sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ideologias nada xenofóficas



Entre os tantos países da bela mãe Terra,
Com tudo quanto que a vida ali encerra,
Desde os grandes, pequenos e anônimos,
Porventura visam ser meros homônimos?

No desejo de salvar as peculiaridades locais,
Enfrentam e superam dificuldades radicais,
Para assegurar seus ricos valores da cultura,
E propiciar condições estáveis e de ventura.

Escondem sigilosamente segredos genuínos,
Para evitar que outros viajantes peregrinos,
Boicotem ou se apropriem dos seus sonhos,
E os reduzam a serviçais vulgares e bisonhos.

Como, então, submeter-se a anônimo poder,
Que explora e deixa todo mundo se escafeder,
Com as ideologias interesseiras e prepotentes,
A invadir sorrateiramente outros continentes?

Se o “não-dito” das entrelinhas do discurso,
Revela os intentos do interesseiro percurso,
Por que levar fama de rico no entreguismo,
Se o caminho será o de um abissal abismo?

Não seria melhor construir um país expoente,
Sem ser refém do olho grande, nada contente,
De quem aqui investe, só para acumular mais,
E interfere negativamente nos anseios vitais?

Que o básico senso crítico permita interpretar,
O não dito do escrito que está a se locupletar,
No servilismo a interesses apenas financeiros,
E nada encômios e nem mesmo alvissareiros.






quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Memória dos falecidos



            Um dia do ano para lembrar as pessoas queridas, e já falecidas, é pouco. Mesmo assim, é melhor do que não recordar tudo quanto foi registrado na memória a respeito delas, sobretudo, no modo como nos edificaram com suas peculiaridades muito especiais.
            Para os primeiros cristãos, todos quantos se aproximavam dos traços básicos de Jesus Cristo, eram chamados de santos. Assim, também herdamos da linguagem religiosa de tradição antiga, a noção da comunhão dos santos. Mesmo sem títulos beneméritos de santidade, muitas pessoas que conhecemos, podem, com a devida propriedade, serem chamadas de santas. Foram pessoas que se auto-superaram extraordinariamente em relação ao que receberam do ambiente físico e do entorno humano em que viveram. Ocorreu, pois no itinerário da sua vida, um caminho de perfectibilidade que as tornou melhores e, por conseguinte, mais santas.
            Da herança sapiencial do primeiro testamento da Bíblia – já no difícil período posterior ao exílio na Babilônia – ficou evidente uma inquietação em torno do sofrimento a que muitas pessoas boas, retas e justas, eram submetidas.  Predominava, já naquela época, uma predisposição de julgamento negativo e, até mesmo, atribuindo culpa e os merecidos castigos de Deus. Hoje, por efeito de outras influências culturais e religiosas, volta muito forte no sentimento religioso a noção da teologia de retribuição: Deus retribui o bem com coisas boas e com graças, mas, diante da maldade, submete a castigos e sofrimentos os mais cruéis.
            Esta forma de concepção de Deus, com certeza bem inapropriada, trás conseqüências muito ruins para o caminho das pessoas que querem viver bem, ser felizes e estar de bem consigo mesmas. Como pensar um Deus fazendo tais mesquinharias?
           Bem sabemos, que, boas ou nada boas as pessoas passam por doenças, acidentes, dificuldades, infecções, inflamações e muitos distúrbios orgânicos e psíquicos que causam grandes sofrimentos, sem nenhum vínculo com a vingança de um Deus mal humorado.
        Talvez com Jó, - personagem da literatura sapiencial bíblica, - devamos constatar que os sofrimentos podem ser amenizados, interpretados e reintegrados no rumo da existência, e, não constituem necessariamente nenhum castigo. Fazem simplesmente parte da contingência da nossa vida, isto é, por melhores e por mais perfectíveis que sejam nossas aspirações, não nos evadimos de sofrimentos. Eles fazem parte do itinerário da nossa vida.
            O modo de lidar com os sofrimentos e o que nos auto-afirmamos diante das perdas e dores, isso sim, deixa sulcos e rastros profundos em nossa vida. Pode ser de aperfeiçoamento, quanto de conformidade e fatalismo. Muitas pessoas que se dizem ser muito fortes na fé, quando perdem um ente querido, verberam categoricamente que sua vida se arruinou por inteira, que nada mais tem valor e, assim, causam a si mesmas um sofrimento que em nada ajuda a melhorar sua vida.
Oxalá que os sofrimentos integrados possam ajudar mais pessoas a desabrochar num belo e gradual caminho de santidade!



