quinta-feira, 30 de junho de 2016

Perversidade da mitigação



Nada mais humilhante e desprezível,
Do que o argumento público indizível,
Que procura abrandar grandes roubos,
Sob a falação dos pomposos arroubos.

Na sutil ironia diante do povo sofrido,
Cooptado e acintosamente denegrido,
Atenua-se a usurpação vil e indevida,
Como a mais sensata e justa medida.

No abrandar da possessão desmedida,
Acalma-se a opinião adversa e ferida,
Com mitigação execrada e indecente,
Sem remorsos com o povo padecente.

Para desarticular os ânimos exaltados,
Amenizam o teor de atos consumados,
Como gestos de bom ato humanitário,
Sem levar em conta seu agir salafrário.

Ao visarem alívio do perverso praticado,
Arrostam similares indecentes do pecado,
Que os defendem com impecável pureza,
E os enaltecem pela mais ilibada inteireza.





terça-feira, 28 de junho de 2016

Ocultamento



Mesmo que técnica quer desvelar,
O que se esconde sob o céu e o ar,
E nos segredos do mar e da terra,
Nem tudo descobre e nem soterra.

As falcatruas geridas no segredo,
Mesmo sob um disfarçado enredo,
Deixam rastros de alguns detalhes,
Da crueza dos enrustidos entalhes.

A técnica que tão bem escancara,
Sabe ocultar a evidência tão cara,
Para que os mentirosos obsessivos,
Tenham apoio de atos compassivos.

Os bons propósitos logo preteridos,
Não os afastam de serem preferidos,
Para dirigir com um poder de ocultar,
As novas tramas difíceis de auscultar.

O mesmo pano erguido para desvelar,
Virtual para outros atos desmantelar,
Pode também esconder a artimanha,
Do avantajar-se com outra patranha.






sexta-feira, 24 de junho de 2016

Entre crer e aderir



            Com tantos pregoeiros a apontar os melhores segredos de Deus através da sua palavra e da meticulosidade nos rituais de tantos movimentos religiosos, o essencial de ser cristão acaba como elemento secundário e nem muito significativo.
            O desejo de despertar muitos adeptos para um modo de ser meramente fixista e submisso para acatar orientações categóricas, certamente não se coaduna com a adesão ao caminho de Jesus Cristo. Basta ver que tanta expressão piedosa e devocional se desenvolve sem nenhuma adesão ao projeto proposto por Jesus Cristo.
            Como a maior parte das piedades devocionais sequer se aproxima da capacidade de “carregar a cruz e seguir Cristo”, também não nos aproxima a imagem antiga em torno do profeta Elias, que, segunda a crença tradicional teria sido arrebatado aos céus. Elias, na iminência da morte delegou sua função a Eliseu com a recomendação de rápida despedida dos pais para acompanha-lo e agir como homem de Deus em seu lugar. Eliseu também abateu primeiro os seus bois de arado e os assou na festa de despedida da sua vida de lavrador.
            Para o evangelista Lucas, o seguimento de Cristo apresenta outras exigências: para começar, requer abandono radical, sem primeiro festar e despedir-se, mas, na imagem do lavrador, precisa agir para que os sulcos do arado não fiquem muito irregulares, e, para tanto pede, que quem está arando, não fique olhando muito para trás (e como tem gente com o olho fito apenas em tradições secundárias de alguns séculos atrás!).
            Jesus expressou o convite não pela imposição das estolas e condecorações de honra, mas pelo convite de carregar a cruz no dia-a-dia. Tal proposta requer, por sua vez, uma grande capacidade de abandono. Em primeiro lugar, da autorreferencialidade. Como Eliseu foi convidado a continuar a atividade de Elias e não a do seu gosto e da sua auto-promoção, os convidados a seguir Cristo, precisam de uma grande capacidade de renúncia a fim de poderem tornar-se capazes de carregar a cruz de cada dia.
            Na adesão a Cristo também se supõe outro contraste em relação a Elias: não desejar fogo do céu, nem matar e nem vingar-se, mas, cultivar a paciência, tal como pediu a Tiago e João: que não desprezassem e nem se impacientassem com os samaritanos...

