Ladainha do Gel
No lugar da intervenção dos santos e
das santas de Deus, impôs-se, gradualmente, o efeito exotérico e a ação
benfazeja e multifacetária do gel. É gel que solidifica,é gel que amacia, é gel
que perfuma, é gel que relaxa, é gel que retifica, é gel que desentope, é gel
que lubrifica, é gel que tapa fresta, é gel que cola e que descola, é gel que
refresca, é gel que alivia e é gel que renova. Assim, também a solidez advinda
da tradição, da cultura e dos bons costumes, acaba cedendo seus poderes de
direcionamento da vida humana para algo menos sólido, mas, também, não muito
líquido, a ponto de submergir e estragar as provisórias conveniências dos
gostos momentâneos. Neste lusco-fusco entre o estável e o fugaz, emerge a
realeza de tudo quanto é gelatinoso, porque facilita o deslizamento para o que
aparece como mais aprazível, venha de onde vier, desde que seja lépido, suave,
macio e passageiro. Existe um jeito para tudo. Basta ter gel.
- Se a canelada doeu, passe gel;
- Se o osso se estatelou, passe gel;
- Se o fracasso doeu demais, passe
gel;
- Se a carranca se enfurnou, passe
gel;
- Se o cabelo ficou derreado, passe
gel;
- Se o coração está magoado, passe
gel;
- se o avanço está emperrado, passe
gel;
-se o mau cheiro se exalou, passe
gel;
- se o vilipêndio afetou o astral,
passe gel;
- se um dente perdeu o brilho, passe
gel;
- se o bichinho “pegou”, passe gel;
- e se o “trem” não funcionou, passe
gel;
- se a pele se enrugou, passe gel;
- se o pum-pum se enfunou, passe gel;
- se a intumescência de alguma parte
se arriou, passe gel;
- se a pia se sujou, passe gel;
- se o gargalo cabriolou, passe gel;
- se o muxoxo se extrapolou, passe
gel;
- se o frêmito não lhe agradou, passe
gel;
- se o galanteio se estatelou, passe
gel
- E se algum gel não funcionou, passe
outro gel.
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