quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Uma deusa lamuriosa



Oh encantada mãe de Jesus,
Que na pequenez transluz,
Uma rica pedagogia divina,
Longe da imagética cretina.

Deduções bem fantasiosas,
De fartas obras milagrosas,
Distantes da mulher de fé,
Deturpam o inefável que é.

Afoitas em alargar os medos,
Apelam a supostos segredos,
Para fazer ingênuas induções,
Sobre o legado das aparições.

Sob as retrógradas afirmações,
Surgem textos aos borbulhões,
A prevenir possíveis horrores,
Com os mumificados fervores.

O apelo à iminente desgraça,
Pregado pela deusa sem graça,
Nada percebe que do seja bom,
Do desvelo vivido como dom.

O olhar focado na depravação,
Em vez de itinerário para ação,
Apela para praxes já superadas,
Sem força às ações desandadas.

Não se dirige nem a autoridades,
Nem às influentes notoriedades,
Para lhes dar um palpite valioso,
Para eventual gesto prestimoso.

Distante de ser uma Maria irmã,
Apela em seu choramingoso afã,
Ao combate contra os inimigos,
No clima dos combates antigos.

Da Maria ícone do rosto divino,
A acalentar o ardor pequenino,
Eleva-se aquela imagem amiga,
Desta pedagoga nada mendiga.




Preço do seguimento de Jesus


            A aparente sensação prazerosa de seguir Jesus não vai muito além da fantasia. E quando uma estimulação identifica este seguimento com curas, milagres e libertações, o imaginário acaba esperando somente coisas boas, satisfatórias e gratificantes.
            Evidentemente, se não ocorresse alguma motivação satisfatória, muito poucas pessoas iriam declarar-se discípulas de Jesus Cristo. Mesmo assim, pode ocorrer um processo de ilusão em torno de fatores grandiosos e edificantes, cuja finalidade subliminar é a de manter grupos controlados sob algumas presumidas orientações, geralmente distantes daquelas dadas por Jesus Cristo.
            Para quem tenta andar no penoso processo de aproximar-se das características de Jesus Cristo, sabe que cura, libertação e tantas outras boas expectativas, são lentas, demoradas e nem sempre linearmente progressivas. E, neste processo, até o encantamento pode ser revisto como procedimento induzido a erro.
            O profeta Jeremias tornou-se clássico com a queixa dirigida a Deus, perante o sentimento de ter-se sentido logrado: “seduziste-me, Deus!”. Sentiu-se chamado por Deus para fazer algo diante dos abusos religiosos que causavam um grande mal-estar e sofrimento ao povo.
            Sensível a este clamor que lhe exigia voz e postura firme, sentiu medo, insegurança, mas, mesmo assim, sentiu-se também interpelado por Deus para alertar e profetizar contra os abusos e exterioridades vazias. Imediatamente teve que lidar com perseguição, difamação e escárnio. Na decorrente crise de desamparo, o profeta chegou a maldizer sua própria existência.
            O curioso é que nestes momentos de vacilação e de inconformismo diante do que esperava da parte de Deus, Jeremias recriava, a partir do silêncio de Deus, a convicção de que Ele o amparava para continuar a falar mal de tudo quanto iludia o povo.
            A recordação deste aspecto da vida de Jeremias ativa uma dificuldade central da vivência cristã: como ser discípulo de Jesus Cristo, sem combater tantos evidentes abusos religiosos e sociais que, na verdade, aumentam a desgraça, a doença e o sofrimento?
            O pior de tudo é quando supostos profetas e animadores de fé só conseguem falar coisas genéricas, agradáveis, elogiosas e melífluas. Pior ainda mais, quando os ditos discípulos apenas querem esta divindade falaciosa, que em nada implica na cruz, sobretudo, a da história pessoal e do entorno, que atenta com perversas maquinações contra a proposta de Jesus.




sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Humano inferior



Envaidecido pelos atributos da astúcia,
Jacta-se ele pela sua brilhante argúcia,
De dominar e controlar seus similares,
Desde olhares distantes fixos nos ares.

Os sentimentos que movem atenção,
Já não fitam qualquer solidária ação,
Mas, a mediação de lucros polpudos,
Que ignoram os sofrimentos agudos.

Superior apenas na falácia arrogante,
E na ambição sem limite respeitante,
Constata-se um bicho cruel e felino,
Fanatizado pelo ambicioso destino.

Tão pequena parcela do seu nome,
Esgueira-se por gestos de renome,
Para devolver focos de esperança,
Aos vitimados da injusta gastança.

Sob o pretexto de bem governar,
Poucos espertos sabem subornar,
A vida dos incontáveis espoliados,
Que em tudo continuam ignorados.

Enquanto outros bichos se agregam,
Para evitar os fatores que segregam,
Os humanos anunciam belos sonhos,
E iludem com os embustes bisonhos.



<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...