quarta-feira, 19 de abril de 2023

MARIAZINHA DESDENTADA

 

 

A menina pobre e extrovertida,

 De adolescência controvertida,

Passou ao gradual isolamento,

Fruto de vergonha e desalento.

 

Conforme os dentes sumiam,

As alegres visitas diminuíam,

E Mariazinha toda encabulada,

Tapava a boca para sua rizada.

 

Dentes pretos e apodrecidos,

Passaram bem despercebidos,

Para um namorado atencioso,

Discreto, de perfil auspicioso.

 

Providenciou prótese dentária,

Que refez a imagem deficitária,

E Mariazinha toda bela e airosa,

Ficou isolada e menos amorosa.

 

Ao transcender pobre infância,

Já mergulhada na exuberância,

Mariazinha discreta da cidade,

Ornou-se com nova identidade:

 

A mais aguardada compradora,

Do perfil de cega acumuladora,

Virou mulher rica e arrogante,

Sem capacidade aconchegante.

 

Cega e perdida no consumismo,

Vive o imenso efeito do cinismo,

Dum prazer hedonista induzido,

Consumidora de ideal produzido.

 

Vítima da publicidade enganosa,

Procura a felicidade vertiginosa,

Sob a subjetividade dos desejos,

Produzidos pelos culturais ejos.

 

O status do seu largo consumo,

Não lhe confere outro aprumo,

Que adquirir o desnecessário,

Sem o valor do humano erário.

 

Ao se achar livre para escolher,

Põe sua amizade a se escafeder,

Para se locupletar com as coisas,

Supérfluas de suas frágeis loisas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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