segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

NECROMANCIAS POUCO EFICAZES




Crescem como bactérias exuberantes,
Sob os ares autoritários e rompantes,
Os adivinhadores de dias vindouros,
Com fartura de segredos duradouros.

Sustentam sintonizar as secretas vozes,
De heróis antepassados em apoteoses,
Para vender nas exclusivas facilidades,
O senso comum de pífias vulgaridades.

Ainda mais atrevidos são os fanáticos,
Que se arvoram nos poderes erráticos,
Da ligação direta com o Espírito Santo,
Para direcionar a vida por todo canto.

Arrogam-se o direito exclusivo de ouvir,
O que aos pobres mortais possa convir,
Mas coagem às praxes de dependência,
Para solidificar sua própria onipotência.

Alegam que o próprio Espírito comunicou,
Para repassar o que aos ouvintes solicitou,
Mas falam apenas seu próprio sentimento,
Apresentado sob o equivocado argumento.

Se um suposto acesso a contatos egrégios,
Autoriza anunciar fantasiosos sortilégios,
O apelo dos superiores poderes auferidos,
Deixa procedimentos solidários preteridos.






EVENTOS DA DESORDEM



Na curiosa organização humana,
Alardeia-se embate ao que profana,
A nobreza dos atos festivos de ordem,
Para dissuadir tudo quanto é desordem.

Enquanto alguns elevam o sagrado,
E outros, fitam o governo implantado,
Sobra ao povão pobre o evento profano,
Que enaltece a desordem do viver insano.

Nele tudo é sagrado e muito religioso,
Pois vive do sofrido diuturno desditoso,
E o solta à fantasia da reinança poderosa,
Como se participasse desta elite grandiosa.

Ali já não servem uniformes e camisetas,
Mas a afirmação do corpo das duras tretas,
Que faz da exposição da pele nua um aparato,
Para escancarar falsas etiquetas de povo cordato.

Sem as solenes rezas e os enfadonhos discursos,
Expressa na dança e no canto os melhores recursos,
Para afirmar a existência da condição social combalida,
Perante um capitalismo obcecado que os deixa nesta lida.

Longe do superávit das contas para honrar pendências,
Importa o lucro da sensualidade e suas fortes tendências,
Contra os rigores metódicos que priorizam lucros e dividendos,
Mas alardeiam pelo mundo afora os desequilíbrios mais horrendos.





sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

SENTIMENTO DESENCHAVIDO



Como tantos cidadãos brasileiros,
E, com os sentimentos altaneiros,
Longe da envergonhada condição,
Almejo o enterro da manipulação.

Da natural condição de persuadir,
Alastrou-se a uma forma de iludir,
Com as notícias falsas de sucesso,
Para ocultar todo efetivo recesso.

A repetição diária de inverdades,
Confere às distintas autoridades,
A perversa estratégia de enganar,
Sob auto-atribuição de governar.

Sabem bajular e manipular o povo,
E o iludem no contínuo sonho novo,
Para protelar o quanto prometeram,
E persistir no roubo que cometeram.

Desenchavido com tanta desfaçatez,
Já irrita o sentimento da mesquinhez,
Que induz o povo a vender sua honra,
Num cego atrelamento que o desonra.

Cientes desta fragilidade contingente,
Os malandros desta política indecente,
Asseguram os votos que os perpetuam,
Enquanto omissões gritantes continuam.



quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

PODER DO CIÚME



Da dedução obsessiva,
De ser a atraente diva,
Deseja o olhar dos pais,
Para desfrutar seus ais.

Igual anelo de irmãos,
Relega os afetos sãos,
E parte para a disputa,
Criando clima de luta.

Primazia junto aos pais,
Leva a desprezos vitais,
E a atos do mesmo fito,
Para elevar-se no atrito.

Das guerras fratricidas,
Inúmeras exitosas lidas,
Firmam a lida ciumenta,
Como a praxe que alenta.

