quinta-feira, 1 de maio de 2014

A memória diante das expectativas frustradas



Com maior ou menor intensidade de sofrimento, temos que lidar, de vez em quando, com as tristezas e com as desilusões provenientes da simples frustração de sonhos ou de expectativas.
O sofrimento se aguça ainda mais quando cultivamos e acalentamos sonhos que não nos levam ao alcance de situações desejadas. Como, então, continuar a achar graça da vida e procurar outras motivações para ajeitar-nos conosco mesmos e com os outros?
O evangelho de Lucas (24,13-35) apresenta um relato que pode facilitar a lida com os desencantos da existência. Um primeiro aspecto indica que os protagonistas caminhavam decepcionados por causa de um grande sonho frustrado: esperavam um rei poderoso, forte, imponente, mas, o que encontraram em Jesus Cristo foi apenas um servidor humilde que convocava as pessoas a se envolver na construção de um reino novo, o reino de Deus. Por outro lado, em vez da ostentação de glórias, foi morto como subversivo, para os romanos, e, como deturpador da religião, para os judeus.
O aspecto interessante é que, apesar das tristezas e das dúvidas, a fé fragilizada dos jovens Emaús, ainda continuaram a caminhar. Dali decorreu o fato inusitado: reconheceram Jesus, ao fazerem recordação dos caminhos percorridos e dos percalços encontrados. Ao efetuarem a síntese, redescobriram razões para continuar caminhando. Partilharam a ousadia dos sonhos acalantados, mas, ao reconsiderar os fatos da forma amiga de Jesus Cristo, recuperaram especial fonte de alegria e serenidade.
A releitura do passado tornou-se, portanto, uma experiência que alargou a “razão fundante da fé”. Esta força renovadora fez com que continuassem andando, mas, com uma característica totalmente nova e distinta: passaram a ser alegres anunciadores da Boa Nova.
Os saudosismos estéreis e paralizadores ficaram para trás e eles encontraram motivações novas e redobradas forças para viver e partilhar uma mensagem de alegria.
Na fração do pão, símbolo da Eucaristia, os discípulos de Emaús aprofundaram sua fé.
Nós vivemos um discipulado parecido. Certos sonhos ideologizados frustram e machucam nossos sentimentos afetivos básicos. Todavia, quando “caminhamos” ao encontro de pessoas e reinterpretamos com elas os desencantos, facilmente ocorrem rápidas intuições de síntese que nos levam a continuar andando, e, com a peculiaridade da alegria no lugar das amarguras do coração.

Bom seria se nossa participação em encontros eucarísticos também pudesse despertar, ao lado da memória de Jesus Cristo, a memória dos nossos aparentes ou reais fracassos, e, ainda assim, facilitar a necessária síntese para que o núcleo da fé continue a mover-nos para além de alguns sonhos induzidos que decepcionaram. O que importa é a recuperação da alegria!

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