Uma peruca pode disfarçar e esconder
perfeitamente uma calvície. Ela pode deixar nas outras pessoas a simpática
impressão de que, quem a usa, tenha cabelo viçoso, asseado, bem tratado e
encantador.
A peruca também se presta para esconder o cabelo natural da
cabeça, de traços considerados pouco atraentes, ou, em dissonância com o gosto
de quem os recebeu com o dom da sua existência.
Quando alguém apela ao uso de peruca, supomos que não
esteja gostando do seu cabelo ou que queira deixar a impressão de que não é
careca, uma vez que a calvície pode denegrir a auto-estima de algumas pessoas e se
presta para alguma gozação. Até aí, tudo bem, mas, quando alguém deseja
aumentar a quantidade de cabelos na cabeça, ainda que seja somente um fio, a
peruca se apresenta totalmente ineficaz. Por mais bonita que possa ser e por
mais que possa disfarçar os poucos cabelos que oculta, ou até a ausência de
cabelos, ela não acrescenta um único fio de cabelo à calvície.
Nas
buscas de espiritualidade muitas pessoas empreendem algo similar ao que acontece
com a peruca e se embrenham num caminho de incongruência.
Em nossos dias, muitas pessoas agem de forma parecida com quem
usa peruca para esconder a cabeça careca. Como a ausência dos desejados fios
não será efetivamente suprida pelo uso da peruca, a ocultação ou dissuasão dos
fios perdidos não povoa a calvície. Mecanismo bastante parecido é adotado por
muitos programas religiosos midiáticos. Com jogo de luzes e imagens
hiper-reais, despertam, tanto quanto a peruca, a simpatia e o encantamento dos que
visualizam a beleza da peruca, certamente não irá efetuar a reposição real e
efetiva de cabelos na cabeça.
Para a construção do Reino anunciado
e proposto por Jesus Cristo, não é suficiente o disfarce, a bela encenação
teatral, por mais que possa parecer um simulacro perfeito. Na busca de
espiritualidade, o pressuposto de pretender recuperar espaços e membros
perdidos para as greis, consideradas as mais amadas e protegidas do Pastor, pode
levar à aparência hiper-real que deixa tudo simpático, piedoso, espiritualizado,
comovente e encantador, mas, toda esta imagética pode enfeitar ritos e rituais,
com muitas emoções e comoções, sem, contudo, aprofundar sinais e gestos na
construção do projeto de Jesus Cristo.
A extraordinária apelação para o “Espírito Mágico” que cura
doenças, que salva, que transforma imediatamente a vida para o auge da
felicidade, pode não passar de um engodo e constituir apenas o papel da peruca.
O que se pode apreciar nestes programas é que os rituais e os conteúdos
altamente emotivos, não atingem a causa da ausência de cabelos. Tornam-se apenas mais um produto de consumo do
sistema neoliberal globalizado, que aparenta reposição de cabelos, mas que não
impregna a calvície segundo os desejos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário