domingo, 13 de outubro de 2013

Ética

Apresentação

É possível que a Ética não se encontre num patamar dos mais bem conceituados e num status de urgência das grandes inquietações humanas. No entanto, parece evidente que sem novas luzes efetivas no campo das relações humanas, corremos risco muito grande de ficarmos apenas como a memória dos dinossauros, isto é, não nos entendemos a nós mesmos, não nos damos com os outros e destruímos as condições de vida no planeta.
            Um ditado popular diz que Deus perdoa sempre, que as pessoas perdoam de vez em quando, mas, que a Natureza não perdoa nunca. É possível que a valoração de certos procedimentos humanos, tidos como fontes de prazer, de felicidade, de valor, de veracidade e de utilidade, não estejam sendo suficientes para ultrapassar a dificuldade que encontramos a fim de nos entender, para nos amar e para lidar, da mesma forma, com a Natureza.
            Sensibilizar-nos em torno de algo que possa alargar os sonhos de uma vida, cuidada de múltiplas formas, será certamente uma tarefa que vai fazer bem a nós mesmos e a outras pessoas. Por isso, é de real importância conhecer o passado da normatividade ética, as tendências do nosso tempo e o que é fundamental na legislação ética: uma atenção maior à vida.
            Enquanto as religiões que poderiam ser os porta-vozes mais destacados para apresentar regras de boa relação entre os seres humanos, emerge do fanatismo de muitos de seus representantes o maior medo de degradação, tanto das relações com as pessoas quanto as que se fazem necessárias com a natureza, pois, instigam iminências de guerras. Entretanto, na medida em que procuram religar os seres humanos com as instâncias superiores do âmbito de Deus, é de se esperar que delas ainda possam aparecer esperançosas pistas para o bom entendimento humano, ao lado das outras múltiplas inquietações por melhor entendimento humano.


1. Conceitos de Ética

É comum que pessoas indignadas com uma situação constrangedora, causada por outra pessoa, exclamem que ela foi imoral, indecente e anti-ética. Facilmente usa-se Ética e Moral para expressar a mesma realidade. No entanto, o que é mesmo a Ética?
Primeiramente, existe diferença no significado dos termos “Ética” e “Moral”. Enquanto Moral se relaciona a ações reais ou a modos de proceder no agir com outras pessoas e coisas, e, às lidas concretas; já a ética, é constituída de princípios para levar a determinadas e desejadas condutas, ou seja, é uma concepção filosófica a respeito da vida e dos valores para regê-los da melhor forma. Aproxima-se, pois, do pensar sobre o agir moral e, por isso, também leva o nome de Filosofia Moral. Mesmo assim, pode um ato moral não estar necessariamente ligado a uma orientação ética, de origem racional ou filosófica.
Outra maneira fácil de distinguir a relação da Ética com a Moral é a oferecida por Maturana e Rezepka: “Ética tem o seu fundamento no amor, a Moral tem o seu fundamento na exigência do cumprimento de valores”.[1]
O fato gerador da ética é o das relações humanas em sociedade: vai de fatos simples como o modo de morar, de pessoas se ajudarem, de serem responsáveis, de cuidar das coisas, até as complexas regras normativas da vida social e das leis jurídicas.
Vejamos mais algumas definições de ética:
a)      Ética ainda pode ser definida como a teoria ou a ciência do comportamento moral de seres humanos em sociedade. Trata-se de uma das muitas esferas do comportamento humano; mas, o que o que é realmente comportamento moral? Mais do que observância de certas regras religiosas, a moralidade implica no agir concreto em favor da vida nos seus amplos significados.
b)      Talvez outro conceito nos ajude a clarear melhor o entendimento: ética é a arte da convivência humana. Bem sabemos que a convivência pacífica e ordeira não é alcançada pela guerra e por meios violentos. Os segredos da boa vontade, da misericórdia e de tantas outras virtudes humanas permitem propiciar níveis satisfatórios de convivência com as pessoas e com a natureza.
c)      A antiga cultura grega nos oferece outra definição ampla e valiosa de ética: reflexão ou “saber” sobre o “Êthos”, palavra grega, que por certo tempo, significava moradia, refúgio, ou abrigo. Implica, portanto, no lugar onde as pessoas se sentem seguras. É claro que as quatro paredes de uma casa não são suficientes para isso. Morada tem um significado existencial, ou seja, envolve um espaço humano, os valores e os princípios deste ambiente humano.
d)      Mais tarde, introduziu-se outra significação para o termo, já escrito com o Épsilon “ETHOS” (sem o acento) para conotar hábitos, crenças, costumes e instituições da sociedade. Este novo significado de “Ethos” implica num traço bem distinto, pois, implica em fazer-se e refazer-se constantemente em vista do bem comum.
Não se trata apenas de algo que é buscado para satisfação pessoal, mas, um modo de agir que visa o conjunto da sociedade. Resulta dali a conotação de que a ética constitui o conjunto de princípios, valores e razões que levas as pessoas de uma determinada comunidade a agir de uma forma peculiar.
 O comportamento desta forma de vida reproduz tradições, estilos de vida, modos de acolher, de conversar e hábitos no modo de ser. Assim, pode-se falar em ética capitalista: acumular muito, pagar pouco, explorar os outros e a natureza ao máximo e encher-se de riqueza, o que faz entender a crise ética de nossos dias.[2]
e)       Em sentido bem amplo ética pode significar organização de um povo. Bem sabemos que qualquer organização humana pode evoluir, pode decair, pode ser reformada ou inovada, pode ser parcial ou ampla e ainda pode ser escrita ou não escrita. Os modos de fazer-se e refazer-se são modificados de um lugar para outro devido a diversos fatores: primeiramente, pela diversidade dos traços culturais. Também as influências geográficas agem sobre a convivência humana, uma vez que a convivência é afetada pelo frio, num lugar; pelo calor, em outro lugar; pelas flores ou pela aridez e, até mesmo pelas estações que afetam momentos distintos da convivência humana. Basta comparar um lugar de frio intenso, com neve, com outro, de elevadas temperaturas tropicais.
Ética envolve, portanto, o campo das decisões relativas ao que deve ser feito para que a dimensão social e coletiva das pessoas seja boa, certa, correta e justa. Para tais fins, são estabelecidas regras, funções, diretrizes ou atributos, mas, o bem coletivo também implica em novas decisões para que os comportamentos sejam responsáveis e conduzam ao melhor nível de vida. Tal atividade é chamada de Deontologia.
Bem sabemos que qualquer sociedade requer regras para o funcionamento coletivo. Estas regras implicam em três características: a) o modo como as decisões são tomadas; b) o sistema que produz e mantém estas normas; c) o quadro cultural desta sociedade.
Cabe-nos logo uma pergunta importante: Como se manifestam os valores éticos em nossas casas, cidades e na grande casa que é o planeta Terra?
Evidenciam-se muitos valores fanatizados. Podem ser religiosos, políticos e econômicos, etc., e, tanto uns como outros, tendem a gerar morte de pessoas. Em alguns casos é morte física, em outros, morte do nome ou da auto-imagem.
A simples consideração dos informativos de noticiários revela manifestações de muitos valores literalmente imorais, ou antiéticos, devido à enormidade de injustiças, de casos de corrupção e das muitas formas opressoras contra certos grupos humanos. Nem sempre aparece em evidência o lado positivo da ética, no sentido de personalizar, socializar e de libertar as pessoas dos jugos e dos condicionamentos que estão sendo submetidas por outras pessoas. Significa, pois, que se fazem necessários muitos novos valores, tanto na justiça, quanto na economia, na política, na pedagogia, na religião, nos esportes e até nos campos técnicos e científicos para que a vida de convivência humana seja efetivamente boa.[3]
Enfim, que elementos são mesmo constituintes do conceito de ética? Preocupação com a qualidade da convivência humana no planeta e, com ele, para boas perspectivas de futuro.

