sexta-feira, 23 de junho de 2017

A técnica de perseguir



            O simples fato de pertencermos ao mundo animal nos qualifica por traços de um legado comum próprio dos outros animais, que é o da perseguição de vítimas, justas ou injustas.
            Alguns animais se sobressaem pelas suas formas ostensivamente violentas, como onças, leões e tubarões: mas, outros, aparentemente amáveis e dóceis, como uma pequena Coruíra, também ataca sem clemência ínfimos seres vivos que certamente desejam, como nós, prosperar em longa e ditosa velhice. Afinal, até pessoas nada agressivas, e, supostamente pacatas e ordeiras, quando se tornam alvo de injustiça ou vítimas de alguma maldade, podem até não revidar na mesma medida, mas, normalmente externalizam desejos de que a justiça os vingue; e, as pessoas até muito religiosas, costumam incumbir a Deus a tarefa de executar uma vingança mais que merecida.
            O profeta Jeremias (20, 10-13), se viu seduzido por Deus para ser seu profeta, mas, ao ter sentido a extrema maldade dos adversários que o perseguiram e o difamaram, invocou a ajuda de Deus para que salvasse sua honra pessoal, e pediu insistentemente a Deus para que fizesse uma vingança com intensas sequelas de sofrimento aos maldosos que o perseguiram.
            Mesmo ao fazer segura experiência de amparo por parte de Deus, pois não deixara os adversários consumar seus planos perversos de eliminar o profeta, a fim de não se sentirem questionados em suas ambições, Jeremias revelou, mesmo de forma mimetizada, sua gana de vingança.
            Nós certamente não somos nada diferentes de Jeremias e conseguimos constatar este mecanismo tão forte da vingança diante de uma simples fofoca ou de banal acusação de algo que não fizemos.
            Pela vida de Jesus Cristo, no entanto, somos interpelados a uma postura inovadora: uma perseguição pode ser bem aventurada, quando envolve questões pertinentes à construção do Reino de Deus, sobretudo, quando amplia gradualmente a capacidade de suportar dificuldades, e, sem esmorecer e nem desanimar na causa fundamental.
            Mergulhados na fragilidade do mundo em que vivemos, somos, contudo, convidados a fermentar uma condição que supera os mecanismos de vingança. Bem sabemos o quanto custa uma reconciliação, e a capacidade de aceitar fatos que diminuíram nosso nome, e, injustamente, nos fizeram sofrer intensa contrariedade.

            Quando percebemos pessoas, que até se consideram exemplares na retidão da boa conduta, são verdadeiramente diabólicas e perversas no grau de maldade para perseguir, denegrir e humilhar, a memória de Cristo ainda aponta um caminho distinto ao da vingança!

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