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ódio



O olhar dos interesses ambiciosos,
Agrega os sentimentos maldosos,
E os entrincheira na dura labuta,
Para conquistar ferrenha disputa.

Manda recados ao bom coração,
E o subverte na grandiosa ação,
Para que se encha de aleivosias,
E relegue as melhores cortesias.

Ao aliar todos os vis sentimentos,
Procura contagiar sadios intentos,
Para agregá-los na procrastinação,
De eliminar com cruel difamação.

Insaciável na ambição do poder,
E nele muito bem corresponder,
Apela à controversa demonização,
Obcecado pelo cargo da ambição.

Retorce a argumentação discursiva,
E se distorce pela ação persuasiva,
Para apresentar melhor educação,
Mas o intento é pura obliteração.

Nas falsas aparências da bondade,
Mimetizadas à espúria saciedade,
Esconde o interesse vil e caviloso,
Sob a causa do intento majestoso.




terça-feira, 28 de outubro de 2014

Chuva



Tão simples e tão rotineira,
Sabe-se o que dela emana;
Algumas vezes, tão fagueira,
Mas, em outras, ela engana.

Surpreende tantas expectativas,
Por vezes com transbordamento;
Mas enleia a tantos com evasivas,
E deixa-os carentes de um alento.

Na ânsia das suas virtualidades vitais,
Espera a variação imensurável da vida,
Acolhê-la em seus processos seminais,
Para aflorar como beleza enternecida.

No grande milagre da vida que se renova,
E que se engendra de forma sensacional,
Eclode a rica dádiva do quanto se inova,
A complexificar um processo excepcional.

Como a chuva, da Terra, irmã gêmea,
Engendra benéfico processo de ação,
Resulta desta rica relação primigênia,

Belo jardim para a humana condição.

Olho da esperança



Maior do que o alcance visual,
Tão abrangente quanto o mar,
Sua intuição aguda e sem igual,
Capta o que mais pode animar.

Este olhar para além do pânico,
Consegue amenizar a ansiedade,
E, igual a momento hierofânico,
Divaga toda oclusa austeridade.

Capaz de captar o bom da vida,
Para além da frouxa motivação,
Envolve a mente já combalida,
Para apontar outra prospecção.

Na pré-cognição do que melhora,
Leva a aceitar fatos deprimentes,
Sem nenhuma fiança ou penhora,
Para augúrios dos mais contentes.

Leva a lidar com a dor do passado,
Para brincar com perdas e fiascos,
E, transformar o doloroso legado,
Em lindos e atraentes penhascos.






domingo, 26 de outubro de 2014

Borboleta



Nas cores és encantadora,
Já nas flores, viva beleza;
Na versatilidade voadora,
Causas inveja pela leveza.

Símbolo romântico da vida,
Da gratuidade exuberante;
E, da bondade enternecida,
Soltas um cheiro inebriante.

Voas embalada pelo vento,
Em rumos tão derrapados;
Interpelas todo desalento,
Para caminhos moderados.

Tua beleza tão extasiante,
Diante de bocas vorazes,
Vira petisco dilacerante,
A sumir como os gases.

Tua precária existência,
Sem planos de ambição,
Torna-te uma referência,
Da simplicidade na ação.

