A expansão
das primeiras comunidades cristãs caracterizava-se por estreita relação com o
batismo e unção de crisma. A imposição das mãos aos batizados que aceitavam o
itinerário de seguimento de Jesus Cristo, dava-lhes a certeza da atuação do
Espírito Santo, porque junto com a memória do significado da ressurreição de
Jesus Cristo, vinha a certeza da ação do Pentecostes, ou seja, a manifestação
do Espírito de Deus.
Em nossos
dias, tanto o batismo quanto o Espírito Santo costumam ser interpretados numa
perspectiva mágica. De uma longa herança da ancestralidade brasileira, o
batismo passou a ser considerado ato literalmente mágico: o gesto da unção de
água sobre a cabeça do batizando auferia-lhe, imediatamente, três condições:
membro da Igreja, Filho de Deus e a garantia da vida eterna. Sob estes
pressupostos, - praticamente de compra do Sagrado, - a comunidade, bem como
crescimento na fé, através do um progressivo aumento de vivência dos traços
básicos de Jesus Cristo, ficavam relegados.
O sacramento
da Crisma, celebrado como confirmação dos batizados na fé, através de um rito
de unção e imposição das mãos sobre a cabeça, também passou por um processo de
esvaziamento a ponto de ser buscado como mero rito de passagem, ou, como uma
espécie de pequena formatura de um cursinho de crisma. Ao lado desta busca
imediata e mágica da ação do Espírito de Deus, passou também a ser dispensado
todo o dinamismo de crescimento para melhor ajudar a construir o reino de Deus.
Ao lado do
significado mágico da crisma, vivenciamos também, em nossos dias, um mapeamento
do cotidiano em nome do Espírito Santo, como se Ele fosse um Deus acima de
outros para acessos exotéricos de poderes e forças especiais. O pior é que
geralmente esta presumida vantagem secreta de acesso ao Espírito Santo é usada
muito mais para subir no status de poder pessoal e da precedência do que de um
humilde peregrinar para a construção do projeto de Jesus Cristo.
Deste
pressuposto de acessos exclusivos e especiais, ao contrário do que nas
primeiras comunidades se acreditava, delimita-se o lugar e a forma de rezar
para acesso ao Espírito Santo. Antigamente se sustentava a inabitação do
Espírito Santo. Em outras palavras, era a crença de que Ele não é “engaiolável”
e restrito a certas pessoas e lugares. Ele poderia manifestar-se em qualquer
ambiente e em qualquer situação.
Por
conseguinte, tanto a celebração do batismo, quanto da crisma, não requerem um
conjunto de cerimônias e de rituais sensacionalistas, mas, constituem
celebrações de iniciação na árdua tarefa de continuar a missão de Jesus Cristo.
O Espírito prometido por Jesus Cristo
é, certamente, para animar as pessoas que desejam envolver-se mais intensa e
profundamente nesta missão. Ele, com muita probabilidade vai se manifestar onde
ocorre uma mística, ou seja, uma busca sincera de maior intimidade com Deus, e,
com implicações éticas diante de formas tão injustas e desiguais na organização
da vida em sociedade.
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