quarta-feira, 27 de novembro de 2019

PRESUNÇÃO




Tão conhecida e valorizada,
Acha excelência disparada,
Em cargos governamentais,
E até em ambientes frugais.

Adornada pelo próprio eu,
Como se fosse o Prometeu,
Só vive bem acompanhada,
Com sua vaidade assanhada.

Bem afeita com o orgulho,
Cria bem agitado barulho,
Para brilhar em evidência,
E propiciar benemerência.

Assim anda sempre afoita,
Com um pé atrás da moita,
Para aumentar a grandeza,
E ampliar a inefável alteza.

Nada sente do que é alheio,
Pois vive do próprio floreio,
E amealha poder e grandeza,
Para a sua própria inteireza.

A vaidade fornece a argúcia,
De captar pequena minúcia,
Que possa afetar o renome,
Do seu engrandecido nome.

Por achar-se muito superior,
Olha com desdém o inferior,
E o relega à sua indignação,
Sem lhe dar ínfima atenção.

Agride, debocha e humilha,
Seguindo sagrada planilha,
De que seu ego é absoluto,
E seu reino todo impoluto.

Aferrada ao círculo vicioso,
Só se move num ar dengoso,
Das tramas de perseguição,
Para abocanhar sua função.

Pouco ou nada acrescenta,
À condição humana sedenta,
E ainda espolia seus anseios,
Com os ilusórios devaneios.




MITOS DA RAZÃO INSTRUMENTAL




Entre grandes mitos da modernidade,
Aquele da feliz elevação da sociedade,
A Aufhebung da razão conquistadora,
Gestou esta interação constrangedora.

Os muito poucos vencedores do sonho,
Controlam e espoliam o povo tristonho,
Mas desequilibram o ambiente natural,
E matam genuinidade humana cultural.

Sob a ilusão da felicidade de consumo,
Deslocou-se básico e humano aprumo,
Da vida do respeito e da cordialidade,
Para a agressiva possessão à saciedade.

Já não se olha para riscos ambientais,
Com cega obsessão por lucros fulcrais,
Que endeusa o crasso individualismo,
Deste progresso ilimitado de cinismo.

Neste mercado sem regras e limites,
Não contam alertas e bons palpites,
Nem a ética e bom-senso elementar,
Para a sóbria convivência fomentar.

Na indução destes comportamentos,
Os hábitos tidos como fundamentos,
Carecem ser substituídos por outros,
Que incluam o lugar dos destoutros.

Mesmo viável a economia do gasto,
Pode gerar estágio menos nefasto,
Respeitando pessoas e ambientes,
Para interações mais convincentes.

Com estilo de vida mais recatado,
O mundo dadivoso que foi legado,
Será fruído, nas futuras gerações,
Com fartas e humanas condições.




quinta-feira, 21 de novembro de 2019

ACESSIBILIDADE





A mentirinha dos direitos iguais,
Sob a ganância de muitos rivais,
Sustenta a contradição crônica,
Desta pertença social anacrônica.

A venerada globalização mundial,
Ostenta a condição nada eclesial,
Da negação de acesso a excluídos,
Que ficam literalmente preteridos.

A integração somente é admitida,
Pela injusta e espoliadora medida,
Sem uma misericórdia integradora,
                                        Para atenuar fome constrangedora.

Legislação propensa à acumulação,
Favorece a contraditória situação,
Legitimadora da negação humana,
De participar do que da lida emana.

O modelo de espertos acumuladores,
Faz dos demais, reféns e devedores,
O deboche de culpá-los pela maldade,
De viverem submundo na sociedade.

Não contam os migrantes e refugiados,
Nem vítimas da violência e deslocados,
Porque desaparecidos e sequestrados,
Merecem ser relegados e maltratados.

A prostituição precoce e o desemprego,
Levam a sobreviver com o sub-emprego,
Raças, culturas, e imensidões humanas,
Longe do acesso a grandezas doidivanas.

Um sistema econômico que marginaliza,
E que a tantos seres humanos escraviza,
Ainda favorece os direitos do mais forte,
E consterna a sociedade em seu aporte.


O CAMINHO DA INTERIORIDADE




Na aguda produção de desejos,
Não cabem pequenos lampejos,
Para indicar o caminho interior,
Como o lugar de beleza superior.

Mundo das grandes agitações,
Cruza sentimentos e emoções,
Com raivas, mágoas e os ódios,
Que criam memoráveis pódios.

Ali florescem ciúmes doentios,
E os sentimentos mais gentios,
De culpa e de arrependimento,
Para conspurcar o sentimento.

A síntese deste estado de alma,
Que nem sempre indica calma,
Pode ensejar grandiosa escuta,
Do que a inteligência perscruta.

A escuta deste mundo interior,
Eivado por um mundo exterior,
Permite sondar o fundamento,
Que requer um complemento.

Um mundo de anseios fortes,
Quer alçar amparos e aportes,
Para manter o controle certo,
Do humor afetivo tão incerto.

No tocar os intocáveis medos,
Que retém temidos segredos,
Passam a ecoar bem audíveis,
As lindas melodias indizíveis.





quinta-feira, 14 de novembro de 2019

NOVA POLÍTICA




Quando os discursos não convincentes,
Insinuam com apelos grandiloquentes,
A defesa de uma suposta democracia,
Já se revela engolida pela tecnocracia.

Enquanto somente os poucos vencem,
E tratam multidões e não convencem,
Não poderão continuar irresponsáveis,
Nos trilhos econômicos inconciliáveis.

Submissão a comandos supranacionais,
Que dominam com formas escomunais,
Equivale a fugir basicamente do sentido,
De realizar o necessário ao povo sofrido.

Com tutela tecnocrática dura e mandona,
A tão ineficiente democracia redomona,
Endeusa um desenvolvimento sistêmico,
E produz desencontro insano endêmico.

Quando o Estado movido na protelação,
Longe da soberana e atenta precaução,
Só cria norma e jurisprudência caducas,
Vai criando relações humanas malucas.

Se não ativa boas práticas de lealdade,
E nem evita a malversação e a maldade,
Revela trágico fracasso do consumismo,
E combate um pressuposto comunismo.

Sob a miopia da agenda administrativa,
Degrada-se o espaço de forma abusiva,
Sem o olhar prospectivo de longo prazo,
Que permita ao povo um renovado azo.



quarta-feira, 13 de novembro de 2019

O APREÇO À MORALIZAÇÃO




Autoridades políticas e religiosas,
Afoitas em sugestões prodigiosas,
Apontam o quanto deve ser feito,
Para corrigir todo humano defeito.

Longe da informação do que fazem,
Adoram o dinheiro e auto-refazem,
Os planos de vasto poder ampliado,
Que permite deixar honroso legado.

Nos discursos moralistas de apelos,
Insinuam mais a culpa que modelos,
Para despertar sentimento devedor,
A atrofiar toda a força do pundonor.

Longe de levantar o ânimo para agir,
Inculcam o mecanismo de retroagir,
E frustram os clamores dos desejos,
Com culpados que boicotam os ejos.

Apelos moralizadores e prostrantes,
Eximem os inúmeros atos frustrantes,
Para justificar a inoperância do cargo,
E reafirmar o duro e pesado embargo.

Apelo a divinas instâncias superiores,
Banalizam os tão humanos pendores,
Já frouxos na crença de atendimento,
Porque perderam o denodo do alento.

Sobra uma fé fechada no subjetivismo,
Que só acata raciocínios de iluminismo,
Circunscritos na imanência duma razão,
Donde já não brota dinamismo de ação.


<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...