As noites compridas sem sono,
Largadas pelo tempo seu dono,
Patinam na mesma inquietude,
E nem gestam força de virtude.
Sob um torpor medicamentoso,
O cérebro antes tão estrepitoso,
Patina no atoleiro das emoções,
Sem firmar-se em boas intuições.
As horas já não querem passar,
E sequer querem se congraçar,
Para acordar uma nova aurora,
Sossegadas de passar da hora.
Na obsessão das horas paradas,
Somem as intuições aquilatadas,
E já não pinta enredo de sonho,
Mas, só o sentimento tristonho.
Já na hora da consciência plena,
Nenhuma animação se engrena,
Porém, nos mórbidos estalidos,
A cabeça fervilha chatos zunidos.
A ansiedade desliza sobre o muro,
Querendo jogar sobre o chão duro,
O vivente esfalfado em seu pânico,
Com o irônico e perverso ar tirânico.
A ansiedade só visualiza grande
pavor,
E não se convence com qualquer favor,
Pois, ao alcançar o topo do
desespero,
Se condecora com destacado esmero.
Na voz médica de antecipação do pior,
O pânico salta com dó e para ré
maior,
E faz alarme geral no sistema
nervoso,
De que avança contra-ataque perigoso.
Perfídia do ataque próximo e
iminente,
Dispara toda adrenalina num repente,
E já golpeia a serotonina moderadora,
Para reinar numa bagunça demolidora.
Descarga psíquica do choro
convulsivo,
Enrola os sentimentos sem o ar
lenitivo,
Das intuições contra o medo
aterrador,
E elevam o quadro febril em meio à
dor.
De repente, voz graciosa e animadora,
Ecoou com uma mensagem promissora,
Para dizer que estava curado da virose,
E, logo, a razão da vida foi à
apoteose.