sábado, 31 de outubro de 2015

Entes queridos



A memória de pessoas que nos antecederam,
E apesar de todo desejo contrário pereceram,
Move-nos na esperança da vida transformada,
Sem o perpetuado ciclo da volta reencarnada.

Na alegoria de sementes que se transformam,
E seguem vitais nas formas que se deformam,
Desejamos que a morte seja apenas passagem,
Da vida que se alarga com inusitada roupagem.

Se os limites fisiológicos não permitem antever,
Tudo o que para além da morte possa nos mover,
Acolhemos de Jesus o percurso de vida apontado,
Que possa levar à plenitude o nosso frágil estado.

Ao confiar neste indicativo para além da morte,
Esperamos itinerário redentor como novo aporte,
Que nos leve a uma felicidade progressiva e plena,
Diante de tanta influência que por aqui nos aliena.

No percurso da celebração de uma rica esperança,
A morte irrompe numa cultural e afetiva andança,
Mas não anula a comunhão efetiva da companhia,
Nem a certeza de que o amor causa mais harmonia.

Na memória de tantos entes queridos que pereceram,
Aviva-se a esperança de que tudo o que enalteceram,
Torne-os peregrinos na comunhão do amor que redime,
E, na plenitude, libertos do humano pendor que oprime.






quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Dom da santidade



Um imagético religioso de muitos séculos deixou-nos um legado não muito simpático em torno da santidade. Especialmente nas elaborações de biografias sobre a vida dos santos cometeram-se muitos exageros fantasiosos a respeito de como estas pessoas especiais e dotadas de poderes pessoais concedidos por Deus que as fez serem totalmente distintas dos demais seres, desde nascimento, infância, vida adulta e na hora da morte.  Tratava-se de uma espécie de suposição determinista que sequer lhes dava a liberdade de serem parecidos com o comum dos mortais e pareciam previamente superdotados por Deus. Sequer se pensava que o convite à santidade é uma interpelação para todos os batizados.
Continuamos a crer, em nossos dias, que a santidade é um dom de Deus, mas, não naquela perspectiva de privilégio de poucos. Como cristãos, somos todos convidados a crescer paulatinamente num caminho de santidade. A síntese bíblica de que Deus é santo, e o reconhecimento de que fez realmente muito bem todas as coisas que nos rodeiam, também nos aponta que a melhor forma de corresponder à bondade de Deus, é a de aproximar-nos do seu modo de agir, a fim de produzir bem-estar e gratuidade, simplesmente, por fazer parte da sua obra de amor.
A celebração deste primeiro dia de novembro permite uma tríplice consideração em torno da santidade: a) Olhando para trás, podemos avivar que muitas pessoas foram notáveis em elevação de santidade pela sua profunda capacidade de orientar, ajudar e prestar solidariedade a outras pessoas carentes e necessitadas; b) Olhando para o presente sentimos a interpelação de pessoas que se destacam por nos contagiar com algo que vai além das nossas capacidades racionais e motivacionais. Cultivam sua coerência na fé e se tornam muito fortes na capacidade de doação em favor de mais vida no seu âmbito de atuação. Se eventualmente estão à nossa frente, não é por um privilégio exclusivo de Deus. São pessoas que correspondem ao dom da fé, cultivado, e por isso mesmo, seus frutos de bondade, atenção e capacidade de lidar com dificuldades, são maiores do que as nossas. Também a recordação do que pessoas fizeram no passado nesta dimensão nos interpela; c) Olhando para o futuro, a memória passada e presente de pessoas mais santas do que nós, aponta um itinerário, pois, também nós, podemos corresponder ao dom de Deus, concedido a todos os seres humanos, que é o de crescer na santidade.

Como na mensagem das bem-aventuranças, encontramos pessoas que sofrem e enfrentam mil dificuldades e, no entanto, estão sedentos e abertos à graça de Deus para encontrar motivações que as levem a enxergar para além dos problemas. Nesta busca de perfectibilidade conseguem mover-se por uma expectativa de céu não somente para depois da morte, mas, também para o aqui e agora dos nossos condicionamentos culturais e ambientais.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ecologia Humana



Se impactos dos humanos,
Geram tantos desenganos,
Sobre vastos ecossistemas,
Como ficam reais dilemas?

