terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Alforria dos corruptos




Quando ladrões notáveis,
Livres em atos execráveis,
Abrandam regras válidas,
Crescem as faces pálidas.

Merecedores de alforria,
Não encontram a alegria,
De amainar dor de fome,
E sua dignidade se some.

Enquanto isso, os nobres,
Metidos a pais dos pobres,
Roubam à farta saciedade,
O patrimônio da sociedade.

Compram sua dependência,
Com parcelas da indecência,
Das espoliações praticadas,
Nas falsas ações recatadas.

Adaptam as regras válidas,
E as proclamam inválidas,
Sempre que não justificam,
Atos ignóbeis que praticam.

Alargam bem sua consciência
Para agir com a maledicência,
De roubar e esnobar riqueza,

Insensíveis à sofrida pobreza.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

"Corrupticida"




Ante qualquer virose infecciosa,
Investe-se em pesquisa rigorosa,
Para descobrir antídotos eficazes,
Que eliminem efeitos mordazes.

Bom seria encontrar bactericida,
Ou um fulminante corrupticida,
Para imunizar lidas mandantes,
Dos indevidos roubos gritantes.

O corrupticida de efeito colateral,
Teria que infestar em tempo real,
Todo larápio maldoso e poderoso,
Para jamais sentir qualquer gozo.

Assim o temor de graves sequelas,
Motivaria os mandantes de trelas,
A exercer sua função como serviço,
Sem qualquer soldo e sem enguiço.

Um resultado do bom corrupticida,
Permitiria alastrar lida enternecida,
Para eliminar estratificações sociais,
Que ferem os direitos fundamentais.

Outro efeito salutar do corrupticida,
Permitiria uma organização da vida,
Bem mais justa e menos denegrida,
Do que esta governabilidade falida.




sábado, 28 de janeiro de 2017

Um paralelo interessante




            O primeiro testamento da Bíblia enfatizou muito o lugar alto da montanha como lugar da experiência de Deus. A síntese revelou que, nestes lugares especiais, Deus se tornou mais perceptível e próximo. E o ícone deste bom encontro acabou assimilado com sendo Moisés. Subiu ao monte e ali fez uma experiência hierofânica, isto é, sentiu como nunca antes tinha sentido, a bondade de Deus que o convocava para agir positivamente na libertação do povo. Das regras ético-religiosas decorrentes desta experiência, o alto da montanha também serviu para promulgá-las e firmá-las como um contrato para a boa relação com Deus.
            A novidade de Cristo, vista sob esta moldura religiosa, levou o evangelista Mateus (5,1-12) a descrever que a presença de Jesus no alto da montanha, manifestou um legado muito mais amplo e vital do que do que os dez mandamentos. O público de Jesus era totalmente distinto do público de Moisés. Do povo escravizado que desejava liberdade, os interlocutores de Jesus Cristo eram ex-proprietários de terras e espoliados de seus bens pelo império romano. Jesus encontrou uma multidão de pobres que haviam sido injustiçados.
            No lugar da exigência de regras a serem rigorosamente seguidas, Jesus surpreende a multidão deserdada e pobre e a declarou feliz. Parece uma ironia. No entanto, esta multidão revelava algo profundamente revolucionário (no sentido de força capaz de perverter a injusta ordem estabelecida): na sua pobreza havia uma abertura essencial de que o amor de Cristo poderia ajuda-los a se livrar daquela condição de nada representar na sociedade oficial.
            A presença de Cristo ofereceu àquela multidão, o horizonte inovador do alcance de uma alegria transformadora. O encontro acolhedor de Jesus e a multidão permitiu a visualização de um reino, não o da espoliação, mas o da presença de Deus, mediante alegria da convivência.
            O novo código de regras para experimentar Deus, a partir de Jesus, estabelece uma profunda inversão de valores: a bênção de Deus não implica mais em prosperidade material e nem no êxito das conquistas dominadoras. Por outro lado, os ricos não são mais vistos como agraciados da bênção de Deus. Esta falsa representação de felicidade foi declarada caduca. Privilegiados, ricos e bem estabelecidos na sociedade não se constituíam mais nos simpáticos das benemerências de Deus.
            A nova lógica invertia as referências, pois, como no jeito de Maria, - infelizmente transformada em Deusa rainha nos dias atuais, - os pobres que subiram à montanha receberam a incumbência de inverter o conceito dos agraciados por Deus: precisamente eles, os injustiçados do sistema social excludente e usurpador, foram interpelados a serem os construtores do novo Reino. A solidariedade seria capaz de encher a mesa destes pobres e dar-lhes sentido para a existência. Todos quantos se sentiam pobres, fracos e incapazes diante do sistema de organização social perverso, receberam a interpelação de que poderiam ser os primeiros a desfrutar das alegrias do reino.