            Mais do que multidões de pessoas piedosas, espera-se que o seguimento de Cristo produza desprendimento dos legalismos a fim de se alargar a capacidade em favor de mais salvação, nas relações humanas e no modo de lidar com a vida do planeta.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Na sina do poder


Quando o que se compra confere valor etéreo,
Estimula-se o sentimento de pundonor férreo,
Para mandar mais e ser respeitado nas ordens,
Mesmo que gestem desencontros e desordens.

O sentimento de ostentação dos grandes feitos,
Fruídos e reverenciados como atos insuspeitos,
Parecem propugnar e exaltar como honradez,
O que o fervor das obras perpetradas desfez.

Esquece-se, todavia, da execução alheia da obra,
E o quão pouco que aos súditos realmente sobra,
Do minguado que no trato insípido foi imputado,
Aos que não passam do estágio servil e recatado.

Na beligerante vontade de inusitadas conquistas,
Sublevam-se sempre nas motivações benquistas,
Os gestos solidários do comunitário sentimento,
E a alegria elogiável do cordato procedimento.

Pelo defeito de tudo centralizar em si mesmo,
Tantos valores humanos ficam jogados a esmo,
Porque a adoração do ego auto-engrandecido,

Deixa muito ser vivente em sufoco esmaecido.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Feitiço



Sentimento a causar tanto reboliço,
No buliçoso trato das provocações,
Está um mundo prenhe de enguiço,
A deslocar-se em férteis suposições.

Como a praga de urubu esfaimado,
Não atinge cavalo o gordo do pasto,
Nem com magia e feitiço aprumado,
Perpetra os efeitos do desejo nefasto.

Funciona somente com a mediação,
De alguém muito achegado à vítima,
A informar sobre a eficácia da ação,
De um ato de proveniência ilegítima.

A perturbação da pessoa informada,
Leva a suspeitar que força do além,
Possa causar uma ação programada,
E prejudicá-la com perverso desdém.

O medo cultivado associa as suspeitas,
E aguça a cambaleante desconfiança,
Para associar-se às chantagens feitas,
Que engendram na vida a lambança.

O agir do feitiço apenas surte efeito,
Quando uma almejada vítima vacila,
E aceita fofoca informada a respeito,
Porque a psique frágil já a obnubila.




terça-feira, 21 de junho de 2016

Os pilungos




Ao acompanhar os diários informes,
Dos atos egrégios nada conformes,
Da corte mandante e cambaleante,
Tudo aponta um estado degradante.

Como tantos matungos imprestáveis,
Em inépcia gritante de atos louváveis,
Revelam os meandros dos malganhos,
Hauridos de procedimentos patranhos.

O pior é que ainda crocitam na plebe,
Esnobismo da fartura que os embebe,
E continuam insinuando honestidade,
Quando o seu cotidiano é de maldade.

Qual pilungo a ocupar nobre espaço,
Sem nada se importar com panelaço,
Mesmo matungos, lambem o capim,
Certos da lambança não ter um fim.

Soltam a voz para desviar a atenção,
Dos fatos que moveram sua injunção,
Para insinuar inteireza dos seus atos,
Mesmo afoitos a corvejar desacatos.








sexta-feira, 17 de junho de 2016

Hedonismo e antevisão de sofrimentos



         Estamos sendo intensamente estimulados para a obtenção do máximo de prazer, de satisfação e, com acesso a recursos que evitem toda dor, todo desconforto e até mesmo o surgimento dos sinais de decrepitude. O grande altar da adoração social é o da eterna juventude e o das aparências para demonstrar bem-estar e felicidade.
            Difícil mesmo é alguém conseguir convencer outras pessoas a respeito da necessidade de uma “com-versão”, ou seja, que percebam a necessidade de mudar a rota de suas lidas, mudar de jeito e encontrar sentido a partir das dores e dos sofrimentos vivenciados.
            O quadro hedonista oferece analgésicos, estimulantes, tonificantes, enfim, o que se pode imaginar para ampliar a beleza, a capacidade de sedução e de venda da imagem, que, afinal, sempre precisa ser encantadora. E o que acontece com o mundo real e objetivo que envolve tantos sofrimentos?
            O profeta Zacarias (12,10 ss) viveu num tempo de decadência moral e religiosa e também de muito desencontro com os países do entorno de Israel. Ao antever a possibilidade de que a piedade e a forma de súplica religiosa não seriam capazes de levar a uma mudança para algo realmente melhor, apontou a graça e a consolação do que Deus poderia ajudar a fazer acontecer. Mas, simultaneamente, indicava um remédio impreterível: passar por muito sofrimento para fazer acontecer uma conversão de vida.
            Quando os discípulos expressaram, diante de Jesus Cristo, sua expectativa de uma salvação fácil e isenta de dificuldades, ele os surpreendeu e falou a respeito do que ele teria pela frente: muito sofrimento, muita rejeição, sobretudo das autoridades dos velhos obcecados pelo poder, bem como diante dos sumos sacerdotes e dos legisladores da época. Mesmo assim, convocou os discípulos a carregar esta cruz de cada dia para segui-lo. Nada de vida fácil e anestesiada, nem por drogas barbitúricas e nem por privilégios de mordomias.

