sexta-feira, 31 de agosto de 2018

PIEDADES INÓCUAS




Quando as crises abalam,
Fundamentalismos exalam,
Saudades dos tempos idos,
Que já ficaram preteridos.

Sob o foco mágico das leis,
Mira-se a salvação de greis,
Com uma volta ao passado,
Como mais objetivo legado.

A absolutização de detalhes,
Atribuídas a divinos entalhes,
Justifica invenções humanas,
Para ações das mais sacanas.

Assim as idolatradas normas,
Molduradas por belas formas,
Viram armas muito perigosas,
Nas mãos de lideranças ciosas.

No culto da lei erigido centro,
Só é bom quem está dentro,
Do redil dos submissos cegos,
Para vaidade dos afoitos egos.

Nesta religião de aditamentos,
A manipular bons sentimentos,
Mata-se a atitude livre e calma,
Para impingir jugos sem alma.

A arrogância de impor jugos,
Expõe os perversos verdugos,
Com altivez nada libertadora,
A gerir barganha enganadora.





sexta-feira, 24 de agosto de 2018

DESVIO DE FUNÇÃO




Na incumbência de irradiar a beleza,
Da simplicidade de humana inteireza,
Escolhidos para o serviço edificante,
Tornam-se fonte bem decepcionante.

Uns são feitos meros administradores,
Outros se arvoram radicais opositores,
E enquanto nadam na auto-afirmação,
Tornam-se reféns de vulgar contradição.

Longe de alargar a genuína gratuidade,
Produzem arbitrariedades à saciedade,
Presos na observância exterior das leis,
E insensíveis ao abandono de suas greis.

No tirocínio humano-afetivo limitado,
Sobressai primário e elementar legado,
Dos traumas ativos de antigas feridas,
Que lhes absorvem as forças queridas.

Embora movidos por desejo de brilho,
Não dão os passos no projetado trilho,
Que poderiam curar as alheias feridas,
Das tantas vidas humanas denegridas.

O mundo dos humanitários pendores,
Esvaído do consolo dos seus valores,
Enche os arautos dos nobres desejos,
Com fétidos odores sem os bons ejos.

Como já não acham a fonte de Jesus,
Encontram tanta droga que os seduz,
Pois, só sorvem a água contaminada,
Da insinuação vulgar e desencantada.

Impregnados das mesmas violências,
Das banais e degradadas indecências,
Perderam a fala mansa e a humildade,
E berram rezas de conquista e vaidade.



quinta-feira, 16 de agosto de 2018

DECLARAÇÃO DE DIGNIDADE




Na elevação da mãe do Senhor,
A ser recebida pelo seu penhor,
No apanágio da bondade divina,
Aponta-se uma rota peregrina.

A expectativa de uma elevação,
Recria nossa humana condição,
Que as doze estrelas do passado,
Enalteçam o nosso belo legado.

A vida de auto-transcendência,
Sem sucumbir numa sofrência,
Aponta-nos o desejo profundo,
De um mundo menos iracundo.

Por isso a homenagem a Maria,
Prefigura o anelo que se irradia:
Que nosso encontro derradeiro,
Envolva-nos ao Deus verdadeiro.

Nesta esperança tão assuntada,
Irradia-se a parusia encantada,
Que em Maria está prefigurada,
E que, por nós, é tão aguardada.

O caminho humilde encantador,
Na generatividade do salvador,
Interpela-nos por onde o amor,
Eleva ao esplêndido pundonor.

As obras da pedagogia de Deus,
Deixaram ao mundo dos “eus”,
Um itinerário de ação serviçal,
Que eleva à assunção colossal.








quarta-feira, 15 de agosto de 2018

OBESOS DE FACILIDADES




Distante da abnegação e austeridade,
Todos almejam a leveza e a facilidade,
Que possam diminuir esforço e pesos,
Para a suavidade de contornos ilesos.