            A compaixão de Jesus revelou que este reino novo já estava irrompendo no meio daquele grupo. Diante da lei caída do alto através de Moisés, Jesus promulgou o poder da força transformadora que emergia da fragilidade interior de multidões ignoradas. Mostrou, em suma, um foco completamente inusitado diante dos tradicionais quadros religiosos.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Um programa de vida



            Vasto programa de consumo nivelou as diferenças humanas para despertar em todas as pessoas a mesma necessidade de comprar coisas para ser feliz. Enquanto governantes disputam a hegemonia de maior poder de venda, cada vez mais, pessoas vão se dando conta de que a esperança humana mais profunda clama por outras coisas e que não fazem parte deste determinismo de ficar atrelado ao poder de pessoas e organizações fortes.
            Ainda que possa ser um pequeno resto, há pessoas que encantam com seu programa de vida e, impregnados por princípios cristãos, agem sem a obsessão de poder e de levar a consumir. Constituem-se em portadores de um fermento capaz de levedar valores para relações humanas que ainda são muito desejáveis: atenção à vida das pessoas, mais do que a voracidade de acumulação e controle.
            Antigas deportações de proprietários de terras das proximidades do mar da Galiléia, em Israel, ensinaram aquele povo sofrido a não desanimar diante das prepotências imperialistas, como a dos romanos no tempo de Jesus Cristo. Curiosamente Jesus não dirigiu sua primeira atenção aos influentes de Roma, mas àquela gente sofrida que tinha sido espoliada de seus pertences e de suas terras.
            Jesus reconheceu naquela gente uma virtude rara: em vez de internalizar a maldade romana, ainda cultivava a esperança de que Deus poderia ajuda-la. Manifestava-se ainda uma retidão de coração. Por isso, Jesus declarou feliz aquela multidão. Esta abertura ao agir de Deus, levava-a à solidariedade e à coesão para não sucumbirem em resignação fatalista.
            Jesus salientou naquela gente o grande desejo de justiça, sem recorrer aos meios violentos para obtê-la. Esta pobreza interior de desejar ardentemente algo melhor, não visava uma exploração dos semelhantes para ascender socialmente à custa deles.
            Se Jesus felicitou o modo de ser daquele povo das margens da Galiléia, estava, simultaneamente, elogiando o senso de justiça que reinava naquele ambiente. Tratava-se, evidentemente, de uma justiça muito diferente desta que nos guia nos dias atuais. Por isso, da Galiléia espoliada de nossos dias, gente pobre, humilde simples, de favelas e de tantas comunidades sem relevância social, ainda se pode encontrar merecedores de elogio pelo seu senso de retidão, pelo seu desvelo em favor da paz e da solidariedade. Parece que este modo de ser ainda se revela mais simpático e eficaz para a construção de uma convivência menos atribulada que a dos grandes gestores da vida pública.
            Como nas situações declaradas felizes por parte de Jesus Cristo, evidencia-se que hoje estas mesmas situações apontam esperanças mais eficazes do que o da grande e perversa manipulação humana para a felicidade e riqueza de poucas pessoas.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Fagulhas de esperança



Sob o idealismo de elevados planos,
Emergiram estupefatos desenganos,
Pois, mesmo com os nobres desejos,
Vieram frutos de amargos remelejos.

No outro jeito de pensar a bondade,
Pode ela ver na humana fragilidade,
Um lastro de disfarçado mimetismo,
Distante do fantasiado romantismo.

Com tantas humilhações e desacatos,
Presentes nos gestos bons e pacatos,
Torna-se evidente que o mundo real,
É bem mais contundente que o ideal.

