terça-feira, 18 de agosto de 2020

DORES PUNGENTES

 


Ao lado das costumeiras,

Doem aquelas ciumeiras,

E as de flagelos psíquicos,

De efeitos transpsíquicos.

 

Dói outrossim na emoção,

Aquela silenciosa invasão,

Dos quietos vírus mortais

Nem perceptíveis nos ais.

 

Ao lado desta pandemia,

E de tanta outra toxemia,

Dói sentir entes queridos,

Que falecem preteridos.

 

Porque o nosso ambiente,

Sujeito à esta dor ingente,

Flagela tantas existências,

E afeta suas convivências?

 

Seria a inútil devastação,

Fruto de pura maldição,

Que um Deus vingativo,

   Promulga como lenitivo?

 

Apesar de cegueira moral,

E de maldade tão fulcral,

A dor leva à auto-análise,

De pungente psicanálise:

 

Nos atos ensimesmados,

E sonhos ambicionados,

Some toda sobriedade,

E compassiva lealdade.

 

A dor pungente aponta,

Para vida que não conta,

No procedimento inútil,

De vaidosa ambição fútil.

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

ARTIGOS DE FÉ



Propriedade exclusiva das religiões,

Perdeu o seu poder de orientações,

E acabou no capitalismo neoliberal,

Dos governos de finança do capital.

 

Blindado por vistoso aparato militar,

Com tecnologia da força paramilitar,

Incorpora núcleo dos muitos desejos,

E se tornou teologia de bens sobejos.

 

No perfil de dogmas inquestionáveis,

Criou as regras rígidas e irreparáveis,

E exigem crença absoluta no mercado,

Valorizando competição e seu legado.

 

Do culto regular e obrigatório à ciência,

Para propriedade pessoal de excelência,

A mediação da tecnologia tão virtuosa,

Complementaria toda razão prodigiosa.

 

Agora o decreto de dogmas inusitados,

Espalha na paixão e afetos revigorados,

Absolutização do capitalismo financeiro,

Como único verídico no mundo inteiro.

 

Assim os desejos humanos canalizados,

E veiculados nos uniformizados legados,

Sucumbem diante do medo dos castigos,

Que a infração alarga com novos artigos.

 

Na santificação do empreendedorismo,

Tudo deve ser convertido no idealismo,

Do homem feito coisa livre do passado,

No jogo mortal de sumir no acumulado.


domingo, 16 de agosto de 2020

PRÁTICAS REPARATÓRIAS



Largo tempo da vida humana,

E de fazeres da lida cotidiana,

É empreendido nos reparos,

Para contornar os anteparos.

 

Muitíssima gente do planeta,

Vive da prática de ampulheta,

Para reparar desde banheiros,

A portões, jardins e terreiros.

 

Outros lidam com os doentes,

E múltiplos tipos deficientes,

Quer os psíquicos e afetivos,

Aos de carentes de lenitivos.

 

Com as reparações mentais,

Existem terapêuticas vitais,

A exigir reparos cirúrgicos,

Com enxertos metalúrgicos.

 

Inúmeros centros estéticos,

Ao lado daqueles protéticos,

Reparam estragos e feiuras,

Para aparências de canduras.

 

Os mecânicos e lanterneiros,

Encanadores e enfermeiros,

Aos reparadores de fraturas,

Nenhum oferece caricaturas.

 

Na complexa rede de reparos,

Os corpos e objetos tão caros,

Transformam seres humanos,

Em híbridos cheios de planos:

 

Parafusos, conexões e válvulas,

Com próteses, enxertos e bulas,

Preenchem imaginário estético,

Sem a memória de código ético.

 

Perde-se identidade e memória,

E tantos gostam de uma glória,

Constituídos somente objetos,

Das vitrines e aparatos abjetos.

 

  Na adoração da objetalidade,

O corpo alterado à saciedade,

É domesticado para a venda,

De multiuso de boa oferenda.

 

Até os sorrisos e belas imagens,

Rodeados de muitas bricolagens,

Viram reféns dos manipuladores,

Que sugam imagéticos pendores.

 

 

 

 

 

 


sábado, 15 de agosto de 2020

CONCRETO BRUTAL

 


Ao lado do sentido objetivo,

O do real de fato definitivo,

Pauta a dureza persistente,

De evidência tão insistente.

 

Fatos brutais e marcantes,

Mais e menos insinuantes,

Apontam a tirana história,

Sem boa razão para glória.

 

Política do corpo humano,

Revela desprezo e engano,

E adora seu uso de venda,

Para vantagem estupenda.

 

O corpo forte e inteligente,

Seja o vistoso e o atraente,

Desova no compartimento,

Como valioso emolumento.

 

Recauchutado de próteses,

Acaba refém das apóteses,

E descartado como poeira,

Aliena-se da humana eira.

 

Some no agregado de areia,

Com o cimento que medeia,

A massa consistente e forte,

Para uma compactada sorte.

 

Integra no concreto arejado,

Solidez do concreto armado,

Ou do betuminoso das ruas,

Para eivar indevidas estruas.

