sexta-feira, 2 de junho de 2017

Espírito Santo da unidade


            O campo das experiências hierofânicas extrapola o campo da linguagem, isto é, as palavras são incapazes de expressar o que se passou numa experiência de algo interpretado como experiência de Deus. Até mesmo uma simples alucinação pode ilustrar que, ao se relatar o ocorrido, se constata que a fala não traduz o que realmente se experimentou.
            Com respeito ao Espírito Santo, expressão adotada pelos seguidores de Jesus Cristo para expressar a força de Deus, - que agiu em Jesus Cristo, - e, que ele assegurou como segurança de amparo aos que o seguissem para consumar o “Reino” que Ele anunciara, enseja muitas imagens simbólicas, já herdadas do primeiro testamento da Bíblia, que aproximam, de certa forma, a grandeza da experiência de Deus: falaram em sopro, hálito, vento, ruído, fogo, língua, pomba, etc. O profeta Joel falava em “chama abrasadora” (2,3) que se manifestaria no dia do Senhor; e que Deus iria derramar seu espírito para profetizar, ter sonhos, visões e envolvendo prodígios (3,1-5).
            Ao lado do aspecto semântico da palavra “espírito”, a experiência religiosa bíblica se articulou em torno de um consenso: Deus agiu no meio dos fugitivos da escravidão no Egito, através da produção dos frutos da agricultura, e, igualmente no momento de bom-senso ocorrido no Monte Sinai, quando um grupo de líderes elaborou o código dos dez mandamentos. Assim, a comemoração deste momento de lucidez e de perspicácia para produzir as regras para a unidade das diferentes tribos que vieram a constituir Israel, tornou-se uma festa de grande exuberância. Permitia olhar para frente com a certeza de que esta mesma ação de Deus poderia continuar a agir no meio do povo.
            O sentido da unidade é primordial na raiz desta festa popular. Para os seguidores de Jesus Cristo, a celebração desta festa ensejou uma irrupção deste mesmo bom espírito de Deus e nós, ainda hoje, continuamos a acreditar que ele possa renovar-nos, purificar-nos e nos despertar forças interiores para lidar com as muitas adversidades que o dia-a-dia nos apresenta. Esperamos, sobretudo, que a mensagem de Jesus Cristo possa propiciar a efetiva ação de Deus, que o evangelista chamava de Paráclito, ou advogado para garantir a integridade do processo de construção do Reino de Deus.
            Pela realidade da ação do espírito de Deus entendemos a manifestação do amor divino para que possamos viver em unidade. Em tempos tão difíceis para nos entender, mesmo na expressão dos mesmos códigos linguísticos, vemos e aguardamos ansiosamente que a proposta de Cristo nos delegue esta força de unidade pelo entendimento. Na imagem da capacidade de falar línguas, está subjacente a linguagem do amor, pois, a capacidade de amar transcende os códigos das línguas e expressa, sobretudo na linguagem não-verbal, a grandeza do bem-querer, identificada como bom efeito da ação do Espírito Santo de Deus.

            A festa de Pentecostes sempre atualiza uma memória muito significativa: a mudança profunda perpetrada a partir de um “pequeno rebanho” de apenas doze apóstolos, que, ao celebrar a antiga festa, se sentiu inspirado pelo mesmo bom espírito de Deus para uma ação evangelizadora de vastíssima repercussão.

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