1.1  – Ética Descritiva
É a que procura fazer descrições do que é observado a respeito das noções éticas de populações ou sociedades. Não as reforça e nem as condena, mas procura observar o que nestes grupos está estabelecido como valioso. Trata-se, pois, do resultado de pesquisa feita a respeito do que é considerado importante na vida deste grupo humano, seja na conduta sexual, no modo de pagar impostos, de lidar com roubos e falcatruas, etc.
Como atualmente é fácil fazer sondagens de opinião, podem resultar muito ambíguos os dados que mais aparecem. Por exemplo, certos programas interativos de televisão que em poucos minutos oferecem dados estatísticos a respeito de um procedimento ou de uma conduta. Não pode significar que o número mais elevado de respostas a uma postura seja a mais ética. Nem sempre as opiniões mais amplas são necessariamente corretas e, nem tudo o que é feito por muitos é necessariamente ético ou certo. Não será pelo roubo de mitos que o roubo será considerado um procedimento bom e ético. Uma descrição de valores éticos ainda não significa normatividade ética. Se numa pesquisa, por exemplo, vier a ser constatado que muitas pessoas são racistas, não equivale a que todos possam ser racistas.

1.2  – Ética Normativa
É a que salienta as ações éticas tidas como certas, corretas, justas e boas. A ética normativa envolve normas, valores e códigos com a perspectiva de que sua prática Le vê a atos bons. Os dez mandamentos da bíblia, por exemplo, constituem normas para corresponder à aliança que as doze tribos de Israel fizeram para se entenderem entre si e com Deus e assegurar este bom relacionamento.
Mais importante do que descrever ou prescrever o que deve ser feito, o que realmente importa, é o agir para que nós seres humanos não acabemos criando uma ameaça maior do que a de alguma ameaça cósmica através da destruição os eco-sistemas capazes de permitir a nossa vida coletiva. Sob este aspecto, estamos numa real e profunda crise ética. As variadas revoluções técnicas e científicas aumentaram comodidades e a qualidade da vida, mas, ao mesmo tempo, nos colocaram num consumismo tal que o planeta já não produz o necessário para atender as ambições humanas.
 Ao lado da prosperidade material talvez devamos pensar em saídas éticas que ajudem a cada pessoa lidar melhor consigo mesma, com outras pessoas e, sobretudo, com a natureza. A história humana dos últimos tempos perseguiu demais a auto-afirmação humana e nos levou a perder o horizonte da integração com a natureza. Por isso, no lugar das regras para conquistar cada dia mais, temos que aprender a cuidar mais da vida e da natureza, pois, tudo quanto cuidamos, tende a durar mais.

2. Objeto da Ética

A Ética ocupa-se da realidade moral dos seres humanos, sobretudo no que envolve atos conscientes e voluntários sobre grupos humanos ou sobre toda a sociedade.
Segundo Riesmann, há quatro tipos de posturas morais na sociedade:
a)      O indivíduo e a sociedade sendo dirigidos pela tradição;
b)      O indivíduo e a sociedade sendo dirigidos pela intimidade;
c)      O indivíduo e a sociedade sendo dirigidos por fatores externos;
d)      O indivíduo e a sociedade autonomamente dirigidos.[4]

Apesar destas posturas, transparece uma dificuldade maior no objeto da ética, pois, revela um problema de dois riscos graves: o do individualismo, pois consciências solitárias não conseguem resolver problemas sociais e grupais e, a adoração exagerada de alguns valores nem sempre essenciais na vida social. É o que se chama de fetichização[5] de alguns valores. Este exagero pode forçar pessoas a cumprir determinados comportamentos sociais, mas que não representam nenhum valor para a coletividade.

3. Natureza da Ética

            Como a Ética é um ramo da filosofia, é também chamada de Filosofia Moral. Historicamente, a palavra “ética” era usada na Grécia, em Roma, usava-se o termo “moral”. Como atividade filosófica, a ética estuda e avalia a conduta e o caráter humano, seja nos conhecimentos, nas tradições ou nos costumes.
            Tanto a Ética quanto a Moral costumam ser definidos como campos de estudo que se ocupam da atividade humana relacional, dirigida ao seu fim último, ou seja, sua melhor ou plena realização. Este finalismo envolve dois aspectos:
a)      De fundamentar e de valorizar princípios, normas e códigos éticos para levar a convicções morais;
b)      Estudar critérios capazes de separar o que é moral do que é imoral. Geralmente os dois aspectos são complementares e andam juntos.

A ética envolve uma das áreas filosóficas que diz respeito à moralidade, que envolve tanto problemas morais quanto juízos morais. Por isso, o pensamento ético pode manifestar-se em três direções:
a)      Para descrever e explicar os fenômenos morais, ou seja, faz uma teorização sobre os problemas morais;
b)      Indaga sobre o que é bom, certo, justo e obrigatório e procura os argumentos para justificar estes juízos éticos;
c)      Busca explicações lógicas, epistemológicas ou semânticas a respeito do que é realmente bom, certo, correto e justo.

É comum que Ética e Moral sejam usados como sinônimos em torno do que é considerado bom e certo no comportamento. Mesmo assim, não significam o lado oposto da imoralidade e da a-eticidade. A ética preocupa-se com a moralidade e não com a imoralidade. Envolve um campo amplo de juízos, códigos morais, argumentos morais e consciência moral.
A moralidade não constitui apenas uma descoberta pessoal e intimista, mas está estreitamente vinculada com a dimensão social das pessoas. Embora seja produto da coletividade ou de muitos indivíduos, vai além destes indivíduos porque é social, seja pela origem, ou pelas funções ou ainda pelo tipo de sanções.
A ética, portanto, é um instrumento da sociedade para orientar seus membros, sejam grupos ou indivíduos. Ela os leva a incorporar valores que lhes estabelece.


4. Origem da Ética

A origem da Ética é a natureza social dos seres humanos. Não se trata de uma questão meramente natural e instintiva, mas se deve às relações das pessoas e a consciência que elas têm desta relação. Pode esta relação apresentar traços marcados pelo tipo de trabalho, pela natureza do ambiente cultural e das necessidades de ajustamento dos indivíduos à coletividade. A relação ainda pode depender dos conceitos de justiça que predominam em determinado ambiente. Poe, por exemplo, ser mais distributiva em relação a alimentos, salários e bens e pode também ser mais retribuidora na lida de reparação pelos males cometidos.
Na origem da ética está uma constatação: insegurança. Geralmente ela nasce da constatação de que as relações das pessoas perdem qualidade porque muitas delas começam a organizar a vida em torno de seus interesses particulares e relativizam a justiça em função destes interesses. Isto, num modo de produzir e consumir como esta do nosso tempo impõe regras de competição, de disputa, de oposição e de ameaças de exclusão, ao invés de valorizar a cooperação, a harmonia e a solidariedade para a boa convivência.
Ao longo do tempo duas fontes tem se mostrado mais efetivas para a implantação de regras éticas:
a)      A razão – desde seis séculos antes de Cristo até nossos dias pensadores gastaram tempo para fundamentar racionalmente normas que pudessem ser válidas para o maior número de pessoas possível. Como Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, até pensadores recentes como Bergson, Habermas, Dussel e outros, preocuparam-se para descobrir códigos éticos que pudessem ser universalmente válidos.
b)      As religiões – elas movem a maior parte dos seres humanos em torno dos valores de pertença, e, mesmo que apresente muitas diferenças, umas em relação a outras, convergem para um consenso de regras éticas para orientar as políticas, as economias e as relações internacionais para que sejam respeitosas e edificantes. Em muitas destas religiões manifesta-se, sobretudo em tempos mais recentes uma clara preocupação pela preservação da ecologia. É claro que, também nas guerras, evidenciam-se fortes apelos de fanatismos religiosos que contradizem a razão de ser destas religiões, mas, de forma geral, orientam-se pelo “ethos” de amar e de cuidar.
Segundo Leonardo Boff, a instância formadora dos valores éticos, mais do que na razão, está no afeto, pois, é este que leva a um sentir profundo, ou, à paixão por valores que possam melhorar as relações dos seres humanos entre si.[6] Segundo Boff, a paixão também é habitada por um demônio que é o do desfrute destruidor. Isto ocorre quando valores não são levados a sério para todas as circunstâncias. Assim, a paixão, esta extraordinária fonte de energia, desprovida de razão, pode tornar-se avassaladora. Significa, portanto, que a paixão só se torna eficaz quando é equilibrada pela razão. O risco que também se apresenta, é o da razão exercer excessiva influência sobre a paixão. Neste caso, implanta-se a rigidez, a tirania da ordem e a ética transformada em regras para interesses utilitaristas. Requer-se, por conseguinte, que a ética seja regida por ternura e por vigor. Ternura que leva a cuidar dos outros e das cosas; vigor, para superar os obstáculos e para transformar utopias em realidade.[7]