            A indicação do caminho de Cristo deve ter causado tremenda dificuldade para os discípulos continuarem a pensar que poderia ser um Cristo, isto é, o caminho que redime e salva. Assim, mesmo para além dos desconfortos físicos, muitas pequenas mortes precisam ser integradas a fim de permitir que a decrepitude final possa elevar ao amor maior de Deus.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Piano de duas teclas



Na febril afoiteza de seminaristas,
Nem o estudo e a espiritualidade,
Apontam para humanitárias pistas,
Pois focam apenas pano e piedade.

Como o piano de apenas duas teclas,
Emitem tão somente repetidos sons,
Que, no enjoo, causticam os asseclas,
Sem gestar e nem afetar planos bons.

No fixismo dos tempos de antanho,
Firmam-se na resistência à novidade,
Como única verdade de bom tamanho,
Para afamada ascensão na sociedade.

Na imitação do relegado e preterido,
Revigoram o imaginário ornamental,
Do imagético que atrai pelo colorido,
Apesar de um mau gosto monumental.

Já não querem estudar para aprender,
Pois viúvas trouxas fornecem os panos,
Que enlevam seus sonhos de ascender,
E garantem os seus elitizados planos.

Como o seu piano só emite dois tons,
Acalantam somente o poder e honra,
E longe do discurso de proféticos sons,
Alargam o status religioso da desonra.









terça-feira, 14 de junho de 2016

Justa conta



A árvore chamada de “justa conta”,
Impõe-se vigorosa no pouco cerrado,
Que ainda resta e vai tomando conta,
Para alargar um processo inveterado.

A fama pejorativa de ser imprestável,
Que sequer serve para fazer fogueira,
Confere-lhe ainda imagem detestável,
De atrapalhar das estradas toda eira.

Se o nome indica que não vale nada,
Lembra nosso quadro social político,
Virado numa roubalheira desandada,
Que deixa tudo aleijado e paralítico.

Já não encantam pela multiplicidade,
Mas despontam no perverso avanço,
Da apropriação cheia de animosidade,
Que visa alargar seu próprio remanso.

Não merecem sequer minguado salário,
Pela ignóbil ação em favor do coletivo,
Pois sua justa conta de atos salafrários,
Não confere ao povo qualquer lenitivo.






sábado, 11 de junho de 2016

Contrição e perdão



            As duas palavras tendem a desaparecer da conversa e da experiência pessoal de nossos dias, porque somos induzidos ao contrário de seus significados: focar sempre novos produtos de consumo e não pensar sobre fatos passados. Assim, nem desenvolvemos consciência de atos e condutas inadequadas; e, tampouco sentimos necessidade de perdoar ou de pedir perdão por algo.
            Da mesma forma como tanta gente contrai dívidas e em nada as assume, parece aumentar o número de devedores de grandes dívidas, mas, que se revela meticuloso na cobrança detalhada das pequenas quantias que outras pessoas estão devendo. É parecida com aquela regra de muitas crianças pequenas: “tudo quero e nada dou”.
            No entanto, quando uma dívida grande é perdoada, a tal ato geralmente corresponde um sentimento de alívio. Na orientação que Jesus dava aos discípulos (cf. Lc 7,36-50), ele os ajudava a entender que alguém perdoado em grande dívida, deveria produzir muito mais amor do que alguém perdoado em dívida de pequenas proporções. 
            Na parábola contada por Jesus, alguém perdoado por uma grande dívida, mostrou-se pouco acolhedor à chegada de quem merecia muita consideração. Mas, também salientou que outra pessoa, publicamente condenada e discriminada por atos de prostituição, ao se sentir perdoada por Jesus, demonstrou extraordinário amor e, de tão contrita que se sentia diante do que fizera na vida, lavava os pés de Jesus com suas lágrimas e os enxugava com os cabelos.
            Os que observavam a cena logo se meteram a julgar e a incriminar Jesus porque ele não poderia perdoar uma situação como a daquela mulher. Na verdade, Jesus certamente quis destacar que, qualquer um daqueles discípulos, já tinha aprontado muitas coisas merecedoras de grande perdão por parte de Deus e que, apesar disso, eles não produziam sinais de amor e de bem-querer. Diante do imensurável perdão de Deus, os discípulos, ao invés de produzirem sinais de compaixão e crescente capacidade de amar, somente focavam a cobrança dos mínimos detalhes dos erros alheios.
            Quando alguém não tem consciência de contrição diante de algo que praticou ou deixou de fazer, provavelmente não mudará em nada a sua vida para ser melhor, porque irá conformar-se com os hábitos e praxes do que vem fazendo. Tampouco sentirá necessidade de ser mais respeitoso e humanitário porque esta perspectiva sequer aparece no horizonte dos projetos.

