Com maior ou menor intensidade de
sofrimento, temos que lidar, de vez em quando, com as tristezas e com as desilusões
provenientes da simples frustração de sonhos ou de expectativas.
O sofrimento se aguça ainda mais
quando cultivamos e acalentamos sonhos que não nos levam ao alcance de
situações desejadas. Como, então, continuar a achar graça da vida e procurar
outras motivações para ajeitar-nos conosco mesmos e com os outros?
O evangelho de Lucas (24,13-35)
apresenta um relato que pode facilitar a lida com os desencantos da existência.
Um primeiro aspecto indica que os protagonistas caminhavam decepcionados por
causa de um grande sonho frustrado: esperavam um rei poderoso, forte,
imponente, mas, o que encontraram em Jesus Cristo foi apenas um servidor
humilde que convocava as pessoas a se envolver na construção de um reino novo,
o reino de Deus. Por outro lado, em vez da ostentação de glórias, foi morto
como subversivo, para os romanos, e, como deturpador da religião, para os
judeus.
O aspecto interessante é que, apesar
das tristezas e das dúvidas, a fé fragilizada dos jovens Emaús, ainda continuaram
a caminhar. Dali decorreu o fato inusitado: reconheceram Jesus, ao fazerem
recordação dos caminhos percorridos e dos percalços encontrados. Ao efetuarem a
síntese, redescobriram razões para continuar caminhando. Partilharam a ousadia
dos sonhos acalantados, mas, ao reconsiderar os fatos da forma amiga de Jesus
Cristo, recuperaram especial fonte de alegria e serenidade.
A releitura do passado tornou-se,
portanto, uma experiência que alargou a “razão fundante da fé”. Esta força
renovadora fez com que continuassem andando, mas, com uma característica totalmente
nova e distinta: passaram a ser alegres anunciadores da Boa Nova.
Os saudosismos estéreis e
paralizadores ficaram para trás e eles encontraram motivações novas e
redobradas forças para viver e partilhar uma mensagem de alegria.
Na fração do pão, símbolo da
Eucaristia, os discípulos de Emaús aprofundaram sua fé.
Nós vivemos um discipulado parecido.
Certos sonhos ideologizados frustram e machucam nossos sentimentos afetivos
básicos. Todavia, quando “caminhamos” ao encontro de pessoas e reinterpretamos
com elas os desencantos, facilmente ocorrem rápidas intuições de síntese que
nos levam a continuar andando, e, com a peculiaridade da alegria no lugar das
amarguras do coração.
Bom seria se nossa participação em
encontros eucarísticos também pudesse despertar, ao lado da memória de Jesus
Cristo, a memória dos nossos aparentes ou reais fracassos, e, ainda assim,
facilitar a necessária síntese para que o núcleo da fé continue a mover-nos
para além de alguns sonhos induzidos que decepcionaram. O que importa é a
recuperação da alegria!
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