O
simples fato de pertencermos ao mundo animal nos qualifica por traços de um
legado comum próprio dos outros animais, que é o da perseguição de vítimas,
justas ou injustas.
Alguns
animais se sobressaem pelas suas formas ostensivamente violentas, como onças,
leões e tubarões: mas, outros, aparentemente amáveis e dóceis, como uma pequena
Coruíra, também ataca sem clemência ínfimos seres vivos que certamente desejam,
como nós, prosperar em longa e ditosa velhice. Afinal, até pessoas nada
agressivas, e, supostamente pacatas e ordeiras, quando se tornam alvo de
injustiça ou vítimas de alguma maldade, podem até não revidar na mesma medida,
mas, normalmente externalizam desejos de que a justiça os vingue; e, as pessoas
até muito religiosas, costumam incumbir a Deus a tarefa de executar uma
vingança mais que merecida.
O
profeta Jeremias (20, 10-13), se viu seduzido por Deus para ser seu profeta,
mas, ao ter sentido a extrema maldade dos adversários que o perseguiram e o
difamaram, invocou a ajuda de Deus para que salvasse sua honra pessoal, e pediu
insistentemente a Deus para que fizesse uma vingança com intensas sequelas de
sofrimento aos maldosos que o perseguiram.
Mesmo
ao fazer segura experiência de amparo por parte de Deus, pois não deixara os
adversários consumar seus planos perversos de eliminar o profeta, a fim de não se
sentirem questionados em suas ambições, Jeremias revelou, mesmo de forma
mimetizada, sua gana de vingança.
Nós
certamente não somos nada diferentes de Jeremias e conseguimos constatar este
mecanismo tão forte da vingança diante de uma simples fofoca ou de banal acusação
de algo que não fizemos.
Pela
vida de Jesus Cristo, no entanto, somos interpelados a uma postura inovadora:
uma perseguição pode ser bem aventurada, quando envolve questões pertinentes à
construção do Reino de Deus, sobretudo, quando amplia gradualmente a capacidade
de suportar dificuldades, e, sem esmorecer e nem desanimar na causa fundamental.
Mergulhados
na fragilidade do mundo em que vivemos, somos, contudo, convidados a fermentar
uma condição que supera os mecanismos de vingança. Bem sabemos o quanto custa
uma reconciliação, e a capacidade de aceitar fatos que diminuíram nosso nome,
e, injustamente, nos fizeram sofrer intensa contrariedade.
Quando
percebemos pessoas, que até se consideram exemplares na retidão da boa conduta,
são verdadeiramente diabólicas e perversas no grau de maldade para perseguir,
denegrir e humilhar, a memória de Cristo ainda aponta um caminho distinto ao da
vingança!
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