos a memorizar o que mais marcou seus gestos e sua presença extraordinária que transformava o rumo das pessoas. Seu corpo e sangue, ou aquilo que ele mais fez, podem ser resumidos e reconhecidos como o maior gesto enternecido daquele mesmo Deus que despertara, no povo antigo, os melhores sentimentos através das pequenas frutas de tamareira. O sentimento grato daquela gente foi o de dizer que era pão, caído do céu!
Jesus Cristo passou a ser lembrado como gesto ainda maior do que aquele experimentado com as frutas da tamareira. Nele se revelaram gestos de amor muito mais amplos e significativos à condição humana.
O evangelista São João, ao reler e reinterpretar os grandes acontecimentos da passagem de Jesus Cristo aplicou nova significação comparativa ao da antiga experiência com o maná, afirmando que Jesus é o verdadeiro pão que desceu do céu.

Ao fazer esta bela recordação, ou memória de Jesus, acabamos avivando e renovando sua presença entre nós, com a alegre expectativa de que nossa passagem nesta vida, também possa aproximar-nos mais do seu modo de ser e nos levar a fazer um itinerário parecido como o dele.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Modos de experimentar a ação de Deus



            É comum e até bom poder ouvir-se que o Espírito Santo de Deus não se deixa engaiolar pelos interesses humanos. Mesmo assim, não faltam pessoas fanáticas convencidas de terem especiais acessos e de estarem possuídos por poderes paranormais auferidos pelo Espírito Santo. Tal pretensão certamente fica distante da forma ou do modo como as primeiras comunidades cristãs fizeram síntese e experiência da ação de Deus.
Todos os grandes fatos transformadores entre o momento da Páscoa e o da festa de Pentecostes, levaram as comunidades a sentir, concretamente, que estavam participando de grandes obras de Deus. Mais do que elucidação de como aconteceu o envolvente agir divino, foi uma constatação de que estavam enovelados em pelo menos alguns grandes e manifestos traços da ação bondosa de Deus. No modo de acolher Jesus Cristo enchiam-se da certeza desta bondade do Deus, a quem chamavam de Pai, e da sua ação manifestada de forma muito clara e evidente em Cristo, que, por sua vez, assegurou a manifestação do bom Espírito de Deus aos que procurassem consolidar o projeto de vida por Ele apresentado.
As grandes dificuldades superadas pelas comunidades levaram à releitura do passado da história bíblica, e as levou perceber que, já com um dos primeiros grandes líderes, Moisés, a experiência de Deus não fora a de um Deus violento e vingativo, mas, a de um Deus misericordioso e bom. O povo conduzido por Moisés havia se desviado dos propósitos e entrado num processo de idolatria. Envolveu-se na adoração de estátuas de ouro, tal como ainda hoje acontece com grandes parcelas de cristãos que centralizam o “deus do acúmulo” como centro da sua vida.
Na constatação efetiva de que Deus era misericordioso, fiel e nada vingativo, Moisés soube relegar sua insatisfação e sua própria vontade de vingar-se da traição efetuada pelos seus discípulos. Nem castigo e nem vingança. A lembrança da boa experiência de Deus fez Moisés desconsiderar a gravidade da idolatria, assim como ajudou os primeiros cristãos a se certificar de que, em Jesus Cristo, Deus manifestou sinais muito mais convincentes de misericórdia e estima. Tanto nos gestos quanto nas palavras, Jesus revelou exaustivamente esta bondade de Deus, pois, até mesmo vítima da prepotência de pessoas que em nome da fé o levaram à morte, soube evitar os mecanismos de vingança e de produção de novas vítimas. Manifestou, até mesmo nesta hora mais difícil, o perdão aos que o executaram.
Assim a constatação de que Deus, auto-revelado a Moisés, se auto-revelou ainda mais no dom de Jesus Cristo, para ajudar as pessoas a quebrar o ciclo das formas egoístas, que estavam levando a vinganças violentas geradoras de outras violências. Tornava-se provavelmente muito satisfatória a constatação do envolvimento nesta circularidade do amor de Deus, e que tornava estes discípulos capazes de profunda ação transformadora de relações humanas desencontradas.

Ainda hoje a boa e animadora a possibilidade de rezar e de impregnar-se dos bons sentimentos, - tal como se reza no início de cada celebração eucarística, - através da bela e acolhedora saudação de São Paulo à comunidade de Corinto: “a graça de Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!”

Alegria da vida



Muitos fatos imprevistos e casuais,
Podem despertar leveza altaneira,
E, com sentimentos bem colossais,
Produzir lumes de sensação fagueira.

Quando a alegria vem da esperança,
Transcende o desconforto e as dores,
E impregnada de renovada pujança,
Abre intuições de intensos pendores.