Ao voares sobre beiras,
De tantos lugares ermos,
Indicas nobres maneiras,
A enternecidos enfermos.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Lei e controle



         Toda lei costuma ser decorrência de uma experiência passada que deu certo. Pode ser lei escrita ou implícita. O desejo de não perder o efeito daquela experiência, leva a criar normas, a fim de assegurar a continuidade daqueles êxitos. Portanto, quando na linguagem religiosa e bíblica nos referimos à lei, não se trata de uma regra isolada.
Trata-se de um conjunto de normas que procurava, na história do povo bíblico, manter o futuro de grupos humanos dentro dos quadros de coesão daquela de integração de tribos com culturas, histórias e sonhos diferentes. O intento levou  a uma experiência de síntese na pluralidade, que apontou um horizonte de muitas possibilidades para melhorar a integração social, nada fácil, através do pacto da aliança no Sinai, estabelecida nos conhecidos dez mandamentos.
            Se imaginarmos pais na lida com crianças pequenas, podemos observar que nem toda forma coercitiva leva a bons resultados. Ocorrem geralmente muitas tentativas para a obtenção do controle: pode ser apelo a medos, a privações, a ameaças, a castigos ou, recompensas por êxitos. Sem se darem conta, os pais se vêem obrigados a apelar para mais e novas regras, a fim da manter a criança sob os ditames de suas expectativas. Assim, com facilidade, as poucas regras, mesmo não escritas, vão gradualmente aumentando de número. De repente, a eficácia das normas estabelecidas caduca, e se precisa descobrir outra regra para coibir ou estimular determinado comportamento.
            A Bíblia revela que a partir da Aliança das doze tribos no Sinai, a Lei significava o conjunto dos dez mandamentos. Ao perderem a força de persuasão, estes dez mandamentos foram, aos poucos, acrescidos de outras para complementá-las. No tempo de Cristo, o número de acréscimos já passava de 600, mas, mesmo assim, o efeito do que os dez mandamentos visavam, nem por isso estava sendo alcançado.
            Jesus Cristo soube renovar o efeito ético, social e religioso destas mais de seiscentas e tantas leis para uma única regra, segundo Mateus, expressa sob dois aspectos: amar a Deus e ao próximo. Há quem interpreta esta regra de forma mais simplificada: amar o próximo, pois, quando se ama o próximo, simultaneamente já se ama a Deus.
            Muito mais do que dar eficácia ao esvaziado conjunto de regras, Jesus apontou para a construção positiva da convivência e, na dedicação e atenção à condição humana, mostrou de forma muito convincente que assim demonstrava amor a Deus.
            Ao longo da história da Igreja, que quis ser fiel a este único mandamento, e para assegurar o êxito desta regra, já acrescentou milhares de outras; e sentimos, hoje, uma sensação desconfortável de que se constituem um fardo pesado que, mais atrapalha do que ajuda ao bom entendimento e respeito na convivência com pessoas e com a natureza.
            A proposta de Cristo certamente continua a ser magnífico horizonte para orientar os rumos da convivência, mas, de forma parecida com a dele, precisamos simplificar o casuísmo de regras para que voltem a ser meio que facilita a vida.

            Mais do que apelações ao maior mandamento para submeter outras pessoas, importa clarear luzes que nos tornem melhores e menos excludentes com incontáveis exigências. O amor filial não pode sucumbir sob o falso apelo às muitas cobranças: afinal, Jesus apontou um caminho que salva e não um caminho que escraviza através de perversos controles, multiplicados à exaustão por meio de regras.

No lusco-fusco das promessas



As palavras na sua versatilidade,
Turbinadas com seleta maldade,
Conseguem esconder fatos reais,
Com palavreados vazios e gerais.

Nos aparentes elogios do agrado,
Borbulham estilos de rico legado,
Para persuadir com argumentos,
Os sorrateiros apelos de intentos.