Do cotidiano diabólico,
A calúnia é o simbólico,
Da trama perseguidora,
E da rigidez inquiridora.

Faz da calúnia o sabor,
Para poder se sobrepor,
Ao que luta sob o desejo,
Do alcance do mesmo ejo.



quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

TEOLOGIA DO MEDO




Pregada como anúncio de segredo,
E centralizada num falso arremedo,
Ela insinua a necessária conversão,
Mas se limita à tática de submissão.

Eivada da mesquinhez interesseira,
E longe da perspectiva alvissareira,
Submete pelo seu satânico pavor,
Como se fosse um religioso fervor.

Longe do ato de redimir e integrar,
Muito alardeia para poder agregar,
Um bando de seres amedrontados,
A ver um capeta por todos os lados.

Faz da religião estrada dependente,
Que não alivia um povo padecente,
Mas lhe desperta um ciclo de culpa,
Que nega qualquer divina desculpa.

Deseja na verdade a muitos antolhar,
E esquece o que Jesus veio anunciar,
Pois, espera efeitos vindos do medo,
E com ele alargar seu astuto segredo:

Muita catástrofe no lugar da boa-nova,
A insistir na penitência que não renova,
E fazer da teologia do medo a condição,
Que não irrompe em sinais de salvação.





domingo, 14 de janeiro de 2018

MEMÓRIA RECRIADORA



As recordações passadas,
Ainda não ultrapassadas,
Carregam a virtualidade,
De repensar a realidade.

Rejeitada pela ambição,
A memória da boa ação,
Tem o potencial criador,
De aprumar novo fervor.

Tida como bem superada,
A memória já perpassada,
Clareia os rumos do juízo,
Para o bom-senso preciso.

Modera todo cego desejo,
E lhe interpõe o remelejo,
Que decanta as obsessões,
E abranda as objetivações.

Na moderação dos relatos,
A memória dos idos fatos,
Equilibra o agir cotidiano,
E afugenta todo desengano.

No voo do desejo volúvel,
A memória do pó solúvel,
Solidifica atos cotidianos,
Contra os fatos levianos.




quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

VOCAÇÃO E AUTOATRIBUIÇÕES




            Em tempos de farta exploração de caminhos exotéricos para acessos especiais a vantagens raras auferidas por Deus e privilegiadas pela sua particular afinidade com o senhor das graças Deus, não faltam os que se sentem superiores devido às informações precípuas que lhes estariam sendo concedidas por Deus ou pelo Espírito Santo. Sobretudo no Movimento carismático, multiplicam-se cada dia mais os casos em que as pessoas narram a respeito de como o Espírito Santo lhes mandou tomar certos procedimentos e lhes disse o que falar para outras pessoas. Tais procedimentos parecem pender mais para o alargamento de arrogantes presunções de que o Espírito Santo estaria a lhes conceder informações privilegiadas. Por isso repetem que “Ele me mandou dizer”...
            Primeiramente, tal quadro levanta aquela dúvida que Emmanuel Kant já fez há séculos passados, em relação à moral heterônoma: é realmente Deus ou o Espírito Santo que falam tais coisas? E porque só para alguns, quando Jesus pregava a proposta de um povo sacerdotal... Quando as ditas inspirações são tão banais e tão eivadas de senso comum, emerge a evidente desconfiança básica: não teriam sido meramente estratégias de uma auto-atribuição, feitas por alguém que quer se afirmar sobre outros, e que recorre ao falacioso argumento de que o Espírito Santo mandou dizer isso e mais aquilo, ou tomar estes ou aqueles procedimentos. Tudo indica que se trata de mero recurso apelativo para afirmar poder sobre outras pessoas.
            E o que seria, então, uma vocação, ou um chamado de Deus? Certamente é possível que Deus possa interpelar-nos para algo valioso e importante na vida, através de vozes advindas de estados mórbidos, de sonhos e até de alucinações.
            Do pouco que entendo de vocação, creio que se trata sempre de um chamado vago e duvidoso, mas, que pode amadurecer uma resposta provisória. Certamente nunca será confirmação imediata, categórica e absoluta, mas vai requerer, ao longo do tempo, uma renovação das motivações para manter-se fiel à resposta inicial. Igualmente se farão necessárias muitas conversas para amadurecer as interpelações iniciais e lhes dar consistência ao longo dos anos e da vida.
            Uma apelação triunfalista mágica tende a explorar a vocação como algo privilegiado, concedido com pompas e méritos especiais a algumas pessoas, muito seletas, abençoadas, e muito agraciadas por dotes especiais. Se realmente fosse assim, não deveríamos estar presenciando tantos casos contraditórios de vocacionados especiais, e que ostentam na vida real, condutas nada condizentes com a função que exercem. Sob a fantasiosa atribuição de um chamado muito privilegiado por parte de Deus, muita gente esperta ostenta a fragilidade comum do mais crasso nível de pecados.
            O que se espera de um chamado, é que possa tornar-se uma resposta que gradualmente se aprimora para o exercício mais adequado e eficaz do serviço ao qual alguém se sentiu chamado. Portanto, vocação parece não rimar bem com poder, precedência e fama crescente, mas, se aproxima mais com a perspectiva visionária, profética, e do serviço para que a convivência humana possa tornar-se mais edificante e menos opressora.



quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

PECULIARIDADES DE SOGRA



            Se as relações de mãe com filhos nem sempre são tão corteses e respeitosas quanto seria desejável, as de sogra com genros e noras, - por natureza - tendem a transcorrer mais polêmicas. A aproximação decorre de outros interesses e a afinidade passa pelo difícil crivo da simpatia.
            Facilmente vigora o mecanismo primário do afeto de encantamento ou de rejeição. Assim, desde um primeiro relance de vista, pode alguém, que tende a se inserir em novo grupo familiar, encontrar a mais severa antipatia e, que com o passar do tempo, até corre o risco de agravar-se.
            De fato a troca do ambiente familiar por outro, mais do que o impacto da simpatia, pode tornar-se um caminho estressante e de conflitos tanto verbais quanto de comunicação não-verbal com vistas a sugerir afastamento ou submissão.
            Nas múltiplas táticas de interferência, tanto para o bom entendimento quanto para agravar a ruptura, desencadeia-se um vasto campo para piadas e anedotas, geralmente, de extraordinária inventividade para referir-se às sogras. É claro, nem todas as sogras e nem todos os genros e noras são a personificação do mal na vida humana. Muitas se aprofundam em riquíssimas e benfazejas interatuações de vida, de bem-querer, e de terna entre-ajuda.
            Como as conversas relativas a sogras tendem a tornar o tema mais hilário e de deslocamento de sintomas – pois, são sempre elas que atrapalham os planos – acaba-se esquecendo, que elas também podem ser excluídas.
            Um exemplo clássico de sogra deixada de lado é o da narração bíblica que se refere à sogra de Pedro. Conta-se que Jesus, ao saber que ela estava acamada, e, com febre, – cama pode simbolizar mais do que um desequilíbrio orgânico e uma reação calórica do organismo para estabelecer um equilíbrio diante de alguma invasão bacteriológica – ela estava sem participar das lidas humanitárias de Jesus Cristo. Ele, no entanto, teve um procedimento impressionante: estendeu a mão, para que a sogra de Pedro se erguesse. Ao sentir-se envolvida na socialização, ela passou a servir os que vieram à sua casa.

