sexta-feira, 12 de maio de 2017

Nos caminhos de acesso a Deus



            Sabemos da multiplicidade de itinerários para o acesso a Deus. Muitos também já experimentaram a desilusão com alguns destes caminhos. Mesmo assim, os que acreditam ser fiéis a Deus, nem sempre constatam a garantida segurança de que seu caminho é o mais adequado.
            Como certamente ocorreu com os apóstolos, ocorrem em nossas experiências de fé muitas dúvidas e incertezas. Apesar da garantia dada por Jesus Cristo de que Ele é o “caminho, a verdade e a vida”, titubeamos em torno destas palavras de segurança.
            Tal como Tomé, que representa a segunda geração de cristãos – os que não tiveram encontro pessoal com Jesus de Nazaré, - a motivação em torno do caminho que mais possa aproximar-se de Jesus Cristo, não costuma ser um caminho totalmente claro e evidente. Requer um processo dinâmico de fé no que Jesus falou para acalmar a ansiedade dos discípulos, mediante sua informação de ficar pouco tempo com eles, mas também a sua auto-revelação de ser o caminho, a verdade e a vida. Por isso, ao lado das nossas dúvidas, alargam-se muitas incertezas a respeito das práticas religiosas que de fato ampliam a confiança e a esperança para amenizar a ansiedade em torno do que buscamos em Deus.
            Quanto ao desejo desta segurança capaz de nos mover em torno do que Jesus Cristo assegurou não nos evadimos de outra dúvida básica: se é através de Jesus que conhecemos a Deus como um apelo à busca da verdade, porque tantas doutrinas e tantas regras que submetem as pessoas e alargam os sentimentos de culpa? Se o absoluto de Deus passa pela mediação de Jesus Cristo, porque tanto apelo a doutrinas categóricas e a tão variados devocionalismos que deixam Jesus Cristo em posição literalmente secundária? 
            A palavra “verdade” não constitui expressão de uma realidade estática e imutável. Um conceito antigo identificava a verdade como a confirmação de um fato com a imagem processada no intelecto. Hoje sabemos que esta adequação pode ser altamente enganosa, porque a intelecção de algo está atrelada ao humor, aos medos e aos desejos. Por exemplo, um mau humor pode levar a interpretar um acontecimento bonito e bom como ruim e inadequado. Verdade, em nossos dias, pode significar um gradual desvelamento, o que é um processo para a vida inteira. Não se capta toda a verdade de Deus em intuição instantânea e completa. O risco desta concepção leva a rigores doutrinários que, em vez de assegurar um caminho de busca, nos atrela a afirmações estáticas que controlam pessoas, mas, que ficam distantes de levar ao jeito de Jesus Cristo.
            Diante do absoluto de Deus, manifestado em Jesus, - que foi vida para os outros, - porque submeter outros ao nosso pensamento categórico, que, evidentemente, não leva ao absoluto?
            Por isso, continuamos a ser interpelados pela palavra de Jesus, que seu caminho, muito mais do que teorização, envolve uma vivência que nos leva a experimentar, paulatinamente, na busca de Deus, a razão última da vida. Mais que afirmação doutrinária, implica num modo de vida!


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