Como saber se a insinuação alenta,
Ou se engana a audição desatenta,
Em torno dos desfocados ensejos,
Que ofuscam os fulcrais desejos?

A tentação de outros submeter,
Para mais reconhecimento obter,
Pervaga as ambições da grandeza,
Porém, engole a valiosa singeleza.

Quisera que os signos das palavras,
A esconder tantas coisas macabras,
Expressassem o real estado da alma,
Que em tantas inseguranças acalma!






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Certezas dogmáticas



A antiga crença da superioridade da razão,
E da sua alta supremacia sobre a biologia,
Engendraram crença de propalada vazão,
De que a fé requeria somente a teologia.

Surgiram deduções das mais categóricas,
A explicar de maneiras inquestionáveis,
Tudo quanto Deus queria com retóricas,
Para enquadramentos pouco abonáveis.

Como a mente humana produz cultura,
E é fruto de meio-ambientes culturais,
Não se pode superar a humana agrura,
Por elucubrações teológicas ancestrais.

Certezas dogmáticas bem enrustidas,
Sobre uma procedência não biológica,
Mesmo as culturalmente consentidas,
Engendraram num momento sua lógica.

Quando certezas dogmáticas emperram,
Pode vir a falar mais alto o modo de ser,
E colocar novas luzes sobre os que erram,
Para o humilde diálogo poder arrefecer.

Nada precisa ser temido neste processo,
Porque o trajeto do caos para a ascensão,
Não indica nenhum caminho de recesso,
Porque o caminho da religião é redenção.



Das entranhas da Terra



Emerge da Terra e de suas entranhas,
A vida que se expande em profusão,
E se agita de formas bem estranhas,
Procurando caminhos de expansão.

A noção de alma advinda do além,
Denegriu a condição não humana,
E a tratou com execrável desdém,
Como realidade caótica e profana.

Ao assimilar a alma ao criador,
Desmereceu todo o humano,
Na suposição de ser superior,
E perpetrou um ledo engano.

A essência da alma humana,
Irmã da alma da mãe terra,
Ligada ao que dela emana,
É pendor que ela encerra.

Se a obra toda maravilhosa,
Sinal amoroso de um Deus,
Permite tal ação grandiosa,
Porque sentir-se um Zeus?

Que o senso religioso reparador,
No respeito à vida envolvente,
Difusa de jeito tão encantador,
Estabeleça a harmonia decente.








sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O torpor da quentura



Estiagem que tanto eleva a temperatura,
Já traz no frontispício pré-cognição dura:
A dos tempos vindouros sem desdouros,
Ceifando bem antes do tempo os louros.

Se os ânimos acompanham o estranho tédio,
Da pane do sistema biológico sem o remédio,
Como equilibrar o termostato normal da vida,
Para assegurar alento de bom futuro na lida?

O mui antigo imagético do aporte religioso,
Apontou o calor dos infernos ao desditoso,
Mas, ao racional e secularizado bom-senso,
A ambição no planeta indica triste dissenso.

Se para os próximos anos são preconizados,
Notáveis reações de efeitos descontrolados,
Vem o pânico infernal espalhando o torpor,
Dos cruéis satãs ingerindo tudo com o calor.

Desleixada a tradicional concepção religiosa,
Anda solto o mar da pretensão mui perigosa,
Que mata bem mais do que o fogo abrasador,
Pela diabólica maneira do agir desbravador.

Como as folhas forçadas a cair antes da hora,
Seres humanos já fenecem pelo mundo afora,
Antes do ciclo natural da vida, tida como dom,
E do planeta condenado a estágio nada bom.

Nem eventual apelo ao frio dos pólos polares,
Seria suficiente para garantir os amenos ares,
A latejar tão anelados por mais vida na Terra,

Enquanto ambição desmedida tudo emperra.

O mefistofélico



Sarcástico e maldoso,
Falso e muito meloso,
É o homem do poder,
No perverso proceder.