Na cultura afoita do descarte,
Tantos seres deixados à parte,
Precisam perecer silenciados,
Perante ídolos reverenciados.

Se a vida do planeta definha,
Em meio à ação mesquinha,
De humanos inescrupulosos,
 O que os tornaria respeitosos?

Sobre as alterações do clima,
Quão pouca gente se anima,
A reverter pertinaz ambição,
Que desrespeita toda criação.

Progresso desenvolvimentista,
Que exclui tanta gente da lista,
Precisa ser revisto e repensado,
Para inovado e humano legado!


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Picuinhas do poder



Da antiga herança de autoridade,
E do poder exercido na sociedade,
Persiste a tentação de impor leis,
Que controlem os fiéis nas greis.

Pastorais e movimentos labutam,
E aos orientados súditos tributam,
Modos rígidos de reza e de canto,
Com persuasão emotiva do pranto.

Fanáticos e fanatizadores obcecados,
Orientam seus desejos ensoberbados,
Para poder alcançar ampla influência,
Que viabilize galgar mais ascendência.

Movem-se pela excessiva enrolética,
Para enaltecer sua imagem estética,
E controlam através de ordem rígida,
Os súditos para uma condição frígida.

A evangelização vira assunto ignorado,
Porque importa só o servil discipulado,
Para ratificar as ambições triunfalistas,
Através das passadas soluções pietistas.


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Antolhos e cegueiras de fé



Como a fé não é um processo linear e nem necessariamente acumulativo, podem ocorrer muitas variações e oscilações nos efeitos e frutos da fé.
No tempo em que o transporte e as viagens dependiam muito de cavalos, descobriu-se um modo de evitar que os cavalos, enquanto andavam, pudessem se assustar com algum bicho ou sinal na beira da estrada. Para tanto, seus donos prendiam uma proteção de couro ao lado dos olhos dos cavalos, a fim de que vissem somente a linha reta para frente. É o que se chama de antolho, um empecilho para que o cavalo não tenha uma visão panorâmica do que se passa ao seu derredor.
Muitos orientadores de fé fazem algo similar com seus orientandos. Conduzem-nos com antolhos, psíquico-emocionais, que os fanatizam para fundamentalismos estreitos e radicais, e ainda, conduzem estas pessoas num processo de submissão para vulgares formalismos e exterioridades de rituais religiosos e ideológicos.
No Evangelho de Marcos (10,46-52) aparece uma bela ilustração de como Jesus lidou com cegos na fé: Bartimeu representa os discípulos da época e de nossos dias. Enquanto em cena anterior o evangelho descreve como Jesus agiu com outro cego, tão dependente e sem percepção da dimensão da fé, que foi levado por outras pessoas a Jesus para que o curasse. O peculiar do gesto de Jesus foi toma-lo pelo braço e levá-lo para fora da aldeia e dar-lhe uma atenção personalizada e o “cego” foi enxergando, gradualmente, mais e melhor.
Muitos cegos de fé, ainda hoje já nem sequer possuem autonomia para procurar redenção em Cristo e somente chegam a Ele através da mediação de outras pessoas. Outros, no entanto, mesmo com longa caminhada na fé sucumbem com a impossibilidade de perceber um caminho que realmente salva, porque os antolhos os desviaram para ideologias e para percepções muito limitadas e parciais da orientação apresentada por Cristo.
Apesar de lideranças religiosas se pensarem pessoas de muita fé, não conhecem quase nada de Jesus e, na verdade, se constituem em cegos que estão na beira do caminho. Gritam e berram suas expectativas por ajuda mágica, imediatista e isenta de quaisquer sofrimentos e de qualquer empenho pessoal. Desejam uma salvação messiânica que lhes propicie fama e domínio. Enfim, querem muito milagre e muita honra! Querem um triunfalismo, mas, seu agir se torna satânico, pois, dividem, separam e afastam.
Bartimeu, ao desvencilhar-se do manto, símbolo da sua compra de afeto e da cega submissão a um sistema escravizador, teve pelo menos uma intuição muito boa: desejava enxergar, porque se deu conta de que foi se tornando paulatinamente estreito e cego na organização da sua vida. Estava na beira do caminho...