Preceito religioso pouco prestigiado,
Aponta o perdão como valor sagrado,
Para não repetir a círculo da vingança,
Porque arruína toda a boa esperança.

Mais fácil é integrar uma humilhação,
Do que ser o fautor de agressiva ação,
Pois, o desrespeito do ato impetrado,
Gesta um círculo vicioso desregrado.

Nos sinais gratuitos de boa acolhida,
Renascem forças da energia tolhida,
Que realizam na pequenez da alma,
Milagres para propiciar vida calma.





terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Tempos líquidos



Como a água que se esgueira,
Entre pedras e desvios da eira,
A socialização de nosso tempo,
Desliza diante do contratempo.

O referencial de uma pertença,
Já não é de projeto e de crença,
Mas de adaptação ao prazeroso,
Para viabilizar o máximo gozo.

Exaurida a vantagem oferecida,
Nem acerto e nem a despedida,
Apontam um prognóstico sólido,
Diante do provisório tão insólito.

Dos sumiços em  possíveis frestas,
Da vida sem as aprumadas arestas,
Abrem-se caminhos de adaptação,
Na busca de inusitada adequação.

Estável apenas enquanto vantajosa,
A nova moldagem, nada dadivosa,
Rege-se por futilidade de vantagem,
Para haurir bom proveito da imagem.

Some responsabilidade do prometido,
E posterga-se o quanto foi assumido,
Porque a adaptação bem oportunista,
Já espreita escorrer para outra pista.




 







Água



Preciosa como o ouro adorado,
De brilho superior ao dourado,
Encanta pela azulada coloração,
E mexe na essência do coração.

Enriquecida por ricos minerais,
Alimenta os ares e mananciais,
E na a riqueza tão exuberante,
Vitaliza com esmerado talante.

Da nobre função de alimentar,
E de acalmar a sede elementar,
Mereceria mais que a ambição,
Cultuada na humana condição.

A sua coloração argenta e bela,
Fornece mais que toda a trela,
Das humanas procrastinações,
Enrustidos em perversas ações.

Essencial à condição humana,
Apesar da ingratidão sacana,
É merecedora de veneração,
Mas recebe ignóbil agressão.

Maculada por tantos dejetos,
Retorna aos humanos abjetos,
Para ostentar a sina da morte,
     E indicar o rumo da sua sorte.      


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Fruições



É tão prazeroso fruir,
Sem precisar denegrir,
Uma beleza cultivada,
Com postura recatada.

Estar no meio da beleza,
De contagiosa inteireza,
Prospecta o sentimento,
Para silenciar o lamento.

Sob a maldade humana,
Uma nova luz promana,
A apontar uma grandeza,
De bondade com sutileza.

Emerge como flor na eira,
E desabrocha tão fagueira,
Para atrair a mágoa sofrida,
E deixa-la bem esmaecida.

Das amizades partilhadas,
Com furtivas gargalhadas,
Aumentam os ares do céu,
Para enterrar a dor ao léu.

Até o contágio do universo,
Enseja integrar o perverso,
Para inseri-lo num suporte,
Que firme inusitado aporte.





quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Convocação animadora



            Em tempos de raras notícias alentadoras, torna-se valioso lembrar o início da atividade pública de Jesus Cristo, que, segundo Mateus (4, 12-23) salienta o anúncio do Reino de Deus, e, já acompanhado de gestos que indicaram um rumo aos que ele convocava para que o ajudassem a alargar a comiseração e os sinais indicadores de um tempo novo.
            Mateus certamente lembrava que o antigo sonho despertado com a deportação das tribos de Zabulon e de Neftali, - que estavam estabelecidas na região da Galileia, e que foram deportadas para a Assíria no ano 732 antes de Jesus Cristo, - e se encontravam em plena escuridão e ausência de razões para estarem contentes com a vida, foram, naquela ocasião, convidados pelo profeta Isaías a cultivar uma esperança na ação eficaz de Deus agindo no meio deles.
            Mateus viu no início da atividade de Jesus a confirmação daquela antiga esperança. Se Jesus começou a fazer curas, certamente não as efetuou na perspectiva curandeirista, mas, como sinal que apontava para um tipo de organização solidária entre as pessoas, capaz de mostrar Deus presente no meio dos acontecimentos.
            O eixo do discurso de Jesus, no entendimento de Mateus, era o da conversão. Por isso os sinais realizados indicavam que a mudança de vida constituía uma condição necessária para uma vida mais feliz. As pessoas teriam que sair do clima de desânimo fatalista de apenas esperar que as autoridades estabelecidas efetuassem as aguardadas ações humanitárias.
            O que surpreende na narrativa de Mateus é o do perfil dos primeiros convidados. Eram pobres pescadores. Jesus, no entanto, lhes apontava uma vida de mais ação humanitária, com vistas a “pescar” pessoas, e, com a novidade do que Jesus apontava, esta ajudaria a serem mais felizes através da constituição de grupos de solidariedade para rezar, partilhar a vida, e, através de nova forma de celebrar o culto a Deus, gestar comunidades de boa convivência.
            Os pobres pescadores tiveram a capacidade de fazer renúncias do seu cotidiano e se engajaram no anúncio dos traços mais importantes para que pudesse acontecer um reino, - não de imperialismos e prepotências como estavam acostumados a suportar, - mas, tratava-se de um reino de salvação. Assim como aderiram ao projeto messiânico de Jesus Cristo, foram, progressivamente, adaptando seu modo de ser e de lidar com as múltiplas fragilidades humanas que encontraram pela frente, e foram se dando conta de que o discurso de Jesus era portador de uma novidade da parte de Deus.

            Relembrar este episódio destacado por Mateus pode indicar-nos um discernimento para que a renúncia a certas praxes cotidianas, pode nos abrir um caminho mais solidário e de perspectivas renovadoras diante de um quadro social com poucas evidências de salvação para os sonhados dias melhores.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Bondade



Na elevação dos bons sentimentos,
Erguem-se e flutuam novos alentos,
Em torno da solidariedade possível,
E de futuro humano mais indizível.

Se o desvelo da atenção solidária,
Gesta a vitalidade extraordinária,
De criar esperanças promissoras,
Também alenta forças inovadoras.

Neste milagre sutil e contagiante,
A mente elevada no ar extasiante,
Inebria o entorno de bons odores,
E catalisa elã dos gratos pendores.

Diluem-se as mágoas tão dolorosas,
E somem com memórias escabrosas,
Que armaram cerco na consciência,
Para arruinar a valiosa consistência.

Na recuperação da energia cativante,
Que perpetra o sentimento extasiante,
Renasce a certeza do poder humano,
Superar o vil momento de desengano.

Ao lado da farta bondade constatada,
No desvelo de atenção tão recatada,
Ratifica-se a certeza de um apanágio,
Mais fulgurante que o mau presságio.









segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O relógio da torre



De elevada imponência,
Ignora toda premência,
De desejada segurança,
Para uma leve andança.

Parado, sem movimento,
Não oferece bom alento,
À pressa tão precipitada,
Da vida fugaz e disparada.

Lembra saudoso passado,
Do tempo pouco agitado,
Sem comprimir o tempo,
E nem focar contratempo.

Ativava compasso molengo,
Das belas horas com dengo,
Cheias de demorada fruição,
No embalo de leve sensação.

Sem pressa de agitadas horas,
O relógio parado das demoras,
Da torre desnudada de sonhos,
Permitia devaneios medonhos.

O relógio do tempo comprido,
Deixava bem solto e estendido,
O assunto fútil da conversação,
Sem uma ativa afoiteza na ação.







quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Tentação de monopólio



Como em imperialismos,
Recriam-se moralismos,
Para controlar asceclas,
Sob as religiosas teclas.

Recordar a fé herdada,
Parece coisa passada,
E o dom da fé ansiado,
Esmorece sem legado.

A memória do salvador,
Com seu apelo redentor,
Não é para firmar poder,
Mas, atos de se condoer.

Sob o eixo das piedades,
Escondem-se maldades,
Das práticas coercitivas,
De ações nada lenitivas.

A alegria contagiante,
Vira sonho diletante,
E a rara simplicidade,
Esvai-se da piedade.