É ladrão bem conhecido,
E, no entanto, protegido,
Pelas lacunas legislativas,
Que venera com evasivas.

Como é rico e poderoso,
Desdenha todo dengoso,
Dos retos que contestam,
Ou desafetos manifestam.

Exige concordância servil,
No proceder nada varonil,
E, sob vasto aporte legal,
Sente-se o prefeito ideal.

Faz dos seus desejos a lei,
Ignorando anseios da grei,
E para assegurar seu poder,
Paga o direito de se eleger.

Como tirano poderoso,
Repercute a fedegoso,
E enquanto desmanda,
A comunidade desanda.


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dilemas do cotidiano



Uma das contingências da nossa condição humana – a de ter que fazer opções - envolve também outra característica: por mais que façamos escolhas, não podemos escolher tudo e nem todas as coisas. Isto indica uma evidência de que existe alguém muito mais amplo e mais capaz do que nós, de quem intuímos sinais a partir da sensibilização diante das grandezas que se misturam na fragilidade da nossa condição humana.
Na linguagem religiosa dizemos que são interpelações de um amor maior de Deus. Na vida diária, porém, relegamos facilmente esta dimensão: afinal, seguimos preceitos religiosos ou os de organismos meramente políticos?
A simples condição de escolha da autoridade presidencial do país já nos situa entre duas perspectivas antagônicas sob o aspecto dos projetos: opta-se por uma governança, presumidamente, para o bem do povo, ou o dos banqueiros e grupos de grande poder de barganha, insaciáveis na busca de ampliação dos seus bens? De acordo com o foco do olhar dos interesses, muda a escolha. Mas, a própria e inevitável escolha tem conseqüências: a quais ordens nos submetemos?
A maldade que se esconde, e, que permeia muitas escolhas desperta dilemas muito difíceis, além de dificultar as opções. Podemos imaginar a situação descrita por Mateus 22,15-21, na qual Jesus se viu na fatalidade de posicionar-se e escolher entre duas alternativas, mas, qualquer uma delas o levaria à morte. A pergunta aparentemente ingênua, mas, - muito maldosa, - que lhe foi dirigida a respeito da validade de pagar tributo a César, se coloca de maneira bastante similar às pessoas de fé: a que domínio de ordens nos sujeitamos na organização da vida?
Os judeus estavam sob o domínio do imperador César Augusto (augusto significa aquele que está acima dos deuses) que lhes exigia pagar pesados impostos a Roma. Dizer algo contra o tal imposto, constituiria insubmissão, sujeita a prisão e morte. Por outro lado, as raízes históricas e religiosas do povo de Israel indicavam que Deus deveria reger a vida do povo e não um arrogante e pretensioso imperador. Na verdade, Jesus remeteu os interlocutores para uma questão mais profunda: pode uma autoridade política usurpar o lugar de Deus?
Em última instância, o que estava representando a cega submissão ao imperador romano? Nada mais do que idolatria a alguém que se colocou no lugar de Deus. César chegou a exigir alteração do calendário anual a fim de que um mês – agosto (Augusto) que ainda hoje persiste - reverenciasse a sua condição divina.
Ao responder que convinha dar a Deus o que é de Deus, Jesus não estava insinuando que também convinha dar pelo menos uma esmolinha para Deus, já que o pagamento do imposto ia para César. Em outras palavras, quando damos a Deus o que é de Deus, não precisamos submeter-nos a vis idolatrias dos que dizem salvar como se fossem deuses, mas, que agem apenas em função de seus interesses pessoais.
Nossos dias deixam-nos no mesmo dilema e numa dúvida crucial: o poder político é mesmo um serviço para o bem comum, de modos que a rica dádiva da natureza não seja usurpada por alguns poucos, em detrimento da maioria das pessoas humanas, bem como dos múltiplos sistemas e dos incontáveis outros modos de vida?
A indicação de dar a Deus o que é de Deus certamente nos ajuda a relativizar muitas idolatrias, estabelecidas no lugar de Deus, e que realmente não agem para o bem-estar de todos os cidadãos do país, e, muito menos do planeta.




segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O esmaecido



Esmaecido está o pobre salário,
Sem nada de esnobe perdulário,
A conformar os pobres viventes,
E a refrear os anseios prementes.