O manto simboliza o antolho, mas, também simboliza a perda da consciência diante do processo consumista que insensibiliza e faz avançar na perda gradual de qualidade de vida. A resposta de Jesus a Bartimeu, certamente continua a mesma para os nossos dias: ande, que o desejo de enxergar mais e melhor nas motivações de fé, já estão salvando!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Poderes exotéricos



Em tempo de excessiva racionalidade,
Eclode por todo lado e com saciedade,
Uma vulgarização de milagre mágico,
Incapaz de romper o fatalismo trágico.

Do apelo ao transe como força divina,
Espertos mediadores delineiam a sina,
De mediar sorte, prosperidade e cura,
A quem, sedento e passivo, os procura.

O fácil apelo ao dote especial haurido,
De particular doação do Deus querido,
Aufere-lhes instâncias bem superiores,
Para borrifar sobre viventes inferiores.

Esmeram-se pelos seguidores devotados,
Que, submissos, obedientes e resignados,
Precisam seguir à risca suas orientações,
Para o alcance das divinas promanações.

Para assegurar o suspense da mediação,
Apontam repetição detalhista de oração,
Como capaz de trilhar o rumo exotérico,
Mas, que os submete ao nível periférico.

Alardeia-se muita pretensão triunfalista,
Enquanto o ar que se respira é fatalista,
E o verdadeiro milagre não é percebido,
E nem revelado por exotérico consabido.




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Educação



Quando os discursos da oficialidade,
Repetem numa exaustiva saciedade,
Que a educação é o único caminho,
Mentirosos educam no descaminho.

As mentiras vis repetidas à exaustão,
Educam a imensa e brasiliana nação,
De que as falsas verdades insinuadas,
Acabam em verdades bem ajustadas.

Se o exemplo da pior contravenção,
Justifica todo meio de manutenção,
Ratifica-se a educação da falsidade,
E se valida a mediação da maldade.

Quando gestores políticos insinuam,
O êxito do caminho que perpetuam,
Ensinam bem mais que professores,
E exemplos dos múltiplos mentores.

Na ausência dos parâmetros éticos,
E de exemplos de valores noéticos,
                                                      Educa-se pelo jeitinho da safadeza,
E omite-se todo senso de inteireza.


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Família Sofrida



Na modernização cultural e societária,
Uma tradição humana nada igualitária,
Rompe milenares princípios patriarcais,
De orientações familiares e individuais.

Quando a mulher inserida no mercado,
A disputar entre os outros um trocado,
Relega a educação de antiga herança,
E vira refém de uma sôfrega andança.

Com menos companheirismo em casa,
A afetividade facilmente se extravasa,
Na ventura de outros sonhados braços,
Que ensejam a busca de novos regaços.

Assim todo imaginado se torna possível,
E a igualdade vira assunto desprezível,
O amor passa a ser assunto provisório,
E filhos, um peso enfadonho e irrisório.

Nos fracassos das uniões consumadas,
Juntam-se as memórias já fracassadas,
                Com as interferências dos preteridos,
E o afastamento dos filhos queridos. 

Na ausência duradoura de sentidos,
O amor dos largos sonhos preteridos,
Deixa filhos resistentes e agressivos,
Que na socialização são hiperativos.




quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A tentação do triunfalismo



