sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

NOITES DE COVID

 


As noites compridas sem sono,

Largadas pelo tempo seu dono,

Patinam na mesma inquietude,

E nem gestam força de virtude.

 

Sob um torpor medicamentoso,

O cérebro antes tão estrepitoso,

Patina no atoleiro das emoções,

Sem firmar-se em boas intuições.

 

As horas já não querem passar,

E sequer querem se congraçar,

Para acordar uma nova aurora,

 Sossegadas de passar da hora.

 

Na obsessão das horas paradas,

Somem as intuições aquilatadas,

E já não pinta enredo de sonho,

Mas, só o sentimento tristonho.

 

Já na hora da consciência plena,

Nenhuma animação se engrena,

Porém, nos mórbidos estalidos,

A cabeça fervilha chatos zunidos.

 

A ansiedade desliza sobre o muro,

Querendo jogar sobre o chão duro,

O vivente esfalfado em seu pânico,

Com o irônico e perverso ar tirânico.

 

A ansiedade só visualiza grande pavor,

E não se convence com qualquer favor,

Pois, ao alcançar o topo do desespero,

Se condecora com destacado esmero.

 

Na voz médica de antecipação do pior,

O pânico salta com dó e para ré maior,

E faz alarme geral no sistema nervoso,

De que avança contra-ataque perigoso.

 

Perfídia do ataque próximo e iminente,

Dispara toda adrenalina num repente,

E já golpeia a serotonina moderadora,

Para reinar numa bagunça demolidora.

 

Descarga psíquica do choro convulsivo,

Enrola os sentimentos sem o ar lenitivo,

Das intuições contra o medo aterrador,

E elevam o quadro febril em meio à dor.

 

De repente, voz graciosa e animadora,

Ecoou com uma mensagem promissora,

Para dizer que estava curado da virose,

E, logo, a razão da vida foi à apoteose.

 

 

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