Nem é
necessário lembrar o quanto a invenção do controle remoto facilitou a
diminuição de movimentos físicos nos deslocamentos do sofá até os aparelhos para
trocar o canal ou de faixa de sintonia de rádio ou televisor, de toca-fitas, de
CD ou de outros aparelhos de som, e, o quanto passou a economizar nas demoradas
idas e vindas para abrir e fechar portões com demorados instantes quando tal
tarefa tinha que ser executada sob chuva, frio ou sol causticante.
Ao aparecerem
equipamentos eletro-eletrônicos com os ditos controles remotos, tornava-se
comum ouvir que se tratava de um péssimo recurso, porque implicava em
diminuição de movimentos físicos e, por isto mesmo, em gradual aumento do
acúmulo de calorias, com as conseqüentes e indesejadas gorduras e suas
atinentes e nefastas seqüelas para a saúde.
Independente
dos prognósticos negativos, os controles acabaram modificando as impressões e
até os pessimistas se renderam ao conforto de sua utilização e passaram a adotá-los
como meio de facilitar a vida cotidiana. Provavelmente ninguém se deu ao
trabalho de verificar se os controles remotos realmente implicavam em algum
efeito nocivo à saúde.
O uso do
controle remoto conferiu poder e rapidez para acionar ou desativar o
funcionamento de uma enormidade de objetos. Desta fenomenal engenhoca
ampliou-se, rapidamente, a capacidade de controlar também as pessoas, através
das Tecnologias da Informação e da Comunicação. O grande poder de ação sobre um
aparelho tornou-se insignificante diante do poder de máquinas digitais,
filmadoras e sofisticados meios de espionagem e controle de ações humanas. Ou
pelos dados da íris dos olhos, ou pela imagem fotográfica do rosto ou pela
impressão digital, acabamos, nós mesmos, virando objetos do controle de outras
pessoas. Até o celular tornou-se mediação de extraordinária facilidade de
controle, seja pelo que se falou e com quem se falou, ou, pelo registro da
imagem de situações inéditas ou presumidamente escondidas.
Como por
longo tempo controlamos objetos através de poderes quase onipresentes dos
controles remotos sobre equipamentos de som e de imagem à distância, e tivemos
o poder de abrir e fechar portas e portões sem sequer levantar da cadeira ou da
cama, outros, passaram a controlar gradual e progressivamente nossos passos,
nossas ações, nossos olhares e nossos procedimentos. Nesta “panóptica” parecida
com um olho mágico, que nos controla em toda parte e em tudo quanto fazemos,
não somente nos tornamos reféns desnudados de todos os subterfúgios utilizados
para encobrir e esconder, mas, até nossa nudez é registrada sob as vestes e nos
tornamos objetos controlados em quaisquer variados espaços em que nos movemos.
De tanta
preocupação em torno da ordem, do controle e da segurança, estamos, com tudo o
que nos rodeia, sendo rigorosamente controlados em nome da própria ordem. Até
os que ensinam nas escolas e academias, ensinam somente o que pode ser pensado
para não fugir da ordem e do controle.
Certamente, uma das possibilidades deste processo humano é a de que
alguns, os poderosos, os mandantes e os donos, boicotem toda a capacidade
humana dos demais para subjugá-la numa seqüência de passos lineares muito
parecidos com o percurso da vida dos carneiros e das abelhas: produzir muito,
consumir mais ainda e, depois, morrer.
Talvez se
faça necessário recuperar novamente certo nível de desordem a fim de que a vida
humana possa permitir algo espontâneo e prazeroso decorrente de gestos
cordiais, afetuosos, solidários e imprevisíveis, de modos que, algo do
transbordamento e da exuberância humana possa preencher de gosto e sentido a
existência e mostrar perspectivas para além do mero controle para produzir,
consumir e morrer.
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