quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Do controle remoto ao controle fotográfico



            Nem é necessário lembrar o quanto a invenção do controle remoto facilitou a diminuição de movimentos físicos nos deslocamentos do sofá até os aparelhos para trocar o canal ou de faixa de sintonia de rádio ou televisor, de toca-fitas, de CD ou de outros aparelhos de som, e, o quanto passou a economizar nas demoradas idas e vindas para abrir e fechar portões com demorados instantes quando tal tarefa tinha que ser executada sob chuva, frio ou sol causticante.
            Ao aparecerem equipamentos eletro-eletrônicos com os ditos controles remotos, tornava-se comum ouvir que se tratava de um péssimo recurso, porque implicava em diminuição de movimentos físicos e, por isto mesmo, em gradual aumento do acúmulo de calorias, com as conseqüentes e indesejadas gorduras e suas atinentes e nefastas seqüelas para a saúde.
            Independente dos prognósticos negativos, os controles acabaram modificando as impressões e até os pessimistas se renderam ao conforto de sua utilização e passaram a adotá-los como meio de facilitar a vida cotidiana. Provavelmente ninguém se deu ao trabalho de verificar se os controles remotos realmente implicavam em algum efeito nocivo à saúde.
            O uso do controle remoto conferiu poder e rapidez para acionar ou desativar o funcionamento de uma enormidade de objetos. Desta fenomenal engenhoca ampliou-se, rapidamente, a capacidade de controlar também as pessoas, através das Tecnologias da Informação e da Comunicação. O grande poder de ação sobre um aparelho tornou-se insignificante diante do poder de máquinas digitais, filmadoras e sofisticados meios de espionagem e controle de ações humanas. Ou pelos dados da íris dos olhos, ou pela imagem fotográfica do rosto ou pela impressão digital, acabamos, nós mesmos, virando objetos do controle de outras pessoas. Até o celular tornou-se mediação de extraordinária facilidade de controle, seja pelo que se falou e com quem se falou, ou, pelo registro da imagem de situações inéditas ou presumidamente escondidas.
            Como por longo tempo controlamos objetos através de poderes quase onipresentes dos controles remotos sobre equipamentos de som e de imagem à distância, e tivemos o poder de abrir e fechar portas e portões sem sequer levantar da cadeira ou da cama, outros, passaram a controlar gradual e progressivamente nossos passos, nossas ações, nossos olhares e nossos procedimentos. Nesta “panóptica” parecida com um olho mágico, que nos controla em toda parte e em tudo quanto fazemos, não somente nos tornamos reféns desnudados de todos os subterfúgios utilizados para encobrir e esconder, mas, até nossa nudez é registrada sob as vestes e nos tornamos objetos controlados em quaisquer variados espaços em que nos movemos.
            De tanta preocupação em torno da ordem, do controle e da segurança, estamos, com tudo o que nos rodeia, sendo rigorosamente controlados em nome da própria ordem. Até os que ensinam nas escolas e academias, ensinam somente o que pode ser pensado para não fugir da ordem e do controle.  Certamente, uma das possibilidades deste processo humano é a de que alguns, os poderosos, os mandantes e os donos, boicotem toda a capacidade humana dos demais para subjugá-la numa seqüência de passos lineares muito parecidos com o percurso da vida dos carneiros e das abelhas: produzir muito, consumir mais ainda e, depois, morrer.

            Talvez se faça necessário recuperar novamente certo nível de desordem a fim de que a vida humana possa permitir algo espontâneo e prazeroso decorrente de gestos cordiais, afetuosos, solidários e imprevisíveis, de modos que, algo do transbordamento e da exuberância humana possa preencher de gosto e sentido a existência e mostrar perspectivas para além do mero controle para produzir, consumir e morrer.

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