quinta-feira, 20 de abril de 2023

VAIDADES

 

 

Vetusta condenação da vaidade,

Esqueceu praxe da religiosidade,

E entrou no âmago dos púlpitos,

Relegando vestuários decrépitos.

 

Na onda firme do consumismo,

O reforço do antropocentrismo,

Aponta para o paraíso de orgias,

No lugar das rotineiras liturgias.

 

A frivolidade diante do possível,

Já não se anima com o indizível,

E desloca a adoração à imagem,

Do corpo esbelto para miragem.

 

Assim, a vaidade move arautos,

E encanta muitos fiéis incautos,

Para vestes e belos ornamentos,

Como baluarte dos sacramentos.

 

Na efemeridade das novidades,

Exploração das peculiaridades,

De rendas e vestes chamativas,

Aufere honras e prerrogativas.

 

Apesar das atenções pelo fútil,

A manobra da vaidade versátil,

Invade as boas mentes alheias,

De recheios para pobres ceias.

 

Tentação do falar de si mesmo,

Eleva diuturnamente o abismo,

Do serviço ministerial na Igreja,

Com o que a religião bosqueja.

 

Somem até virtudes humanas,

E alertas para atitudes insanas,

Pois, o jardim do Éden visado,

´Visa obter séquito com legado.

 

 

 

 

 

 

 

LAZER ESPOLIANTE

 

 

Com tanto pesque-e-pague,

Nada que melhor propague,

Uma felicidade consumista,

Para a expectativa otimista.

 

Ser feliz ao visitar lugares,

De todo tipo e patamares,

Sonho tão bom e agregado,

Tem o preço a ser quitado.

 

Preços e desejos forjados,

Gostos a serem manjados,

Cativantes da publicidade,

Reagem na subjetividade.

 

Formam os imperativos,

De necessários lenitivos,

Para recuperar energias,

E recriar novas sinergias.

 

A voz firme do mercado,

Deixa todo vilipendiado,

Ao atrelamento do lazer,

Vasto consumo de prazer.

 

O pragmatismo reinante,

Convida a todo instante,

Para a fruição e deguste,

E esconde sutil embuste:

 

Felicidade tem alto preço,

E oculta no belo adereço,

Novas fomes de desejos,

Para infindáveis ensejos.

 

Com recheio simbólico,

O humor melancólico,

Reprimido e amealhado,

Cede ao sonho ofertado.

 

Novo produto oferecido,

Com um valor aturdido,

Desloca todos os anseios,

Para inusitados passeios.

 

 

quarta-feira, 19 de abril de 2023

MARIAZINHA DESDENTADA

 

 

A menina pobre e extrovertida,

 De adolescência controvertida,

Passou ao gradual isolamento,

Fruto de vergonha e desalento.

 

Conforme os dentes sumiam,

As alegres visitas diminuíam,

E Mariazinha toda encabulada,

Tapava a boca para sua rizada.

 

Dentes pretos e apodrecidos,

Passaram bem despercebidos,

Para um namorado atencioso,

Discreto, de perfil auspicioso.

 

Providenciou prótese dentária,

Que refez a imagem deficitária,

E Mariazinha toda bela e airosa,

Ficou isolada e menos amorosa.

 

Ao transcender pobre infância,

Já mergulhada na exuberância,

Mariazinha discreta da cidade,

Ornou-se com nova identidade:

 

A mais aguardada compradora,

Do perfil de cega acumuladora,

Virou mulher rica e arrogante,

Sem capacidade aconchegante.

 

Cega e perdida no consumismo,

Vive o imenso efeito do cinismo,

Dum prazer hedonista induzido,

Consumidora de ideal produzido.

 

Vítima da publicidade enganosa,

Procura a felicidade vertiginosa,

Sob a subjetividade dos desejos,

Produzidos pelos culturais ejos.

 

O status do seu largo consumo,

Não lhe confere outro aprumo,

Que adquirir o desnecessário,

Sem o valor do humano erário.

 

Ao se achar livre para escolher,

Põe sua amizade a se escafeder,

Para se locupletar com as coisas,

Supérfluas de suas frágeis loisas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de abril de 2023

NA MAROMBA DOS IDEAIS

 

 

Sobre a corda-bamba dos alentos,

Tão solta sobre discursos violentos,

O mecanismo da auto-defesa pede,

Passo rápido sobre o que se mede.

 

Os vetustos sonhos de fraternidade,

Bem augurados para toda sociedade,

Vão ruindo sem a vara do equilíbrio,

E não superam difundido opróbrio.

 

Relativização de hábitos e costumes,

Vira arma traiçoeira de dois gumes,

Pois, em seu lugar insinua violência,

Sem compaixão e sem a clemência.