5. Fundamentos da Ética

O fato de códigos éticos ou morais estabelecerem leis, de ditarem normas e de prescreverem deveres para uma determinada comunidade, desperta, de imediato, uma indagação polêmica: quem aprova estes códigos?
Hoje tendemos a não aceitar que eles estão sendo estabelecidos de forma incontestável por autoridade divina. Por isto, aumenta a dúvida a respeito da necessidade de ter que cumprir tais prescrições. A reação pode ser maior ou de mais fácil acolhida de acordo com quem estabeleceu as exigências. Dependem também do valor que representam para as pessoas e da possibilidade de poderem ser mudadas. Dali ainda emerge outra consideração: quem substitui as normas por outras melhores? Os governantes, a coletividade ou cada indivíduo segundo seu gosto?
Esta discussão certamente é tão antiga como a organização social humana. Os antigos gregos, ao entrarem em contato com outros povos através das guerras ou outras formas imperialistas, já percebiam a existência de enorme variedade de regras na organização da conduta humana.
Ainda hoje persiste a tendência de que governantes de Estado se proclamem no direito de estabelecer convenções, segundo as julgam mais oportunas, porém, para os seus interesses e não os do bem estar de todos os cidadãos.
 Os sofistas gregos por acharem que os gregos possuíam regras éticas bem superiores aos demais povos, proclamaram-se no direito de implantá-las sobre os demais, qualificados como bárbaros.
 O filósofo Sócrates, que veio a ser chamado o pai da filosofia moral, ao apontar outra forma de conduta para os seres humanos e, contra as teses dos sofistas, por entender que as regras morais não poderiam ser apenas o resultado de convenções sociais, sustentava que o fundamento das regras deveria ser o da Natureza dos seres humanos.
Assim, ao contrário dos sofistas, Sócrates entendia que as normas éticas e morais deveriam ser ensinadas na escola e deveriam estar presentes nas pessoas que ensinam, e não meras regras de imposição. Para aquele filósofo, a fundamentação das regras éticas e morais deveriam partir de um nível mais profundo do ser humano: ser ímpio ou santo, perverso ou bom, não é a mesma coisa. Nem todos os códigos legitimados eram merecedores de crédito e aceitação e de legitimidade. Cada indivíduo deveria ter um critério de moralidade que o capacitasse a distinguir entre bem e mal, para poder buscar o bem e evitar o mal.
A palavra “ética” como conjunto de idéias sobre o tema, começou de maneira formal apenas com Aristóteles, embora, antes dele, já estivesse constituída como assunto filosófico. Faziam-se reflexões de caráter ético, mas, ainda não como conjunto de normas sociais vigentes. Aristóteles, além de criar a disciplina, se debruçou sobre os problemas que outros pensadores iriam retomar mais tarde sobre o mesmo assunto. Classificou as virtudes e a relação entre ética individual e social, bem como, a vida teórica e a prática. Este foi o assunto que mais entrou na discussão dos sucessores de Aristóteles. A questão era: faz-se teorização da prática ou faz-se teoria que acaba em prática?
Todo o pensamento grego antigo tinha uma particular inquietação para situar ética, como já salientamos acima, na Natureza. Já naquele tempo pensadores preocupavam-se em torno da hierarquização dos bens a fim de que as pessoas pudessem avaliar o grau de alcance dos bens maiores e estabelecer um equilíbrio entre as paixões e as satisfações.
No período cristão introduziram-se mudanças e adaptações nas idéias éticas anteriores. Primeiramente os pensadores cristãos deslocaram o fundamento da ética, tirando-o da Natureza e passando-o para o campo religioso, o que facilitou a criação da ética heterônoma, ou até “Teônoma”, pois o próprio Deus estaria exigindo dos cristãos o cumprimento de normas éticas para estes serem felizes. Assim, os pensadores cristãos adotaram a noção grega de que o bom é o verdadeiro. E ao pensar a pessoa cristã como peregrina que, de passagem deste mundo para o verdadeiro que viria depois da morte, não se daria, naturalmente, ênfase à busca de felicidade neste mundo. Os bens deste mundo, mesmo outorgados por Deus, não deveriam impedir a ascética da antecipação do mundo que viria depois. Mais tarde, com a Escolástica, os bens deste mundo começaram a receber maior consideração e deixaram de ser vistos como incompatíveis com as virtudes cristãs.
Com o Renascimento reintroduziram-se noções éticas estóicas e outras que haviam sido abandonadas há muitos séculos, e encantaram pensadores como Descartes e Spinosa. A partir de século XVII alargaram-se reformulações nas teorias éticas, gerando diversas correntes como a de Hobbes que fundamentava a ética no egoísmo, os maquiavélicos, no realismo político e, outros, como Hutcheson, no sentimento moral. O que mais preocupava os pensadores era a origem dos preceitos éticos: para uns, era inata, para outros, a intelectualidade, para outros ainda a emotividade, o senso comum, a utilidade, a simpatia e, na igreja Católica permaneceu a defesa da origem religiosa.
Uma mudança no pressuposto das origens veio com Kant. Para ele, a origem estaria na autonomia da cada pessoa. Com isso, se abriu uma nova polarização: o fundamento da ética é heterônomo ou autônomo?
Pelo olhar de Kant se a origem da ética procede de coação ou de origem exterior aos seres humanos, então não há liberdade; já para outros, seria necessária esta intervenção de Deus para que a sociedade pudesse organizar-se adequadamente. A questão mais polêmica ficou por conta de um pressuposto: quem tem acesso ao que deus realmente quer para o agir ético dos seres humanos? Seriam os teólogos? E poderiam eles, por vias racionais chegar a este plenitude?