Como a alegria dos primeiros cristãos,
Que os fez transcender adversidades,
Advindas dos imperialistas malsãos,
Recriam-se, hoje, discretas bondades.

O olhar para frente dos problemas,
Que borbulham em vastas monções,
Abre novos e alvissareiros emblemas,
Para reavivar os vacilantes corações.

Quando a vida é tão curta e passageira,
Priorizar a precípua alegria de bem viver,
Permite torná-la mensagem alvissareira,
A propiciar mui ricas formas de conviver.


Arcano olhar



O que estaria a esconjurar,
O mundo dos seus intentos,
Com o fugidio e arcano olhar,
Distante dos egrégios alentos?

Com certeza reflete desejo retido,
Da sua histriônica forma de bajular,
Para inverter dados do acontecido,
E muitas outras pessoas manipular.

Se não for para muito vangloriar-se,
Sobra uma maneira mais sorrateira,
De vítima inocente a apresentar-se,
E desandar como velha fofoqueira.

Mui arguta na vigilância constante,
Não deixa escapar nenhum lance,
Favorável ao pendor incessante,
Do evidenciar-se no seu romance.

Distante das honrarias meritórias,
Tornou-se conhecida e afamada,
Não por algumas notáveis vitórias,
Mas, como fofoqueira renomada.

Marcada por um psiquismo confuso,
Nega que possa precisar de auxílio,
Porque diante de tudo está ocluso,

O que é real, sem contorno de idílio. 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Cama



Vínculo estreito,
Antes do berço,
Deixou o efeito,
Do vínculo terço.

Deitar e dormir,
Com acalanto,
Acordar e sorrir,
No bom espanto.

Refúgio vital,
Do desamor,
Espanto fatal,
Do mau humor.

Recuperação,
Muito eficaz,
Da frustração,
Que não apraz.

Remédio na dor,
Do desencanto,
Busca no fervor,
De novo encanto.

Vira catre duro,
Do corpo moído,
E berço seguro,
Ao já condoído.

Lembra o desejo,
Do doce amparo,
E torna-se ensejo,
De um novo faro.

É restauradora,
De forças vitais,
E, proteladora,
De passos reais.


domingo, 8 de junho de 2014

Poder anônimo



Livros e mais livros dos anais,
Contam e recontam a tirania,
Das grandes vitórias cruciais,
De triste e desumana mania.

Reis despóticos e soberanos,
Mandaram invadir e destruir,
 Movidos pelos piores arcanos,
Para amealhar mais e usufruir.

Se nos arrepia avivar a maldade,
Muito mais repugna a safadeza,
Cultivada sem dó e sem piedade,
Para matar com maior destreza.

Enquanto exércitos e guerrilheiros,
Transformam humanos em brutais,
Para matar em crescentes milheiros,
Ceifam as básicas condições frugais.

Em nossa era de vasto conhecimento,
E da rápida e planetária informação,
O velho poder despótico, com alento,
Gera um poder anônimo de perversão.

Tão tirano quanto os outros poderes,
Ignora a precária vida de tanta gente,
E obcecado, manipula os seus prazeres,
E tira a dignidade de modo mui ingente.

O poder anônimo anda sem fronteiras,
E escraviza da forma mais humilhante,
Ignorando, das regras éticas as barreiras,
Deixa multidões em situação causticante.

No intenso processo da descartabilidade,
As cidades se enchem de muitas favelas,
E já distantes da elementar afabilidade,

Ficam relegadas nas virulentas sequelas.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Linguagem e línguas



