Nos meses
que antecedem a festa do Natal procede-se um bombardeio de sugestivas e bem
boladas propagandas, que insistem no feliz natal, e, com alardeios em torno das
melhores ofertas para tornar-nos exaustivamente felizes, se as comprarmos. A
associação ao prazer de comprar em suaves prestações, evidentemente enganosa,
acaba ofuscando a festa.
É tanta
preocupação com o ornamento e o preparo de pratos especiais a serem servidos;
bem como, as condições ideais das bebidas e das carnes, que o aniversariante a
ser homenageado fica totalmente relegado. A faxina geral começa com uma porção
de dias de antecedência.
É tanto serviço e detalhe a ser
considerado que não sobra nenhum tempo, nem mesmo uma hora, para celebrar e
fazer memória do aniversariante! Pensa-se nos convidados e nas melhores formas
de lhes apresentar aparatos festivos; pensa-se em detalhes para que a ceia
conte com todos os mínimos detalhes das etiquetas. O aniversariante? Afinal, Ele
é apenas um pretexto remoto.
As mensagens, geralmente tão
românticas, remetem a um bem nutrido nascituro, belamente ilustrado e envolvido
com bichinhos mansos e humildes, e despertam saudades bucólicas dos ambientes
rurais com seu imagético de animais domésticos.
Quanto aos presentes, sob o título de
ofertas especiais, custam muito mais do que nos outros dias do ano! As luzes,
no piscar incessante, alucinam e turbinam a mente para que, em meio ao
turbilhão de volumes de ondas sonoras, afaste o álcool da sua corrida
frenética.
Terminada a festa, sobra o cansaço, o
mau cheiro das sobras, e o tédio de ter que começar outra vez a colocar as
coisas em ordem. Assim, o Natal cruza e o aniversariante continua silenciado.
Mais uma vez a festa termina com ar de frustração!
Os primeiros cristãos passaram a
celebrar o aniversário de Jesus Cristo com a importante intuição de
apropriar-se da tradicional festa romana ao “deus sol” e, com outro significado
– o da luz fundamental e essencial para sua vida de discipulado, que era o modo
de ser de Jesus Cristo, - certamente pensavam nele na festa de memória, isto é,
atualizavam os grandes acontecimentos de Jesus Cristo, e, ao trazê-los para o
momento presente, percebiam que lhes apontavam novas luzes e forças para lidar
com a vida. Então, sim, o festejo tinha uma razão especial e contagiante que
gerava transbordamento e exuberância!
A festa de Natal, já esvaziada como ocorreu
com a festa ao “deus sol” dos romanos, pode ainda e apesar de toda a
publicidade contrária, nos remeter a uma festa mais religiosa e para além da
antiga festa romana do “comamos e bebamos, porque, amanhã, morreremos!”