6. O fim do agir ético

Qual poderia ser o critério supremo do agir ético entre o bem e o mal? Entre os filósofos existem muitas discordâncias a respeito do limiar entre o que é bom e o que é ruim. Entre eles há, todavia, um consenso para considerar a liberdade como condição básica. Além de condição básica a liberdade constituiria um componente do agir moral. Uma segunda condição que os filósofos consideram básica um ato ético, ou agir moral, é o do conhecimento ou o da consciência. Uma pessoa para considerar que um ato é livre deve ter consciência ou conhecimento deste ato. Uma terceira condição necessária para que um ato seja considerado ético é o do princípio orientador, isto é, a pessoa deve estar disposta para orientar-se em torno de alguma causa ou motivação.
Na primeira questão, a da liberdade como condição para um ato ético, surge outra questão polêmica: a que tipo de normas precisa a liberdade sujeitar-se? Há quem defenda que o fim último do agir ético está o valor. Já outros, consideram as leis e os deveres como critério supremo do agir ético. Os efeitos de uma ou outra posição são diversos.
A primeira ponderação, que defende o valor, é conhecida como ética teleológica. A outra que sustenta as leis e os deveres de cumpri-las é conhecida como ética deontológica. Entretanto, tanto o fim último quanto o dever, implicam em grande variedade de focos: pode ser o prazer, o interesse, o utilitarismo, a felicidade, etc. Estes focos não podem ser sustentados, nem em regras divinas, nem em regras civis e tampouco em regras naturais.
Pelo lado das defesas teleológicas, ou das finalidades, as considerações últimas da ética poderão ser estabelecidas como hedonismo, utilitarismo, eudaimonismo ou ética dos valores. Na outra perspectiva, a das leis e do seu cumprimento, ou ética deontológica, os fins predominantes são o estoicismo e o formalismo Kantiano. Voltaremos adiante a estes aspectos.

7. Concepções Éticas mais comuns

Ao longo da história três tipos de concepção ética se impuseram com maior abrangência:
a)      Ética da natureza – que vincula à natureza a origem das regras éticas. Portanto na raiz da ética estariam os fatores biológicos.  Sob esta concepção, a solidariedade, o altruísmo e a disciplina não passariam de questões instintivas. Charles Darwin até justificou que lealdade, amor e fidelidade, nós os experimentaríamos do mesmo jeito que os outros animais. O efeito desta concepção reforça o determinismo biológico. A partir da Antropologia entende-se que o ser humano depende mais da cultura do que do determinismo biológico.
b)      Ética Heterônoma – oriunda especialmente da concepção religiosa cristã, sustenta que a origem última das normas éticas está em Deus. Daí o porquê de se chamar de heterônoma, pois, seria algo de fora da condição humana que lhe pede o cumprimento de normas. Em outras palavras, algo é bom porque vem de Deus e é ele que pede o cumprimento das leis. Como se constata, pode muito bem uma pessoa falar em nome de Deus e impor suas exigências como sendo de Deus. Seria, pois, uma apelação a Deus para controlar o comportamento ético de outras pessoas...
c)      Ética Autônoma – sustenta a fonte e a origem dos atos éticos na própria condição humana. Sobretudo a partir do filósofo Emanuel Kant, entende-se que o psiquismo de cada pessoa já apresenta uma inata capacidade de discernimento do que é bom ou ruim. A essência ética seria algo natural presente em cada ser humano e que lhes daria a capacidade de julgar um procedimento como ético ou não ético. Da noção Kantiana rapidamente se chegou à ética do emotivismo e do instante: assim, algo é bom, certo, correto e justo dependendo do humor daquele momento. Pode algo ser muito bom hoje, e não ser bom no dia de amanhã.
Se prestarmos atenção às três concepções, poderemos que, uma como as outras, reduzem o caráter histórico e social do agir ético. Portanto, todo o campo das obrigações éticas não pode estar desvinculado das relações sociais. As decisões para um indivíduo devem ser as dos indivíduos e dos indivíduos em sociedade. Todo comportamento individual procede de relações sociais e implica em modos de relações com os outros. Até o ato de agir subjetivo segundo a consciência ou o “foro interior”, é repercussão de situações sociais e de um agir de certo momento histórico e cultural. Nem é possível que uma pessoa viva exclusivamente das suas opções pessoais, uma vez que estas estão sempre relacionadas a um ambiente social e seus valores cultivados.


8. Surgimento de grandes patamares éticos

A história humana, sobretudo nos tempos mais recentes de cerca de dois mil e seiscentos anos, revelou diversos novos aportes de noções éticas para a convivência humana:
a)      O da antigüidade grega – que apresentou como traço principal a preocupação em torno de uma subjetivação que pudesse situar os seres humanos no universo da natureza, e o lugar dos seres humanos nesta universalidade das formas de vida. Havia um desejo e uma vontade de adequar vida social com leis justas para corresponder às vontades divinas;
b)      O do período cristão – no qual prevaleceu o desejo de situar os seres humanos no caminho d fé como sinal de grandeza da sua condição de serem criaturas procedentes da criação divina. Neste modo de concepção predominaram os argumentos em favor da normatividade heterônoma, ou seja, as normas estariam vinculadas ao desejo da ação de Deus;
c)      O do mundo moderno – neste foram deixadas de lado tanto as buscas metafísicas para entender o que estava além da aparência das coisas, próprias do pensamento grego, quanto explicações decorrentes da fé que procuravam estabelece regras de vida adequadas a pressupostos divinos. O pensamento ético moderno, que culminou em Immanuel Kant, é o de que a normatividade ética não pode depender nem de Deus e nem da Natureza, mas, da boa vontade e da razão prática, que estariam naturalmente presentes nas pessoas;
d)      O período de nossos dias – que através de diversas tendências, quer encontrar o máximo de objetividade para as regras éticas. Esta nova tendência se ramifica em algumas correntes, tais como: 
1) Ética discursiva: que se preocupa mais com a validade das normas do que com a modalidade de vida que poderia ser virtuosa e boa; 
2) Ética da reciprocidade: mais preocupada com a relação entre pessoas no sentido eu-tu, a fim de que possam situar-se num mesmo nível de respeito, de dignidade e de complementaridade; 
3) Ética da Justiça: que se empenha para que nas estruturas sociais passem a vigorar mais regras favorecedoras de justiça, deixando de lado a preocupação com o modo de ser de cada pessoa; 
4) Ética dos direitos Humanos: que defende o direito de cada ser humano à vida, à escolha de rumos políticos e religiosos e que todos possam obter o alcance aos necessários bens materiais e simbólicos a fim de se sentirem cidadãos na sociedade; 
5) Ética da Utilidade: que evita os valores abstratos da filosofia ou da religião, e visa favorecer o maior bem-estar para o maior número de pessoas.

9. Ética e Valores

Um ato ético ou moral sempre pressupõe capacidade de escolha entre vários atos possíveis. Implica na capacidade de poder dar preferência a atos considerados mais valiosos do que outros. Os valores, geralmente estão relacionados com utilidade, com bondade, com beleza, com retidão, com justiça, etc. Não existem valores puros em si, mas nós atribuímos valor a objetos ou bens sejam materiais ou simbólicos ou religiosos. O valor não é uma propriedade de um objeto, mas é um acréscimo ao objeto devido sua relação com a pessoa. Por exemplo, preferir uma jóia de ouro, de latão, ou de plaquê, está relacionado ao valor simbólico que atribuímos a estes materiais.

