Sabemos da
multiplicidade de itinerários para o acesso a Deus. Muitos também já
experimentaram a desilusão com alguns destes caminhos. Mesmo assim, os que
acreditam ser fiéis a Deus, nem sempre constatam a garantida segurança de que
seu caminho é o mais adequado.
Como
certamente ocorreu com os apóstolos, ocorrem em nossas experiências de fé
muitas dúvidas e incertezas. Apesar da garantia dada por Jesus Cristo de que
Ele é o “caminho, a verdade e a vida”, titubeamos em torno destas palavras de
segurança.
Tal como
Tomé, que representa a segunda geração de cristãos – os que não tiveram
encontro pessoal com Jesus de Nazaré, - a motivação em torno do caminho que
mais possa aproximar-se de Jesus Cristo, não costuma ser um caminho totalmente
claro e evidente. Requer um processo dinâmico de fé no que Jesus falou para
acalmar a ansiedade dos discípulos, mediante sua informação de ficar pouco
tempo com eles, mas também a sua auto-revelação de ser o caminho, a verdade e a
vida. Por isso, ao lado das nossas dúvidas, alargam-se muitas incertezas a
respeito das práticas religiosas que de fato ampliam a confiança e a esperança
para amenizar a ansiedade em torno do que buscamos em Deus.
Quanto ao
desejo desta segurança capaz de nos mover em torno do que Jesus Cristo
assegurou não nos evadimos de outra dúvida básica: se é através de Jesus que
conhecemos a Deus como um apelo à busca da verdade, porque tantas doutrinas e
tantas regras que submetem as pessoas e alargam os sentimentos de culpa? Se o
absoluto de Deus passa pela mediação de Jesus Cristo, porque tanto apelo a
doutrinas categóricas e a tão variados devocionalismos que deixam Jesus Cristo
em posição literalmente secundária?
A palavra
“verdade” não constitui expressão de uma realidade estática e imutável. Um
conceito antigo identificava a verdade como a confirmação de um fato com a
imagem processada no intelecto. Hoje sabemos que esta adequação pode ser
altamente enganosa, porque a intelecção de algo está atrelada ao humor, aos
medos e aos desejos. Por exemplo, um mau humor pode levar a interpretar um
acontecimento bonito e bom como ruim e inadequado. Verdade, em nossos dias,
pode significar um gradual desvelamento, o que é um processo para a vida
inteira. Não se capta toda a verdade de Deus em intuição instantânea e
completa. O risco desta concepção leva a rigores doutrinários que, em vez de
assegurar um caminho de busca, nos atrela a afirmações estáticas que controlam
pessoas, mas, que ficam distantes de levar ao jeito de Jesus Cristo.
Diante do
absoluto de Deus, manifestado em Jesus, - que foi vida para os outros, - porque
submeter outros ao nosso pensamento categórico, que, evidentemente, não leva ao
absoluto?
Por isso,
continuamos a ser interpelados pela palavra de Jesus, que seu caminho, muito
mais do que teorização, envolve uma vivência que nos leva a experimentar, paulatinamente,
na busca de Deus, a razão última da vida. Mais que afirmação doutrinária, implica
num modo de vida!
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