            O amor de uma pessoa pecadora carece da experiência de que outro amor maior a perdoa. Por isso, mais do que observar regras, importa transcender-se!

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Lamento



No trôpego avanço social hodierno,
Sobressai o ardente fogo de inferno,
Da ambiciosa globalização mundial,
A produzir descartabilidade bestial.

A acumulação de poucos viventes,
Escancara  processos indecentes,
Que obrigam ao ignóbil ostracismo,
Os negados do cruel hegemonismo.

Longe da viva e anelada ecologia,
Palpita vasta ambição de apologia,
Para exaurir o que se possa lucrar,
Mesmo se a vida venha a execrar.

A crise social, vítima da ambiental,
No ecoar de um grito monumental,
Protela o respeito à natureza dada,
E a afronta como matéria desolada.

Com a generalizada superficialidade,
Alarga-se solapante provisoriedade,
Que ignora honra, pactos e projetos,
E relega vidas a níveis bem abjetos.







  







terça-feira, 7 de junho de 2016

Sonhos no relento



Se a fé remove montanhas,
E revigora até as entranhas,
Como situá-la numa difusão,
Que foca o ego em profusão?

Muita mensagem encenada,
De moralismos, impregnada,
Alia-se à falácia autoritária,
Para a submissão perdulária.

Importa mais o ego do falante,
E a artimanha impressionante,
Do que a partilha do caminho,
A quem não se ajeita sozinho.

Assim, os sonhos de edificação,
Da vida em dinamizadora ação,
Mofam nas facilidades adiadas,
Sem elã para serem praticadas.

Adora-se o imagético do guru,
Que bate asas mais que urubu,
Para submeter fãs dependentes,
A seus domínios improcedentes.

Apelam a autoritários discursos,
Para obrigar rigor de percursos,
Que apenas submetem os fiéis,
Para seus interesseiros vergéis.

Os deslizes e erros cometidos,
Mais os ocultados e preteridos,
Minam os sonhos acalantados,
E freiam encontros recatados.



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Vozes do silêncio



Diante da anestesia dos sons,
Ampliados em repetidos tons,
O silêncio aponta nos desejos,
Linguagem de outros ensejos.

Quero os silêncios eloquentes,
Sem os ruídos inconsequentes,
Que atrapalham toda audição,
Pela estrepitosa comunicação.

Já saturado com tantos sons,
De estridulantes contrassons,
Almejo um silêncio benfazejo,
Que aponte um inusitado ejo:

Não o silêncio mortal da vida,
Ou o da resistência aguerrida,
A paralisar as boas atividades,
Mas do aporte para novidades.

Sonho com o silêncio solidário,
Tão versátil e pouco ordinário,
E nada afoito na demonização,
E sem as ordens da moralização.

Não espero o silêncio acusador,
Mas o que aponta para o ardor,
Que ultrapassa toda indolência,
E se transforma em condolência.

