quinta-feira, 22 de maio de 2014

Batismo e magia



            A expansão das primeiras comunidades cristãs caracterizava-se por estreita relação com o batismo e unção de crisma. A imposição das mãos aos batizados que aceitavam o itinerário de seguimento de Jesus Cristo, dava-lhes a certeza da atuação do Espírito Santo, porque junto com a memória do significado da ressurreição de Jesus Cristo, vinha a certeza da ação do Pentecostes, ou seja, a manifestação do Espírito de Deus.
            Em nossos dias, tanto o batismo quanto o Espírito Santo costumam ser interpretados numa perspectiva mágica. De uma longa herança da ancestralidade brasileira, o batismo passou a ser considerado ato literalmente mágico: o gesto da unção de água sobre a cabeça do batizando auferia-lhe, imediatamente, três condições: membro da Igreja, Filho de Deus e a garantia da vida eterna. Sob estes pressupostos, - praticamente de compra do Sagrado, - a comunidade, bem como crescimento na fé, através do um progressivo aumento de vivência dos traços básicos de Jesus Cristo, ficavam relegados.
            O sacramento da Crisma, celebrado como confirmação dos batizados na fé, através de um rito de unção e imposição das mãos sobre a cabeça, também passou por um processo de esvaziamento a ponto de ser buscado como mero rito de passagem, ou, como uma espécie de pequena formatura de um cursinho de crisma. Ao lado desta busca imediata e mágica da ação do Espírito de Deus, passou também a ser dispensado todo o dinamismo de crescimento para melhor ajudar a construir o reino de Deus.
            Ao lado do significado mágico da crisma, vivenciamos também, em nossos dias, um mapeamento do cotidiano em nome do Espírito Santo, como se Ele fosse um Deus acima de outros para acessos exotéricos de poderes e forças especiais. O pior é que geralmente esta presumida vantagem secreta de acesso ao Espírito Santo é usada muito mais para subir no status de poder pessoal e da precedência do que de um humilde peregrinar para a construção do projeto de Jesus Cristo.
            Deste pressuposto de acessos exclusivos e especiais, ao contrário do que nas primeiras comunidades se acreditava, delimita-se o lugar e a forma de rezar para acesso ao Espírito Santo. Antigamente se sustentava a inabitação do Espírito Santo. Em outras palavras, era a crença de que Ele não é “engaiolável” e restrito a certas pessoas e lugares. Ele poderia manifestar-se em qualquer ambiente e em qualquer situação.
            Por conseguinte, tanto a celebração do batismo, quanto da crisma, não requerem um conjunto de cerimônias e de rituais sensacionalistas, mas, constituem celebrações de iniciação na árdua tarefa de continuar a missão de Jesus Cristo.
O Espírito prometido por Jesus Cristo é, certamente, para animar as pessoas que desejam envolver-se mais intensa e profundamente nesta missão. Ele, com muita probabilidade vai se manifestar onde ocorre uma mística, ou seja, uma busca sincera de maior intimidade com Deus, e, com implicações éticas diante de formas tão injustas e desiguais na organização da vida em sociedade.


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