A menina pobre e extrovertida,
De adolescência controvertida,
Passou ao gradual isolamento,
Fruto de vergonha e desalento.
Conforme os dentes sumiam,
As alegres visitas diminuíam,
E Mariazinha toda encabulada,
Tapava a boca para sua rizada.
Dentes pretos e apodrecidos,
Passaram bem despercebidos,
Para um namorado atencioso,
Discreto, de perfil auspicioso.
Providenciou prótese dentária,
Que refez a imagem deficitária,
E Mariazinha toda bela e airosa,
Ficou isolada e menos amorosa.
Ao transcender pobre infância,
Já mergulhada na exuberância,
Mariazinha discreta da cidade,
Ornou-se com nova identidade:
A mais aguardada compradora,
Do perfil de cega acumuladora,
Virou mulher rica e arrogante,
Sem capacidade aconchegante.
Cega e perdida no consumismo,
Vive o imenso efeito do cinismo,
Dum prazer hedonista induzido,
Consumidora de ideal produzido.
Vítima da publicidade enganosa,
Procura a felicidade vertiginosa,
Sob a subjetividade dos desejos,
Produzidos pelos culturais ejos.
O status do seu largo consumo,
Não lhe confere outro aprumo,
Que adquirir o desnecessário,
Sem o valor do humano erário.
Ao se achar livre para escolher,
Põe sua amizade a se escafeder,
Para se locupletar com as coisas,
Supérfluas de suas frágeis loisas.
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