9.1 – O que é valor?
O que desejamos alcançar com o que consideramos importante? Os fins podem ser variados, como liberdade, status, reconhecimento, amizade, bens materiais, etc. na busca de algo importante, percebemos que existem valores que são meios para o alcance de outros valores. O dinheiro pode constituir-se, por exemplo, em meio para o alcance de mais saúde, de mais elevado nível de vida ou para adquirir algo considerado significativo.
Existem graduações de valores. Para uma ilustração, lembramos uma antiga historinha atribuída ao Rei Midas, da antiga Grécia. Como um dos discípulos do deus Dionísio havia se perdido dos rumos de seu deus, Midas teria colaborado com Dionísio e fez com que aquele discípulo se voltasse novamente para Dionísio.
 Como recompensa, Midas, muito ambicioso e preocupado com acúmulo de bens, teria solicitado ao deus Dionísio que transformasse em ouro tudo quanto tocasse com as mãos. Dionísio teria sido imediato na concessão.
 No entanto, uma vez atendido na solicitação, Midas logo se deu conta do absurdo de seus desejos. Foi fazer xixi e já veio o primeiro fracasso, foi então dar um abraço na filha e esta se transformou num monte de ouro, passou no lado da mesa para comer uns petiscos e se deu conta que o ouro sequer matava sua fome. Arrependeu-se rapidamente e fez outro pedido ao deus do vinho a fim de que este ajudasse a anular o atendimento da solicitação anterior: o ouro não matava a fome e qualquer toque afetivo transformava as pessoas em ouro e Midas descobriu que existiam outras coisas muito mais importantes do o ouro.
 Mesmo assim, meteu-se logo em outra complicação. Convidado para ser avaliador entre as músicas cantadas por Pã e por Apolo, o consenso indicava a superioridade dos cantos de Apolo, mas, Midas votou a favor da Pã, e, diante da nova manifestação de estupidez, os deuses da medicina e da música transformaram suas orelhas em orelhas de burro. Pagou o “mico” e somente depois de passar por muita vergonha voltou a ter as orelhas normais...[8] Em nossa lida diária somos obrigados a fazer escolhas diante das ondas e avareza que ignora o valor da vida e aposta na riqueza sem limites. Ademais, quem seria o deus do vinho para nos ajudar hoje? A ação impulsiva e de forma irrefletida pode nos colocar na contramão do bom-senso da boa convivência e escolhemos mal os cantos bonitos da vida.
 No jogo de nossos conflitos de interesses temos que fazer opções ou escolhas e, geralmente, priorizamos aquelas às quais damos mais valor.
Um exemplo pode ser bem ilustrativo: quando vamos a um supermercado para fazer compras de produtos, geralmente averiguamos e também comparamos os produtos que apresentem os melhores preços, relacionados ao valor que damos ao produto. Constatamos que nem sempre o preço corresponde ao valor real do produto. Mas, porque, então, compramos? De modo geral, para suprir necessidades. Sapatos e livros não são iguais para certas necessidades. Alguns objetos adquirem valor devido a uma situação momentânea, como sede ou fome. Assim percebemos que o valor transcende o aspecto meramente econômico. Do que dependem, então os valores? Dos quadros subjetivos ou dos modos sociais? Verdade, justiça, paz, seriam valores estáveis, locais ou temporários? Existem pelo menos três formas distintas de explicar o significado e a procedência dos valores. Vejamos:
a)      Explicações subjetivistas - Vêem os valores como algo específico da consciência. Portanto, a fonte do valor estaria na consciência e de lá também sairiam os juízos de valor: como desejos, agrados e interesses. Isto, porém, complica o resultado: estas manifestações estariam restritas a uma apreciação meramente psicologizante. Neste caso, ago seria bom, simplesmente porque me agrada; ou seria ruim porque não gostei. Em decorrência, um desagrado, uma desaprovação ou um gesto de indiferença seriam anti-valores.
As explicações subjetivistas de valor implicam em problemas de objetividade. Por exemplo, nada adiantaria doar óculos para um cego que não enxerga! Nem tudo o que alguém acha bonito, feio, justo ou injusto se constitui em valor só porque este alguém acha que é valor.
b)      Explicações Idealistas – Consistem em atribuir valor a algo porque é considerado valioso. Da herança platônica, valores são idealizações fixas e atemporais. Exemplos destes valores perenes são a justiça, a verdade e a beleza. Seriam realidades que estão além da mente humana e tampouco dependeriam da mente, mas, pelo contrário, é a mente que depende delas. Estabelece, portanto, um dualismo entre coisas reais e ideais. Existiria um bem como totalidade maior que daria valor relativo a certas coisas ou procedimentos. Constata-se que a explicações idealistas transformam valores em fins supremos e exigem que os seres humanos se adaptem a eles. Os valores, por conseguinte, constituiriam uma realidade que incide sobre os seres humanos e sua vida real.
c)      Explicações Realistas - Trata-se de postura contrária à anterior: os valores não seriam projeção e nem mesmo idealizações sobre o que é meritório, mas estariam simplesmente ligadas às pessoas e às coisas. Portanto, valor e bem estariam sendo a mesma coisa. Algo vale mais ou menos pelo que é. Apenas as imperfeições tirariam das pessoas e coisas a qualidade. Todavia, nem todas as pessoas e coisas mais perfeitas que outras têm mais valor. Pode muito bem uma mulher simples e feia valer muito mais do que uma rica e bonita, especialmente, quando se trata da mãe. Nem as pessoas e nem as coisa despertam evidentemente o valor real que possuem. Portanto, bem não é necessariamente sinônimo de valor. O valor, na verdade, depende da valoração e a capacidade de valorar é muito complexa porque envolve uma relação de inteligência, de sentimentos, de vontade e de afeto.
Independente de explicações serem subjetivas, realistas ou ideais, nossa tendência é a de adotar as que nos parecem mais certas. Esta capacidade de escolher entre o que consideramos certo ou errado é a consciência. Ela é como o alarme dos nossos critérios normativos, a maioria deles advindos da nossa educação. Assim, podemos sentir-nos fracassados diante de algo que fizemos, mesmo que para outras pessoas isto não represente algo grave. Também podemos pedir desculpas e voltar atrás no que prometemos. Para muitas pessoas a consciência se constitui na balança que mede atos, propostas ou desejos. O que é, então, este critério último que chamamos de consciência? Seria mero reflexo da educação mais ou menos rigorosa que recebemos?

Há pelo menos dois aspectos a considerar:
a)                   Consciência como controle inato – Sócrates e a teologia cristã sustentam que a consciência reflete o que deus espera de nós. Em ambientes não religiosos também há pessoas que entendem que a consciência é uma realidade natural da pessoa. Nós já nasceríamos com esta capacidade de julgar e escolher o mais adequado dos procedimentos.
b)                   Consciência como força imposta pelo nosso ambiente de vida – seria, pois, o resultado das cobranças dos pais, do ambiente escolar e do grupo social ao qual pertencemos. Por isso a consciência teria o molde do ambiente cultural e poderia mudar e adequar-se a outras normas culturais.
Na verdade, parece que os dois aspectos exercem peso decisivo na consciência e não conseguimos distinguir claramente o que é inato e o que é adquirido do ambiente cultural em nossa consciência. Assim como aprendemos a falar a língua, aprendemos a adotar critérios valorativos da conduta humana que envolve esta língua. Assim, também valores de consciência são aprendidos de múltiplas formas. O valor da responsabilidade, por exemplo, geralmente só o adquirimos depois de muita cobrança.[9][i] Mais do que nos dizer o que é certo ou errado, o papel da consciência é parecido com a do cachorro que late, quando desrespeitamos certas normas da boa convivência. É uma voz interior, mas, esta voz pode ser esquecida, assim como se esquece a própria língua quando não é falada. A consciência, portanto, a consciência exerce um papel parecido com a de um tribunal em nosso psiquismo: julga e decide a partir do que aprendeu a considerar certo ou errado.

