Até os
mais empenhados na busca de boa qualidade de vida e os que desejam viver
intensamente as coisas novas e bonitas da vida, não se escapam da contingência
de ter que lidar com perdas, com mágoas, com decepções imprevistas e com repercussões
que abalam a vida. Aumenta também, cada dia mais, a necessidade de aprender a lidar
com doenças graves, como câncer e com acidentes trágicos que mudam radicalmente
a vida de indivíduos de um instante para outro. Enquanto que a vida destas
pessoas estabelece um claro limiar entre o antes e o depois, são obrigadas a
lidar com a nova situação, e, para sobreviver, não podem ficar lamentando as
perdas do “antes” que desapareceu, mas precisam substituir a sensação desta
perda e de vazio por uma positiva escolha de atitudes a serem tomadas diante da
restrição que se impôs ao corpo.
De
fato, sem poder decisório, a vida dos fracassados se torna um tormento para
muitas pessoas. No entanto, não precisamos andar muito para encontrar pessoas
que revelam extraordinário poder decisório, e, estupenda capacidade de aceitar
limitações irreversíveis, decorrentes de acidentes ou de extirpações para
conter doenças malignas e deficiências graves. Ainda que repentinamente limitadas,
estas pessoas conseguem tomar atitudes diante da vida e dar-lhe um sentido, de
modos que se torne rica e cheia de muita satisfação. Equivale a dizer que o
acidente quebrou o pescoço, e, mesmo na paralisia, não quebrou a vida. Descobrem
razões para sentir-se bem e transformar os limites em algo genuinamente humano,
peculiar e realizador.
Mesmo
quem não se vê diretamente envolvido por imprevistos graves e profundos, não
está livre de ter que usar seu poder decisório diante de culpas, de dores e de
sofrimentos, tanto pessoais quanto alheios. Isto indica que a vida pode, em
quaisquer situações, tornar-se significativa. Depende do que se decide e do
sentido que se dás aos sofrimentos e às limitações imprevistas. Esta escolha
radical, segundo o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, pode ser feita seguindo
três grandes avenidas e todas elas podem levar à realização.
A
primeira avenida é a do trabalho, especialmente quando oportuniza
possibilidades de criar e não se constitui em mera repetição de movimentos
rotineiros e mecanizados como o de ter que desossar pelo menos três coxas de
frango por minuto ao longo de todo expediente diário de serviço, tarefa
cotidiana de muitos empregados da Sadia em Lucas do Rio Verde, MT.
A
segunda avenida é a de compartilhar a individualidade com alguém, isto é, uma
relação de amor, mas entendido como sendo muito mais do que um relacionamento
sexual.
A
terceira avenida é a de lidar com as doenças incuráveis e com as limitações
profundas decorrentes de tragédias, acidentes ou da própria idade. Ao aceitar-se
o condicionamento, na condição de que não se tem outro jeito para lidar, pode a
vida, naquilo que ainda lhe é possível, ser transformada em significado
profundo, até o último suspiro, para morrer dignamente. Mudam as oportunidades
e as potencialidades, mas não muda a possibilidade de se estabelecer um sentido
e profundo significado para a vida, como o de amar alguém, – de preferência
muitas pessoas, - e agüentar honesta e corajosamente o sofrimento, com um
estilo novo dado à própria existência. (Da entrevista de Viktor Frankl, no
Canadá, sobre o tema: O Homem Vive. Trad. de Felipe Cherubin. Disponível
em http://www.endireitar.org/ )
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