 

O concreto simples ou magro,

Protendido, ou ciclópico agro,

Ou pré-moldado e reforçado,

Invade sempre mais o relvado.

 

A brutal e solidificada rigidez,

Incorpora hominídea altivez,

E amealha seu espaço vital,

Para apagá-la no seio fatal.

 

 

 

 

PADRINHOS E PADROEIROS



Vistos como heróis altaneiros,

Configuram papéis aduaneiros,

Capazes de liberar os recursos,

Para bem difíceis transcursos.

 

Imprevistos econômicos e de fé,

Travam anseios na marcha ré,

E batem na servil dependência,

Para obter uma benemerência.

 

Em tal atrelamento parasitário,

Cria-se investimento temerário,

De efetuar renúncia à liberdade,

E endividar-se com a identidade.

 

Com esperança pobre e sofrida,

E na condição já comprometida,

O atrelamento deixa o resignado,

Sob cobrança de um bom agrado.

 

A lealdade política apadrinhada,

Requer uma submissão devotada,

Com a quitação e a benemerência,

A quem socorreu com clemência.

 

Validam-se assim relações brutais,

Que esperam gestos e festas leais,

Para assegurar em mundo injusto,

O conformismo recatado e vetusto.

 

Na introjeção da tática opressora,

Lógica da vantagem esmagadora,

Requer deslealdades e mentiras,

Para contornar imprevisíveis iras.

 

Profetas contra apadrinhamento,

Acabam padrinhos de bom alento,

E reproduzem meios colonialistas,

Com obsoletas táticas integristas.

 

 

 

 

 

  

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

MOVIMENTO DE VISITA

 

 

O ambiente fúnebre de visita,

Tétrico a extrapolar a escrita,

É marcado pela intolerância,

Sem perspectiva de reatância.

 

Promessa paradisíaca de ação,

Para gerir poder e ostentação,

Aponta caminho de si mesmo,

Sem chance para algum esmo.

 

Da valiosa cultura das visitas,

Cordialidade de ações bonitas,

Proporcionava fruição da vida,

Com valiosa ação enternecida.

 

Na memória de Isabel e Maria,

Destaca-se mais do que a alegria,

Uma razão que expande a vida,

Com a atenção da boa acolhida.

 

A visitante apressa seus passos,

E acelera cardíacos compassos,

Para predispor-se sem cobrança,

Nem pressupor vantajosa fiança.

 

Deseja partilhar e prestar ajuda,

Na consciência aberta e desnuda,

Para colocar-se em boa sintonia,

E tirar alguém da sua monotonia.

 

Vai desinteressada por si mesma,

Nada movida por razão seresma,

E sintoniza a sua prima a visitar,

Sem uma vantagem a requisitar.

 

A visitada extrapola sua rotina,

E se encanta na luz que ilumina,

A ponto da exultação na alegria,

Que expandiu humor de euforia.

 

A recuperação da lídima riqueza,

De visitar com gratuita inteireza,

É terapêutica para fecundidade,

Que salva a vida na dificuldade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

RELIGIÃO CONFORTÁVEL

 

 

A fácil pressuposição,

Do Deus da boa ação,

A presentear amigos,

Leva a fitar embigos.

 

Com apelo vingativo,

Ele se torna lenitivo,

Para lesar o inimigo,

Como arqui-inimigo.

 

Sob Deus castigador,

Discurso ameaçador,

Apregoa a conversão,

Para receber perdão.

 

Mas sem a mudança,

A vida de lambança,

Destroça a natureza,

E a humana inteireza.

 

Idolatria do mercado,

Polui o ar e o relvado,

Louco pela produção,

Sem a humana afeição.

 

A Religião conformista,

Sugere uma fé integrista,

Enquadradora do divino,

E do passivismo cretino.

 

Assim, não surpreende,

A fácil certeza de Deus,

Sem sombra e silêncio,

Nem profético anúncio.

 

Sem apelos superiores,

Totalitários pendores,

Param de uniformizar,

E com Deus equalizar.

 

Identificação com Deus,

Que legitima os corifeus,

Vive dum poder fictício,

De totalitário malefício.

 

 

 

 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

SENTIMENTOS RESSENTIDOS


 

Tanta queixa e lamúria,

Tristonha com penúria,

Extravasa dor remoída,

De agressão ressentida.

 

É a carga de sofrência,

A comprar clemência,

Para dissuadir a culpa,

Sem a menor desculpa.

 

A culpabilidade alheia,

Constitui o nó da teia,

A justificar sofrimento,

Com o danoso intento:

 

Sempre o outro sujeito,

Agiu com mau despeito,

Que causou o prejuízo,

E deteriorou o paraíso.

 

Como o outro fez sofrer,

Merece similar padecer,

E mesmo o seu agravo,

Não alivia o desagravo.


A ruminação fantasiosa,

Alimenta ira rancorosa,

Para proceder vingança,

Com a maior confiança.

 

Na relação dependente,

A fragilidade pendente,

É da vulgar resignação,

Sem efetuar superação.

 

Incapacidade de perdão,

Aferra todo clima lerdão,

Para integrar os conflitos,

                                         De procrastinados atritos.               

 

 

 


<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...