            É altamente surpreendente como o discipulado de Jesus Cristo desperta, em nossos dias, o caminho inverso do caminho efetuado por ele, e, que consiste em valer-se da pregação de um discurso cristológico para uma ascensão triunfalista.
            Em nome da fé a ser alargada, prega-se um moralismo casuístico para produzir servos e súditos, com muitos ditames e intermináveis normas a serem seguidas. Na medida em que a influência aumenta, aumenta também o rigor e a insistência para que os súditos cumpram rigorosamente os preceitos indicados. E tudo passa pelo imperativo categórico: “Faça isso e mais aquilo...”.
            Não se abre nenhuma questão aberta que possa ser avaliada e discernida, pois tudo é ordem rigorosa. E o que se produz neste contexto? Muita rivalidade, competição e mesquinharia em torno de precedência. Fica a impressão de que a coisa mais importante e central da comunidade, é aparecer, custe o que custar, e, mesmo que exija humilhação de outras pessoas da comunidade. Como na sociedade em geral, o que mais parece mover as pessoas, é a ideologia do poder. Assim, o que Jesus disse torna-se mera redundância mediadora para galgar ascendência sobre outras pessoas.
            Diante deste quadro, torna-se oportuno relembrar a memória de Cristo, conforme Mateus 10,35-45, pois, mais importante do que proclamar belamente uma declaração em torno da fé, faz-se necessário não pensá-la como simples mediação para aumentar glória e domínio.
            Conhecemos tão bem como uma tentação diabólica faz muitas pessoas atuarem na comunidade, somente para assegurar vantagens de poder e de controle.
            Jesus orientou seus discípulos para uma linha de ação frontalmente contrária à ideologia do poder que se manifestava em seu tempo: tornar-se grande, não pelo poder, mas, pelo serviço abnegado em favor de outros.
            Podemos perceber que a dificuldade manifestada pelos discípulos que acompanhavam Jesus, continua a ser uma dificuldade manifesta em nossas comunidades cristãs. Ali, pouca gente pensa em contribuir para o bem comum como servo. Muitos, no entanto, agem como reis ou rainhas.

            Por conseguinte, torna-se oportuno que possamos avaliar as relações comunitárias para perceber que possivelmente predominam mais inclinações em favor da superioridade e dos privilégios pessoais do que de humilde contribuição de serviço a favor do reino de Deus que tanto esperamos.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Trabalho lúdico



Do antigo anseio paradisíaco,
Sobrou só efeito afrodisíaco,
De laboração humanizadora,
Com a fascinação alentadora.

No afã da fome tecnológica,
Que suga a força psicológica,
Exaure-se o tônus muscular,
E o sonho da vida espetacular.

Na nova sedução da serpente,
De que o trabalho consistente,
Gera mais felicidade no jardim,
Acaba em sonho vago sem fim.

A vigilância direta sobre a ação,
Consegue revelar a esganação,
Tanto dos patrões e dos chefes,
Que intimidam com seus blefes.

Eliminada a força da liberdade,
Já não sobra nem solidariedade,
Mas, pessoas sobre si fechadas,
A evitar que sejam despachadas.

Oprimidas em seu duro trabalho,
E reduzidas a um mero frangalho,
Tornam-se vil e desumano objeto,
De ambiente brutal e bem abjeto.

Muito pouco se pensa em amizade,
E, menos ainda, em digna lealdade,
Pois o tempo lúdico dos bons ideais,
Esvai-se sem parâmetros angelicais.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Uma sabedoria de interesses



