sexta-feira, 19 de maio de 2017

Assimilação do Espírito de Deus



            Uma das valiosas dimensões da fé cristã se relaciona ao fato concreto de Jesus ter alertado os discípulos a respeito de brevidade de sua convivência com eles, e, a simultânea antecipação de que o Espírito de Deus viria ajudar a efetuar a construção do Reino de Deus, tema central da boa notícia de Jesus.
            Uma leitura teológica pentecostal norte-americana e que entrou largamente na Igreja católica, entende este Espírito de Deus como algo que um indivíduo recebe para tornar-se instrumento especial, entre um fiel crente e Deus. Esta suposição mística delega a quem faz alguma experiência hierofânica, um poder de superioridade. Daí o carreirismo, sobretudo, para os poderes de cura e libertação, mas que, na verdade, curam pouco e, geralmente, nada libertam para além do processo hipnótico.
            O efeito desta concepção teológica desloca a centralidade dos sacramentos e os instrumentaliza para a suposta pessoa iluminada que presume agir com os poderes especiais do Espírito de Deus. Nesta condição, o agir do Espírito de Deus passa muito mais pela pessoa iluminada do que pela sacramentalidade da tradição para uma ação humanitária e edificante.
            O evangelista São João, ao refletir teologicamente sobre a despedida de Jesus (14,15-21) escreveu que Jesus prometeu o Espírito como “Paráclito”, ou seja, como um bom advogado, ou alguém que ampara o cristão e o orienta na lida contra as muitas dificuldades advenientes da evangelização. É preciso considerar que São João escreveu num momento histórico de intensa perseguição aos cristãos. Portanto, além de toda a orientação dada por Jesus Cristo, Ele ainda assegurou outra força, a do Paráclito para que os discípulos não se sentissem órfãos, mas, para que tivessem a capacidade de manter-se unidos na palavra que lhes anunciou.
            Neste prelúdio do significado de Pentecostes, ainda hoje, continuamos a esperar o aprofundamento do que a ressurreição de Jesus significa para as comunidades cristãs. Mesmo inseguros na experimentação da presença vital de Jesus Cristo ressuscitado; e, propensos ao risco de sucumbir no mundo subjetivo de poderes, precisamos deste bom advogado para não ficar atrelados a um curandeirismo sem capacidade de gestar o alargamento das atividades da comunidade cristã.

            O tempo difícil de nossos dias continua a nos colocar a mesma interpelação feita aos primeiros discípulos de Jesus porque nós, por nós mesmos, não encontramos a suficiente firmeza diante das incontáveis adversidades que a vivência religiosa nos suscita. Precisamos da força da palavra segura do salvador que redime!

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