Mais cedo ou mais tarde, aparecem na
vida os momentos em que a vontade não consegue juntar forças suficientes para
lidar com algum fracasso pessoal ou uma predisposição para alguma doença.
Memórias antigas de êxito diante de momentos
difíceis facilmente podem induzir a variadas formas de compra de afeto, diante
das reincidências de sintomas similares aos que permitiram superar aquela
dificuldade.
Do livro dos Reis temos uma narrativa
muito interessante relativa ao profeta Elias diante de uma crise superada. Como homem ardoroso pela causa de Deus,
combateu os sacerdotes de outra religião, que entraram no país, junto com a
rainha Jezabel ao se casar com o rei Acaz.
Vitorioso na luta, não soube, todavia, lidar
com o efeito do seu empenho: a rainha exigiu uma vingança. Ao ser informado da
perseguição desencadeada com vistas a receber a cabeça de Elias como vingança,
ele conseguiu fugir para o deserto. Já distante e livre da perseguição, Elias
entrou numa crise de profundo desânimo.
No deserto não tinha água e nem
comida, além de um calor quase insuportável. Sentiu, então, na sua experiência
pessoal, algo similar ao que o povo dos seus antepassados havia experimentado
naquele mesmo ambiente: murmúrio contra Deus e contra a própria vida. No
entanto, aquele mesmo deserto havia propiciado, aos antepassados, condições
suficientes de sentido para não morrerem ali.
No auge da fome, encontraram resina
de tamareira e puderam fritar perdizes que caíam já sem forças, exauridas com
as longas voadas. Ao mesmo tempo, foi no meio daquele deserto que o povo
encontrou água para matar a sede.
Elias, nutrido pela memória
ancestral, também encontrou água e pão, mas, quis acomodar-se a este quadro e
ficar apenas dormindo. Entretanto, como seus ancestrais, Elias não poderia
ficar sempre ali. A água e o pão (maná) dos antepassados tornaram-se meios
indispensáveis para o prosseguimento da viagem em favor da sonhada terra
prometida, da qual Elias havia fugido.
Na imagem da busca do monte Horeb, onde os antigos
estabeleceram as regras éticas e religiosas para a possibilidade de convivência,
Elias também teria que achar as fontes dos seus antepassados para pensar muito
além do deserto. E foi nesse itinerário que Elias se transformou profundamente
e passou a ser uma pessoa humilde, discreta e de uma bondade contagiante que o
levou a ser chamado de “homem de Deus”.
Quando,
em momentos difíceis, conseguimos voltar às raízes do nosso passado,
certamente, como Elias também nós podemos encontrar um processo de conversão
que muda os rumos da vida para mais qualidade!
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