O extraordinário incremento para produzir um saber de controle e de dominação, quer de objetos, de pessoas ou de situações desconhecidas, é uma das marcas mais peculiares e expressivas da cultura do nosso tempo. O domínio dos objetos, sejam eles humanos ou materiais, constitui, aos ambiciosos em acirrada disputa, um meio dos mais exitosos para acumular riquezas e barganhar poderes.
Da Bíblia herdamos outra síntese: o que mais se procurava, sobretudo na fase final do primeiro testamento, era a sabedoria. Esta era vista como a mãe dos bens e o melhor de todos os tesouros.
Para os judeus exilados e residentes no Egito, ao verem a dominação e a forma ímpia como seus patrões e mandatários os humilhavam, lembravam as diferenças: enquanto os egípcios se mostravam prepotentes, aqueles judeus procuravam reafirmar sua confiança em Deus, diante de uma lida materialista e desprovida de qualquer crença para além da morte.
 A sabedoria, uma síntese de bom-senso e de perspicácia para captar o que se considerava importante na vida, era considerada um dom de Deus. Para haurir e aumentar a graça deste dom, considerado como fonte que aumentava capacidade de justiça, de retidão e solidariedade, bem como de boa ponderação sobre as melhores coisas da vida, os judeus pediam insistentemente a Deus que esta capacidade de discernimento lhes fosse concedida. Havia entre eles o pressuposto de que a sabedoria constituía um dom de Deus, que era auferido a quem humildemente o suplicava.
 A riqueza, por outro lado, era vista pelos judeus asilados no Egito, poucos anos antes de Cristo, como fator contrário e obstrutor do alcance da sabedoria, pois, aqueles mandatários, ricos e despóticos, gozavam de uma aparente plenitude de felicidade enganosa e imanentista, sem Deus e sem nenhuma crença a respeito do que poderia acontecer depois da morte.
Alguns anos mais tarde, um episódio envolvendo esta questão se estabelece no agir pedagógico de Jesus com um rico, acostumado a comprar o que desejava. Procurou a Jesus Cristo com o intuito de colher informações a respeito do que fazer para garantir o direito de vida eterna. Tratava-se de alguém que seguia, como bom judeu, o rigor das leis estabelecidas e que, por isso mesmo, se considerava muito justo, razão pela qual certamente esperava rasgados elogios decorrentes de bajulação feita a Cristo, uma vez que se considerava pessoa íntegra e impecável diante da Lei. Assim como conquistou muitas coisas, desejava conquistar a vida eterna.
No procedimento educador de Jesus Cristo centralizava-se a sabedoria e não a riqueza, vista como bênção. A sabedoria permitiria auscultar as interpelações de Deus, enquanto que a Lei antiga justificava exterioridades legalistas.
O gesto bom e amoroso de Cristo foi o de apontar ao bajulador que, para ser justo e garantir a vida eterna, poderia vender seus bens e socializar um caminho de salvação, uma vez que pensava em consegui-lo por si mesmo e apenas para si mesmo.
Faltava a prática do amor, que é mais do que a lei e mais do que pensar-se agraciado por muitos bens materiais.





quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O mito do superior



As múltiplas culpas insinuadas,
Às imensidões não graduadas,
Incutem no seu status inferior,
Dependência ao que é superior.

Em nome do título acadêmico,
Esconde-se um agir endêmico,
De quem muito pode explorar,
E com argumentação desaforar.

A barganha de agir com direito,
Ignora todo e qualquer respeito,
Ao que é explorado à exaustão,
Sem dó e sem sinal de gratidão.

A maioria vive da miséria alheia,
E escorropicha até sangue da veia,
Para locupletar-se em mais poder,
Que deixa os outros a se escafeder.

Quando o exemplo régio da nação,
Revela uma aguda procrastinação,
Da safadeza de quem foi educado,
Ensina-se que o mentir é o legado.

Ao se gerar um acadêmico saber,
Deixa-se de haurir e de perceber,
Que as virtualidades tão humanas,
Podem tornar santas as profanas.











terça-feira, 6 de outubro de 2015

Imperativos categóricos



Dos apelos fantasmagóricos,
Aos tantos anelos eufóricos,
Duma economia globalizada,
Resta a referência deslizada.

Discurso religioso categórico,
Ao lado do político folclórico,
Universaliza a ambição voraz,
Que engole todo rumo da paz.

O imperativo racionalizador,
Que endeusa o conquistador,
Mune-o de técnica científica,
Que sorve a vivência pacífica.

No lucrar da ordem categórica,
Esconde-se a lida nada eufórica,
Que devasta a pródiga natureza,
E força imensidões à vil pobreza.

Demais informações relativizam,
Todos os que anelam e precisam,
Da estabilidade e da participação,
E da memória de forte satisfação.

Sob o influxo de ações relativistas,
A voz oculta de vastas conquistas,
Age com categóricos imperativos,
Sob os falsos e atraentes lenitivos.




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A lei para a vida, ou a vida para a lei?