            Talvez as muitas histórias de extraordinária ficção e criatividade em torno das sogras estão a revelar, o que causa a “febre” que deixa tantas sogras acamadas e jogadas à sua própria sorte, mereçam mãos que se estendem a fim de que uma acolhedora valorização possa despertar-lhes a capacidade de bem servir. Desta forma, as noras e os genros podem cultivar a virtude de gestos com alcance mais significativo do que o de propalar inventivas anedotas sobre suas sogras.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

FORNICAÇÃO



Uma antiga característica,
Tornou-se a nova mística,
Que fez do pecado abjeto,
A virtude do agir correto.

Das restrições e censuras,
Com os alertas e mesuras,
Tudo em assunto afetivo,
Indicava limite definitivo.

Do corpo dessacralizado,
Veio um vigoroso legado:
Tudo é permitido e lícito,
E em sexo tudo é solícito.

Na nova escola libertina,
Um dado vital se ensina:
Cabe escolher o gênero,
Mesmo sendo efêmero.

O foco da boa adoração,
É o corpo em exposição,
Para ser usado e fruído,
E evitar ficar preterido.

No pico da libertinagem,
Ausenta-se a sacanagem,
Pois tudo o que dá prazer,
Serve para se comprazer.

Importa desfrute intenso,
Captado num rol imenso,
Pois o outro corpo objeto,
Logo vira um artigo abjeto.

Descartabilidade constante,
Reduz o amor a irrelevante,
E o respeito à coisa passada,
Ao lado da conduta ilibada.

No aviltamento às pessoas,
As coisas somente são boas,
Se factíveis para a vantagem,
Dos afoitos da libertinagem.

Amor e respeito à alteridade,
Também revelam à saciedade:
Nem tudo o que é permitido,
Serve ao amor comprometido.





segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

LOUVORES LAMURIOSOS



No abusivo excesso de louvores a Jesus,
Não está a elevação da alma que reluz,
Nem a sensibilidade profética a clamar,
Que pobres possam elevar seu patamar.

O louvor de escusas causas de elevação,
Esconde a real e objetiva consternação,
Da injustiça ocultada sob o belo louvor,
A dissimular bom e religioso pundonor.

Os intentos da louvação generalizada,
Na crença da acumulação prosperada,
Desconsideram a espoliação vitimária,
Que lesou a outros de forma primária.

Nas melodias intimistas e lamuriosas,
A louvação de pretensões primorosas,
Esconde a lida tão injusta e explorada,
E que em tantos lares está desandada.

A alienação auto-justificada no louvor,
Revela um tristonho quadro de torpor,
Que invadiu rituais cúlticos e religiosos,
E os eivou com sons nada melodiosos.

Escorados pelas potências eletrônicas,
As modulações tão pouco harmônicas,
Querem impor pela força dos decibéis,
O aumento dos seus pretensos vergéis.








sábado, 6 de janeiro de 2018

BRILHO DE UMA ESTRELA



Apesar das estrelas a brilhar no céu,
Antigos profetas não queriam o léu,
Mas viver na cidade a irradiar paz,
Do bem viver que a todos compraz.

Na ânsia de um bom entendimento,
Estava latente um esperado alento,
Do fim das guerras étnicas e raciais,
Para fruírem de direitos mais iguais.

O ardente sonho demorou a chegar,
Para o respeito humano prosperar,
Mas, quando, veio a se manifestar,
Encontrou os renitentes a protestar.

Esperavam um redentor da nobreza,
Com ar de pompa e muita grandeza,
De objetivação rica e força guerreira,
Para reinar sob uma paz derradeira.


As expectativas foram bem frustradas,
Para ambições de poder desmesuradas,
De grande centro religioso hegemônico,
Com injunções de um poder anacrônico.

Enquanto isso, andarilhos estrangeiros,
Souberam captar os novos paradeiros,
Da estrela que brilhou em nova direção,
Para uma humanidade de bom coração.




<center>INDIFERENÇA SISUDA</center>

    O entorno da vida cotidiana, Virou o veneno que dimana, A endurecer os sentimentos, Perante humanos proventos.   Cumplicidad...