 

Na agressiva forma de impor leis,

Sobre as inseguras e sedentas greis,

Apela-se a bons costumes antigos,

Para justificar combate a inimigos.

 

Em nome de entidades superiores,

Praticam-se verdadeiros horrores,

Sob uma excelsa e religiosa crença,

Sem amainar espalhada desavença.

 

Afronta-se o insubmisso e diferente,

Com trato de desprezo irreverente,

Para que se submeta a uma ordem,

Oriunda de inapropriada desordem.

 

Tão poucas vozes animam no rol,

Para ultrapassar nocivo besteirol,

De ensinamentos auto-gestados,

Visando ibope por todos os lados.

 

Adoração da própria personalidade,

Gesta encenação teatral à saciedade,

Mas em nada melhora a convivência,

E nem a postura da lídima decência.

 

 

 

 

O PROTELADOR

 

 

O tempo o fez especialista,

De conversa toda idealista,

Para iniciativa agregadora,

             Com mobilização inovadora.

 

Sabe dar conselho para tudo,

Filtrado pelo rosto barbudo,

Mas não se envolve na ação,

E nem se move pela oblação.

 

Sabe desculpar-se da omissão,

Sob nova data de mobilização,

E protela sua promessa vazia,

Com nova delonga de fantasia.

 

Seu repertório de explicações,

Sempre acha belas alegações,

E ratifica causas da omissão,

Para apontar nova distração.

 

Dispersa saliva o tempo todo,

Para justificar o belo engodo,

Que tenta aplicar persuasão,

Com animada luz de evasão.

 

Teria aprendido com políticos,

Estes manuseios tão enclíticos,

Que o levam à sutil protelação,

Do quanto propõe para a ação?

 

Na fala de maestria empolgante,

Persuade num primeiro instante,

Mas irrita qualquer interlocutor,

Por um falso ar de ser superior.

FARTURA DE PÃO

 

 

Velho sonho de povos semitas,

Perpetua frustrações malditas,

Em tempos de larga produção,

Tidos como o auge da evolução.

 

Como entender tanto alimento,

E seu agudo sumiço no sustento,

Do lar de 50 milhões de pessoas,

Latinoamericanas de lidas boas?

 

Ajudam a produzir o alimento,

Que sacia em quinze por cento,

O consumo de todo o planeta,

Sem obter refeição completa.

 

Reféns do oligopólio lucrativo,

Veem sumir o sonho paliativo,

Da dignidade do seu trabalho,

Sem a condição de frangalho.

 

Suas moedas valem tão pouco,

Ante processo frenético e louco,

Por lucros espantosos e visíveis,

De impérios ricos e insensíveis.

 

Ao venderem oitenta por cento,

Do suado fruto do seu provento,

Só podem continuar esfaimados,

E seus sonhos de pão, dizimados.

 

Desiguais no alimento produzido,

Com inflação do salário adquirido,

Veem corroído o desejo de fartura,

E sobra apenas ignóbil desventura.

 

O dinheiro para armas de morte,

Daria comida farta de toda sorte,

Para todos os viventes do planeta,

Sem denegrida súplica de gorjeta.

 

A desigualdade social justificada,

Nada pensa em ficar desarmada,

Para larga acumulação e defesa,

Explorando a multidão indefesa.

 

sexta-feira, 14 de abril de 2023

ENTIDADES RELIGIOSAS

 

 

Com belos serviços humanitários,

E larga gestão de laços solidários,

Visam produzir integração social,

Com a fraternidade exponencial.

 

Alargam nas identidades coletivas,

Criatividade com novas iniciativas,

Para reformar costumes obsoletos,

Mantidos com superados amuletos.

 

Na virtualidade do papel profético,

Apontam um novo horizonte ético,

 E, com procedimentos inovadores,

Alargam bons e humanos pendores.

 

Na declaração da melhor entidade,

Detentora da mui genuína verdade,

Justificam no único vínculo Sagrado,

Toda a restauração de ato malogrado.

 

Ao lado deste potencial regenerador,

Gestam também a perseguição e dor,

Além das animosidades sem limites,

Como explosivos e mortais dinamites.

 

Quando se aliam a políticas funestas,

E metidos em negociatas desonestas,

Não só sacralizam guerra e violência,

Mas justificam ignóbil maledicência.

 

Criam pavores contra supostos males,

E valem-se das muito perversas rales,

Para gerar horror em nome do sagrado,

E pânico com procedimento malvado.

 

Em nome do excelso sagrado e divino,

Protagonizam comportamento cretino,

Com monopólio da graça sobrenatural,

Para legitimar sua violência caricatural.

 

No cultivo das explícitas intolerâncias,

Justificam genocídios, com jactâncias,

E auferem a sacralização nacionalista,

Com moralismo e apelo exibicionista.

 

 

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...