Nada com regime austero e de dureza,
Pois a sensação bem cotada é moleza,
E o mínimo de movimentos e esforços,
Para evitar toda insônia e os remorsos.

Na digitalização que ameniza os pesos,
Aparecem mais indiretos contra-pesos,
Que vão além dos volumes exagerados,
E saturam pelos de informes digitados.

Obnubilados por nuvens de informação,
Os dedos polegares assumem a direção,
E o cérebro vazio do poder organizador,
Só gesta a fantasia de poder devorador.

No inebriar-se dos ares das informações,
Ajuntam-se calorias fora de proporções,
E evadem-se os músculos da flexibilidade,
Para deslizar nas gorduras da inatividade.

O celular ocupa toda mente e o coração,
Anelante por dedos sempre na atenção,
Para acessar a ventania de informações,
Que locupletem as inquietas obsessões.

Na fluidez das constantes informações,
A mórbida assimilação das digitações,
Seduz para conectividade progressiva,
Mas causa “infobesidade” compulsiva.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

DIA DOS PAIS




Dos incontáveis sonhos acalantados,
Eclodem emoções por todos os lados,
De jovens que almejaram ser felizes,
E desandaram por diversos deslizes.

Como efeito persuasivo de ambientes,
Forneceu os necessários ingredientes,
Traíram os pactos firmados no fervor,
E cortaram os aprumos de novo alvor.

Belas motivações de generatividade,
Deram lugar a atos de agressividade,
E roeram a capacidade de comunhão,
Gerando conflitos em larga profusão.

Assim o dia que lembra paternidade,
Ativa a memória em farta saciedade,
Para insinuar consciência de fracasso,
Sem nenhum aconchego e sem regaço.

A dura resistência para não sucumbir,
Tão pouco acalanta para na vida subir,
Que insinua um desleal rumo e o vício,
Mas que alarga desandado estrupício.

É sublime celebrar um pai enobrecido,
Que transcendeu o ambiente recebido,
E alargou a sua dádiva única e genuína,
Para culminar em fonte alegre e divina.

Ainda melhor é poder frui-lo animado,
Com nove décadas de generativo legado,
E não vociferar nem mágoas e lamúrias,
Apesar de ter vivido tempos de penúrias.

Estar de bem, e satisfeito com sua vida,
Irradia clima de ternura engrandecida,
Que aponta para outro mundo possível,
E certeza da condição humana indizível.







quarta-feira, 8 de agosto de 2018

ORAÇÕES ARROGANTES




Longe da humildade perseverante,
Que clama com um ardor anelante,
Em vista de alguma causa solidária,
Sobressai uma arrogância arbitrária.

Uso político de negociar barganhas,
Em favor das interesseiras manhas,
Distorce a razão última da religião,
E a torna refém da própria ambição.

Impregnadas de violência e poder,
Tantas pregações só sabem ofender,
Distantes de serem gestoras de paz,
E do mínimo de respeito que apraz.

Por horizontes de identidade forte,
Em ambições estamentais de porte,
Assimetrias de visível ambiguidade,
Enganam a translúcida boa vontade.

Sob o fanatismo do “nosso grupo”,
Acha-se em texto sagrado o apupo,
Para enaltecer o poder da palavra,
Contra toda manifestação macabra.

No abuso dos poderes discursados,
Aumento notável dos subordinados,
Interessa bem mais que agir divino,
E valiosa solidariedade de peregrino.

Na ideologia de posse e de domínio,
E a superior batalha de condomínio,
Explora-se a seleta barca de amigos,
Contra ousada diabrura dos inimigos.

Na apelação exclusivista de barganha,
Ante tanta prostração que se acanha,
Impõe-se velho maniqueísmo do bem,
A enfrentar astúcia diabólica do além.

Mais do que predispor-se a nova pista,
Interessa a rápida e exitosa conquista,
Para aumentar o domínio e território,
E ser proclamado por título meritório.








<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...