Os argumentos de impossibilidade,
Falam mais alto que toda vontade,
E enquanto são alegados os riscos,
Já se apontam desvios dos apriscos.

A falácia que produz o conformismo,
Escancara, com vilipêndio e cinismo,
Vil e falso processo de manipulação,
A cooptar grande parte da população.

Múltiplos desvios e os super-salários,
Do engodo de mandantes salafrários,
Ferem muito mais que o fulcro social,
Os básicos direitos da interação racial.

Quando apenas os espertos malandros,
São notáveis pelo afã de seus meandros,
Nem educação e nem manifesto do povo,
Conseguirá promulgar efetivo rumo novo.




quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Quando as talhas estão vazias



A palavra “talha” apresenta mais que uma dúzia de significados diferentes. Um deles, talvez o que mais lembramos, é o do pote de barro com grande bojo para conter água, azeite ou outro ingrediente. Imaginar o tempo de mais de dois mil anos atrás, uma talha vazia certamente constituía sinônimo de alguma inquietação. Não ter água, azeite ou outro produto de alimentação básica na talha, requeria, evidentemente, algum ato de providência.
Na expressão religiosa, talha também possuía mais um significado importante para os judeus. Constituía um pequeno cubículo, parecido com nossos chuveiros – pelo menos os das pessoas mais pobres – e consistia numa escavação de aproximadamente um palmo de profundidade e que era preenchido de água para os rituais de purificação. Diante das pequenas faltas, desencontros ou desentendimentos a pessoa ficava parada neste cubículo, de modos que os pés ficassem na água, a fim de fazer o ritual de purificação daqueles deslizes, ou, como nós diríamos um momento de integração das faltas cometidas, para sentir-se purificado e perdoado diante de Deus.
O início do Evangelho de São João (2,1-11) destaca o primeiro grande sinal da parte de Deus, efetuado por Jesus Cristo, que foi o de pedir para encher novamente as talhas vazias! A religião havia se tornado tão formalista, exterior e sem força dinâmica para a vida, que já não salvava nada! Sob este aspecto, talha vazia, além de não purificar e nem redimir, significava religião inoperante.
A intervenção da mãe de Jesus Cristo reflete preocupação com esta falta de qualidade da expressão religiosa. Ela, no entanto, em vez de se prender ao ritualismo vazio, se antecipou com uma intuição profunda de que se fazia necessário uma nova aliança: não a do legalismo inoperante simbolizado na água, mas, a do novo do projeto de seu filho, identificado com o vinho. Como mãe, e, também como discípula, exerceu certa pressão pela nova aliança, capaz de encher as talhas de sentido! Longe da magia, desejou que o rito religioso não se constituísse de mera purificação, mas que expressasse a alegria da festa: afinal, o noivo – lembrando os antigos enlaces de Deus com o povo – estava ali e dava razão para alegrias messiânicas.
Se a água das talhas constituíra mediação redentora, porque substituí-la por vinho? Porque lembra a nova aliança de Jesus Cristo, capaz de propiciar plenitude à vida. Na imagem do vinho bom, que alegra a festa, encontra-se um significado simbólico muito rico: nas bodas do estabelecimento de um novo pacto, a presença do noivo torna-se motivo de alegre festa! Ele, com seu jeito e sua lida, surpreende para além do esperado. Sua presença equivale à surpresa do vinho bom, porquanto aponta caminho que não apenas redime de pequenas faltas cotidianas, mas preenche e substitui a longa tradição que havia se esvaziado e desandado em casuísmos.
Nossos dias parecem repetir algo parecido com o progressivo esvaziamento dos rituais religiosos. No entanto, o que se vê pouco, são intuições para algo novo e para além das muitas piedades marianas que sequer aproximam as pessoas ao projeto de Jesus Cristo, nem tampouco das alegrias da sua presença no meio de nós. Por outro lado, o que se vê em tantos veículos de comunicação são emocionalismos explorados nos mínimos detalhes de uma presumida deusa poderosa, vaidosa, transformada em rainha, e que, ornamentada de jóias e bricolagens, sempre requer as mesmas coisas alienantes. Esta talha também está dando sinais de decrepitude e de inoperância para os problemas reais da vida!


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Certezas dogmáticas



A antiga crença da superioridade da razão,
E da sua alta supremacia sobre a biologia,
Engendraram crença de propalada vazão,
De que a fé requeria somente a teologia.

Surgiram deduções das mais categóricas,
A explicar de maneiras inquestionáveis,
Tudo quanto Deus queria com retóricas,
Para enquadramentos pouco abonáveis.

Como a mente humana produz cultura,
E é fruto de meio-ambientes culturais,
Não se pode superar a humana agrura,
Com elucidações teológicas ancestrais.

Certezas dogmáticas bem enrustidas,
Sobre uma procedência não biológica,
Mesmo as culturalmente consentidas,
Vieram dum certo momento de lógica.

Quando certezas dogmáticas emperram,
A animação da vida no seu modo de ser,
Necessita acolher limites que encerram,
Para o humilde diálogo poder arremeter.

Nada precisa ser temido neste processo,
Porque o trajeto do caos para a ascensão,
Não indica nenhum caminho de recesso,
Por que o percurso religioso é redenção.

Se ordem e a desordem estão mescladas,
Não cabe à religião formalismo asséptico,
Mas a efetiva lida com forças desandadas,

Para despertar na vida seu fluxo ascético. 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Justiça



De idade milenar,
Sempre aquém,
Da vítima refém,
Vive a hibernar.

Favorece a sorte,
Do falso aporte,
Deixa malgrado,
O anseio anelado.

Justiça de quem,
Que só convém,
Ao fautor da lei,
Para a sua grei?

As pobres vítimas,
De dores legítimas,
E, desconsideradas,
Fenecem relegadas.

Sob ética reinante,
Da razão mandante,
Sobra conformismo,
E avança o cinismo.

A medalha da honra,
Do esperto vencedor,
Esconde na desonra,
A vítima em sua dor.

Quando a lei do forte,
Elevar a pobre sorte,
Poderá compaginar:
 Vida nova a augurar.