            Da herança do primeiro testamento da Bíblia veio uma re-significação de festa muito antiga. Antes mesmo da constituição do povo de Israel celebrava-se a festa de Pentecostes. Constituía uma das principais festas que levava todo o povo a festejar com alegria o início das colheitas.
Mais tarde este festa de Pentecostes transformou-se em romaria ao Templo para agradecer e expressar contentamento pelas primícias dos primeiros frutos colhidos na temporada. Tratava-se de uma festa de alegria que recriava muitas esperanças a partir da indicação que apontava reserva de alimentos para um longo ciclo de tempo até outra possível colheita.
            Com a experiência religiosa mais intensa do êxodo e da promulgação das regras ético-religiosas dos 10 mandamentos, esta festa de Pentecostes passou a fazer memória desta irrupção do bom espírito de Deus ocorrida no bom-senso das doze tribos para o entendimento.
            No início do tempo cristão, para os discípulos de Jesus Cristo, a grande transformação que aconteceu nas pessoas e nas comunidades levou-as a experimentar, na memória desta festa, como o bom Espírito de Deus, prometido por Jesus Cristo estava manifestando um auge na caminhada de sua fé. Tinha manifestado uma força transformadora profunda, pois, foi capaz de levar estas pessoas de fé a colocarem seus dotes pessoais ao serviço do bem comum.
A primeira experiência de medos, desencantos, e frustrações diante de falsas expectativas, estava totalmente relegada. A constatação objetiva lhes mostrava e inusitada forma de proceder. Estes cristãos passaram a anunciar e a testemunhar o Cristo vivo, para além das diferenças culturais e de expressão linguística, com alegria e bom humor, apesar das inerentes dificuldades.
            Este “querigma”, ou modo de testemunhar Jesus Cristo ultrapassava largamente todas as normais dificuldades para dialogar e anunciar o reino proposto por Jesus Cristo nos ambientes onde se falavam outras línguas. Em outras palavras, estes primeiros cristãos transformados, mostravam que a comunicação do amor, no jeito de Cristo, falava mais alto dos que os signos da linguagem das distintas línguas. A linguagem não verbal levava estes discípulos de Cristo a anunciar algo que encantava as pessoas. O jeito de Cristo tornava-se a fonte da irrupção do Espírito de Deus.
            Entre os discípulos e as comunidades cristãs não deixou de manifestar-se uma tentação forte de transformar dotes pessoais para uma ascensão pessoal, rápida e vistosa. Especialmente alguns dotes, como os de cura e de línguas eram as mais bem cotadas. São Paulo, no seu zelo pela integridade da mensagem salvífica de Cristo, alertava que os dotes pessoais sempre deveriam concorrer como serviço para o bem comum, a caridade, e não para uma auto-afirmação pessoal em vista de prestígio.
            Lamentavelmente nossos dias repetem a velha tentação de caminhos exotéricos, mágicos e sensacionalistas em torno de curas, línguas e libertações. Canso-me de ouvir pessoas que procuram ajuda pessoal e que declaram categoricamente que passaram por processo de cura e libertação, mas, na verdade, tornaram-se completamente embotados na fé, na alegria e na capacidade de testemunhar Jesus Cristo, a tal ponto que nem mesmo sexual e afetivamente funcionam. A lavagem cerebral deixou-as viradas em meros feixes de escrúpulos e de pesados sentimentos de culpa.
 A tentação dos extraordinários poderes terapêuticos tende a não passar de vulgar processo hipnótico e de produção de sons aleatórios que não representam língua nenhuma de culturas humanas. Aprender o mundo cultural e simbólico que subjaz à língua de um povo, é algo extremamente difícil e demorado. Por isso os presumidos poderes do milagre de falar muitas línguas sem longo tirocínio de estudos, pode indicar muito mais um caso de charlatanice do que de real e efetiva ação do Espírito Santo.


quarta-feira, 4 de junho de 2014

Honestidade



Muitos com certeza revelam-se honestos,
No diuturno lidar com seus sentimentos,
Mas revelam procedimentos com doestos,
Ao lidarem com as fontes dos proventos.

Na grave enfermidade da convivência social,
Transparece a falta da mais elementar lisura,
E, enquanto o avantajar-se é motivo essencial,
Some a necessária e fundamental compostura.

Onde encontrar pessoas retas e honestas,
Na lida monetária para o sumo bem social,
Sem amealhar algumas importantes arestas,
Para espúrias finalidades da ambição pessoal?

Quando em todos os níveis da sociedade,
Evidencia-se como meritória a esganação,
Não resta valorização para a honestidade,
E muito menos para posturas de retidão.

Oh! Quem dera se pelo menos os cristãos,
Se caracterizassem pela básica decência,
De não se nortear pelos intentos malsãos,
E alargar postura de reta benemerência!


terça-feira, 3 de junho de 2014

Tentação religiosa



Ao lado dos aparentes fervores,
Sobressaem as intensas buscas,
Não a favor de divinos fragores,
Mas, de glórias pessoais bruscas.

No enleio das ambições pessoais,
E no intenso zelo pela aparência,
Tudo é tolerado nos gestos sociais,
Mesmo constituindo vil indecência.

De um lado encanta o fascínio gnóstico,
Da fé subjetiva resultante de raciocínios,
Enclausurada num referencial agnóstico,
Distante dos difíceis e humildes tirocínios.

Também encanta a auto-referencialidade,
Da vasta superioridade sobre os demais,
Que se funda em superada ancestralidade,
De fé cega, com muitos erros bem abissais.

Geradora de ilusório elitismo autoritário,
Leva a mapear a conduta dos subalternos,
Pois o que mesmo interessa ao seu ideário,
É controlar com os recursos mais modernos.

O desejo de intenso controle exibicionista,
Leva ao desvio do compromisso evangélico,
E na ilusão de agitação mui sensacionalista,
Vai tornar-se gradualmente mais psicodélico.

Na vanglória de muitos atos e grandes obras,
Subjaz uma auto-complacência bem egoísta,
Que leva a agir através de múltiplas manobras,

Para a acumulação de sua presumida conquista.

<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...