9.2 – Propriedades e Possibilidades
Propriedade das coisas significa o que pertence a estas coisas. A água, por exemplo, pode apresentar cor, gosto e uma série de minerais, mas, a sua propriedade específica é H2O. A água pode até apresentar algumas propriedades acrescentadas, como estar fervida ou em estado de gelo. No entanto, é no H2O que se encontra a propriedade da água e o que a distingue das demais coisas.
 Se, agora, imaginamos outro exemplo, a propriedade de uma pessoa humana, neste caso, já não é a composição química que fornece a propriedade humana, mas, as possibilidades desta pessoa. Quando definimos uma pessoa, certamente, a capacidade de decisão e a de esforço pessoal é mais destacada do que a sua propriedade química. E as possibilidades dão ao ser humano a capacidade de fazer algo com as pessoas e com as coisas.
Voltando ao exemplo da água, se ela for potável e de um rio navegável, veremos que nem a navegabilidade e nem o fato desta água ser potável dependem da propriedade da água, mas dependem das pessoas que se utilizam da água. Vemos, no entanto que no exemplo as possibilidades estão ligadas à propriedade da água porque o ser humano oferece as possibilidades.
Segundo Germán Marquínez Argote[10]
           “No mundo há coisas e as coisas têm propriedades. As propriedades das coisas oferecem possibilidades de vida. Propriedades e possibilidades dividem as coisas em coisas reais e em coisas-sentido. O sentido diz relação positiva ou negativa da vida. Em sentido positivo se constituem os valores, sendo a vida a norma suprema que determina o caráter positivo ou negativo de um valor”.
            Decorre disso que o ser humano cria possibilidades de vida sobre as propriedades (faz a água ser potável e navegável, etc.). As possibilidades estão, pois, relacionadas à vida humana, porque as pessoas têm esta capacidade de extrapolar as propriedades das coisas para produzir obras e realizar-se a si mesmo. Antes mesmo de fazer qualquer coisa, o ser humano se sente dotado da capacidade de poder exercer uma ação sobre esta coisa: é a possibilidade de poder fazer algo sobre esta coisa.
            Se as possibilidades humanas têm a capacidade de agir sobre as coisas, emerge logo uma questão: podem todas as pessoas fazer isto em nível de igualdade? Se eu, por exemplo, quisesse ser astronauta, poderia sê-lo, se sou pobre, analfabeto e desempregado?

10. Realidade e Sentido

            Assim como a água de um rio pode ser navegável e potável, a inteligência humana é uma propriedade que se abre a muitas possibilidades. Estas possibilidades podem acrescentar-lhe, por exemplo, o saber, capacidade de raciocínio, etc. assim também todo o real humano é constituído de um conjunto de propriedades psicossomáticas. Assim como a água está aberta a possibilidades, o ser humano está aberto a coisas e a si mesmo.
            O ser humano, diferentemente dos outros animais, não está apenas aberto aos estímulos, mas tem a capacidade de transcender esta realidade pela sua capacidade de perguntar em torno do “quê”, do “porque” e do “para quê”. Ele se interroga a respeito de si mesmo e de tudo quanto o rodeia e lhes dá significados. Esta capacidade abre-lhe possibilidades de sentido. Está ali sua propriedade específica: a de conferir sentido às coisas. Quando se inventa a fazer um prato, uma faca ou qualquer outro objeto, ele o faz para algo. Significa que o ser humano, através do sentido ou da intencionalidade, ultrapassa a realidade. Assim como o átomo de hidrogênio é uma realidade, a intencionalidade humana pode transformá-la em uma bomba.
            O ser humano não é apenas um interpretador da propriedade das coisas que o rodeiam, mas é também um interpretador do seu próprio sentido. Em outras palavras, ele confere sentido às coisas e estas oferecem incontáveis possibilidades para o sentido da sua vida.

10.1- Sentido e Valores
            Quando o ser humano atribui sentido às coisas, consegue conferir-lhes uma utilidade, que pode ser valiosa, ou o que chamamos de “bem”. Da possibilidade resultante de uma coisa, podem resultar coisas boas. Deste ato decorre uma valoração: as coisas trabalhadas dão um sentido relacionado à vida. Tal processo nos indica que os valores não constituem algo pronto e acabado, como a propriedade de qualquer objeto, e tampouco se impõem sobre a vida, mas são escolhidos de acordo com o sentido que oferecem.
            Existe diferença entre sentido e valor? Percebemos que o valor está estreitamente ligado ao sentido, mas nem todo sentido é um valor. O sentido somente se torna valioso quando se relaciona positivamente com a vida, ou seja, quando a possibilita, a expressa e a dignifica. Decorre dali que os valores sempre se relacionam com a vida.

10.2- Valores e vida
            A vida humana não é apenas um valor, mas constitui a razão de ser dos valores. Talvez por isso Jesus Cristo tenha dito: que tenham vida em abundância... Da ancestralidade bíblica herdamos uma antiga noção de não matar e não roubar.
            Matar e roubar a vida, sejam em nós mesmos ou nas outras pessoas, significam atos homicidas. São múltiplas as formas possíveis de se matar e de conduzir à morte: pode ser por fome, por abuso, por excesso, por exclusão de acesso e de muitas outras formas.
            Roubar significa tirar meios de vida e são múltiplos os modos de matar indiretamente. A recomendação de não roubar decorre da outra, de não matar, para assegurar que se possa viver e viver de formas reais e plenas as muitas possibilidades da vida. Por isso, criam-se estruturas políticas, jurídicas, culturais e sociais para gerar valores positivos na sociedade. E, mesmo quando da vigência destes valores, corre-se o risco de fetichização e de relativização dos valores. De um lado se atribui valor irreal e excessivo a coisas trabalhadas pelo ser humano; de outro lado, ignora-se que certos significados positivos possam ser para todos os membros de uma coletividade. Por isto vale lembrar a conhecida frase: os valores são para a vida e não pode a vida ser manipulada para alguns valores.
Como seres humanos, constituímos um resultado que, certamente, não é mera decorrência de um plano pré-estabelecido, mas, temos a marca genuína de nos preocupar com os outros e até nos preocupamos com as conseqüências do que pode acontecer a partir dos outros e com os outros modos de vida no planeta. Segundo Maturana isto demonstra que somos animais amorosos:
“As preocupações éticas, a responsabilidade e a liberdade existem apenas no domínio do amor. As preocupações éticas, a responsabilidade e a liberdade têm lugar apenas enquanto alguém pode ver o outro, a si mesmo e as conseqüências das ações de alguém nos outros ou em si mesmo e age de acordo com a decisão entre querer ou não essas conseqüências. Mas, para fazer isto, par ter preocupações éticas, para ser responsável , para ser livre, é preciso ver o outro ou a si mesmo em sua legitimidade, sem que seja preciso justificar a sua existência, isto é, é preciso operar no amor”.[11] 

11. A avaliação ética ou moral

            Avaliação moral significa atribuir valores a atos ou produtos humanos. No processo avaliativo geralmente entram três componentes:
a)      O valor atribuível;
b)      Os objetos ou normas avaliadas;
c)      O sujeito que avalia.
O ato de atribuir valor parte da pessoa, mas, esta pessoa sempre esta condicionada a certo lugar, certo momento cultural e certa influência social. Se, por exemplo, Pedro explora Maria através de sub-emprego e de salário injusto, como avaliamos tal ato? Talvez, pela influência do sistema capitalista, que autoriza a exploração de outras pessoas (pela mais valia), Pedro é induzido a não ver o trabalho de exploração numa perspectiva moral negativa, mas, altamente positiva, pois assim obterá mais lucro.
O que poderia significar a não submissão a tal trabalho? Como a avaliação é feita dentro de um quadro sócio-cultural, pode ser interpretado como mera vagabundagem. Vemos, pois que a avaliação implica em atribuição de valor, a partir do sujeito que aprova ou reprova o agir de outro sujeito, mas, sempre numa determinada situação. Daí porque se distingue com critérios muito distintos, por exemplo, alguém nu num quarto ou nu numa avenida!

