O apego sórdido
a posses e a mesquinharia diante das possibilidades de praticar a generosidade,
fazem, certamente, parte de uma esganação aprendida do ambiente de socialização
do bloco familiar e, posteriormente, estimulado no ambiente de convivência
social.
O profeta
Amós, a uns oitocentos e tantos anos antes de Cristo, já se referia
ironicamente às “vacas de Basã” para contestar o luxo em que mulheres daquela
época viviam, e, sem a menor sensibilidade diante da verdadeira catástrofe que
se abatia sobre o povo do país, com a invasão assíria. Amós previa que estas pessoas
(mulheres e seus maridos) - obcecadas e distraídas no luxo e no consumo frenético
no auge da fome do povo, - deveriam receber a incumbência de constituírem as
primeiras a puxar as filas dos exilados para sair de Israel e trabalhar como
escravas na servidão do país invasor.
Amós
salientava em contrapartida que um antigo gesto, o de José, um judeu que havia
sido vendido como escravo ao Egito, - e que teria todos os motivos para
revelar-se insensível ao povo que o ignorou e o expatriou - ao saber da
necessidade que o povo de Israel passou diante da seca terrível, mostrou-se
humanitário e generoso. José mandou abrir, imediatamente, as portas dos silos
para que o povo faminto pudesse ser atendido e livrar-se da fome.
O evangelista
Lucas, ao repassar os ensinamentos de Jesus Cristo para as comunidades dos seus
discípulos, espalhadas, sobretudo, na região norte de Israel, lhes narrou uma
parábola utilizada por Jesus Cristo (Lc 16, 19-31) e que servia de alerta para
não entrar no antigo esquema das clássicas “vacas de Basã”. O rico insensível
diante do pobre Lázaro mostrou-se tão arredio que em nada se sensibilizou para
ajudar o pobre. Na imagem da inversão, já no seio de Abraão, o egocêntrico veio
a desejar que Lázaro pelo menos lhe molhasse o dedo com uma gota de água para
amenizar a escaldante temperatura infernal em que se encontrava e desejava que
Lázaro alertasse seus irmãos a fim de que pudessem evitar, antes da morte, este
processo de distanciamento dos pobres através da acumulação doentia.
Na resposta
dada por Lázaro está o ensinamento de Jesus Cristo: se com tudo o que Moisés e
outros profetas alertaram no passado, iriam os irmãos do rico empedernido
acreditar no ensinamento de Cristo para serem mais solidários?
Insensibilidade
similar à antiga nos é apresentada diariamente nas notícias relativas à riqueza
e corrupção de pessoas que já possuem muitos bens e sob as conversas de ajuda
ao povo, o sugam e o exploram à extrema exaustão. É a mesma afronta. Mas, onde
teria lugar para todas estas “novas vacas de Basã” viverem na condição de
escravos?
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