Nas lidas de
um dia normal, com certeza, cruzamos por muitas portas e, muitas vezes pelas
mesmas portas. Umas estão fechadas e precisam ser abertas; outras estão abertas
e convém que sejam fechadas por razões muito variadas. Por vezes para evitar
sequelas do vento; em outras, para não expor a intimidade, ou para assegurar a privacidade.
Como as
portas da residência ou da área de serviço separam mundos, é natural que nem
sempre devam estar abertas, e, é igualmente evidente que nem sempre precisam
estar fechadas. Porém há muitas portas que se abrem, não para acolher e nem
para desfrutar da condição “nidícola” do espaço doméstico. Há quem entra à
força e, se uns tendem a entrar para efetuar roubos, outros procuram entrar,
mesmo sem convite ou autorização, para invadir a privacidade.
Muito amplo
também é o mundo das portas que se abrem efusivamente apenas para alguns
partidários de alguma ideologia ou de algum interesse precípuo e se fecham
escancaradamente a todos quantos não interessam. Atrás desta ambiguidade das
portas estão pessoas ou controles remotos que agem de formas a permitir
cruzamento somente de pessoas conhecidas e selecionadas.
Para o povo
bíblico do tempo do exílio na Babilônia a triste experiência foi a de constatar
que para ele já não existia nenhuma porta aberta. Entre os sentimentos de culpa
diante dos percursos que o levou a tal fatalidade e a revolta diante da
absoluta inviabilidade de pelo menos vislumbrar a possibilidade de que alguma
porta pudesse abrir-se, o profeta Ezequiel se esmerava muito na insistência de
que pelo menos Deus representava uma porta aberta, através da qual poderiam
voltar a sonhar e articular um caminho de libertação.
Mais tarde,
na fase primitiva do cristianismo, quando outras dificuldades desanimavam os
discípulos de Jesus Cristo, o evangelista São João lhes apontou uma rica imagem
do significado de Jesus Cristo: primeiramente assegurou que Jesus representava
um curral seguro contra ladrões e salteadores, mas que, simultaneamente,
representava a porta de saída do curral e ele mesmo conduziria as ovelhas para outros
lugares de fartas pastagens.
Por
conseguinte, fica também para nós a evidente dedução de que o jeito de Cristo evita
que nos tornemos salteadores ou ladrões. Pela porta do seu caminho advém uma
segurança, desde que se ouça sua voz, e, não a de estranhos que apenas abrem
portas para manipulações interesseiras. Na sua alegoria somos igualmente
interpelados a avaliar tanto a voz que mais ouvimos quanto modos de agir para
oferecer segurança a quem vem ao nosso encontro e que também deseja o caminho
seguro das fertilidades que a mãe terra produz.
Na imagem
das boas pastagens, com certeza, nós as desejamos ardentemente, mas, nos últimos
tempos somos induzidos a desejá-las somente para nós mesmos e nos tornamos
insensíveis aos outros que também anseiam por alguma participação. Ao mesmo
tempo, constitui uma interpelação para não ficarmos acomodados na mesmice do
cotidiano das rotineiras coisas e seguranças.
Há muitas outras possíveis pastagens, também
na qualidade de fé das comunidades cristãs. Da mesma forma, existem outras
possibilidades alternativas aos detentores do poder que se pensam os únicos
salvadores do povo. O triste espetáculo de tantos fatos de corrupção indica que
se aproximam muito mais dos salteadores do que dos seguros condutores, capazes
de levar para fora do redil das obsoletas barganhas interesseiras e dominadoras.
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