Uma
das valiosas dimensões da fé cristã se relaciona ao fato concreto de Jesus ter
alertado os discípulos a respeito de brevidade de sua convivência com eles, e,
a simultânea antecipação de que o Espírito de Deus viria ajudar a efetuar a
construção do Reino de Deus, tema central da boa notícia de Jesus.
Uma
leitura teológica pentecostal norte-americana e que entrou largamente na Igreja
católica, entende este Espírito de Deus como algo que um indivíduo recebe para
tornar-se instrumento especial, entre um fiel crente e Deus. Esta suposição
mística delega a quem faz alguma experiência hierofânica, um poder de
superioridade. Daí o carreirismo, sobretudo, para os poderes de cura e
libertação, mas que, na verdade, curam pouco e, geralmente, nada libertam para
além do processo hipnótico.
O
efeito desta concepção teológica desloca a centralidade dos sacramentos e os instrumentaliza
para a suposta pessoa iluminada que presume agir com os poderes especiais do
Espírito de Deus. Nesta condição, o agir do Espírito de Deus passa muito mais
pela pessoa iluminada do que pela sacramentalidade da tradição para uma ação
humanitária e edificante.
O
evangelista São João, ao refletir teologicamente sobre a despedida de Jesus
(14,15-21) escreveu que Jesus prometeu o Espírito como “Paráclito”, ou seja,
como um bom advogado, ou alguém que ampara o cristão e o orienta na lida contra
as muitas dificuldades advenientes da evangelização. É preciso considerar que
São João escreveu num momento histórico de intensa perseguição aos cristãos.
Portanto, além de toda a orientação dada por Jesus Cristo, Ele ainda assegurou
outra força, a do Paráclito para que os discípulos não se sentissem órfãos, mas,
para que tivessem a capacidade de manter-se unidos na palavra que lhes anunciou.
Neste
prelúdio do significado de Pentecostes, ainda hoje, continuamos a esperar o
aprofundamento do que a ressurreição de Jesus significa para as comunidades
cristãs. Mesmo inseguros na experimentação da presença vital de Jesus Cristo
ressuscitado; e, propensos ao risco de sucumbir no mundo subjetivo de poderes, precisamos
deste bom advogado para não ficar atrelados a um curandeirismo sem capacidade
de gestar o alargamento das atividades da comunidade cristã.
O
tempo difícil de nossos dias continua a nos colocar a mesma interpelação feita
aos primeiros discípulos de Jesus porque nós, por nós mesmos, não encontramos a
suficiente firmeza diante das incontáveis adversidades que a vivência religiosa
nos suscita. Precisamos da força da palavra segura do salvador que redime!
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