No desejo anseia silêncio virtual,
Sem lamento ou lamúria pactual,
Do insidioso hábito de condenar,
Alheio de compaixão para sanar.








quinta-feira, 2 de junho de 2016

Razões de admiração e reconhecimento




            Muitas pessoas tornam-se encantadoras pelo seu modo de ser. Algumas alcançam notabilidade por dotes artísticos e profissionais ou por apresentarem raras virtudes humanas; mas, algumas também se tornam altamente notáveis e admiradas pelo modo como vivem a sua fé.
            A Bíblia descreveu um de seus profetas, Elias, que viveu cerca de 800 anos antes de Cristo, como um notável homem de Deus. Em suas distintas fases evolutivas este profeta mostrou transformação profunda para melhor. Em idade já mais avançada, parecia agregar Deus em suas andanças e explicitá-lo de forma original e encantadora.
            Narra-se que um dia o referido profeta chegou à casa de uma viúva, em Sarepta, desesperada pela morte de seu filho. Num gesto de atenção, Elias foi ao quarto do menino e fez uma oração fervorosa para pedir a Deus que intercedesse em favor da vida do menino. Mais do que os detalhes dos fatos, constatou-se naquele ato uma experiência religiosa profunda: Deus interveio através do homem de Deus (Elias), e devolveu a vida do menino à viúva desesperada.
            De tanto que o agir de Elias era comentado como homem de Deus, ao morrer, despertou a consciência de que, - homem bom daquele jeito, - não poderia morrer; e, certamente Deus o teria levado de carruagem ao céu a fim de retornar, num momento oportuno, e continuar a agir beneficamente no meio do povo.
            De Jesus Cristo, o evangelista Lucas explicitou um fato similar em torno de uma morte, envolvendo o filho da viúva de Naim. No entanto, as proporções são maiores: o tempo da morte do menino e distinto foi o modo de proceder com ele. Enquanto Elias gritou desesperadamente para pedir intervenção de Deus, Jesus teria simplesmente ordenado, serenamente, para que o menino voltasse a viver.
            Lucas provavelmente quis salientar que Jesus, mais do que o profeta Elias, tão estimado pelo povo, era mais do que um profeta, pois, constituía a manifestação do amor de Deus. Em Jesus Cristo estava acontecendo um momento de plenitude deste amor, pois, era o próprio Deus que agia em favor da vida.
            Nesta rica motivação em torno de uma experiência religiosa, tanto com Elias quanto com Jesus Cristo, destaca-se a implicação da sintonia com Deus e a perspectiva de corresponder a este amor de Deus: não para pseudo-milagres, e banalizadas curas e manifestações divinas, exaustivamente exploradas como expressão do poder de pregadores e, possivelmente menos religiosos do que interesseiros, mas, para recriar motivações e forças capazes de contribuir na construção do Reino de Deus, a fim de que ninguém seja fadado a morrer antes de seu ciclo vital se completar.

            Como experiência religiosa, devolver vida, ou fazê-la reviver quando está à beira do definhamento, é algo acessível a cada pessoa que se aproxima dos traços de Jesus Cristo. Há incontáveis modos de se devolver vida, sobretudo, quando ela vai se subsumindo na progressiva perda de sentido e na incapacidade de achar razões e projetos para continuar vivo. Estados depressivos, perdas, mágoas profundas, agressões físicas e simbólicas, além de doenças e enfermidades, podem deixar-nos mais mortos do que vivos.  No entanto, o dom profético, torna-se gesto humanitário que restaura a razão de viver.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Obsessão pelo domínio



Da antiga conquista indo-européia,
Desencadeou-se a trágica epopéia,
Da autoridade para tudo desbravar,
E eliminar todo aquele que a negar.

Sublevou-se o pendor do preservar,
Tudo o que era valioso de conservar,
E nem mesmo se cultivou a riqueza,
Da mãe-terra, ornada de rara beleza.

A criação não cuidada e mal amada,
Atordoada pela agressão desandada,
Geme nas dores da invasão violenta,
Sem encontrar respeito que a alenta.

As ricas diferenças étnicas e culturais,
São combatidas como doenças virais,
E fadadas ao desaparecimento banal,
Sob a voracidade da ambição infernal.

Ao silêncio forçado das terras e matas,
Agrega-se o mutismo de vidas pacatas,
Condenadas à antecipada decrepitude,
Longe da ínfima e respeitosa solicitude.

 O domínio nega o necessário respeito,
Do quanto a vida teria o justo direito,
De ser fruída e ricamente auscultada,
Ao invés de ser friamente maltratada.




<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...