sábado, 18 de maio de 2024

SOB O ESPÍRITO DE DEUS

 

 

Uma milenar intuição bíblica,

Tornou-se referência pública,

Para acolher a ação bondosa,

Da nossa natureza amistosa.

 

Suposição do Espírito pairar,

Sobre água e vida a irradiar,

Lembrava interdependência,

Na Terra, sem a displicência.

 

Impregnados pela interação,

Humanos em procrastinação,

Romperam o vínculo sagrado,

Com mãe Terra e seu legado.

 

Ao invés do Espírito acolher,

Desejo doentio fez escafeder,

O equilíbrio da vida na Terra,

E biodiversidade que encerra.

 

Assimilou-se Espírito de Deus,

Com o poder divino de Zeus,

Para interferir e desequilibrar,

O que o Éden pudesse arridar.

 

Desfeita a interação simbiótica,

Afirmou-se a ambição psicótica,

Que devora pertença egolátrica,

E desajusta de forma despótica.

 

Sem capacidade contemplativa,

Endeusou-se a produção ativa,

De economia e largo consumo,

Que denegriu o humano rumo.

 

Culpamos a agressiva natureza,

Escondendo humana safadeza,

Para nos desincumbir da culpa,

E nos isentar na pífia desculpa.

 

Sem o espírito dos ecossistemas,

Endeusamos atos e estratagemas,

Da monocultura farta e rendosa,

Para saciar uma egolatria vaidosa.

 

Um Espírito que paira sobra águas,

Aponta tarefas inadiáveis e árduas,

Para equilibrar ação de água e terra,

Que hominídea ação tanto desterra.

 

 

 

 

sexta-feira, 17 de maio de 2024

O TOURO AMÂNCIO

 

 

            De enorme envergadura, o touro Amâncio, da raça holandesa, apresentava uma peculiaridade especial: mal-humorado e bravo como só ele! As dezoito vacas sob seu império, numa pequena chácara, não acalmavam seu ar de carrancudo.

Pedro e Felipe, jovens estudantes de segundo grau, tinham, ao lado das tarefas escolares, a missão de cuidar da leitaria e todos os dias tinham que lidar com o touro Amâncio. Não bastaram as muitas reclamações com o patrão a respeito dos riscos de vida que Amâncio lhes apresentava.

A resposta do patrão era sempre a mesma: vocês são muito medrosos! Mesmo sempre armados com um pedaço de cano galvanizado para lhe bater na cabeça, o touro não se intimidava.

Um dia Felipe errou a batida com o ferro e Amâncio lhe deu uma chifrada perigosíssima. A sorte foi a de que a camisa e a blusa que usava eram desgastadas pelo uso e se romperam. Um chifre pegou no lado da cintura e lhe tirou uma tira de couro no lado das costas, junto com a ruptura da roupa. Voltaram os dois a reclamar com o patrão, que era um padre.

Repetiu a conhecida cantilena irônica e debochada: vocês são muito medrosos!

De tardezinha, na hora da ordenha, o touro estava deitado na frente do estábulo e apareceu o padre. Chegou de mansinho, vestido com batina cinza, e foi passando a mão do dorso do touro. Quando menos esperou, o touro deu uma soprada forte, e, numa virada repentina, se ergueu e lhe desferiu uma chifrada que o jogou a pelo menos um metro e meio de altura, com um detalhe cinematográfico. Como o padre vestia batina, ela lhe caiu sobre o corpo e apareceram as pernas brancas no ar. Caiu como um saco de estopa cheia de farelo.

Pedro e Felipe tiveram que conter-se para não exultar e gozar aos gritos com o visual daquela cena. O padre, assim como conseguiu alinhar-se com a batina, saiu em disparada e veio até o estábulo.

Os dois ordenhadores, para não rir diante do padre, esconderam o rosto atrás das vacas, como se não tivessem percebido cenário tão pitoresco. O padre se aproximou deles e com sua típica voz mansa e dengosa falou: Acho que vamos mandar beneficiar o Amâncio!

No dia seguinte, às cinco horas da manhã, estava ali o padre e o castrador de touro. Feito o procedimento de extração da fonte das potências seminais do touro Amâncio, veio a recomendação de um trato abundante de ração e mandioca a fim de que o “ex-touro” viesse a reder muita carne.

Longos meses de fartura de comida não apontavam para qualquer sinal de aumento de peso. Com um razoável prejuízo consumado, pelo que Amâncio devorava todos os dias sem engordar, o padre resolveu finalmente, abatê-lo.

Ao se abrir a buchada do dito animal, constatou-se a possível fonte da brabeza de Amâncio: estavam ali, cinco cuecas de elastina que ele havia alcançado no varal de secar roupa. A suspeita de Pedro e André, estava sendo a de que algum vivente humano, movido por fetiche por cuecas, havia surrupiado aquelas peças. Constatado que o touro Amâncio as deglutiu, e que elas estavam retidas ali no seu bucho, chegaram a um diagnóstico de senso comum: esta extraordinária brabeza de Amâncio deve ter sido, na verdade, sua diária e contínua dor de barriga.

 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

NO REINO DO PENSAMENTO ÚNICO


 

Velho mito indo-europeu,

Tantos mundos escafedeu,

Para dominar e submeter,

E em tudo se intrometer.

 

A acepção do insubmisso,

Já criava o compromisso,

De declará-lo um inimigo,

E persegui-lo pelo perigo.

 

O desejo do que ele tinha,

Virava direito a briguinha,

Para a posse do seu bem,

E deixa-lo indefeso refém.

 

A doentia crença na razão,

O paraíso de feliz profusão,

Saciaria de bens os viventes,

E os deixaria bem contentes.

 

No rumo único da felicidade,

Indicou consumo à saciedade,

Mas, dito paraíso virou fugaz,

E surrupiou toda humana paz.

 

A busca de poder e consumo,

Gerou lixo no humano prumo,

E tudo quanto é descartável,

Afetou o humano vulnerável.

 

Sobra o rol do lixo relegado,

Porque o paraíso propalado,

Frustra em larga abundância,

E gera frustrada convivência.

 

Este modo que emburreceu,

Criou paranoicos no himeneu,

Pretensos heróis mandantes,

A cada dia mais intolerantes.

 

Criam as polarizações cruciais,

Veem adversários como rivais,

E vociferam contra os inimigos,

Que não são submissos amigos.

 

A sua patologia é a da lamúria,

E vociferam o ódio com injúria,

Criado, ampliado e difundido,

Para justificar foco denegrido.

 

Pensam o Eu no lugar do “nós”,

Insensíveis ante a coletiva voz,

Mas, atrelados às hierarquias,

Do poder de pífias oligarquias.

 

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