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Avaliação de lideranças



            Como nas muitas metáforas bíblicas que relacionam plantas e sua produção de frutos, nós, mesmo não desejando, nos vemos na condição de constatar que os frutos das lidas cotidianas seguidamente se encontram aquém do que gostaríamos de verificar.
Nas muitas causas, pode o ambiente nos facilitar a constatação de que a vida poderia desenrolar-se de formas bem mais satisfatórias. No entanto, torna-se paulatinamente mais evidente e mais comum constatar que, o alcance de bons níveis de satisfação, decorre, em grande parte, do nosso próprio desempenho. O que colhemos das lidas, nem sempre proporciona “frutos tão doces” quanto esperamos.
Na parábola da vinha (Mt 21, 33-43) há uma referência especial aos governantes da sociedade. Nos discursos eles tendem a falar muito dos bons frutos e garantem que vão dar tudo de si para que a coletividade possa desfrutar dos melhores sabores dos frutos de sua governança. A constatação efetiva, porém, leva com evidência quase total a uma conclusão decepcionante: além da clássica protelação do que prometem não se revelam nada afoitos em favor do bem-comum, anunciado com tanta grandiloquência em suas falas discursivas.
Como qualquer cultivo de horta, de jardim ou de lavoura, a lavoura do poder público na sociedade geralmente deixa lacunas extraordinárias na idealização prospectada. Os frutos, desde longo tempo, continuam mais que azedos!
Não cabe anarquia e nem tampouco a mentira para dissuadir em torno de falsas promessas ou do anúncio do que os eleitores gostam de ouvir para serem enganados. Por outro lado, o que os subordinados fazem para não engrossar o aniquilamento, a espoliação e a indevida apropriação dos bens comuns, mesmo os simbólicos?
Tanto os que assumem a incumbência de governar, quanto os que neles depositam sua confiança, tampouco podem apenas pensar em colher para encher tulhas em favor dos próprios interesses. Assim como se usurpa o que é do bem comum, se usurpa o que é do “dono da vinha”, e, procede-se uma apropriação escancarada do que, por direito, pertence a todos.
Pela mesma característica que indevidas apropriações acontecem no poder civil, acontecem também no campo religioso, escancaradas inversões dos papéis de elevado número de lideranças religiosas: no lugar do desvelo em favor do bem comum da comunidade, efetuam apropriação indevida não apenas de bens materiais, mas, o que é pior: usurpam o lugar de Deus, como se ele fosse um pobre subserviente de suas ambições religiosas e de auto-afirmação.

A imagem das uvas boas, esperadas para a colheita, que, vias de regra desencanta, - porque estão azedas - é ainda muito oportuna diante de tanta uva ofertada como o melhor da ação de Deus, mas, que não passa de um azedume de usurpação indevida tanto dos sonhos, quanto dos anseios das pessoas de fé, numa comunidade.

Anjos de Deus



Da imagem dos ícones da infância,
Enlevam-se com rica exuberância,
Os bebezinhos roliços e gordinhos,
Com asinhas e eretos “tiquinhos”.

Das histórias de anjos e arcanjos,
Contadas com inefáveis arranjos,
Nunca apareceram lindas anjas,
Nem mesmo casos de arcanjas.

Hoje bendigo o proclamado céu,
Apesar das vidas jogadas aos léu,
Por anjos e anjas a abrir caminhos,
Soldando velhos e novos cadinhos.

Como o imagético atual cortou as asas,
E sequer deixou a vida sob ondas rasas,
Mensageiras e mensageiros inovadores,
Apontam direções e passos promissores.

Constituem-se em belos sinais de Deus,
Quando esquecem os problemas seus,
 No singelo desvelo de simples atenção,
e apontam inusitados rumos ao coração.

Sem voar, aparecem de outros meios,
E no simples bem querer sem rodeios,
Seus ânimos esborrifam simplicidade,
E clareiam ricos processos de lealdade.

Causam o milagre da transformação,
Tão raro no meio da procrastinação,
E por caminho inverso ao milagreiro,
Apontam sinais do Deus alvissareiro.




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Um caso de pouco amor



Esta esplêndida natureza,
Recebeu oferta agradável:
Desvelo de sábia inteireza,
Para uma sociedade amável.

Governar, o grande intento,
Que lateja em tantos ideais,
Para deixar cada segmento,
Em virtualidades bem reais.

Ali urgem soluções rápidas,
Para esperanças vacilantes,
Mas as mentiras intrépidas,
Produzem luzes insinuantes.

As falsidades bem repetidas,
Sob os volumes atordoantes,
Ao léu de leis estabelecidas,
Geram quadros dissonantes.

O gasto do dinheiro espúrio,
Por vias as mais indecentes,
Nada ameniza o murmúrio,
De tantos seres padecentes.

Os atos contradizem os ditos,
E revelam quadro insolvente,
De quem vomita veredictos,
Sem deixar o povo contente.

Como fogem do prometido,
Sabem protelar o proposto,
E de coração empedernido,
Relegam o povo ao desgosto.





<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...