O aporte de protagonistas,
De passadas e boas pistas,
Permite firmar a vontade,
Capaz de inovar a piedade.




Visibilidade



Mais do que amados,
E bem ambientados,
No apoio à bondade,
Querem visibilidade.

Na desvalia do real,
Nem importa o leal,
Mas boa aparência,
E larga precedência.

O imagético vistoso,
Disfarça o bondoso,
E impõe o consumo,
Sem lídimo aprumo.

Fitam dependentes,
Pouco conscientes,
Que sigam o visual,
Sem rumo pessoal.

Vale mais o visível,
Que gesto indizível,
A revelar o coração,
E sentimento bom.

Desejo olho animador,
De efeito restaurador,
Que aponte o sentido,
Ao humano esmaecido.






quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Prurido de esperança



Como coceira causticante,
Vai e volta com rompante,
Para manifestar seu prurido,
Tão carente e ensandecido.

Enfeitiçada por atenção,
Persuade até o coração,
Para captar seus enleios,
Com sedutores meneios.

Manifesta a todo instante,
Encantamento incessante,
Para que só nela eu pense,
E todo o entorno dispense.

Gera desatenção no serviço,
E não percepção do enguiço,
Porque entra no meu espaço,
Para envolver-me no regaço.

Ali aponta mundos e fundos,
E absorve os fatos iracundos,
Para alargar vasta grandeza,
Dum mundo pleno de beleza.

No ar renovador que ostenta,
Leva a aceitar o que desalenta,
E antecipa ricas possibilidades,
Da instauração de virtualidades.


Desejos de Ano Novo



            Por mais variadas que sejam as expectativas em torno de cada ano vindouro, certamente se evidencia algo comum: todos querem que seja melhor. Com ou sem lentilha e cabeça de porco, com champanhe ou sem, com roupa branca ou de qualquer outra cor, com “revellion” ou sem, com muito ou pouco foguetório, o importante é que a celebração de passagem permita avaliação ponderada do ano vivido e motive bons propósitos no modo de ser.
            O povo bíblico costumava lembrar outra passagem mais importante que a de um ano, a da criação do universo, porque revelava o amor de Deus e a sua bênção às condições da vida humana, com toda a riqueza de ambientes e sistemas de vida do entorno.
            Desde muitos séculos antes de Cristo, se tornou oficial um rito judaico de prece para lembrar que Deus abençoa. Por isso, a cada novo ano judaico, os sacerdotes invocavam a Deus em favor do povo de Israel. Pediam que este povo fosse abençoado, sob a proclamação da fórmula: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor te mostre a sua face e conceda-te a sua graça! O Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a paz! (Nm 6, 22-26).
            Quando tantos desejam a bênção de riqueza, de aumento considerável dos bens materiais unicamente para si, poucos serão agraciados pela bondade que deseja o bem aos outros. Também poucos poderão sentir-se amparados e cuidados por Deus para sentir seu rosto, como que a dizer: estou gostando do que você faz! Continue!
            Desejar o bem de todos, implica, necessariamente, em expectativa de que até os grandes corruptos possam mudar suas obstinações pessoais e interesseiras para se tornarem mais humanitários e sensíveis ao sofrimento da maior parte do povo da nação.
            Se nós cristãos, neste dia de passagem, - com toda sua carga simbólica de anseios e boas previsões, - pensamos o bem global das condições de vida, podemos lembrar, com alegria, o itinerário de vida, como sinal do amor de Deus, manifestado em Jesus de Nazaré.
            A atribuição da palavra “Jesus” já significa “Deus salva”! Quem sabe, que a antiga oração sacerdotal de ano novo, possa nos levar, no jeito de Jesus Cristo, a pensar mais nos outros do que em nós mesmos. Assim, poderemos tornar-nos instrumentos da bênção de Deus para que muitas pessoas captem a imagem de um rosto amável, capaz de despertar sentimentos de paz ao invés de depressão, de pânico, de medo e de perseguição.
            Nada melhor do que lembrar também a mãe de Jesus Cristo, para que sua maneira de portar-se em relação aos outros, o nosso país possa sentir-se abençoado e viver efetivamente mais paz, não a da intimidação, mas, aquela advinda da segurança básica e do bom relacionamento.


<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...