            Questões bíblicas sobre a relação entre marido e esposa, já se manifestaram há muitos séculos antes de Cristo, e voltam a estabelecer-se com novas problemáticas em nossos dias atuais. Uma delas é a que envolve direitos do marido e da esposa.
 A Bíblia parte do pressuposto de que Deus fez homens e mulheres para uma relação de complementariedade e que, o melhor fator deste processo, é o do amor recíproco.
            Ao aparecerem dificuldades de convivência entre marido e esposa no antigo Israel, depois de ponderações sobre os casos, estabeleceu-se uma regra que permitia anular uma relação estabelecida. Da antiga legislação do tempo de Moisés abria-se um caminho de separação de uma união matrimonial; nesta, o marido levava ampla vantagem sobre a mulher. Os direitos eram desiguais. O homem, por razão qualquer, podia dispensar sua companheira. Eventual interesse por outra mulher mais simpática, ou, suposta como mais capaz de gerar muitos filhos, já se tornava razão suficiente para que a esposa fosse despedida e outra fosse adotada. Bastava que o marido desejasse a separação, que a mulher ficava sem direitos a nada.
            Criava-se, então, um problema novo para as mulheres rejeitadas. Na fase deuteronomista, posterior à mosaica, chegou-se a novo consenso que visava favorecer as mulheres rejeitadas em seu prejuízo. Poderiam, segundo a Lei, receber uma carta de divórcio. Isto, pelo menos, lhes daria uma chance de contrair outro enlace. Como vítimas de uma situação cultural, as mulheres sempre saíam em desvantagem. Mesmo assim, no tempo de Cristo, tal legislação ainda estava em vigor.
            Uma elite legisladora foi interpelar Jesus Cristo, para saber da sua posição em relação à antiga lei estabelecida. Ao mostrar que a lei devia estar a serviço da vida e não o inverso, em que a condição da mulher estava na dependência do homem, Jesus também relativizou o peso desta antiga lei: a dureza do coração masculino é que estabeleceu aquela forma favorável ao homem, altamente prejudicial à mulher.
            Na contrapartida da condição de vida justa, Jesus mostrou aos fariseus que seu fundamentalismo rigorista e injusto estava sendo inadequado. Porque tanta regalia para o homem e nenhum direito para a mulher? Assim, Jesus remeteu os fariseus ao que já fora deduzido no livro do Gênesis: que nem o homem e nem a mulher foram feitos para serem inferiores e coisificados como objetos. Por conseguinte, não caberia ao homem tanta regalia de vantagens sobre a mulher. Constituídos da mesma dignidade e da mesma liberdade, não caberia ao homem o direito de dispensar sua esposa por interesse fútil, sem que ela tivesse o mesmo direito em relação ao seu marido.

            Em nossos dias, as dificuldades para o entendimento entre maridos e suas esposas dependem de uma porção de outros fatores culturais diferentes; mas, tampouco justificam que uma pessoa venha a ser mantida como mero objeto descartável de outra pessoa e, pior ainda, que seja mantida somente enquanto propiciar vantagens de desfrute.

O grande jardim



Hegemônico sobre outros animais,
E com técnica de eliminar os rivais,
O espírito humano beira a demência,
E se consagra na mórbida violência.

Longe de cuidar da mãe terra a vida,
Administra mal e de forma indevida,
Toda a condição do jardim da Terra,
E das ricas virtualidades que encerra.

Pervertido pela ambição de acumular,
Deixa os roubados sem o humano lar,
E não se importa com o vasto efeito,
Do seu voraz e obcecado desrespeito.

Longe de facilitar a humana interação,
Segue pertinaz na sua procrastinação,
Sem avançar na básica transparência,
E nem na bondade e na benevolência.

A sã complementariedade de gênero,
Tornou-se somente meio do efêmero,
Para um desfrute e descarte irrisório,
Como algum objeto vil e provisório.

Mais do que jardins de ostentação,
Cabem os gestos de solidária ação,
Para redenção da planetária agonia,
Os que deseja viver bem todo o dia.  







Dor da injustiça



Tantas humanas dores,
Aquilatam os pendores,
Da tenebrosa injustiça,
Que enaltece a cobiça.

Alguns culpam a Deus,
Que vinga filhos seus,
Com constrangimento,
E amplo padecimento.

Outros veem humanos,
Gestores dos enganos,
A explorar vida alheia,
De forma cruel e feia.


Reduzidos a escravos,
E sem os desagravos,
Tantos entes fenecem,
E submissos padecem.

Esconde-se na proeza,
Mau trato à natureza,
E bajulação do nobre,
Que extorque o pobre.

O grito dos injustiçados,
E de tantos desgraçados,
Clama por solidariedade,
E, por mais fraternidade.












<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...