11.1- O bom como Valor
            Ato moral é aquele que visa algo que seja considerado bom. Todavia, o que é realmente bom? Pensadores, como Platão, quiseram colocar o âmbito do bom numa realidade absoluta, fora do mundo concreto e nem tampouco atingível em nossa vida terrena. O bom seria a mesma coisa em qualquer circunstância e em qualquer lugar.
            O conceito de bom também pode decorrer do que se considera “mau”. Percebemos que nenhuma das duas realidades é a mesma em qualquer ambiente social. Pode num lugar o bom ser considerada a pessoa forte e valente. Neste caso, má seria a covarde e fraca.
            Tende-se a considera bom um ato quando se enquadra em concepções um tanto abstratas e universais da natureza humana porque também depende de ambientes sociais. Por exemplo, um grupo de privilégios sociais aceitaria renunciar a estes privilégios? Tenderá a considerar má a atitude que propõe esta perda. Assim, o conceito de bom pode facilmente esconder aspirações de privilégios dos grupos dominantes.

11.2- O bom como felicidade (eudaimonia)
            Aristóteles dizia que a felicidade era o único bom absoluto, pois considerava a felicidade como o “sumo bem” e eu estaria no mais elevado grau dos bens. Como Aristóteles desprezava o trabalho manual, como reflexo da mentalidade do seu tempo, ele só poderia privilegiar a razão como o sumo bem. Disto veio uma seqüela para a história posterior que associou felicidade à contemplação e a atividade intelectual. Em conseqüência, mulheres, pobres e analfabetos não teriam sequer possibilidades de chegar ao nível mais elevado da felicidade.
            A ética cristã passou a sustentar que aqui na terra não se consegue felicidade plena, mas apenas felicidade relativa. Somente depois da morte se poderia chegar a uma felicidade plena. Em nossos tempos atuais, sobretudo o pensamento iluminista e materialista, passou a inverter a posição cristã: pode-se ser plenamente feliz aqui na Terra. Todavia, conceberam a felicidade numa perspectiva abstrata e idealizada de modos que, também fugiu do alcance concreto. Estes pensadores mais recentes, mesmo pensando a felicidade concreta, ao pensarem o ser humano de uma forma muito abstrata, pois não modificaram as mediações econômicas e nem a da liberdade pessoal. Bem podemos imaginar que alguém pobre,  discriminado ou excluído ao acesso dos bens culturais mais prestigiados, não poderá sentir-se feliz, a não ser em escala muito pequena e restrita.
            A praxe do senso comum nos aponta que a busca de felicidade encontra muitos obstáculos: podem ser os fracassos no amor e na profissão, pode ser o surgimento de doenças e incompreensões, pode ser o imprevisível de fatos que nos afetam como repentinas alterações de humor, etc. A noção de felicidade é condicionada por características sociais que a restringem. Assim pode alguém sonhar em ser feliz com a aquisição de uma propriedade e associar a felicidade ao que possui e não ao que está vivendo. A mera posse de muitos bens não esgota a felicidade. Por isso, poucas pessoas sustentam, em nossos dias, que a felicidade é o sumo do que é bom. Tanto a contemplação quanto a posse de bens representam horizontes ainda muito abstratos, egocêntricos e possessivos para uma relativa felicidade.

11.3 - O bom como prazer (hedonismo)
            Há dois significados para o termo prazer: um corresponde a um estado afetivo agradável, como a presença amiga, o encantamento, a solução de algum problema difícil; o outro equivale a sentir sensações agradáveis, como as provenientes de afagos, cócegas, comidas, bebidas, etc.
            Para os hedonistas o critério supremo da moralidade é o do prazer sensível, de modos que o bem moral é identificado com prazer.
            Os sofistas gregos foram defensores desta ótica, mas, o grande expoente do hedonismo, o pensador grego Epicuro sugeria às pessoas que procurassem o máximo de prazer, mas não em nenhum destes dois sentidos salientados acima. Ele indicava o prazer de uma sensação intelectual e estética. A bondade, um ato ou uma experiência seriam mais valiosos de acordo com o a capacidade de propiciar níveis mais elevados de prazer. A esta concepção pode-se levantar o mesmo questionamento relacionada ao bom como felicidade porque reduz o bom a experiências psíquicas ou a vivências subjetivas. O prazer, na verdade, não é o único fim do ser humano.
            Entre pensadores modernos, foram defensores do hedonismo Montaigne, Hobes, Helvetius, Bentham, Stuart Mill e outros.

11.4 - O bom como boa vontade (formalismo kantiano)
           Segundo Kant, o bom não poderia ter nenhuma restrição, isto é, não poderia, pois, depender do nosso controle e dos nossos atos. A afirmação do referido pensador deixa uma dúvida: poderia algo ser bom de uma maneira absoluta e independente da nossa ação?
            Para Kant, fora da boa vontade, todo bom apresenta restrições. Vontade, sim, é boa pelo querer. Boa pela vontade também seria algo mais do que mero desejo, porquanto implica na determinação de fazer algo. Mesmo que surjam ações capazes de impedir a consecução dos bons propósitos advindos da boa vontade, fica, todavia, circunscrita a um mundo intemporal e a-histórico. Trata-se de um novo “mais-além” e por isto, trata-se de uma noção pouco proveitosa para o mundo concreto das pessoas, porque o bom não tem nenhuma capacodade de agir ou regulamentar as relações das pessoas.

11.5 - O bom como útil
            Os representantes mais significativos desta concepção são Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Defendem o bom como útil, mediante duas condições: a) útil para quem? ; b) em que consiste o útil?
            Talvez não tenham pensado o útil no sentido egoísta do que poderia ser proveitoso “para mim”, mas pensaram no que poderia ser vantajoso para o maior número de pessoas. Também esta noção é complicada, por exemplo, seria um suicídio justificável como bom para deixar felizes muitas pessoas?
            O bom como útil depende de conseqüências e, independente do que levou à execução de algo, acaba se impondo o valor do resultado, apreciado como bom ou, como ruim. Como esta conseqüência é posterior ao ato moral, como se poderia avaliá-la adequadamente antes de executá-la?
            Quanto à segunda condição, que envolve o conteúdo do que é útil, surgiram duas tendências explicativas:
a)      A de Bentham que combina o útil com o prazer (eudaimonia);
b)      A de Mill, que combina o útil com felicidade. Ele considera útil o conhecimento, o poder a riqueza. Por isso, sustenta dois tipos diferentes de utilitarismo de acordo com o alcance para um maior número de pessoas. Persiste, todavia um problema: o que gera mais felicidade só depende do caso de atingir um grupo maior? Em outras palavras, importa a maior felicidade para poucos, ou intensidade menor para muitos? Torna-se muito difícil aplicar tal noção a uma sociedade dividida em classes, onde facilmente uma pessoa explora a outra. Vale à pena que para a felicidade de alguns poucos, como na “polis” grega, no colonialismo dos europeus, ou no estado industrial de mais-valia, a felicidade de poucos tenha que implicar em tanta infelicidade e ruindade de vida para incontáveis outros?
O que poderiam apontar estas diferentes perspectivas do melhor para a ética? Valor, felicidade, prazer, boa vontade e utilidade, parecem pressupor algo ainda mais significativo para um agir ético: a capacidade de amar.
       A dimensão do amor na raiz da ética parece apontar um horizonte bem mais amplo e valioso do que os valores de felicidade, prazer, utilidade, etc., porque o desejo de intimidade e de boa relação com outras pessoas faz parte da essência da nossa condição humana. A interferência neste campo nos desajusta e nos causa doenças, é também o amor a melhor terapêutica.
       Enquanto que a fundamentação da ética foi atribuída à racionalidade, ao âmbito divino, à virtude, aos benefícios e vantagens, passou despercebido que o fundamento da ética se situa num âmbito bem mais simples: a convivência com outros. Esta, sempre implicar numa questão ética de fundo: desejamos que tipo de mundo para a nossa convivência? A agressividade certamente não será o melhor indicativo do devir. Tampouco a dominação e sujeição dos outros às nossas ambições.


Epílogo

            Na política, na religião e em tantos outros grandes campos da vida humana social, ouve-se falar da importância de uma filosofia de vida, ou de princípios, ou ainda de uma coerência religiosa, que seja capaz de gerar práticas correspondentes com o que se fala e, na certeza de que estes procedimentos sejam melhores e mais importantes do que uma orientação subjetiva pela apatia e pela ausência de convicções. Qual seria, por exemplo, o resultado de uma opção pela neutralidade? Não podemos ficar passivos e indiferentes diante dos grandes fatores humanos e ambientais que ameaçam diminuir a qualidade da vida humana.
            Uma filosofia de vida ou um conjunto de princípios religiosos ou ético-morais permitiu a muitas pessoas, em distintos momentos históricos, abrir caminhos novos para a convivência mais satisfatória das pessoas. Basta lembrar como muitas pessoas agiram diante da discriminação social, das guerras, das prepotências, dos despotismos, das crises religiosas. Por isso, tornaram-se referências e ícones de um novo tempo. Assim, podemos pensar que nossa colaboração é capaz de abrir novos e importantes rumos no caminho que assegura melhor futuro humano, através da capacidade de amar e do cuidado para salvar o planeta. Certamente não podemos continuar a destruí-lo e assegurar um futuro melhor e mais feliz para a nossa condição humana. Nem podemos, tampouco, avançar na ciência e, continuar omissos e acomodados diante das limitações humanas, dos sofrimentos e das múltiplas inquietações que a vida nos apresenta.
            Se nos encantamos com quem é coerente numa filosofia de vida, com princípios, ou religiosos ou éticos, ou de qualquer natureza humanitária, vemos, também, que não bastam idéias a respeito do que é considerado como bom, como certo e como justo, seja na família, na comunidade e na sociedade, ou no cuidado dos eco-sistemas do planeta. Um eventual ato de sentir aversão diante de injustiças encontra-se ainda distante do ato de fazer algo para que a justiça realmente se estabeleça. A ética precisa nos envolver neste agir dinâmico.
            Como seres relacionais, mesmo vivendo numa fase de crise valores éticos, nossa condição de seres humanos, de um lado auto-proclamados “Homo sapiens sapiens” pela sua extraordinária inteligência, não pode deixar de ser visto, também, como “Homo demens demens”, literalmente demente, pelo que faz com a natureza e pelo modo como estabelece relações. Todavia, ainda corremos o risco de outra polarização, a do “Homo sapiens amans” que, cada vez mais perde espaço para o “Homo sapiens aggresans” (a capacidade de amar dá espaço para a capacidade agressiva e dominadora).
 Para a nobre e peculiar condição de seres amantes, dependemos certamente muito mais da capacidade de nos emocionar nas relações do que a de agir como seres extraordinariamente inteligentes e altamente agressivos e destruidores. Afinal, o que mesmo queremos para o nosso futuro?



BIBLIOGRAFIA

ARGOTE, Germán Martínez e outros. El Hombre Latinoamericano y sus valores. Bogotá: Nueva América, 1991.
BOFF, Leonardo. Ética e Moral – a busca dos fundamentos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
DISKIN, Lia e outros. Ética, Valores Humanos e transformação. São Paulo: Peirópolis, 1998.
FRANQUENA, William. Ética. RJ: Zahr, 1981.
GAARDER, Jostein e outros. O livro das religiões. São Paulo: Companhia de Letras, 2005.
GÓMES, Carlos. Doce textos fundamentales de La Ética del siglo XX.  Madrid: Alianza Editorial, 2003.
KORTHE, Gustavo. Iniciação à Ética. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 1999.
MATURANA, Humberto e REZEPKA, Sima Nisis de. Formação Humana e Capacitação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
___________________. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
MORA Ferrater J. Dicionário de Filosofia. Tomo II. São Paulo: Loyola, 2001.
PEGORARO, Olinto. Ética dos maiores mestres através da história. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.


[1]  MATURANA, Humberto e REZEPKA, Sima Nisis de. Formação Humana e Capacitação. Petrópolis, RJ: Vozes, p.43.
[2]  Assim também podemos pensar numa ética possível, com traços marcantes de amar, de cuidar, de responsabilizar-nos, de sermos solidários, compassivos e íntegros em nosso modo de ser. Será um “ethos” no qual nossa moradia é constituída pelo planeta.
[3]  Segundo Leonardo Boff é indiscutível que estamos numa crise ética e moral em todas as partes e temos que lidar com o penoso e difícil caminho que nos aponte condições boas para morar e viver. Por isso é urgente que aconteçam práticas salvadoras a fim de que não venha a acontecer o pior que é o fim da espécie humana. Para não tomarmos o destino dos dinossauros, além de outra lida com as pessoas, não podemos deixar de lado a biosfera e os bilhões de seres que estão à espera de pão, de água, de saúde, de moradia e de inclusão na família humana. (In: BOFF, Leonardo. Ética e Moral – a busca dos fundamentos. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 9 – 10).
[4]  Apud FRANQUENA, William. Ética. Rio de Janeiro: Zahr, 1981, p. 21.
[5]  No campo psicológico “Fetiche” tem a significação de um desvio da atenção para aspectos secundários. Por exemplo: alguém pode sentir forte excitação sexual diante da visualização de uma calçinha ou de qualquer outro objeto e não a sentir diante de uma mulher despida, ainda que em estado de provocação sexual. Em nosso contexto de ética, significa valorizar excessiva e demasiadamente alguns valores.
[6]  BOFF, Leonardo. Ética e Moral – a busca dos fundamentos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 29-30.
[7]  Boff relaciona este aspecto, valendo-se de dois termos: “Ethos” e “Daimon”: morada e anjo protetor desta morada humana. Como morada ultrapassa as dimensões das paredes da casa, da aldeia, ou da cidade, deve este espaço expressar um conjunto das relações dos seres humanos. O anjo bom, certamente, é o tato e a sensibilidade pelo que é justo e bom. (op.cit. p. 34-35)
[8]  http://mitologia.blogs.sapo.pt/49974.html
[9]  Na capacidade de julgar o certo e o errado está presente a ética social com seus códigos, suas normas e prescrições, pois ela deseja que seus membros vivam de forma honesta e recíproca. Podem as regras sociais manifestar-se obsoletas e o discernimento de uma pessoa pode abrir caminhos para um senso mais justo na convivência. Muitas pessoas vivem este conflito entre o que consideram justo e o que o grupo social convencionou como sendo justo. É o que vem ocorrendo em relação a casamento homo e hetero-sexual, aborto, ecologia, relações internacionais, etc.
[10]  ARGOTE, Germán Marquínez et alii. El Hombre Latinoamericano y sus valores.  Bogotá: Nueva América, 1991, p.18.
[11]  MATURANA, Humberto e REZEPKA, Sima Nisis de. Formação Humana e Capacitação. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 75. Os autores ainda complementam os dados acima: “O amor é nossa base, a proximidade é nosso fundamento, e se os perdermos, procuramos sempre de novo recuperar o amor e a proximidade, porque sem eles desaparecemos como seres humanos, mesmo se a nossa corporalidade permanece como entidade zoológica Homo sapiens sapiens”.(Idem, ibidem).

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